sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Guilty Pleasure (1ª Temporada - 1 ao 9)


Capítulo 01 ao 09


Londres.
Duas garotas são amigas desde pequenas. Uma delas, apaixonada pelo mais misterioso do grupo de colegas, enquanto a outra esconde um sentimento pelo próprio irmão de criação.
Como em toda juventude a certeza de ontem não é a mesma de hoje, muito menos de amanhã, Guilty Pleasure trata das mil confusões que se passa na cabeça das adolescentes, principalmente quando referentes ao coração.
As pessoas amadurecem e o amor segue o mesmo caminho.
Uma dessas amigas teve que se magoar para perceber que a sua outra metade estava bem ao lado.
Já a segunda... Precisou abrir mão de todo o seu orgulho para seguir em frente.
E, no final, quem nunca sucumbe aos prazeres secretos?
Principalmente em uma fase que o errado de hoje pode ser o certo de amanhã...




      * * *



CAPÍTULO 01

LINDA E INFERNAL: ESCOLA



Ponto de Vista: Lucy


Colégio?
Alguém faz o favor de descobrir quem criou isso e depois jogar uma bomba atômica no túmulo dele?
Obrigada.
6:30 da manhã, praticamente madrugada na minha cabeça e achava um absurdo ter que me acordar nesse horário 5 dias na semana.
Assumo que tenho um péssimo humor matutino, então não ligue se acho tudo muito chato.
Levantei da cama preguiçosamente e me arrastei para o banheiro. Senti uma forte vontade de me enfiar debaixo do chuveiro com roupa e tudo, para lavar a preguiça até da camisa preta de Ramones, mas não o fiz, pois depois, provavelmente, daria mais trabalho.
Tirei-a e a depositei em cima da cesta de peças sujas, logo entrando no box, onde liguei o chuveiro na água quente e em seguida senti aquela delícia escorrer em meu corpo gelado, dando um choque térmico revigorante, roubando, até mesmo, um leve sorriso.
Por que tomar banho é tão esquisito?
Chato para entrar e pior para sair?
Essa pergunta entrará na minha lista de dúvidas que levarei para o dia que encontrar com Deus.
Após a limpeza com um bom banho, comecei a me vestir, odiando aquela roupa engomada dos uniformes escolares londrinos... Praticamente elas me fazem ter mais preguiça de ir estudar.
Quando eu morresse e fosse cronometrar os tempos que perdi em minha vida, 50% seria só para a gravata e os outros 50% seriam para aulas inúteis.
Nesse período, perdi uns minutos realmente úteis para a maquiagem. Embora, infelizmente, para o meu maravilhoso azar matutino, o delineador decidiu brincar com a minha pupila.
Desnecessário.
Peguei minha mochila pela alça e saí do quarto arrastando-a pelo chão sem a mínima vontade e coragem de encaixá-la em meu obro.
O meu olho ardia, meu humor não era dos melhores e logo após descer as escadas me deparei com o sorriso maternal irritantemente branco.
Ok, eu amo minha mãe!
Mas é inaceitável e desumano alguém se acordar cedo e feliz como ela normalmente fazia.
Tipo, preferia que ela me acompanhasse no "não vou sorrir até acordar t.o.t.a.l.m.e.n.t.e".
Porque sim... Eu ainda dormia em pé.
– Bom dia, Lucy! – disse minha mãe, já sentada em sua cadeira, tomando seu chá com torradas.
– Bom dia, mãe! – eu tentei sorrir, mas o máximo que saiu foi um rosto de sono, com tédio e falsa simpatia.
Sorry!
Ela já não se importava mais com isso, me via com essa cara há 17 anos.
– Seu cereal esta aí, seu leite também e tente comer rápido, pois hoje tenho que chegar cedo ao trabalho. – ela disse apressadamente, e com um leve sorriso no rosto.
– Tudo bem! Vai voltar para a hora do almoço? – perguntei, pois era algo que ela nunca fazia.
Para ser sincera... Ela ficava em casa mais no período noturno.
E olhe lá!
– Não, hoje vou almoçar com o Marc. Quem sabe amanhã eu venha para casa. – ela disse, receosa ao falar o nome do seu mais novo namorado.
– Tanto faz. – dei de ombros. Não gostava do Marc, mas se ele estivesse a quilômetros de distância de mim, eu não poderia reclamar dele.
Acabei o meu café praticamente em silêncio, minha mãe falava várias coisas e eu respondia com monossílabas.
Sorte que ela entendia o fato de que meu cérebro na maioria das vezes só funcionava depois das 7:30 e ainda eram 7:00, até lá eu tinha o crédito de me fazer de desentendida.
Após isso, escovei rapidamente meus dentes e entrei no carro a caminho da escola.
Talvez essa parte de ir e a hora da voltar fossem os momentos mais interessantes de se estudar.
O sol saindo no céu sempre nublado de Londres conseguia me tirar um leve sorriso. Ver as pessoas indo apressadas para o seu trabalho era realmente engraçado. Sem falar da paisagem de uns 1000 anos de história que tinha a minha bela Inglaterra... Nos fones de ouvido escutava uma boa música, fazendo um processo de "vamos lá, sorria!" até chegar ao colégio.
E, falando nele, finalmente pude ver aquela estrutura tão brilhantemente linda e infernal chamada escola.
Despedi-me rapidamente da senhora minha mãe e assim que coloquei meus pés na entrada, minha agonia mortal apareceu.
Vou explicar a vocês o porque:
Era realmente torturante ver garotas de 17 anos dando as 7:30 do dia!
Se ao menos fosse 9:00 eu estava calada.
E transar em árvore é realmente nojento!
Ok, eu sei que estou exagerando, mas as putas daquele lugar poderiam ganhar das de um bordel e só de respirar o mesmo ar que elas eu morria infectada!
Todos ali eram riquinhos. TODOS. Inclusive eu era de condições financeiras mais do que razoáveis e isso não me incomodava, mas muitos eram patricinhas e mauricinhos jogadores de rúgbi que se comiam o tempo inteiro, principalmente no vestiário, e conviver 5 dias com quem não presta é de cometer suicídio e que se foda o mundo!
Depois de minha análise diária sobre o que acontecia na sociedade por trás daqueles velhos muros escolares, decidi por procurar ao menos as poucas pessoas decentes desse mundo chato e com quem eu realmente me importava.
Avistei o primeiro, e mais lindo, diga-se de passagem, sentado em um banco perto de uma árvore, olhando para mim e rindo.
Deveria estar achando graça da minha cara de besta pela minha análise social no meio do caminho de entrada, enquanto vários estudantes passavam por mim sem perceber minha existência.
Fui em direção a ele, suspirando disfarçadamente, pois sua beleza era maravilhosa demais para não se manifestar, e era um pecado de manhã cedo eu ter que olhar para aquilo sem poder agarrar e chamar de meu, simplesmente pelo fato dele não ser.
– Bom dia, Jay. – falei sorrindo levemente, me sentando ao seu lado do banco.
É impressão minha ou os olhos daquele deus grego estavam mais azuis?
– Bom dia! – ele beijou minha bochecha, fazendo meu rosto ficar rapidamente quente. Logo depois esbanjou uma risada carinhosa em minha direção. – Aposto que você estava analisando as putices desse colégio a esse horário.
– Qual foi o dia que você disse que iria me ensinar a ler mentes? – olhei para ele, cerrando os olhos.
– No dia em que você quiser, só é marcar! – Jay me encarou, deixando de rir, mas ainda com uma expressão simpática. Seus lábios também estão mais vermelhos? Meu Deus! – Se você tivesse chegado 10 minutos atrás, teria visto a Diana Vasley sem calcinha e o Thomas Bornes usando cueca de ursinhos!
– Como assim? Como perdi isso? – comecei a passar o olhar pelo grande jardim em frente ao prédio antiquado, em sinal de Vasley e Bornes, mas nada.
– Os alunos do 2º ano levantaram a saia da Diana e abaixaram a calça do Thomas. – nós dois demos uma gargalhada básica, imaginando a cena – Foi realmente engraçado ver o Bornes correndo com aquela cueca de criança!
Novamente imaginei a cena e ri com bem mais vontade assim como Jay, que já batia a mão nas pernas, lembrando do infeliz acontecimento.
– Eu sei que sou feio de manhã cedo, mas não precisam rir da minha cara!
James e eu acompanhamos a direção da voz.
Nathan Sykes.
Como eu gostava daquele garoto!
Não tanto como eu gostava do Jay, mas o sorriso do Nathan era realmente aconchegante, feliz e contagiante.
E o via naquele exato momento.
– Bom dia, Nath! – disse-lhe, me levantando para dar um abraço.
Logo recebi apertos na bochecha.
– Bom dia, amor. – Sykes falou, enquanto voltava para o meu lugar. Calmamente ele passou por mim e chegou em Jay, que se manteve sentado, olhando pra ele. – Bom dia, veado! – falou Nath, rindo, enquanto o McGuiness estendia a mão e apertava a do colega.
Nathan sentou-se na grama, perto dos meus pés e olhou para a minha bolsa.
– Você fez o trabalho de química? – perguntou.
– O que você acha? – olhei pra ele, com cara de ‘óbvio que não’.
– É. Não sei por que pergunto. – o garoto sorriu – Ao menos você tem a anotação de história não é?
– Sim, tenho! Pode pegar. – disse a ele, colocando minha bolsa em cima de suas pernas cruzadas. – Procura aí na caverna que eu tô com preguiça. – falei sorrindo.
Assim que ele abriu a bolsa ficou boquiaberto como se tivesse descoberto um mundo novo.
Sempre me pergunto por que homens acham que bolsa de mulher é feito o universo, infinito.
Voltei meus olhos para Jay, que olhava para Nath sentando no chão, com um leve ar de graça.
– E você? Fez o trabalho? – questionei ao menino.
– Fiz. Qualquer coisa você fica comigo. Pelo que eu lembro é em dupla. - então deu de ombros, como se não se importasse com o favor.
Além de ser bonito, era gentil!
Se eu tinha um amigo assim por que eu iria me importar em fazer trabalho?
Ok... Isso foi meio aproveitador...
– Obrigada, a minha impaciência com química agradece! – falei, fazendo pose de agradecimento, com mão no peito e tudo.
– É, mas o meu ouvido, que vai ouvir o professor brigando comigo por não ter feito o trabalho, não agradece nem um pouco. – Nath comentou, vasculhando as folhas do meu caderno, tentando achar a matéria.
– Provavelmente o Max fez. Você fica com ele. – Jay disse em tom de descaso.
Explicando: o garoto não ia com a cara do carequinha Maximilliam.
Mal falou-se no rapaz e lá estava vindo ele, com aquele seu rosto perdido, porém sexy, sua expressão fofa e a gravata perfeitamente bem arrumada.
Seria extramente sensual se não fosse tão certinho e nerd...
Embora sua aparência corporal e facial mostrassem o contrário.
Mas eu realmente o adoro desse jeito.
– Bom dia! – ele disse a todos, dando um belo sorriso.
– Bom dia! – falamos.
Max se sentou ao meu lado, fazendo com que, sem querer, me aproximasse mais de Jay.
Logo virou seus olhos acinzentados para mim:
– Bom dia, Lucy! - esbanjou simpatia.
– Bom dia! – e mal o respondi senti algo cutucar a minha perna. Era o Nathan, me encarando com um rostinho pidão. Logo percebi o que queria e voltei meu rosto para o Max – Você fez o trabalho de química?
– Fiz! Por quê? Está sem par? – o menino não conseguiu disfarçar a empolgação.
– Não, o Nath! – apontei para meu amigo, que sorriu para o Max.
– Eu deveria imaginar que ele estaria sem par! – falou, dando gargalhada da cara de Nathan. – Pode deixar, quando entrar na sala, coloco seu nome no trabalho.
– É por isso que você é o fodão de todos! – o garoto disse com felicidade, voltando a copiar a anotação de história.
Olhei no relógio e já eram 7:55, Victoria ainda não havia chegado. Achava um porre quando minha melhor amiga demorava a chegar porque nunca dava tempo de atualizar as conversas e 20 minutos de intervalo realmente é muito pouco.
– Demora da Vicky! – falei, olhando para a entrada do colégio.
– Ela já esta vindo! Vi ela com o Tom na loja de doces aí da frente! – disse o Max, encarando o mesmo lugar que eu. – Eles disseram que já iam entrar.
– Ah, ta bem! Doce é uma justa causa. – ao virar minha cabeça, percebi o jeito vago de Jay, sentindo-se meio excluído.
Seu rosto tão bem desenhado e com uma leve barba realmente seduzia naquela expressão e eu podia tirar toda sua exclusão com a boca.
Nesse momento dei graças a Deus de que a história dele ler mentes fosse apenas uma brincadeira.
– Posso ler o trabalho? – perguntei apenas para acabar com aquela sacanagem.
– Claro! – logo ele tratou de tirar o relatório da bolsa, enquanto eu tantava disfarçar a minha cara de "seduzida" até mesmo pelo cheiro do seu perfume levemente amadeirado.
Mal comecei a ler e não precisou de muito para que eu concluísse que não entendia nada do que havia escrito.
Realmente... Quimíca não foi, não é e nunca será meu forte.
Fui salva pelo gongo, diga-se de passagem, pois avistei três pessoas que faltavam no grupo.
Para ser sincera apenas duas eram de importância, a terceira era uma enxerida rodada.
– Doce para alegrar esse lugar chato que nos enfurnamos! – brincou Tom, fazendo aquela sua cara de "sou muito engra, amics".
Quero deixar claro que esse garoto é realmente muito sensual e... Ok, eu não acho tanto... Mas a minha opinião não vale, pois nós dois implicamos muito um com o outro... Enfim.
Sendo neutra na situação: Tom é bonito o suficiente para ter um vadia de olho nele, justamente a "enxerida rodada", mais conhecida como Tanya.
– Isso aqui... - minha amiga, Vicky, entregou uma sacolinha cheia de guloseimas calóricas e diabéticas - É para você. - sem delongas retirei um pirulito - Como vê... Exclusivo de jujubas, pirulitos e chicletes.
– É nessas horas que eu realmente gosto de ser sua amiga. - comentei fazendo um rosto de "orgasmo". Vicky deu um tapa em minha cabeça, como repreensão, mas em seguida tratou de me abraçar carinhosamente.
– Muito falsa. - Tom comentou aos cochichos com Jay, que balançou a cabeça negativamente, tentando não rir.
– Está incomodado porque é mal amado. - gargalhei enquanto recebia um belo dedo do meio.
Foda-se.
Nesse momento o sinal tocou e precisávamos ir para a sala, que por sorte, esse ano, todos ficaram na mesma.
Começamos um assunto sobre o filme pornô, meio terror, meio ridículo que assistimos no cinema, na noite passada.
O Jay, que estava perto de mim, mascava seu chiclete de hortelã, liberando um hálito que se misturava ao meu, de morango, causando um cheiro gostoso demais para o controle físico.
Por sorte, ou não, entramos na classe e tivemos de nos separar pra arrumar os nossos lugares. Como sempre quem ficou ao meu lado foi Max e Nathan, que, diga-se de passagem, quem se dava bem era eu, pois tinha o equilíbrio do mais inteligente e do mais engraçado nos meus dois lados, prontos para me dar ao menos um pingo de felicidade naquele martírio que logo começaria.
E sim, Nathan era o palhaço meio acéfalo do grupo.
Enquanto Max retirava seu trabalho e colocava o nome do amigo ao lado do seu, o professor Christian Godric adentrou a sala com aquela sua cara de besta mandona.
Então parou em frente à turma, olhando-nos com visível desprezo:
– Tirem essa cara de sono da minha vista, e abram o caderno! A preguiça de vocês me causa irritação! – disse com a sua maior simpatia.
Só que não.
– E essa sua calça bosta de cavalo nos causa câncer, mané! – falou o Nathan rindo e por consequência me fazendo rir também, dando início a primeira piadinha ‘aulística’ do dia.
Max, ao meu lado, apenas esbanjou uma leve risada, abrindo seu caderno e analisando o assunto da aula passada.
Não me dei ao trabalho de fazer o mesmo que ele, pois... Quem disse que eu copiei a matéria?
Por outro lado, a folha estava preenchida por vários jogos da velha que eu e Nathan fizemos.
Trocamos olhares e o dele era de "quero ver se você ganha de mim", fazendo-me, sem demora, aceitar o desafio.
Não prestei atenção no resto da aula e vez ou outra eu ria da cara do Nathan quando perdia ou ganhava.
Já o Max fazia perguntas ao professor e aparentemente era o único que dedicava seu tempo a aquela aula chata e improdutiva.
O resto da turma preferia fazer qualquer coisa a dar atenção a uma múmia mal comida de 300 anos.
Sei lá, mas acho que ele é gay passivo e encalhado!
– Amém! – falei, assim que ouvi o toque para o intervalo – Se eu ganhasse mais essa rodada iria pedir para trocar de concorrente! – falei para Nathan, fingindo revolta.
– Nem vem! Eu hoje só estou ruim assim no jogo da velha porque não tomei café da manhã, porque se não os meus neurônios estariam funcionando direito e você veria o que é ganhar de lavada! – o garoto tentou justificar sua derrota de 15x4.
– Qual é Nathan, todo mundo sabe que você não tem neurônios! – falou o Max – E se tiver algum, provavelmente morrerá de solidão!
Nessa hora todos riram, enquanto Nathan fazia cara de desentendido ainda buscando a compreensão da piada.
Enquanto os outros ajeitavam seu material pra irmos lá para fora Max disse, falando baixinho em meu ouvido:
– Seus docinhos já terminaram?
– Sim! – fiz cara de triste e apontei para a sacolinha vazia em cima da banca – É muito mais legal ignorar a aula de física jogando jogo da velha e comendo jujubas.
Max sorriu em uma expressão fofa.
– Enquanto os outros acham um lugar lá fora perto de alguma árvore, a gente poderia ir à loja de doces aí da frente do colégio. – disse, querendo agradar e já agradando.
– Ah, eu ia adorar! Vamos, por favor?
– Claro. Vou com você e faço questão de pagar.
– Não precisa! Tenho dinheiro aqui e...
– Não Lucy, eu pago. - então entendi que aquela frase foi em sinal para que mais nenhuma palavra saísse da minha boca.
Sendo assim, apenas assenti com a cabeça.
Estranhamente, nessa hora, ouvi um pigarro logo atrás de mim:
– Vamos lá para fora? – disse Jay em total seriedade, com os seus olhos azuis contrastando com as suas bochechas levemente vermelhas.
É impressão minha ou o deus grego está com... Ódio?
– Claro. – falei sem jeito, logo saindo da minha cadeira.
Percebi que no caminho para o pátio Jay não saía do meu lado, enquanto os outros conversavam distraidamente. Os passos dele pareciam firmes e eu estava começando a temê-lo.
Para tentar melhorar o ar esquisito que nos cercava, decidi abrir a boca:
– Tom! Vicky! O que vocês acham de amanhã cedo irmos na pista de skate? – encarei os dois irmãos.
Explicando: Thomas e Victoria eram irmãos, não de sangue, mas de criação. O pai da Vicky se casou com a mãe do Tom.
Muito simples, entenderam?
– Por mim tudo bem. - minha amiga deu de ombros - Preciso urgentemente me distrair.
– Ok! Antes da aula, né? – Tom perguntou com empolgação.
Incrível como ele adorava ficar em cima de um skate!
G.A.Y!
Brincadeira, amiguinho!
– Sim, para começarmos bem. - confirmei com cabeça.
O garoto concordou, voltando ao assunto sobre Need For Speed com a Tanya, loira enjoada, que provavelmente era débil mental o suficiente para, no máximo, saber andar com um carrinho de plástico.
Minha amiga Vicky suspirou, buscando paciência com a conversa do irmão.
– Então... Posso me convidar? – Jay perguntou.
Ao chegarmos no jardim e com esse seu questionamento, percebi pelo seu tom de voz que a seriedade, e talvez a raiva, tivesse ido embora, tornando o ar bem mais leve.
– Claro que sim. – e rapidamente recebi um belo sorriso que fez minhas pernas tremerem.
– Eu iria também, se vocês não quisessem se acordar de madrugada. É um absurdo! – disse Nathan, parando o seu papo com Max, que começou a rir do jeito alto em que Nath falava para gente, como se tivesse a quilômetros de distancia.
– Vamos cedo justamente para você não ir! – implicou Tom, se voltando para a conversa e esquecendo a ciumenta enjoada com cara de taxo – É realmente deprimente ouvir você dizer que sua cama é mais sexy do que uma skatista de short curto.
– Qual é, cara! – disse Nathan em um revolta fingida – As 5:00 da manhã eu só penso em dormir, sonhar e virar para o outro lado para roncar. O Albert só funciona depois das 7:30.
– Parece o cérebro da Lucy! – disse minha melhor amiga rindo e levando todos a rirem.
– Não compare meu divo cérebro ao pinto do Nath! É pornograficamente humilhante! – me fiz de raivosa, balançando o dedo no ar.
– Cala a boca, eu sei que você ama meu pinto. – Nathan comentou, recebendo olhares furiosos de mim. Com medo de morrer, logo tratou de corrigir – Mesmo você não o conhecendo.
Novamente todos riram da sua cara e lhe dei um abraço de lado. Nossas brigas eram sempre fingidas e eu não ligava o quão pornográfico ele era, porque eu também não prestava.
Achamos uma árvore vazia, e limpa [lê-se sem camisinhas], e todos sentaram.
Menos eu e Max. Ficamos de pé um ao lado do outro, enquanto todos se acomodavam.
– Vou com a Lucy comprar doces na loja da frente. – ele disse, dando um sorriso sem mostrar os dentes e se virando para começar a andar.
– Mas ela não ta com doces? O Tom e a Vicky num trouxeram para ela? – Jay falou, voltando a usar a expressão séria.
– Acabou. – Nathan se intrometeu na conversa, sem nem mesmo dar tempo de Max falar – Enquanto jogávamos jogo da velha ela acabou com a jujuba e os pirulitos e ainda batia na minha mão quando eu tentava pegar. – então mostrou a mão avermelhada ao garoto e dei uma gargalhada maligna.
– Ah. - Jay não mostrou interesse na mão do colega – Eu posso ir com vocês.
 Não precisa, a gente sabe o caminho! – ouvi Max dizer, e muito antes de eu respirar e abrir a boca para falar ‘pode vir com a gente, delicinha!’ senti meu corpo sendo puxado para o lado.
Era Max, já nos levando para a saída, segurando meu braço.
Ainda me atrevi a olhar para trás e me deparei com um rosto tão raivoso que cheguei a pensar que o mundo ia acabar em segundos. Mas no máximo tropecei no pé do garoto a minha frente e formei meu rosto mais simples de pedido de desculpas. Ele deu de ombros, sorrindo e largou minha mão para caminharmos sem pressa até o portão.
– Você trouxe o cartão? – perguntei-lhe.
Lembrei-me que para sair do colégio em horário normal, tinhamos que mostrar um cartão na volta.
– Aham, trouxe.
Uma pequena fila estava formada perto do portão. Após 1 minuto assinamos nossos nomes e saímos do colégio por uma pequena saída lateral, enquanto a grande saída se mantinha fechada.
Alguns meses atrás não era permitido sair da escola, mas com alguns pedidos de alunos do terceiro ano a diretoria deixou, fazendo uma forte fiscalização para que eles não fugissem ou não fossem mortos por aí, como indigentes.
Mas praticamente não havia muito perigo, já que a maioria dos estudantes se concentravam na loja de doces logo em frente.
Max e eu nos encontrávamos parados na calçada, esperando um momento certo de atravessarmos.
Inesperadamente uma mão quente tocou a minha, totalmente fria. O garoto ao meu lado me encarou, demonstrando que aquilo era um sinal de proteção.
Logo conseguimos atravessar, melhor dizendo, correr, até outro lado e chegamos à loja de doce rindo do mico que iríamos pagar se tivéssemos demorado mais um pouco.
Morrer atropelados por um caminhão de frango congelado não é nem um pouco divo.
Entramos na loja que estava com aquele ar quente e com cheiro maravilhoso de morango, que me fazia delirar, e logo meus olhos se encheram de lágrimas enquanto corria em direção as jujubas em formato de coração, depositadas em uma grande bola transparente, pendurada ao teto.
Enchi um saquinho de todas as jujubas possíveis e coloquei-as na cesta que Max carregava.
No momento parecíamos patroa e segurança:
Eu comprava o shopping.
E ele carregava o mundo.
Sorte que doces são mais leves do que lojas de compras...
Passamos dez minutos ali.
Tempo o suficiente para sairmos com duas sacolas cheias de guloseimas e dois pirulitos gigantes que haviam perto do caixa.
Desse jeito a aula de química seria muito menos irritante, chata, tediosa e praga do capeta nas nossas vidas.
Max mostrou o cartão para entrarmos no colégio e riscou nossos nomes da lista para não sermos procurados enquanto estávamos lá dentro.
– Estive pensando em passar na biblioteca depois da aula de química. Quer ir comigo? – ele disse, procurando nas sacolas um guardanapo para ajudar a me manter decente perto daquele monte de açúcar.
– Quero sim! É livro de estudo? – perguntei, enquanto seu braço me segurou. Um guardanapo foi levado até o canto da minha boca. Limpando a sujeira, foi inevitável nossos olhos não se encontrarem – Valeu. - disse sem jeito.
Ele riu e respondeu:
– Nada! E não. É livro para se distrair. Estou precisando, não aguento mais ler sobre A História da Inglaterra. – o garoto quase gargalhou, meio revoltado.
Nas férias de verão lemos tal livro que, aliás, é muito bom. Mas se você o lê pela terceira vez realmente se torna chato saber todos os segredos da realeza inglesa.
Fato.
– Tudo bem! Teremos 15 minutos até a aula de Inglês começar, para podermos procurar em paz ou não um livro para lermos. – falei isso e finalmente chegamos ao grupo.
Permaneciam do mesmo jeito: jogados ao chão. Só que dessa vez com uma coisinha a mais, que era um jogo de cartas.
Logo Nathan falou:
– Quem perder vai me pagar um Big lanche! – o garoto riu malignamente, observando o próprio jogo de cartas, que aliás, também fiz o favor de olhar e... Nath estava com a mão repleta de ases.
Sentei-me no chão, assim como Max, e tentei evitar olhares furiosos de certa pessoa chamada Jay McGuiness.
Continuei a deliciar-me com o pirulito diabético, enquanto na outra mão recebia carinhos discretos do Max que prestava atenção no jogo.
Era de Jay que eu gostava.
Dos seus olhos azuis, de seus lábios bem desenhados, de seus cabelos cacheados, de sua pele branca e sorriso esperto e carinhoso. Mas era do Max que eu recebia importância e isso me agradava muito.
Ele sempre estava ao meu lado, me ajudando, me explicando e conversando sobre gostos tão parecidos que tínhamos.
Eu não conseguia dizer não aquele garoto, ao menos enquanto Jay não dissesse sim para mim.
Não tinha certeza do que os dois rapazes sentiam, pois nunca fizeram uma declaração explícita.
Embora a minha querida Vicky insistisse em dizer que não precisava disso, porque estava estampado na cara deles.
Enquanto não recebesse uma confirmação, não me sentiria culpada por me dedicar ao dois.
Quero deixar claro que não tenho pensamento de que uso o Max, porque mesmo o tratando bem, nunca dei grandes esperanças e... Acredito que todos do grupo tenham o conhecimento pela queda, ou abismo, que tenho pelo Jay.
Enfim...
O sinal tocou, o que nos fez, infelizmente, caminhar de volta para sala.
Nathan ria da cara de Tanya que havia sido a mais prejudicada no jogo e que teria que pagar o Big lanche para ele, e quando ele fala Big lanche é algo realmente GIGANTE, no mínimo três copos de coca-cola, dois hambúrgueres, fora as batatas fritas e os sorvetes.
E no meio disso tudo percebi um leve sorriso de vingança no rosto da minha querida amiga Vicky. E não a culpo por estar com aquela cara. Aquela puta realmente incomoda, e tenho pena dela e do Tom serem irmãos, mesmo que de criação, porque no final acaba que também sobrando para a Victoria.


      * * *



CAPÍTULO 02

SYKES E SORVETE: OLÁ, VIDA AMOROSA!




Ponto de Vista: Vicky


Ok.
Ultimamente vim percebendo que a aquela palhaçada de contar de 1 a 10 realmente funciona.
Suportar a Tanya Linus todos os dias na minha casa, na minha sala de aula, no meu banheiro escolar e na minha vida realmente vem sendo um pagamento de entrada para o céu, porque, sinceramente, mais chata que ela, só duas da mesma.
Imbecil.
Coitado do Tom... Ou nem tão coitado assim.
Ele dever adorar ter uma prostituta que abre as pernas fácil, preparada para dar assim que estelar os dedos.
Porém... Não vou perder meu precioso tempo com tal idiota.
Vamos a Lucy:
Meu Deus, tantos para uns e nenhum para poucos!
A garota tem o Jay e o Max ao seus pés, e eu aqui... Analisando vida alheia, me achando muito inútil.
Mais humilhante impossível!
Preciso me arranjar, mas ninguém nesse colégio presta, então estou procurando no lugar errado.
E que saco, é aula de química!
Pelo menos o professor é bonito e vou ter alguém aceitável para me distrair nas próximas 1h40m.
No caminho para a sala todo mundo conversava feliz, ou ao menos fingia estar, e eu só observava.
Distraída, vi que quase todos entraram na classe, menos um:
– Oi, Vicky! – Nathan disse em meu ouvido, assustando-me.
Não é nada legal ao estar tendo altos conflitos psicológicos um garoto de voz muito grave, e bonita, sussurrar em seus ouvidos.
– Oi! – respondi, tentando não parecer a louca assustada – Algum problema?
– Nenhum! É que a gente nem se falou direito hoje. – ele comentou, sorrindo e encostando-se à porta.
Muito mais interessante conversar com Nathan do que ficar por aí, aturando aquela gente com hormônios da paixão.
E isso foi realmente brega...
– Pois é, cara! Mas agora estamos nos falando. - dei um sorriso quase falso - Tem algo de especial para me dizer?
Se o garoto havia se dado ao trabalho de esperar os outros entrarem para falar comigo, provavelmente não era para comentar o quanto o céu estava nublado.
– É que... Então... Quer ir ao cinema hoje à tarde? Está passando uma comédia romântica aparentemente legal e pornô! - disse tais palavras com certa felicidade.
– Quem mais vai? – perguntei.
Deduzi que Lucy também fosse, já que eramos os melhores amigos dela.
– Até agora só eu e você. – de repente sua expressão tomou um ar sério, parecendo, levemente, ficar ansioso.
– Ah, por mim está tudo bem. Vamos chamar a Lucy? – disse, sorrindo.
Qualquer coisa era melhor do que ficar em casa ouvindo a Tanya bajulando o Tom, e sim, ela já se convidou para almoçar com a gente hoje.
– Claro...– Nathan deu de ombros.
– Eu não sei o que vocês podem, mas o que eu posso, tenho direito e dever é de entrar na sala e dar minha aula. Mas só posso fazer isso se os senhores me fizerem o favor de entrar e se acomodarem em suas cadeiras. – aquela voz excessivamente grossa e sarcástica veio do além e me fez arrepiar dos pés a cabeça e piscar mil vezes olhando aqueles olhos verdes do professor Janson Austin, que havia nos pego desprevinidos.
Assumo que tinha uma grande queda por ele, mesmo tendo 33 anos, possuía musculos maravilhosos e um rosto perfeito.
Alô! Coisa boa não se nega!
– Desculpa, professor Austin. – foi o máximo que consegui dizer, levemente envergonhada. Porém, intimamente me imaginei dizendo ‘você não quer me pegar no colo, me tirar desse lugar e me levar para sua humilde residência?’.
– Vamos entrar! – Nathan falou em extremo tédio.
Logo pegou minha mão, puxando-me para dentro da sala, e obrigrando meus olhos a saírem do transe de admirar o belo moço mais velho que era o professor.
Depois que recuperei meus sentidos, minha normalidade e dignidade, sentei-me na minha cadeira, ao lado de Jay, que estava ao lado de Tom, discutindo o quão idiota tinha sido o último jogo de futebol.
Preferi tapar meus ouvidos ali mesmo, e voltar a minha admiração dos dias de quarta-feira.
* * * 

(Ponto de vista: Lucy)

Não sei o que a Vicky estava fazendo conversando com o Nathan lá fora, mas darei um jeito de descobrir assim que tiver tempo.
Jay não olhava para minha cara e conversava revoltadamente sobre um jogo de futebol idiota, desinteressante e machista.
Max, por outro lado, comia jujubas comigo e tentava me convencer de que verde era mais bonito que laranja e que abacaxi era mais gostoso que uva, o que me causava pequenas gargalhadas.
Alguns minutos depois, o professor, que era bonito, mas quem tinha queda por ele era a Vicky, não eu, entrou na sala, seguido da minha amiga e do Nath, que se colocaram em seus lugares.
Pensei no fato Jay realmente estar chateado comigo, a ponto de me ferrar no relatório de química, não colocando meu nome ao lado do seu.
Vi todos tirarem o trabalho, colocando-os em cima das mesas e esperando a ordem do professor.
Nathan, eu e mais algums, eramos os ETs que não haviam feito a "lição de casa".
Então percebi, por sorte minha, que Jay movimentava sua caneta na capa do relatório, possivelmente escrevendo meu nome.
Enquanto olhava pra ele, distraída, o garoto voltou-se para mim com um leve sorriso no rosto, mostrando-me que havia cumprido o prometido.
Ok, Jay McGuiness não me odiava tanto assim.
– Por favor, os bons alunos que fizeram o trabalho passado na última aula, depositem os relatórios aqui, em cima da minha mesa que enquanto vocês fazem uma anotação e um exercício que passarei no quadro, corrigirei alguns. Podem se levantar calmamente. – disse o professor, educadamente, em frente a sala, olhando a turma de um lado ao outro e frisando as palavras ‘bons alunos’, encarando Nathan disfarçadamente, que logo tratou de dar uma risadinha debochada.
Mal tais ordens foram dadas e as pessoas começaram a se levantar. Apenas algumas almas ficaram em suas cadeiras, inclusive eu e o Nath, assim como a Tanya.
A menina não perdeu tempo, e assim que Tom se levantou, mandou-lhe um beijo no ar, mordendo o lábio inferior em seguida, usando toda a sua putice na face, pagando de sexy.
Provavelmente havia prometido promiscuidades se o seu nome fosse colocado ao lado do dele.
Tais atos fizeram a Vicky revirar os olhos e sussurrar a palavra "puta", aparentemente revoltada.
– Ei! Tá a fim de ir para o cinema? – Nathan falou, com um pirulito na boca.
É isso o que dá se distrair:
Pessoas roubam seus pirulitos!
– Tudo bem. Quando? - parei de encarar o meu amigo e comecei a analisar a bunda de Jay, que estava na fila, próximo a mesa do professor.
– À tarde! E dá para olhar para mim? – Nathan estralou seus dedos em frente ao meu rosto, chamando minha atenção, e percebendo o que sua querida amiga fazia.
– Tem coisa mais interessante para ser analisada que você. – ironizei, dando uma pequena risada e voltando lentamente minha cabeça para o garoto.
– Cala a boca, Lucy! - Nathan tentou segurar o riso, mas não conseguiu e logo começamos a gargalhar juntos.
– Ok! Vou ao cinema. – confirmei, ainda rindo.
– A Vicky vai com a gente. – o garoto completou, como se me passasse uma informação realmente importante.
– Ótimo! Pelo menos posso relaxar com meus amiguinhos. – esbanjei um sorriso exageradamente fofo, fazendo Nathan balançar a cabeça negativamente, desaprovando a falsidade facial.
Após alguns minutos de ‘muvuca’ perto da mesa do professor, todos estavam de volta em seus lugares discutindo o que tinha sido colocado no relatório.
O senhor Austin não deu a mínima atenção ao barulho que estava na sala e começou a escrever no quadro, logo ouvindo um suspiro da Vicky que deveria estar olhando para a sua bunda, assim como fiz com o Jay minutos atrás.
Nathan balançou a cabeça em desaprovação, optando por tirar um cochilo e se acomodando sobre a mesa.
Por outro lado comecei a copiar, mesmo não entendendo nada daquilo. Entretanto, Max e Vicky entendiam, então, depois, tiraria proveito deles para uma boa explicação.
E, enquanto isso... Dividi o fone de ouvido com o Max, ouvindo Beatles e escrevendo de mal gosto.
Por incrível que pareça tudo passou muito rápido e quando tocou para o fim da aula, só vi a cara do Nathan levantando, toda vermelha, amassada e babada fazendo nós cinco rirmos dele, que deu um risinho sem graça para a gente, logo limpando a boca.
– Hora da biblioteca. - Max, avisou, observando o relógio.
– Ok! Espera só um pouco que preciso comentar algo com a Vicky. - disse, enquanto nos levantávamos.
– Certo. Te espero lá fora! - e não demorou muito para que saísse da sala.
– Tom, meu gostosão... Você gostaria que eu fosse com vocês para a pista de skate? – Tanya perguntou extremametne manhosa, enrolando a ponta dos cabelos loiros de farmácia.
– Não. O que iria fazer lá? – Tom parecia meio revoltado com o questionamento da garota.
Pelo visto, preferia mantê-la longe ao menos nessa hora.
– Iria te ver! Torcer para você! – a garota disse tal coisa rindo e dando pulinhos.
– Querida, isso é skate, não jogo de rúgbi, e você não é uma líder de torcida. – disse Vicky, com voz de ‘deixa de ser besta garota’.
Tanya se fez de ofendida, enquanto Tom e eu disfarçávamos uma risadinha.
– Cats, preciso falar com você. - comuniquei a minha amiga, antes que voasse cabelo loiro para tudo quanto é canto.
É um caso sério essa doente mental ter virado o pênis do Tom:
Só vive agarrada nele!
– Que foi? – a menina cruzou os braços e nos afastamos um pouco das outras duas pessoas.
– Naquela hora você e o Nathan conversavam sobre o cinema? - logo perguntei, pois era uma informação que precisava ser analisada.
Já imaginou?
Nathan Sykes e Victoria Foster juntos?
FOFOCA DO ANO!
Ou não...
– Sim. Ele já te chamou? – Vi confirmou.
– Sim, chamou. Quem quis me convidar? – perguntei.
– Os dois. – disse a Vicky, meio indiferente.
– Ok, mas quem comentou primeiro?
– Eu.
– Tudo bem. Só era isso que precisava saber. – sorri para minha amiga e dei-lhe um beijo na bochecha.
Não demorei muito e saí dali, encontrando Max encostado na parede, esperando-me tranquilamente.
Quando começamos a caminhar pude me dar ao prazer de observar pelas grandes janelas sem vidro do corredor, que davam para o jardim do colégio, agora vazio, tirando os estudantes matadores de aula.
Porém o caminho para a biblioteca era realmente grande e chato...
– Bem que poderíamos pegar uma nave espacial para biblioteca. – Max disse pensativo, olhando para frente, com ar de Guerra nas Estrelas.
– Não temos naves, mas temos pernas! – falei rindo e segurei em sua mão.
O menino me encarou sem compreender nada.
Comecei a correr rápido puxando-o comigo.
Depois de um tempo já não precisava mais guiá-lo, porém não desgrudamos nos desgrudamos. Percorremos, assim, os grandes corredores da escola.
Não deixei de perceber que enquanto corríamos as paredes pareciam praticar sexo, já que gemiam constantemte...
Agora entenderam o que eu quis dizer sobre as putas daqui?
Chegamos à biblioteca rindo e fomos recebidos de cara feia pelas pessoas que estavam lá dentro, com rostos de reprovação pelo barulho que estávamos fazendo. Decidimos calar a boca para não sermos expulsos.
Correr aquilo tudo e ouvir vozes do além foi cansativo e eu queria que valesse a pena.
Max andou rapidamente até a parte de Literatura Inglesa, sua preferida, deliciando seus olhos sobre os nomes dos livros.
Fiquei ao seu lado, fazendo o mesmo. Então o garoto se abaixou, pegando algum em uma prateleira qualquer.
Logo voltou seus olhos contentes para mim.
– Que foi? – perguntei-lhe, analisando a sua expressão engraçada.
– O Retrato de Dorian Gray! – exclamou o garoto, com seus olhos acinzentandos brilhando.
Eu não fazia a mínima ideia de quem era o tal Gray, mas pela cara dele deveria ser alguém no mínimo íntimo.
– Sim, Dorian Gray... Agora detalhes, por favor! – precisava saber mais sobre aquele livro, já que havia causado na cara do Max uma grande admiração.
Maximilliam George estava com cara de Nathan Sykes.
Resumindo:
RETARDADO.
– Esse foi o livro que minha mãe leu pra mim quando tinha 10 anos! – o garoto não conseguiu disfarçar a felicidade – Claro que numa versão para crianças, mas foi tão legal!
– Ai! Que emoção! Então vamos levar esse! – sorri para ele – Até porque negar ao passado é pecado!
– Bem, isso é o que você diz! – disse Max, rindo também.
Nos direcionamos a bibliotecária que nos olhava com cara de ‘oi, te conheço’.
Ele rapidamente assinou o papel e entregou seu cartãozinho, já experiente em pegar livros.
Saímos de lá e o Max carregava aquela carinha de criança tão fofa que dava vontade de apertar.
Não nos preocupamos em sair correndo dessa vez. Resolvemo-nos tão rápido que ficamos com 10 minutos de sobra.
Ele comentava alegremente sobre o livro e a história, que me pareceu realmente interessante.
– Amanhã poderíamos começar a ler. – disse, após ele fechar um pouco a boca, depois de ter jogado vários elogios sobre a sinopse – De tarde você está livre?
– Estou. Na sua casa?
– Exato!
– Vai ter chocolate quente? – ele perguntou.
Logo lembrei dos dias de inverno que nos juntamos para ler, com cobertores e chocolate fumegante.
– Claro! - revirei os olhos, como se tal bebida fosse obrigatória e aquela questão tivesse sido desnecessária.
– LUCY!
Ouvi alguém de voz conhecida, até demais, chamar meu nome.
– Eu? - voltei-me para tal pessoa.
Jay McGuiness saindo do banheiro masculino, com um sorriso enorme em seu rosto perfeito.
Ok... Esse garoto está bem?
Estou ao lado do Max e mesmo assim Jay está sorrindo?
Isso é um sonho ou o quê?
– Posso falar com você? – falou, enquanto se aproximava de nós, encarando o outro garoto com reprovação.
– Certo, entendi. – disse Max, que deu um risinho, bastante estranho também, e, em seguida, se virou para mim – Te vejo na sala. - logo senti seus lábios tocarem com levaza em minha bochecha.
Maximilliam George, seu danadinho!
Agora eu entendi a felicidade sem revoltas do garoto...
Brincando de provocar?
Hum... Esperto!
Tendo feito sua deixa, tratou de nos dar as costas, livrando-se de ver os olhos de Jay tornaram-se metralhadoras, que iam certeiramente em direção ao seu corpo.
– Então... O que quer me falar? - perguntei chamando a atenção do garoto que havia ficado.
Jay pareceu se livrar de um transe bem maligno.
– Sorvete? Quer? – questionou.
– Onde? – comecei a olhar de um lado para o outro, procurando.
Vai lá, né? O carrinho de sorvete poderia estar em qualquer canto.
– Não. Não aqui, nem agora. Depois da aula... Está a fim? – ele disse.
Certo...
Pausa para pensar.
Jay McGuiness, sim Lucy, Jay McGuiness.
Ele está te convidando para tomar sorvete após a aula.
Após a aula...
MEU DEUS, É DAQUI A POUCO!
E assim...
Eu e ele poderemos ficar juntos, s.o.z.i.n.h.o.s e divos, com sorvetes em nossas bocas e por consequência beijos gelados, mão na bunda e pegação.
– Já é, cara! – falei rindo, com cara de retardada, assumo, porque ainda estava em uma alta viagem na minha cabeça.
O ‘já é’ foi muito mais para mão dele brincando comigo [lê-se em meu corpo], do que pela pergunta que havia feito.
Mas bem, ele não precisava saber disso, ao menos não agora.
– Legal! Mas é só eu e você, falou? – seu rosto foi quase de "proibido chamar idiotas".
– Claro! – sorri, de orelha a orelha, de cérebro a cérebro, de cada pensamento podre que eu tenho em my mind.
E ele achou mesmo que eu ia chamar mais algum ser insignificante para nosso encontro?
NÃO MESMO.
Egoísmo chegou e ficou baby.
– Acho melhor irmos para sala! – Jay riu, não sei se da situação ou da minha cara.
Mas quem liga?
Jay McGuiness me chamou para tomar sorvete!
É quase o mesmo que me pedir em casamento!
Ok... Exagerei.
Neurônios, parem de funcionar ou vão me matar!
Corram agora mesmo para a cabeça do Nathan... Com certeza ele precisa mais do que eu.
Nathan?
NATHAN!
Ele precisava saber disso.
Nessa hora eu e Jay já estávamos entrando na sala, nem sei se ele falou algo. Meus pensamentos estavam mais divertidos que qualquer outra coisa.
E, aliás:
– Não vou poder ir para o cinema. – falei, sentando-me ao lado de Nath, enquanto Max tentava nos ouvir.
O professor já tava na sala, apagando a anotação de química do quadro.
– Por que não? – Nathan perguntou com uma felicidade disfarçada, que, para sua infelicidade, eu percebi.
Porém me fiz de burra.
– Sairei com o Jay. – sussurrei, evitando que Max ouvisse qualquer coisa.
– LEGAL! – gritou o Nath.
Precisa dizer que eu quase tive um troço?
Que o Nathan poderia saber do que poderia acontecer tudo bem, mas o resto da sala não.
– Pois é senhor Sykes, a aula de Inglês realmente é muito legal! – falou o senhor Huss.
– É que as vezes me empolgo! – o garoto riu, tentando disfarçar.
Nessa hora enfei minha cabeça na terra, com as minhocas, com os vermes e minha vergonha.
Mas, pelo que parece, ninguém da classe entendeu nada daquilo.
Ufa!
– Obrigada por estragar minha vida por um minuto! - fiz uma voz revoltadinha.
– De nada! Agradeça-me contando tudo para mim amanhã. – o sorriso dele era gigante, só não sabia se o motivo era eu e o Jay ou ele e a Vicky.
Os próximos capítulos dessa idiotice veremos logo, logo, porque é óbvio que vou descobrir o que o Nathan tanto quer com a minha querida amiga.
Será que realmente será aquele bafo do ano que tanto penso?
Quem sabe?!


     * * *



CAPÍTULO 03

PACIÊNCIA, VOCÊ PODE SE LIVRAR DA TANYA?



Ponto de Vista: Vicky


Sinceramente? A aula de Inglês poderia ter sido bem mais chata, mas não foi.
É que ultimamente mudei a minha opinião sobre “o que é ser chato”, já que tudo de ruim no mundo estava ali, do meu lado do carro, irritantemente loira, com a cabeça pela janela, que nem um cachorro, diga-se de passagem.
Tom dirigia prestando atenção na pista, ou tentando, porque a Tanya não parava de falar:
– O que vai fazer hoje à tarde, Tonzinho? – disse ela, com sua voz de biscate que geme.
– Vou dormir, jogar vídeo game e dormir de novo. – o garoto disse sem nem ao menos mudar a expressão do rosto.
– E posso fazer tudo isso com você? – Tanya sorriu oferecidamente.
Vamos lá, vaca! Ignore-me e peça para transar com o meu irmão aqui, bem na minha cara!
– Você já vai almoçar lá em casa, só falta me pedir para dormir lá também! – falou Tom, com a voz revoltada, mas educada.
Tentei não rir da careta ofendida que ela fez.
– Se após o almoço eu for embora... À noite posso voltar para ficarmos juntos?
– Depende.
– Do que?
– Depende se você vai querer me ver fazendo o dever de casa, tocando violão, analisando revistas pornô, criando um lagarto fêmea e esse tipo de coisa... Se estiver a fim, fique a vontade. – o tom de voz indiferente de Tom contrastou com a animação de Tanya.
Se ela tivesse um pingo de orgulho já teria se jogado ali mesmo, na pista.
E, sinceramente, eu iria adorar ver a cena.
– Eu não ligo! O que importa é estarmos juntos! – ela disse, com olhos sonhadores, não percebendo o fora que o meu irmão havia dado.
Tom revirou os olhos, buscando paciência.
Já eu pensava em como seria deprimente mais uma noite com aquele ser na minha vida.
Lembrei-me das palavras da Lucy há alguns dias atrás: “Você implica com a Tanya, além do fato dela ser chata, claro, porque ela vive grudada em seu irmão! Coisa que antes era você que fazia. Só que de um jeito muito melhor, já que não vale nem a pena comparar vocês duas, sendo você mais diva!”.
A verdade é que eu e Tom sempre fomos muito próximos, principalmente após a morte do meu pai.
Mas sentir ciúmes?
Não chego a tanto, porque meu ego não permite!
Ou está permitindo... Já que estou sentindo um ódio mortal da Loira da Estrada, mais conhecida como Tanya Linus.
Meu pai casou-se com a mãe de Tom quando eu tinha nove anos e ele dez. No começo a gente se estranhava, mas depois fomos crescendo e nos acostumando, até sermos amigos de verdade.
Vim saber o quanto a nossa amizade valia à pena quando completei meus 13 anos. Meu pai morreu de câncer no pulmão.
Maldito cigarro!
E a cena que mais me vem à cabeça é o dia do enterro:
Não conseguia chorar e a mãe de Tom acabava-se em lágrimas incontroláveis. Eu a olhava de longe, sem nem mesmo ter coragem de ficar ao seu lado, mesmo várias vezes ela tentando conversar comigo.
Gostaria de ficar a sós com meu pai, com as lembranças dele... Não bastava perder a minha mãe e inesperadamente havia chegado a sua vez.
Meu coração carregava o sentimento de que estava sozinha, mas como quem lia minha cabeça, Tom tocou minha mão e disse calmamente para mim:
“Você não está sozinha”.
Então sempre que penso em meu pai, a voz de Tom vem a minha mente, dizendo tais palavras que até hoje me consolam.
E por causa de uma bitch a proximidade com o meu “irmão” estava quase nula.
Tanya Linus havia estragado tudo e o meu amigo de casa agora se dedicava a uma garota sem valor algum!
Tenho certeza que o Tom não faz por mal, pois deve ser realmente cansativo tentar se livrar de uma garota tão, tão, tão grudenta!
Era muito mais cômodo deixá-la falando idiotices do que aturar sua voz de taquara rachada reclamando que é ignorada.
E essa distância me torturava...
Ao menos hoje a tarde teria um momento de descanso com meus amigos, no cinema. Pessoas que adoro e que realmente me fazem muito bem.
Mal pensei tal coisa e o meu celular vibrou, avisando uma mensagem de texto:
Oi V.! Não vou poder ir ao cinema com você e Nathan. Eu sei, eu sei... Deveria ter dito isso ainda no colégio, mas é que estava tão distraída com outras coisas. E sim, uma dessas “outras coisas” tem nome e sobrenome: Jay McGuiness! Ele me chamou para tomarmos sorvete juntos e sozinhos. Estranho, não é? Enfim, torça por mim, minha diva! E cuide bem do Nath... Xoxo, L.“.
Decidi responder a mensagem:
“Na próxima vez, antes de ir viajar para Marte, me avisa para que me prepare psicologicamente! Pelo menos o Nathan não é loiro e chato HAHA. Boa Sorte com o Jay! Xoxo, V.”.
Voltei a minha realidade, olhando Tom.
O rosto dele concentrado fica realmente bonitinho.
Mas e daí?
Preferi colocar o fone de ouvido e escutar algumas músicas antes de chegar em casa. Pelo menos assim não seria obrigada a ouvir a voz daquela boneca de macumba.

* * *

Demoramos um pouco até a hora de chegar. Londres linda, mais extremamente louca, é um terror na hora do almoço.
Será que todos gostam de sair de suas casas e trabalho ao mesmo tempo?
Cheguei quase morta de fome e a primeira a entrar em casa fui eu. Assim que entramos a mãe de Tom vinha descendo as escadas:
– Chegaram na hora certa! O almoço acabou de ser servido. – ela sorriu e chegou perto de nós três, que ainda estávamos em frente a porta. – Tanya! Quanto tempo meu anjo! Como você está?
Preciso dizer que a mãe do Thomas adoraaaaava a Tanya? Só com essa recepção fofíssima da para ver tudo!
Tanya, que não era besta, assim que se interessou pelo meu irmão se tornou amiga da minha madrasta.
Biscate esperta!
– Senhora Parker! Estou muito bem! E você? Pelo visto está maravilhosa porque seu cabelo está lindo. – as duas trocaram beijinhos de cumprimento.
– Certo... Eu vou lavar minhas mãos que é melhor! – olhei com tédio para a cena que se passava.
– Vou com você! – disse Tom, com visível nojo da frescurinha entre a mãe e a vaca.
Paramos no banheiro do corredor, com ele abrindo a torneira para que eu lavasse minhas mãos primeiro.
– Não sei como você a aguenta. – falei mais para mim do que para ele, e senti seus olhos pararem no meu rosto, enquanto mantinha minha cabeça virada para baixo, em direção a minhas mãos.
– Ela não é má pessoa, só é carente. – Thomas disse com seriedade.
– Não, ela não é carente, ela é oferecida, Tom, é diferente. – falei, e preferi que minha voz tivesse soado bem menos revoltada.
– Concordo que ela é oferecida. – ele lavou as mãos, enquanto enxugava as minhas. – Acredita que no primeiro dia que eu a vi ela fez o favor de cruzar a perna mil vezes só para me mostrar a calcinha?
– Não creio! – fiz cara de assustada e parei para pensar – Quer dizer, eu creio sim! Bem a cara dela!
Tom riu para mim com aqueles olhinhos castanhos se fechando e depois de segundos ficou com o rosto imóvel, sem expressão alguma, me encarando.
Vi aquilo e não resisti:
– Sinto sua falta. – e ele me olhou por mais algum tempo, balançando a cabeça logo em seguida.
– Tenho sido um irmão nada presente ultimamente, não é mesmo? – Tom deu um leve sorriso, se encostando na parede e cruzando os braços, observando-me.
– Sim. Mas eu entendo que você goste da Tanya e quer ficar com ela.
Eu sabia que ele não gostava da Tanya, mas queria ter certeza...
Vai que existe algum sentimento e ele precise ser internado urgentemente?
– Não gosto dela. – seus olhos ficaram fixos em mim – Por enquanto é um divertimento. – e depois ele os virou, como se a parede do outro lado fosse bem mais interessante.
– OI, GENTE! – Tanya Linus, estraga prazeres desgraçada, atrapalhou a nossa conversa – Vim lavar minhas mãos para podermos almoçar juntos – e nessa hora ela olhou para Tom, que fez um sorriso forçado, causando-me certa graça.
Fui obrigada a esperá-la lavar as mãos, pois a vadia havia feito questão de ocupar todo o espaço, impedindo-me de sair.
Meu irmão, por outro lado, foi bem educado, porque não me deixou a sós com aquele parasita.
Descemos a escada e a mãe de Tom já nos esperava, sentada na cabeceira da mesa, e fez um favor de nos dar um sorriso bem aberto quando nos viu. A empregada servia-lhe um suco.
Sentei no lado esquerdo da grande mesa retangular e comprida, enquanto Thomas sentou-se na minha frente, ao lado da mãe, e Tanya aproveitou a cadeira ao lado dele.
Todos começaram a se servir silenciosamente, e apenas o barulho dos pratos e talheres eram audíveis. Após isso percebi a mãe de Tom olhando para ele e depois para Tanya, com um leve sorriso no rosto:
– Vocês já estão namorando? – perguntou como quem não quer nada, já querendo.
Ouvi Tom se engasgar tragicamente e colocar a mão na garganta. Enquanto a Tanya lhe dava umas tapinhas nas costas.
Foi engraçadamente deprimente.
– Óbvio que não! – a voz do garoto saiu totalmente falha, e seus olhos estavam vermelhos.
Por alguns segundos Thomas encarou a mãe assustadamente, já ela sorria em meio a uma careta.
– Mas acho que Tonzinho e eu formamos um casal lindo, sabe? De filme romântico e tudo! – novamente vi nos olhos da loira chata aquela coisa sonhadora.
A mãe dele ria, achando tudo maravilhoso, enquanto Tom balançava a cabeça em sinal negativo, discordando com isso, mas voltando a comer.
– Sabe que eu concordo, Tanya? – a minha madrasta já nem comia mais, assim como a biscate. Duas comadres conversando e eu e Tom sobrando. – Eu acho que deveriam namorar.
– É. Mas não vamos. – ele fez questão de dizer, ainda olhando para o próprio prato. Eu me senti uma mosca, ouvindo conversa alheia.
– É o que veremos queridinho! – falou Tanya, fazendo questão de passar a mão na orelha de Thomas, enquanto a mãe dele a olhava com ar de aprovação.
Passamos o resto do almoço calados.
Graças a Deus.
Uns minutos de paz me fizeram bem.
– Vou me arrumar! – foi o que disse, assim que acabei de comer, levantando-me da mesa.
– Vai para onde? – ouvi Tom perguntar-me, com o copo perto de sua boca.
– Vou com o Nathan para o cinema. – comentei indiferente.
– É um encontro? – perguntou Tanya, toda fofoqueira.
– Não. A Lucy ia, mas ela vai sair com o Jay e aí sobrou eu e o Nath para irmos.
– Eu posso ir com vocês? – Tom suplicou com os olhos, mas logo conclui que se ele fosse Tanya iria junto.
– Não, acho melhor não. Agora vou me arrumar, com licença.
Se eu passasse mais dois segundos ali, Parker me faria mudar de ideia, coisa que eu não queria.
Não faria a mínima questão dele ao meu lado, mas faria toda questão do mundo ter a Tanya por perto, já que para essa tarde eu sinceramente esperava toda a tranquilidade possível.
Tomei um banho e troquei-me rapidamente, preocupada com algumas poucas coisas da roupa.
Eu não tava assim tão empolgada para o cinema, mas era melhor do que ficar em casa.
De 15:00h exatas Nathan estava na frente de casa. Já estava pronta e preferi esperá-lo dentro do quarto e saí rapidamente sem ninguém me ver para ir ao seu encontro.
Não quero interrupções na minha ‘tarde refúgio’.
– Nossa, você está linda! – disse Nath muito simpático, olhando-me enquanto me aproximava dele.
– Obrigada. Vamos logo. – falei, sem nem ao menos lhe dar tempo de perguntar se eu estava bem, mal, assada ou frita.
– Ok! – ele logo entrou no seu carro também.
Que a tarde seja agradável, porque a manhã foi um saco!
     * * *



CAPÍTULO 04

MUITO MAIS INTERESSANTE QUE O SORVETE



Ponto de Vista: Lucy


– Qual sabor você quer? – Jay me olhou, sem nem ao menos pegar a plaquinha com os sabores.
– Morango! – falei, passando os olhos rapidamente na placa, mas já sabendo o sabor. – E você?
– Baunilha. – ele sorriu, prontamente.
– Nunca imaginei Jay McGuiness tomando sorvete de baunilha! Normalmente pensava em você tomando de chocolate. É bem mais másculo. – ri da cara dele, enquanto ele retribuía a risada.
– Certa pessoa me fez mudar de sabor. – falou e colocou um leve sorriso sexy no rosto, que poderia me fazer tirar a roupa – Mas até a alguns meses atrás assumo que o meu preferido era chocolate!
Não resisti e comecei a rir.
Ele tinha cara de tarado por chocolate!
– E quem te fez mudar de sabor? Chocolate para baunilha é um contraste e tanto!
– Você! – ele falou, e ficou sério, olhando em meus olhos.
Eu?
Será que já fui tomar sorvete com o McGuiness e não lembro?
Ok senhor, acho que estou ficando louca.
– Como assim? – perguntei, ainda sem entender.
– Você tem cheiro de baunilha! – Jay fez voz de quem tinha assumido um ponto fraco, seguido de uma careta, que mais me pareceu uma criança confessando segredos.
Não nego que tive vontade de me cheirar até sentir o cheiro/sabor que ele gosta.
– Ah! – parei para pensar e caiu a fixa – Meus cabelos?
– Exato! – Jay sorriu, confirmando – Eles têm cheiro de baunilha! E são realmente bons!
– Bom saber que o hidratante vem dado certo! – sorri.
Ok, agora eu sei que ele gosta de baunilha.
Do MEU cheiro de baunilha.
Jay fez um sinal para a atendente, que anotou nossos pedidos. Adorava aquela sorveteria, várias vezes havia ido ali com Nathan e Vicky, meus melhores amigos.
Estávamos sentados em um ‘sofá’ que vinha ao redor de toda a mesa quadrada e branca, enquanto o banco era azul escuro, assim como os detalhes do lugar. Ficamos próximos a janela, onde dava para ver a pequena rua movimentada de Londres.
Analisei aquilo tão distraída que não percebi Jay me observando:
– O que você estava fazendo com o Max naquela hora que nos encontramos no corredor, antes de convidá-la para tomar sorvete? – perguntou repentinamente.
– A gente tinha ido à biblioteca pegar um livro para lermos. – disse tal coisa com receio.
Falar com o Jay sobre o Max George era realmente esquisito.
– Legal. – comentou, ficando sério. Desviou os olhos de mim, sendo ele, dessa vez, a olhar para a rua lá fora.
Por alguns segundos me prendi em seu rosto. Seu nariz, seus cabelos cacheados e a sua boca levemente contraída, mostrando seriedade.
Não resisti e me movimentei.
Arrastei-me pelo banco, ainda sentada, até chegar ao seu lado e tapar a sua visão, que estava bastante concentrada no lado de fora.
Seus olhos encontraram os meus, sua respiração batia em minha pele. Eu sentia seu hálito suavemente, seus olhos percorriam meu rosto e se depositaram em um lugar.
Segundos depois Jay McGuiness estava em meus lábios, matando o desejo que sentia há séculos.
Uma de minhas mãos estava em seu rosto, enquanto a outra estava em sua gravata, puxando-o para mim. Seus braços estavam ao redor de minha cintura, fazendo que nossos troncos ficassem colados.
Que se dane o mundo, e o povo daquela sorveteria, eu estava beijando Jay McGuiness e poderia até ir parar no Youtube que o mundo continuaria bonito e colorido.
– Com licença, senhores. – ouvimos a voz da atendente, que veio nos trazer os sorvetes, e paramos de nos beijar com os nossos biquinhos vermelhos no ar.
OK! ATENDENTENDE DESGRAÇADA, ESTRAGA BEIJOCAS, PEGAÇÕES E SEDUÇÃO PÚBLICA!
Xinguei-a mentalmente até dizer chega, mas apenas respondi um:
– Obrigada. – desvencilhei-me do braço do Jay, que ainda estava assustado com a parada bruta que tivemos, e peguei os dois sorvetes.
Ela se retirou com cara de ‘Oh My God!’, enquanto Jay a olhava andar, furioso, com um dos braços ainda envolvendo minha cintura.
– Não liga. Teremos o resto da tarde para isso. – comentei, virando seu rosto para mim.
– Bom saber disso. – ele sorriu espertamente e me deu um selinho, seguido de uma mordida no lábio inferior, que me fez perceber que os dentes dele não serviam só para comer e serem bonitos, mas também para me deixar incrivelmente quente com aquele ato.
Entreguei-lhe o sorvete e abri o meu.
Deus, como eu amo cheiro de morango!
Dei a primeira colherada e me deliciei com aquilo.
– Não faça essa cara em local público! – disse Jay – É maldade!
– Por quê? – perguntei sem entender, olhando para ele, com a colher no ar.
– Isso foi extremamente sexy! - a cara do garoto foi de ‘você me entende’.
– Desculpa. O que acha de me deixar vê-lo tomar sorvete? Se for tão sexy quanto você acha que eu sou, vamos ter que acabar isso em outro lugar. – falei, tentando fazer a voz mais sensual possível.
– Sério? – a voz de Jay era de impressionado tarado.
– Não. Isso foi uma brincadeira. – falei séria. Como se achasse absurdo ele ter acreditado.
– Ah! Desculpa! – o rapaz fez um biquinho e baixou a cabeça, com rosto de arrependimento.
– Bobinho! – sorri do rosto dele, que me olhou sem compreender – Estava zoando com você!
– Ah! Sua chata! – Jay riu muito mais aliviado.
– Eu sei que sou chata e você adora isso! – comentei, mais por brincadeira do que por realidade.
– Sim, eu adoro isso. – logo recebi um olhar tão profundo e indecifrável que senti minhas pernas tremerem.
Não demorei muito e já estava agarrada a sua boca novamente. Agora sem atendente para atrapalhar.
Nossos sorvetes estavam ali, o dele intocado, o meu quase cheio.
O menos importante era isso, até porque, a sorveteria só foi uma desculpa para fazer aquilo que esperávamos a um bom tempo.



     * * *



CAPÍTULO 05

ELE QUERIA ESTAR ALI... EU NÃO



Ponto de Vista: Vicky

– Me dê um pacote grande de pipoca e dois refrigerantes, mais quatro chocolates. – falou o Nathan, na lanchonete do cinema.
Já havíamos comprando o ingresso.
Chegamos na hora e eu estava menos feliz do que deveria estar. Nath veio fazendo graça o caminho todo e me arrancou algumas leves risadas, mas nada, além disso.
– Vamos entrar? – ele voltou-se para mim, me entregando os chocolates e um dos refrigerantes.
– Vamos. – falei tão baixo que até eu mesma tive dificuldade de ouvir.
Comecei a andar indicando que tinha aceitado o que ele propôs.
Nathan veio atrás de mim, andando apressadamente e cuidadosamente para não derramar nada da comida. Acomodamo-nos nas poltronas e ficamos olhando a tela branca e grande depositada a nossa frente.
A sala estava quase vazia, o barulho era inexistente, assim como minha vontade de estar ali.
Mudei de ideia assim que entrei no cinema com um sentimento de que faltava algo.
– Eu li um resumo do filme e pareceu divertido. – o garoto falou, quebrando o silêncio.
– Bom! – foi o que disse.
– Ta acontecendo algo? – ele perguntou, fazendo careta.
Pobre Sykes... Não merece minha companhia tediante.
– Não. Só sono.
Foi a primeira desculpa que me veio a cabeça.
– Então arranque o sono dos olhos, coloque um sorriso no rosto! Você está com Nathan Sykes e Nathan Sykes não admite tristeza na sua frente, porque fica parecendo que sou incompetente!
Nem preciso dizer que ri só de vê-lo falando dele mesmo na terceira pessoa.
– Ta bem! Vou ficar decente para você! – dei-lhe um sorriso não tão feliz, mas simpaticamente sincero.
– Obrigado! – ele olhou a pipoca – Vamos comer! O filme se quiser que comece depois!
Mal ele falou isso e as luzes apagaram. Na frente, a tela branca acendeu, sendo ocupada pelos trailers.
Logo a mão de Nath atacou a pipoca, levando-a a boca sem a menor frescura. Achei aquilo engraçado e fiz o mesmo, recebendo um sorriso de aprovação da sua parte.
Eu não queria estar ali, mas o Nathan sim.
Então por que não deixá-lo feliz com isso?

* * *

O filme não demorou a terminar.
1:30h bem agradáveis.
Nath conseguiu rir mais alto que todo mundo e comeu a pipoca muito mais rápido do que pensei que ele fosse capaz.
– Sua boca está suja de chocolate. – falei, apontando para mim, para dizer onde a dele estava melada.
– Ah! Obrigado. Não dá para ficar bonito no escuro. – comentou e sorri de leve.
Estávamos na saída do cinema, começava a escurecer e o vento se tornava mais frio.
– É melhor a gente ir logo antes que você vire um picolé! – ele comentou.
Rapidamente apertei meu corpo, tentando me aquecer.
Isso é o que dá trocar de roupa pensando em outras coisas e não prestar atenção no que está vestindo!
Sykes procurou seu carro e se eu não tivesse o ajudado a achar, passaria o resto do dia tentando se lembrar onde havia estacionado.
O resto do caminho foi calmo e fizemos vários comentários sobre o filme, fazendo-me chegar a conclusão que, mesmo com tudo, a tarde foi boa e até posso dizer que feliz.
– Vou te deixar na porta. Espera. – disse Nathan, já em minha casa.
– Não! Não precisa, fica aí que eu sei o caminho! – falei rindo, mas muito antes de sair do carro ele já estava abrindo a própria porta. – Ok, se você insiste.
O garoto fez seu papel de cavalheiro, ajudando-me a sair.
Acho que ele tava querendo é ser convidado para jantar com a gente!
Brincadeira.
Nathan foi tão gentil que preferi não soltar a piada.
– Então, está entregue em segurança. – disse, parado ao meu lado, em frente a entrada de casa.
– Obrigada. Foi legal a tarde de hoje.
Pode não ter parecido, mas no fundo de minha alma foi e eu achei importante falar isso.
– Posso dizer o mesmo... – então sorriu docemente, com seus olhos avelã brilhando.
– Acho melhor entrar. – foi o máximo que consegui dizer. Aquela situação tava se tornando muito filme americano. Romântico, enjoado e previsível. – Tchau, Nath.
Logo sumi, fechando a porta.
Como foi a cara dele? Eu não sei. Mas a minha foi de alívio, pois por mais alguns segundos poderia sair coisas fofas da boca do Sykes que eu prefiro que fiquem só para ele.



     * * *



CAPÍTULO 06

AMIGA, VOCÊ NÃO SABE!



Ponto de Vista: Lucy


 – Posso passar aqui para irmos juntos a pista de skate? – perguntou Jay.
Já fazia alguns minutos que estávamos ali, em frente a minha casa, ele encostado em seu carro, com os braços ao redor de minha cintura, e eu de frente para ele, com os braços ao redor de seu pescoço.
Não queria entrar, e Jay não me deixava fazer isso.
– Não. Acho melhor você ir nos encontrar lá. – comentei, brincando com a grava do seu uniforme.
– Por quê? – o garoto questionou com curiosidade.
– Hoje quase não conversei com a minha amiga... Amanhã quero passar na casa da Vicky e do Tom para podermos fofocar um pouco.
Esses garotos só ocupam nossos tempos e cabeça! É um absurdo com as amizades alheias.
– O tempo que você passou com o Max poderia ter passado com ela. – foi o que Jay me disse, olhando em meus olhos, com um ar misterioso.
– E o tempo que você perde falando sobre o Max poderia ser ocupado com a gente se beijando. – se Jay McGuiness quisesse provocação, que a fizesse sozinho.
O dia estava maravilhoso e por mais que o Max seja um fofo, naquele momento, eu queria esquecê-lo.
– Pode ter certeza! Muito melhor a sua boca do que aquele careca nerd! – Jay resmungou, quase rindo.
– Ou, ele não é um careca, ele é um carequinha! E acho isso muito fofo, ok?
– Lucy! – o garoto me repreendeu.
– Jay! – imitei seu tom de voz.
Encaramo-nos por alguns segundos, mas logo caímos na gargalhada.
– Acho melhor esquecermos do Max. – comentei, me recuperando do ataque de riso.
– Acho melhor eu te beijar pela última vez antes de você entrar. – Jay disse, me puxando para mais perto de si.
– Concordo plenamente!
E novamente eu senti o meu corpo ficar quente.
Os lábios de Jay McGuiness sabiam como tocar em mim e fazer todo meu corpo pegar fogo.
Não queria que aquele beijo terminasse e não queria ficar longe dele. Eu poderia passar o resto da noite ali, me satisfazendo com sua boca.
– Boa noite. – ele me olhou, acariciando meu rosto com uma das mãos.
– Boa noite. – lhe respondi, dando um último selinho e beijando sua bochecha.
Senti seus braços apertarem a minha cintura e nos abraçamos por mais alguns segundos. Depois, já havia lhe dado as costas, me segurando para não olhar para trás.
O garoto que eu gosto a um bom tempo me proporcionou uma tarde praticamente perfeita e era realmente abominável ter de ir embora e não fazer do resto do dia tão bom quanto à tarde.

* * *

Após tomar meu banho com certo ar de felicidade, tomei o jantar junto com minha mãe e o seu namorado, que se intrometeu em nossa mesa.
Eu não gostava do Marc, achava ele um rico imbecil que gosta de comer modelos e só tava tirando proveito da minha mãe para fazer imagem de que era decente.
Nem preciso dizer que já tive várias brigas com ela tentando lhe abrir os olhos, mas eles estão tão tapados quanto os seus ouvidos que insistem em ignorar o que eu digo.
– Como foi o dia hoje, filha? – perguntou mamãe, no meio do jantar, tentando quebrar o silêncio.
– Normal. – falei.
Preferia que tudo voltasse a ficar quieto.
E sim, fingi que Jay não existia.
– Normal? Uma garota da sua idade deve ser cheia de pretendentes. Então acho que o seu dia não foi nem um pouco normal. – disse Marc, se metendo onde não foi chamado.
– O meu dia foi normal o suficiente para não ser da sua conta. – fiz um rosto nada simpático, enquanto recebia um olhar ofendido.
– Lucy, não seja assim tão mal educada com o Marc! Ele só está querendo ser sociável. – disse minha mãe, repreendendo-me.
– Se ele quer sociável, por que não o pergunta qual o nome da modelo que ele levou para cama hoje? Tenho certeza que a conversa duraria horas sobre esse único assunto. – falei chateada e levantando-me da mesa. – Perdi a fome.
Retirei-me dali se nem ao menos dar atenção ao “Volte aqui já, mocinha!”.
Eu adorava jantar com minha mãe, porém se fosse nós duas e mais ninguém.
Nada de Marc.
Após a separação dos meus pais, a Senhora Mason até que arranjou uns namorados aceitáveis, mas esse desgraçado estava longe de valer algo.
Era o fim do mundo!
Não conseguia aceitá-lo de maneira alguma.
Assim que entrei no quarto joguei-me na cama e fiquei olhando para cima, admirando o teto extremamente branco.
Lembrei-me do Jay na sorveteria, do seu sorriso, da tarde de hoje. Não via a hora que amanhã chegasse para eu vê-lo de novo. Mas antes que isso acontecesse, eu precisava ligar para minha querida Vicky para saber como tinha sido o cinema.
– 0800 Vadia? – foi o que falei quando ouvi a voz da Vicky dizendo ‘Oi Vaca!’.
– A Vadia aqui está ocupada. Quer marcar horário com outra? - minha amiga fez voz de piranha de bordel e nós duas caímos na risada. – Já estava com saudade de ouvir seu riso escandaloso.
– E eu já tava com saudade de ouvir sua voz de criança. – comentei – Me diz! O que aconteceu com você nesse tempo sem nos amarmos?
– Fui ao cinema com o Nathan.
– E mais o que? – perguntei ansiosa, esperando qualquer assunto que envolvesse beijos, abraços, e declarações.
– E só isso. Vimos o filme, que, aliás, é muito bom e depois voltei para casa. Para minha realidade chatíssima! – ela falou sorrindo e depois ficando séria.
– Só tem isso para contar sobre o cinema? – nem mesmo consegui disfarçar a voz decepcionada.
– Queria que tivesse mais o que? Lágrimas, assassinatos e vídeos pornôs? – Vicky riu da própria piada.
– Não. Não queria que tivesse mais nada além de você e Nathan vendo o filme, simples assim. – tentei redimir meus pensamentos. – E aí na sua casa? Algum sinal de loira aguada?
– Sinal vermelho e constante. Ela almoçou aqui e veio passar a noite com o Tom. – Vi parecia levemente revoltada – Acredita que ela acha que vai namorar o Thomas?
– Como assim? Essa garota está comendo sanduíche de maconha estragada? – perguntei indignada.
Mesmo com toda a implicância que eu tinha com o Parker... Nem ele merecia algo tão ruim como a Tanya.
– Bem capaz, aquela lesada! Como se o Tom fosse a querer! – falou Vicky, com um sorrisinho debochado seguido.
– Amiga, se essa vaca te encher a paciência pelo resto da noite sinta-se convidada para se refugiar em minha humilde residência. – falei, pensando em casos extremos de loirisse aguda pelo resto da noite.
– Pode deixar, gata! Qualquer coisa eu fujo dessa bandida e vou para sua casa! – a ruiva comentou – AAAAAH! JÁ IA ME ESQUECENDO! – logo fui obrigada a ouvir um grito alto no meu ouvido – E você e o Jay, em safada?
– GATA! NEM TE CONTO! – retribuí o grito dela bem empolgada – A gente se beijou!
– Não creio! – ela disse com voz pasmada.
– Mas creia! E foi perfeito. Ele é mais sexy do que se pode imaginar! – só de falar isso senti minha cabeça ferver.
– Quero detalhes de tudo A-GO-RA! – ela disse rindo.
– Ok! Vou te contar!
Passamos o resto da noite gastando nossas salivas atualizando as fofocas do dia.
Como era bom falar com a Vicky e poder dizer tudo o que eu sinto e penso sem medo!
Tive vontade de comentar mais algumas coisas sobre o Nathan, para ver o que ela dizia, mas infelizmente não tive oportunidade, já que Vi não parava de falar sobre o Parker.




        * * *



CAPÍTULO 07

SKATE



Ponto de Vista: Vicky

Bom dia mundo Londrino que acorda aí fora enquanto eu daria mil coisas pra continuar dormindo aqui dentro. Pista de Skate.
Foi o que veio na minha cabeça assim que abri os olhos ao som do despertador de celular.
Tomei um banho tão demorado que até pensei que estava morando no banheiro e me troquei sem muita preocupação na roupa. Dedicando-me mais a maquiagem. A Lucy poderia odiar aqueles uniformes, mas eu os adorava. Algo de bom tinha que ter naquele colégio além do professor de química.
– Bom dia! – ouvi Tom dizer assim que entrei na cozinha e fui recebida com um beijo na bochecha. Ele vestia uma bermuda e um tênis largo que deixava seus pés maiores que o normal, mas que ainda assim caía bem nele.
– Bom dia, Tom! – respondi, lhe retribuindo o beijo. – Animado?
– Demais! Estou com saudade da pista! Foi uma ótima ideia da Lucy! – ele comentou, encostando-se no balcão e comendo uma torrada.
– Concordo. – peguei uma torrada e me sentei no balcão, ao lado oposto. – Daqui a pouco ela ta chegando.
– Ela vem pra cá? – perguntou o Tom, desinformado.
– Sim.
– E o Jay? 
– Vai encontrar a gente lá. – respondi, colocando um pouco de leite na xícara e misturando com o achocolatado.
– Me diz, ela falou algo deles dois? – ele perguntou curioso e com um risinho no rosto.
– Tão ficando. – não consegui segurar o riso. – Precisava ouvir a voz dela ontem no telefone.
– Imagino! – ele disse, com rosto pensativo – Faz tempos que os dois se gostam.
– Uhum. – confirmei.
– Só quero ver como vai ser com o Max. – ele fez um rosto de preocupado que me fez parar pra pensar na situação.
– A Lucy não é má. Vai acabar dando tudo certo. – tentei ver a situação por um lado positivo. – E a Tanya? Te encheu muito ontem?
– Até que não. – ele falou em tom indiferente – Ela passou a noite inteira me fazendo carinho, quer dizer, acariciando minhas pernas. Ela pode ser o que for, mas do jeito que ando carente, até a Tanya serve. – ele riu, enquanto fiquei séria.
– Se você diz. – tentei sorrir, mas não deu. 
Coloquei a xícara em cima do balcão e desci dele assim que ouvi a campainha tocar. Minha amiga havia chegado. Ainda bem. Não queria mais ouvir o Tom dizendo a competência que a Tanya tinha de ser oferecida.
– Bom dia meus pinguins mexicanos! – foi a primeira coisa que a Lucy disse assim que entrou na cozinha, perto da porta de entrada. Logo percebi que pegar o Jay é o mesmo que beber a água da fonte da felicidade. A menina brilhava. Credo!
– Bom dia, Lu! – falei sorrindo, enquanto a abraçava e ela retribuía fortemente.
– Bom dia, chata! – disse o Tom, vindo abraçá-la por cima de mim, me fazendo ficar arrepiada.
– Bom dia, doente! – ela falou rindo e dando um tapa na cabeça dele. – Já estão prontos, comidos e mastigados? – perguntou, assim e que nos afastamos.
– Praticamente, falta escovar os dentes. – disse Tom.
– Espera só um pouco que a gente já vem. – falei pra ela.
Subimos rapidamente enquanto a Lucy sentava-se no sofá, já acostumada com a casa. Enquanto eu escovava os dentes Tom foi pegar as nossas bolsas em nossos quartos, a dele mais pesada do que a minha, já que estava com a farda do colégio guardada.
– A gente vai de quê? – perguntei a ele, assim que o vi deixar as bolsas no chão do corredor pra entrar no banheiro.
– Não sei. Pergunta de que a Lucy veio. – ele disse, pegando a escova.
– LUCY! VOCÊ VEIO DE QUÊ? – gritei e o fiz rir. Sorte que a mãe dele saia cedo pra ir trabalhar.
– BICICLETA! – ouvi a voz da minha amiga, distante.
– Então, vocês podem ir de bicicleta e eu vou de skate pelo caminho. – disse Tom, tentando falar com a boca cheia de creme dental.
– Ta certo! Vou tirar a bicicleta e o skate da garagem. – falei, saindo do banheiro e colocando minha bolsa nas costas.

Desci as escadas e a Lucy estava sentada no sofá jogando no celular o que me fez rir.

– Fazendo o que biscate? – perguntei, cutucando-lhe no ombro.

– Eliminando meu tédio! – ela falou rindo e se levantando. – E aí? Pronta?

– Eu sim. Só falta o Tom que tá escovando os dentes. Enquanto isso vamos à garagem pegar a minha bicicleta e o skate dele. – falei, puxando-a pela mão.
– Ok! – ela disse, com voz animada, me seguindo.
– Sinal de Jay? – disse, assim que entrei na garagem e desviei do outro carro da mãe do Tom, estacionado lá.
– Mandou uma mensagem. – ela disse, com um sorrisinho no rosto e se abaixando pra pegar o skate, enquanto eu tirava a bicicleta do lugar.
– E o que tinha nela? – fiz rosto de curiosa, olhando-a e parando de fazer o que estava fazendo, assim como ela.
– Me deu bom dia, disse que estava com saudades, que sonhou comigo e quer me ver logo. – ela comentou com um olhar sonhador.
– Garota, sua paixão me domina! – falei, fazendo-a rir. – Se por um acaso me ver lendo Romeu e Julieta, me iludindo na vida por influència sua, faça o favor de bater na minha cara!
Nós duas rimos e ela completou:
– Gosto do Jay, mas isso não quer dizer que eu vá começar a ver filmes românticos, pedir buquê de rosas e comer chocolates em formato de coração. – ela fez questão de dizer. – Isso que tô passando parece um sonho. Mas só porque é sonho não vou fazer de conta que sou a Barbie. – ela falou isso e riu, provavelmente se imaginando de vestido rosa andando pelas ruas de Londres.
Só de pensar nisso também ri.
– Espero que as duas bocós não estejam fofocando na garagem a plena 6:10 da manhã! – disse Tom, sorrindo e entrando na garagem pegando o skate da mão da Lucy. – Vamos comadres? 
– Vamos! – andei rápido pra perto dos dois com a bicicleta.
Passamos pela frente de casa depois de trancar a garagem com o automático. Lucy pegou rapidamente sua bicicleta vermelha e de cesta preta jogada em cima da grama. Subimos cada uma na sua, enquanto o Tom fez questão de andar na frente com seu skate. 
Conversar andando de bicicleta enquanto pedalamos rápido realmente é cansativo, então ficamos caladas por alguns momentos até ficarmos mais próximas da pista de skate, que nem era tão longe de casa.
– Vamos cantar! – gritou Lucy do nada enquanto desacelerávamos nossas pedaladas.
– Não me faça cantar sua felicidade, Lu! – falei com ela, rindo. Gente feliz canta até Justin Bieber.
– Não é minha felicidade, é a nossa sua anta! Guilty Plesure. – ela falou, indicando a música.
– Cobra Starship a essa hora da manhã faz bem! – ouvimos Tom gritar e levantar as mãos. As pessoas nos olhavam e faziam cara de ‘bando de loucos’. Sempre era assim quando saíamos juntos, já estávamos acostumados.
 And I came here to make you dance tonight! I don’t care if I’m a Guilty Plesure for you!!! (Eu só vim para fazê-la dançar esta noite! Eu não ligo se pareço um prazer secreto pra você!)– comecei a cantar, seguida da Lucy, que gritava animada na rua, enquanto o Tom também cantava mais a frente.
Aquele momento foi realmente bom. A gente cantando uma música legal, imitando a coreografia do clipe, o vento da nossa querida Londres batendo em nosso rosto de manhã, que foi até chato chegar à pista de skate, por mais que houvesse praticantes daquele esporte realmente bonitos. 
– Lar doce lar! – ouvimos Tom dizer assim que chegamos. E depois saiu correndo para se jogar na pista, sem nem ao menos dizer tchau. Acabamos que rindo da animação da criança e decidimos procurar um lugar para sentar e atualizar mais uma vez a conversa.
Achamos um banco que dava pra observar o Tom andar de skate. Assim que sentamos tirei o celular da bolsa e coloquei uma música para tocar, Real With Me, da Cady Groves e vi a Lucy dar um risinho logo que percebeu qual musica era. Sentei-me de pernas cruzadas, enquanto minha amiga estava de mão juntas, entre as pernas, próxima aos joelhos, aquecendo-as. Ficamos ali ouvindo aquela música, e fazendo alguns comentários.
(Nota da autoracoloque essa música para carregar http://www.youtube.com/watch?v=2tBZ0wgYIq8)
– Não consegui dormir ontem. – ela disse pensativa.
I’ll never catch a shooting star or call you out on who you really are
Eu nunca vou pegar uma estrela cadente ou te chamar por quem você é de verdade
– Por quê? – falei, voltando a olhar o meu irmão.
– Fiquei preocupada com a reação do Max. – percebi o reflexo de sua cabeça se baixando.

I know I’m not the one you wanna win
Eu sei que não sou quem você quer ganhar

– Não se preocupa com isso, Lu. O que tiver de acontecer acontecerá. – falei, e lhe dei um leve sorriso, em que ela me retribuiu com um pouco de felicidade.
– Hoje você e o Nath marcaram algo? – ela me perguntou, ainda me olhando.
It’s a losin game so I’m losin it
É um jogo de perdas. Então eu vou perder
– Não. Não nos falamos desde que ele me deixou em casa ontem. – desviei meus olhos do dela. Não queria que ela ficasse falando do Nathan.
– Tá. Mas... 
– Mas nada. Vamos esquecer o Nathan? – interrompi ela.
Lucy era amiga minha e dele, por consequência ela queria ajudar os dois lados.

And I’m surprised we got this far. 
With that barricade but I wont more…
E eu estou surpresa que chegamos até aqui. Com essa barricada, mas eu quero mais...

– Por que você está tão revoltada? – ela falou, fazendo careta – É apenas o Nath!
– Justamente. É o Nathan e não tô a fim de falar nele. Simples. Vamos ficar vendo o Tom e aproveitando a música?
– Certo. – ela falou e balançou a cabeça, virando rosto pro Tom.
Não queria saber nada do Nathan naquele momento. Tinha medo do que a Lucy poderia falar dele e dali termos de conversar sobre gostar ou não, ficar ou não, se dedicar ou não e eu acho isso ridículo!

I would be a fool to let you let me quit
Eu seria uma boba de deixar você me abandonar

Depois disso ficamos caladas apenas ouvindo música. Não foi uma briga, mas achei melhor não puxar nenhum assunto até ela se esquecer daquele.

* * *

Não demorou muito até o Jay chegar sorridente, cumprimentar minha amiga com um selinho e sentar-se ao lado dela, deixando-a mais perto de mim. Nesse tempo percebi o quanto havia sido grossa com ela e decidi pedir uma desculpa calada, entrelaçando nossos braços, enquanto o Jay estava com o braço em volta de sua cintura lhe falando algo sobre o pai. Assim que ela sentiu meu toque olhou pra mim, sorrindo com carinho e vi que ela não estava chateada. Suspirei de alívio e fiquei vendo o Tom, sorridente, fazendo suas manobras em cima do skate e vez ou outra levando quedas, mas se levantando logo pra aproveitar cada segundo daquele momento.
– Vou tomar um banho e trocar de roupa! Já venho. – ele disse, assim que deu 7:15, hora de voltarmos e ir pro colégio.
– Vamos ficar mais perto do banheiro! – falei, levantando-me. – Vai ficar mais fácil na hora da gente ir embora.
– Ta certo. – Lucy falou se levantando, seguida do Jay.
Seguimos o Tom, que não percebeu isso, porque até indo pro banheiro ele tava de skate, e assim que ele sumiu pela entrada me sentei no banco que havia por ali. Já a Lucy ficou mais pra trás, junto com o Jay. Os dois se beijavam e a qualquer momento ele poderia engoli-la, fiquei rindo da cena e depois me virei, olhando para a frente e um troglodita tampou minha visão:
– E aí, gatinha! – ele falou, com a voz grossa e chata. Ele era feio de rosto e perfeito de corpo. Desperdício! Bem que poderia ser todo bom.
– Oi. – falei séria e virando o rosto, pro lado do banheiro.
– Ta mal humorada? – ele falou, rindo sarcasticamente.
– Claro. Tem um monstro tampando o pouco sol que saiu do céu hoje. Queria que eu ficasse rindo? – olhei para ele – Não sou idiota como quem está na minha frente.
Adoro desprezar pessoas.
– Nossa! Toda revoltadinha, posso tirar isso de um jeito que você nem imagina ... – ele começou a falar, sua voz era que nem grito de criança: chato!
– Cala a boca! – interrompi ele.
– ALGUM PROBLEMA AÍ, VICKY? – Jay gritou, olhando pra mim, enquanto a Lucy fazia careta do tipo ‘que azar amiga!’. 
– Sim. Tem uma mosca atrapalhando minha paz! – falei, olhando pra ele e apontando pra o gigante em pé, à minha frente.
– Qualquer coisa eu mato a mosca! – Jay falou rindo, seguido da Lucy e de mim.
– Gente louca! – o troglodita falou. – Gata, você é bonita pra caramba! Mas não bate bem da cabeça! – ele falou, virando as costas.
– Ainda bem que não bato bem da cabeça! – falei isso rindo e em alto e bom som pra ele ouvir.
Mereço coisa melhor do que um pé grande que surge do nada e tapa a sua felicidade matutina!
Jay mexeu os dedos no ar em sinal de ‘doido’ enquanto a Lucy estava vermelha de rir da situação. Voltei meus olhos pra frente, deixando-os em paz e dessa vez sem ninguém pra atrapalhar minha visão.


* * *



Tom saiu do banheiro devidamente trocado com a farda e de cabelo molhado. Colocou a bolsa nas costas e disse:
– Vicky! Posso ir na sua bicicleta? – ele falou. – A Lucy pode te levar.
– Claro! – olhei pra minha amiga – Algum problema?
– Nenhum né, gata? – ela sorriu pra mim, pegando em minha mão – Vamos!
Jay subiu em sua bicicleta azul metálico, enquanto Tom pegou a minha roxa e para sorte dele sem cesta. Antes disso prendeu seu skate na parte de trás. Enquanto eu me acomodava na bicicleta da Lucy. 
Fomos cantando Kiss My Sass dessa vez e quase que eu e a minha amiga caíamos no meio do caminho empolgadas com tudo. O Tom nos acompanhava e o Jay apenas ria e cantou sozinho a parte do rapper, que era a sua preferida.
No geral o início da manhã foi interessante. Mas ainda vinha um longo dia pela frente. Embora eu não tivesse me importando muito com isso. Ver o meu irmão feliz me deixava feliz e ver minha amiga bem me deixava bem. Que ninguém me perturbasse sobre o Nathan. Falando assim até parece que odeio o garoto, mas não é isso. Espero que ele não me chame para sair hoje. Tô a fim de me enfiar no meu quarto, dormir a tarde inteira e dançar sozinha Hot Mess.





        * * *



CAPÍTULO 08

VOU SENTIR SAUDADES... 



Ponto de Vista: Lucy


Perto do colégio. Senti minha barriga esfriar quando vi aqueles muros altos de longe. A Vicky ainda cantava Kiss My Sass junto ao Tom, enquanto eu ria involuntariamente com um turbilhão de pensamentos em minha cabeça.
Entramos e novamente estava aquela putaria de sempre nas árvores mostrando que tudo estava do mesmo jeito. Vicky desceu de minha bicicleta e fez sinal de que procurava pessoas. Eu sabia quem era. Percebi que seus olhos pararam no mesmo lugar do banco em que tivemos ontem. Max e Nath olhavam sorridentes para o nosso grupo.
– Boa sorte. – Vicky sorriu pra mim.
– Pra você também. – falei, retribuindo com um sorriso nervoso.
– Vamos, Lu? – Jay disse, estendendo a mão para mim.
Tom me olhou apreensivo.
Situação imbecil que me meti, meu Deus! Toquei na mão quente do Jay e comecei a andar. Por um momento pensei que ia precisar ser arrastada porque eu tava louca pra sair dali. Minha cabeça estava baixa, nem olhar pra cara do Max tive coragem e assim que chegamos perto o Nath disse:
– Sua demente! Nem me ligou para falar nada! – ele disse rindo e só assim levantei a cabeça.
Max me olhava com um rosto de quem questionava aquilo, desviei o olhar rapidamente e falei para o Nath:
– Você ia ficar sabendo do mesmo jeito! – tentei dar um sorriso.
– Pois é! Você queria mesmo é causar um susto na gente! – Nath riu e bateu no ombro do Max, procurando apoio.
– Vou entrando, daqui a pouco toca. – ele disse, levantando-se e passando por nós, sem olhar pra trás.
– Falei alguma besteira? – Nath disse, fazendo careta.
– Não. Ele só deve estar com problemas em matemática. – disse Jay, com um sorrisinho sarcástico no rosto que me fez lhe dar uma cotovelada nas costelas.
– Então, Lucy! Sua cara deve ser uma equação! – Nath disse rindo. – Antes de vocês chegarem ele estava feliz e normal.
– Vai ver eu sou uma equação. – falei aquilo em voz baixa. Nem sei se ele me ouviu.
– Eu vou entrar também. – Tom disse olhando para mim e para Vicky – Espero que a Tanya não tenha chegado.
– Não chegou. – Nath disse, e o rosto do Tom pareceu aliviado.
Ele saiu, fazendo com que eu e Vicky o seguisse com os olhos e depois viramos nossos rostos uma pra outra e sua expressão era de ‘fique tranquila’.
Me sentei no banco, soltando a mão do Jay. Passamos 7 minutos ali e o toque de irmos pra sala veio.

Assim que entramos na classe percebi que Tom conversava com Max, ele em sua cadeira e o Tom na minha. Dei um sorriso de longe indicando que estava chegando, fazendo-o levantar do meu lugar e ir para o seu, logo depois preenchendo seus dois lados com Jay e Vicky. Nath e eu sentamos e Max fez o favor, ou não, de voltar-se para frente, olhando diretamente pro quadro, em espera da professora.

Balancei a cabeça em sinal negativo para o Nath assim que ele fez menção de que abriria a boca para falar com o Max. Eu não sabia o que se passava na cabeça dele e muito menos queria correr o risco de saber. Ao menos não agora.
Não demorou muito a Sra. Williams chegar. Tirei meu caderno, assim como o Max, o Nathan nem comento. Baixou a cabeça e foi tirar seu cochilo. Era aula de história, a minha preferida. E só aquilo poderia me acalmar no momento.

* * *

Nunca pensei que Renascimento pudesse distrair tanto uma pessoa. Quando vi a professora sair da sala parecia que eu havia tomado 10 tarjas pretas e até minha alma tinha ficado pura com o choque de Wonderland que levei.
Cutuquei o Nath para se acordar e ri de sua cara amassada, como no dia anterior e nos dias anteriores do dia anterior. Jay, Vicky e Tom se levantaram, assim como eu e Nathan. Max já havia saído do meu lado há alguns segundos.
– Oi, gostosinho! – disse Tanya, pulando nas costas de Tom. – Sentiu minha falta?
– Siiiim, muita! – disse Tom em voz sarcástica, enquanto ela apertava a sua bunda, fazendo com que ele fizesse careta e a Vicky virasse pra mim com cara de quem ia vomitar.
– Vamos lá para fora? – disse Jay, chegando perto de mim e tocando meu braço.
– Vamos sim! Mas antes preciso ir ao banheiro! – falei rindo. – Xixizinho!
Todos riram da minha cara. Eu tinha um certo relacionamento amoroso com banheiros. Excesso de xixi faz você virar íntimo de bacias sanitárias e todos ali já estavam acostumados com minha bexiga pequena.
– Tudo bem! – disse Jay ainda rindo e me dando um selinho.
Saí da sala em passos rápidos, pra não dizer correndo, até chegar ao banheiro onde quatro garotas de séries anteriores estavam saindo. Assim que entrei percebi que estava sozinha e me enfiei em um box, aliviando minha bexiga em seguida.
Parei para pensar no contraste de felicidade que eu sentia perto do Jay e na tristeza que eu estava sentindo ao ver o Max. Eu queria ir falar com ele, lhe pedir desculpas ou qualquer coisa do tipo. Mas eu sabia que não tinha feito nada de errado, eu nunca havia lhe dado chances além de ser um bom amigo e ele sabia de quem eram os meus sentimentos. Talvez ele tivesse ficado surpreso com o que viu mais cedo e não conseguiu se controlar ou se manter na cara de pau de que estava tudo bem.
Fiquei pensando nisso, sentada na bacia, com os cotovelos apoiados nas pernas e o rosto apoiado nas mãos. Ouvi passos de quem entrava no banheiro e uma voz conhecida:
– Lucy?
Max George no banheiro das meninas. Coisa esquisita! Pensei.
– Lucy?
Ouvi sua voz de novo. Tratei de fugir dos meus pensamentos e me recompor, abrindo a porta.
Olhei para ele, seus olhos estavam avermelhados. Sinal de que havia chorado. Senti um aperto no coração de ver meu amigo desde os meus 14 anos com os olhos daquele jeito por causa de mim. ‘Você é uma imbecil!’. Me xinguei mentalmente.
– Oi. – lhe disse, andando até a pia e lavando minhas mãos.
– Precisamos conversar. – ele disse sério, me olhando.
– Eu sei. – falei – Vamos lá pra fora e...
– Não. – ele disse.
Andou até a porta e fechou-a, com a chave que já estava na fechadura.
– Ninguém vai nos interromper. – ele falou, docemente.
Consenti com a cabeça. Se fosse outro homem que tivesse me trancado no banheiro com certeza eu estaria tentando fugir pela janela.
– Eu e o Jay... estamos ficando. – falei pra ele, de cabeça baixa. – Você deve saber.
– Sim. Mas eu prefiro que você me diga. – ele disse, cruzando os braços. Nem fazendo isso ele parecia bravo. Parecia calmo até demais. – Me conta.
– Ontem eu saí com ele à tarde e nos beijamos.
– Apenas isso?
– Sim. – olhei pra ele e ele retribuiu meu olhar.
– Você sabe dos meus sentimentos. – ele disse, sem tom de repreensão. Apenas me passando uma informação.
– Sim, Max, eu sei. E quero dizer que... – abaixei minha cabeça e também cruzei os braços, olhando para meus próprios pés que estavam juntos e batendo no chão levemente, como sinal de nervosismo. – Quero dizer que... simplesmente aconteceu. Se eu tivesse a chance de lhe dizer que eu e o Jay teríamos algo eu lhe diria, ao invés de ficar ao seu lado pagando de aproveitadora de dois garotos.
– Você não é isso. – ele disse, aproximando-se de mim. – E eu sei que se pudesse teria conversado comigo.
– É, eu teria. – lhe dei um sorriso sem graça.
– Lucy. – agora ele estava na minha frente.
– Oi? – olhei em seus olhos acizentados, ansiosa.
– Preciso me afastar de você.
Fiz careta pra ele, analisando cada palavra do que ele disse.
– É justo. – foi a minha conclusão.
– É o correto para nós dois. Você escolheu o Jay e preciso respeitar isso. Mas... – ele fez uma pausa e desviou os olhos, balançando a cabeça, como se não quisesse dizer aquilo. – Por mais que me doa, eu preciso esquecer você e não posso fazer isso se nos mantermos do mesmo jeito.
– Eu entendo. – eu lhe disse. Senti vontade de lhe abraçar e dizer que tudo ficaria bem. Mas eu não podia. Eram os sentimentos dele que estavam destruídos, não os meus.
Vi-o virarsse e ir em direção a saída. Escutei o barulho da chave e assim que abriu a porta eu falei:
– Max.
Ele parou, me olhando, esperando que eu falasse:
– Vou sentir saudades.
Ele sorriu levemente pra mim e afirmou com o rosto de ‘digo o mesmo’. E foi embora.
Passei meio século olhando para aquela porta até voltar a vida.
Jay McGuiness me esperava e eu estava sumida há 10 minutos.
Saí do banheiro e andei mais rápido que pude. Lá estavam eles sentados na árvore do dia anterior. Nath e Tom fazendo briga de dedo, Tanya com as pernas em cima do Tom e a Vicky com rosto de tédio ouvindo música. Jay olhava os dois garotos brincando achando aquilo tudo muito besta, com um sorrisinho no rosto. Faltava um e eu preferi deixá-lo longe, respeitando seu pedido.
Inventei qualquer desculpa pela minha demora e para me distrair decidi que iria descobrir algo sobre Nath e Vicky. Havia passado a aula de Literatura e eu e o Max trocamos apenas alguns sorrisinhos, sem palavras.
Mais uma vez prestei atenção na aula, era outra matéria que eu gostava. Nath tentou dormir, mas depois de 15 minutos achei melhor acordá-lo, pois estava começando a roncar fazendo com que se tornasse quase incontrolável eu, o Max, o Tom, o Jay e a Vicky segurarmos a risada.
Quando terminou a aula eu e o Jay ficamos juntos fora da sala por um tempo e quando o professor de matemática chegou, nós entramos. A aula era um porre mesmo então foi quando eu comecei o plano da descoberta com o Nath escrevendo numa folha de papel:
L. Algo pra fazer hoje prostituto?
N. Não! Ta querendo ir trabalhar na avenida?
L. Não. O movimento é melhor de noite! Passa lá em casa!
N. Pra quê? Vai me seduzir?
L. Nem é isso! Vou te espancar mesmo!
N. E falando isso você acha que eu vou?
L. Claro! Você adora apanhar.
Assim que ele leu isso eu fiz o favor de olhar para Vicky, indicando a indireta direta.
N. Sua besta! Só porque você sabe que adoro apanhar eu vou para sua casa! Vai ter chocolate quente?
L. Eita menino! Me lembrasse até o Max! Sim, vai ter.
N. A culpa é sua que sai dando chocolate quente pra todo mundo. Vou levar minhas cuecas e meus ursinhos. Vou dormir lá hoje!
L. Que pinóia é essa? Eu te chamei para passar a tarde! Não o resto do dia!
N. Tô me oferecendo pra alegrar suas noites!
L. O Jay vai se encarregar disso seu besta!
N. Melhor! Que o controle da televisão do seu quarto fica só pra mim!
L. Prefiro dar uns pegas a ficar vendo canal pornô. E vou parar de escrever que já tô me cansando com isso.
N. Tirou as palavras da minha caneta! Só esse tempinho meus dedos estavam quase caindo! Tchau, vadia!
L. Tchau, lesado!
E paramos por aí. Eu não sabia se Nath ia me dizer algo à tarde, mas não me custava nada tentar.

* * *

Após a escola fui almoçar na casa da Vicky e do Tom junto com o Jay. O trágico foi que tivemos que aturar a Tanya dando uma de amicíssima da mãe do Tom. Pelo menos ela ficou feliz em vê que eu o Jay estávamos ficando. De acordo com ela, ele é um ótimo garoto [lê-se rico]. Aproveitei e me tranquei no quarto por alguns minutos com a Vicky e lhe contei a história do Max. Ela disse que ele era um garoto de ouro e que invejou a capacidade de educação que o menino tinha e talvez pedisse até umas aulas de como ser paciente. Com isso ela me arrancou umas boas risadas melhorando significativamente meu humor.
Voltei pra casa de bicicleta e Jay foi para a sua. Tomei meu banho, arrumei umas coisas que tinha que arrumar e esperei o Nathan chegar. De 14:00 ele veio, jogou-se no sofá e disse:
– O chocolate quente está pronto? – seu sorriso era de criança que esperava o presente de natal.
– Está, mas só vou te dar se me disser uma coisa. – eu falei, com um sorriso malicioso, em pé, na sua frente.
– Se for sobre a Vicky vai ficar na fossa. Não vou abrir a boca pra dizer nada – ele disse, virando o rosto e fingindo ficar sério.
– Deixa de ser inútil! – chutei sua perna de leve e depois me sentei ao seu lado. – Um baffon como esses tem que ser contado pra amiga, Nath!
– Se você já sabe para que pergunta? – ele disse, tentando entender e me olhando.
– Muito melhor uma confirmação do que uma suposição. – vi que ele fez careta tentando entender a palavra suposição. – Deixa pra lá! Nem tenta pensar no que é Nath! – falei, impaciente. – Quero ver você me dizendo com todas as letras.
– Não. – ele falou, sorrindo, zuando com minha curiosidade.
– Ok.
Levantei e fui até cozinha voltando com uma xícara cheia de chocolate quente. Fiquei em sua frente colocando a xícara em direção ao seu rosto, deixando o cheiro acariciar suas narinas.
– Justa causa. Me conta e eu te dou. – falei, sorrindo.
– Chantageadora barata! – ele disse, me xingando, tentando fechar os olhos. – O que você quer ouvir?
– Você sabe o que eu quero ouvir.
– Tá. – ele olhou para os lados e depois pra mim, balançou a cabeça, passou as mãos nos cabelos e me disse – Tô a fim da Vicky, Lu!
– YEAH! – gritei, dando pulinhos e segurando a xícara pra não acontecer nenhum acidente. – Há quanto tempo?
– Há uns dois meses. – ele falou, seu rosto estava vermelho, mas seu sorriso era de alívio – Me dá o chocolate?
– Claro! – entreguei a ele e me sentei novamente. – Me conta!
Como foi, o motivo, o que fez! Me diz tudo!
– Não sou uma menina que você fica perguntando sobre o macho que ela está saindo, Lucy! – ele repreendeu.
– Desculpa! – balancei a cabeça impaciente. – Mas conta só um pouquinho! – fiz biquinho e tudo. Eu precisava saber da história todo do meu melhor amigo gostando da minha melhor amiga.
– Certo, eu conto, só um pouco. – ele falou rindo da minha empolgação.
– Ok!
Nath não falou só um pouco, passou o resto da tarde contando como começou a gostar e mais um monte de coisa. Ele parecia um besta falando da minha amiga e eu fiquei feliz de vê-lo daquele jeito. Nathan ficava com as garotas, mas nunca tinha nada sério com elas. E ele era um garoto tão bom e bonito, com uns olhos lindos que eu sempre achei esquisito ele nunca mostrar sentimentos a mais.
Que agora a Vicky despertasse da besteira que poderia estar se metendo e percebesse o menino maravilhoso que estava de olho nela.



        * * *



CAPÍTULO 09

HAPPY B-DAY, PARKER! 



Ponto de Vista: Vicky
Passaram-se dois meses e meio desde que as aulas haviam começado.
Dia 30 de novembro, sexta feira, aniversário de Tom.
Há dois meses Lucy e Jay estavam juntos, tendo ele a pedido em namoro na segunda semana que estavam ficando.
Nesse mesmo tempo, Max diminui o contato com o grupo, ao menos nas vezes em que o casal estava por perto.
Mas isso não quer dizer que o garoto tenha deixado de falar com todos. Nós dois ainda continuávamos a estudar juntos. Tom e ele passavam horas jogando vídeo game, assim como insistia em tentar colocar juízo na cabeça do perdido do Nathan.
O problema, que ele havia passado por cima sem parecer mal educado, era o namoro de Jay e Lucy, que Max respeitou durante todo esse período.
Tanya continuava grudada no Tom, o que não é novidade.
Cada dia que se passava ela se tornava mais oferecida, o que lhe deu abertura para dormir lá em casa, algumas vezes, no quarto de hóspedes. Porém meu irmão chegou a comentar comigo que umas duas noites teve o seu quarto invadido por um espírito loiro, deixando-o bastante assustado.
Na hora ri da situação, embora por dentro estivesse com uma raiva indescritível.
Abusar de alguém enquanto dorme é golpe baixo!
Enfim...
Voltava da biblioteca fazendo todo esse retrocesso dos últimos meses em minha cabeça, assim como também pensava no que Tom ia querer para hoje à noite.
Uma festa, um jantar... Gogoboys pelados?
Eu aprovo!
Poderíamos aproveitar que sua mãe estava viajando.
A casa, definitivamente, estava livre para fazermos o que quiser.
– Ai, Joseph! Diga-me... Tem algo para fazer hoje de noite?
Ao longe, ouvi uma voz de prostituta, vinda de uma sala vazia, que havia acabado de passar.
– Nã...Nã-não, Linus. – respondeu uma voz masculina.
Ou nem tão masculina assim...
Parecia uma criancinha assustada.
Ei?
Ela disse Joseph?
Ele disse Linus?
Joseph é o nome do... Nerd da nossa classe. Já Linus... É o sobrenome da Tanya.
Após perceber que um mais um é igual a dois, parei instantaneamente no corredor vazio do colégio, preparadíssima para ouvir o que conversavam.
Por sorte reinava o silêncio, já que muitos alunos esperavam seus professores dentro da sala, facilitando meu trabalho de curiosa fofoqueira.
– Ai, querido... Não me chame de Linus, chame-me de Tanya! Nós somos íntimos, não somos?
– Cla...Claro!
Vadia!
Sussurrei.
– Então, o que acha de hoje à noite eu passar em sua casa e você me ensinar... O estudo da circunferência? – ela perguntou.
God!
Não acredito que essa piranha disse isso e fez esse trocadilho ridículo!
Totalmente saliente.
– Tu-tu-tudo bem! – gaguejava Joseph em uma voz nervosa.
De tanta curiosidade meu ouvido estava praticamente fundido a porta.
Para ser sincera... Me sentia a própria porta!
– Ótimo! – exclamou Tanya – Te vejo à noite, gato!
Logo foi perceptível passos dentro da sala, rapidamente saí correndo para não pagar de fofoqueira na frente de todos.
Enquanto ia para sala, continuando meu caminho anterior, mudei o pensamento que levava para a nova informação...
A próxima semana será de provas e a oferecida da Tanya já está garantindo sua nota seduzindo o coitado do nerd!
Fiquei feliz com o que havia capturado na conversa. Independente do que Tom decida para hoje, Tanya não participará, pois vai perder o seu tempo mostrando a calcinha de puta para um CDF donzelo.
E isso será bem.longe.do.Tom.
– Então, o que você vai fazer hoje de noite, Parker? – ouvi Nathan perguntando, assim que entrei na sala.
– Estive pensando, já que minha mãe não vai estar em casa... Poderíamos apenas passar a noite juntos. – disse, sentando na mesa e com os pés na cadeira – Tocar violão, cantar umas músicas, comer alguma baboseira de festa que a gente arranjar pelo caminho... Coisa do tipo! Não ando muito para festão.
– Pausa! – começou Lucy, sentada no colo de Jay – Você está negando festa?
– Estou.
– Quem é você e o que fez com Tom Parker?
Todos riram.
– Vamos dizer que não estou muito a fim de ter um bando de idiotas dentro da minha casa, sendo que sobrará para o gostosão arrumar tudo no outro dia. – explicou-se o rapaz, prendendo a atenção de todos pela sua simples preguiça – Menos gente, menos bagunça.
– Menos gente, menos trabalho. – conclui.
– Deixa o festão para o aniversário do gostosão aí! – brincou Nathan, apontando para Jay, que sorriu.
No próximo sábado será a vez do McGuiness soprar as velas.
– Pois é, Tom! Se você não quer comemorar em grande estilo eu faço isso por você e por mim! – ele disse, enquanto o amigo concordava com a cabeça, rindo.
– Viu? Vou para um festão semana que vem sem nem ao menos ter o trabalho de arrumar a casa! – brincou Thomas, fazendo Jay lhe mostrar o dedo do meio.
Mas bem... Quando falavam de festão, era festão nível hard mesmo, já que Jay McGuiness não brincava em serviço.
Suas festas são vistas como: acontecimentos catastróficos na vida de todos.
Por experiência própria... É só sacanagem!
– Será legal apenas nós seis. – comentou Max, que estava ali apenas pelo amigo aniversariante – Mas vocês estão ligados que a Tanya vai querer se meter onde não foi chamada, não é?
– Bem... Na verdade não. – sorri de orelha a orelha.
– Como assim? – Lu encarou-me com os olhos desconfiados.
– Quando voltava da biblioteca, ouvi uma conversa suspeita entre Joseph e a Linus, comentando algo sobre “passar a noite juntos” insinuando para que o nerd a ensinasse o “estudo da circunferência”. – falei frisando certa parte.
– Cassete, que puta! – exclamou Nathan, quase morrendo de rir – Preciso comer alguma nerd para que ela me passe cola na semana que vem também!
– Não seja imbecil, Nathan! – repreendeu Lucy, mesmo assim rindo.
– Nem as nerds te querem! – brincou Tom, gargalhando da cara de bocó do amigo.
– Claro que não me querem... Porque mereço coisa melhor que nerds que não se depilam! – Nathan tentou se justificar, fechando os olhos enquanto falava, acreditando realmente no que disse.
– Não seja preconceituoso, cara! – brigou Max, segurando uma risadinha.
– Só estou de brincadeira, relaxa! – disse Nath, totalmente descontraído.
– Pelo menos hoje teremos paz. – comentou Jay, com indiferença – A voz daquela garota é realmente irritante. – fez uma careta de impaciência.
– Nem me diga. – sua namorada revirou os olhos.
– Então queridas! – exclamou Tom, encarando os garotos, enquanto Nath lhe mandava o dedo do meio – Até a noite!
E assim se resolveu sobre o nosso futuro no horário noturno.
A aula de geografia foi bastante divertida.
O professor Charles Moston para descrever a Europa, correu de um lado ao outro da sala, para no final defini-la como “pirrototinha”.
Depois fomos liberados, podendo assim, voltar para casa.
No caminho, Tom e eu, compramos uma torta de chocolate para mais tarde.
Praticamente fugimos para que Tanya não nos visse. E Jay, que viu a façanha, até chegou a perguntá-lo porque não dava logo um fora na oferecida e a sua explicação foi: Ela é gostosa, cara!
Depois dessa desculpa esfarrapada e idiota, pensei em mil métodos de torturas para galinhas de macumba.
Homens e a mania de: mulher gostosa.
Frescos!
– TOM! – gritei assim que cheguei em casa.
Saí por algumas horas para ir buscar meu presentinho que havia encomendado há alguns dias.
– QUE FOI VICKY? MORREU? – o garoto respondeu.
Ouvi passadas rápidas pelo corredor do andar de cima e lá estava o moreno, escorregando pelo corrimão da escada.
E, comentário básico: deveria ser proibido ter o Parker sem camisa em casa!
– Tenho uma surpresa para você! – falei.
– Onde? – o menino arregalou os olhos, catando em tudo quanto é canto.
– Lá fora! – apontei para a porta aberta.
Logo saiu correndo, sem nem perguntar detalhes.
– VICTORIA FOSTER, SUA DESGRAÇADA! – ele gritou com a voz totalmente assustada.
Com simplicidade fui para o lado de fora.
Tom segurava em seu colo um cachorrinho filhote.
A coisa mais linda do mundo, que havia comprado em um pet shop, estava em seus braços.
Um: Husky Siberiano branco.
– Ele é tão foda! – dizia, afastando o cachorrinho e o esfregando carinhosamente em seu rosto impressionado.
– Eu sei! – admirei a cena, encostada no portal de entrada – Quarta feira fui ao pet shop e o reservei para você.
– Nossa, isso é sério? – Tom parecia chocado demais para fazer qualquer outra coisa além de me dar um beijo estalado na bochecha.
– Sim. – sorri, tentando não ficar vermelha.
– Você é maravilhosa! – recebi mais um beijo, do outro lado.
– Não foi nada... Até porque – dei de ombros, controlando-me – Ele servirá para mim e para você. – acaricie a cabeça do cachorro, que parecia feliz com a atenção.
– E, por causa disso, acho justo você escolher o nome. – Tom começou a entrar em casa, enquanto fechei a porta, carregando a cesta da mesma cor da coleira, um azul marinho.
– Nem, cara. O presente é seu, você que tem que escolher.
– Se o presente é meu, decido o que fazer com ele e, nesse momento, quero que escolha um nome para esse serzinho aqui! Qualquer um que você quiser! – ele sorriu passando para mim o cachorrinho, que ficou agoniado temporariamente, até achar uma posição confortável em meus braços.
Admirei aquela bolinha de pelos fofa que estava bem em minha frente. Seus olhinhos verdes acinzentados, seu pelo extremamente branco e sua língua vermelha...
– Louis! – falei.
– Louis? – Tom fez careta, achando muito estranho.
– Sim! Louis. É o meu personagem favorito dos livros da Anne Rice. – comentei sorrindo, lembrando-me do gostosão Brad Pitt fazendo tal papel no filme Entrevista com o Vampiro.
– Mas Louis não é o preferido da Lu? – o garoto parecia confuso.
– Não, seu besta! O que a Lucy gosta é o Lestat! – quase gargalhei e dessa vez me lembrei do Tom Cruise seduzindo de olhos acinzentados, no mesmo filme – Os dois arrasam, mas você coisa fofa – apertei o cachorrinho com bastante carinho – Tem cara de Louis!
– Ok! Se você diz... – Tom sorriu, alisando as costas do animal – É até legal, porque parece chique!
Nós dois rimos da conclusão dele e devolvi o Louis ao dono para que aproveitasse seu presente.
Enquanto isso... Tinha muita coisa para fazer, como comprar mais comida, já que sou péssima na cozinha, até a hora dos nossos amigos chegarem.
E estava extremamente ansiosa para que isso acontecesse.

* * *

– Parabéns, Tom! – disse Nathan assim que o Thomas abriu a porta para ele. – Mesmo que eu te diga isso pela quinta vez hoje!
Todos já haviam chegado.
Max estava sentado no sofá, afinando um dos violões, enquanto Jay e Lucy estavam lá atrás, perto da piscina, acabando a arrumação.
Lucy chegou mais cedo com Jay e ele e Tom passaram um tempo jogando Nintendo Wii. Já a minha amiga me ajudou a fazer pequenas luminárias de papel alaranjado com proteção, onde colocamos algumas velas, para pendurar na árvore do quintal, onde ficavam as espreguiçadeiras.
A intenção era fazer um luau caseiro bem pobreco, já que estava fazendo um frio agradável para se ficar fora de casa.
Por sorte os ventos não estavam de congelar e poderíamos realizar nosso desejo.
Colocamos um depósito de bebidas para mantê-las geladas perto da gente, assim como arrumamos uma mesa com comida.
No geral o ambiente estava bonito, simples e íntimo, do jeito que o Tom queria.
Em cima do sofá, ao lado do Max, havia vários cobertores que separamos para o caso de ficarmos com frio.
– Ainda bem que sua mãe está viajando, cara! – disse Nathan dando um tapinha nas costas de Tom, enquanto meu irmão colocava uma caixa com laço verde, que o amigo trouxe, em cima do braço do sofá – Tipo, se ela visse que eu te dei isso era capaz de bater na sua cara!
– Na minha cara? – disse Tom, olhando para dentro da caixa e dando uma gargalhada realmente engraçada a ponto de fazer com que eu e Max nos debruçássemos sobre o presente.
Mas é o que, Nathan Sykes?
Comecei a rir loucamente.
Nath havia juntado um monte de filme pornô de asiáticas e revistas com lésbicas peladas.
Max pegou uma e começou a folhear rindo tanto que seus olhos lacrimejavam.
– Não era mais fácil a mãe do Tom bater na sua cara? – perguntei a ele, pegando um DVD.
– Claro que não! – disse Nathan, indignado. – Eu iria dizer que o Tom encomendou e colocou o endereço da minha casa para que a Sra. Parker não pegasse ele no flagra!
Todos riram da inteligência maligna do garoto. Ele poderia ser devagar para muitas coisas, mas dessa vez não.
Embora eu tenha preferido não comentar que Tom nunca foi e nunca será santo.
Por sorte sua mãe não sabe disso!
– Nathan! – Lucy vinha do quintal, seguida de Jay. Minha amiga correu e o abraçou que retribuiu com carinho. – Demorou, doente! – ela disse, dando-lhe um tapa na cabeça.
– Foi mal! Tinha mais o que fazer! - e ele apontou para a caixa.
Lucy foi ver o que era e começou a rir fazendo com que todos nós ríssemos novamente.
Jay ficou sem entender nada e disse:
– Que foi?
Lucy pegou uma revista e jogou na cara dele, ainda sorrindo.
 WOOOOOOOOOOW! – Jay gritou. – Nathan! No meu aniversário quero uma dessas! – ele disse, apontando para revista de duas ruivas peladas.
– Relaxa cara! – disse Nathan, se achando – Já separei seu estoque de latinas peitudas!
– Ou imbecil! – disse Lucy, chutando a perna do amigo. – Eu tô aqui!
– Desculpa! – ele falou, fazendo careta.
– Mudando de assunto! – disse Tom, puxando as revistas da mão do Max e do Jay, como se aquilo fosse algo precioso, e jogando na caixa. – Nathan, cara... Ganhei um presente do cassete da Vicky!
– Qual? – ele perguntou, curioso.
– Não é mulher! – Jay disse, chegando perto de nós fazendo com que todos rissem da cara de decepção do Nathan.
– É um cachorrinho! – Tom fez uma voz de empolgado que só me fez sentir mais orgulho do presente que lhe dei.
– Sério? Cadê? – disse Nath, se preparando para procurar em tudo quanto é canto.
– No quintal! Numa cesta. – eu disse, apontando lá para fora e mal fiz isso ele saiu correndo, me lembrando o Tom mais cedo.
– PUTA QUE... – ele gritou.
– OLHA BOCA! – gritei de volta.
– FOI MAL! – ele apareceu com o cachorro na mão. – Não é a coisa mais linda do Nathan gostosão aqui? – ele falou com o Louis como se fosse um bebê. – Que nome colocaram nele? Espero que tenha sido algo bem macho, tipo Chuck Norris!
– Não! Foi Louis! – Max disse, esperando a reação do amigo.
– MINHA NOSSA SENHORA! QUE NOME DE BICHA! – ele gritou, fazendo o cachorro ficar assustado. – Quem escolheu essa desgraça? Foi você, Jay?
Jay fez cara feia enquanto Lucy ria dele.
– Não. Fui eu! – falei, sorrindo da situação.
– Você? – ele pareceu assustado.
– Sim, eu! – confirmei. – Algum problema?
– Nenhum! – ele disse, negando com a cabeça. – Para ser sincero até parece legal! – ele novamente colocou o cachorro de frente para ele – Não é Louisinho? Diga ‘tenho nome de bicha, mas sou macho’! Anda, fala cachorro!
Novamente todos riram. Não sei o porquê, mas Nathan estava empolgado e deixando todo mundo mais ainda com essas suas graças desnecessárias e divertidas.
– Vamos lá para fora? – Lucy disse do nada – Já arrumou o violão, Max? – ela perguntou.
Foi a primeira vez que a garota se dirigiu ao carequinha.
De repente todos pareciam tensos.
– Sim, tudo pronto! – Max disse, parecendo feliz.
– Ok. Então vamos logo! – Jay falou impaciente.

* * *

Ficamos do lado de fora da casa e tudo estava feliz.
Max e Nathan tocavam Beatles, Abba, Carpenters, Bon Jovi, Eagles, Ramones e mais um monte de coisa fazendo a alegria de todos.
O Nath tinha uma voz linda, assim como o Max.
Eu e Tom estávamos deitados juntos com o Louis, em cima de uma espreguiçadeira, com um cobertor sobre nossos corpos.
Aquela posição estava tão boa e quente.
Vez ou outra eu sentia minha barriga gelar e os carinhos de Tom em meus braços estavam me deixando arrepiada.
Mas devia ser por causa da mudança de temperatura.
Lucy e Jay estavam como a gente, em outra espreguiçadeira, comendo a torta de chocolate que todo mundo já havia atacado e já estava nos últimos pedaços.
Sinceramente, eu queria mesmo era que aquela noite não terminasse. Estava tudo tão perfeito...

* * *



Ponto de Vista: Lucy

Pelo menos a puta... Ops! Tanya havia feito algo que preste e nos livrou da sua presença idiota nessa noite relaxante.
Assumo que as provas da semana que vem estão me deixando receosa, já que mais vagabundei do que estudei.
Mas as músicas que os garotos estavam tocando e a torta de chocolate que comia tranquilizavam todo o meu nervosismo, revertendo-o em pecado da gula!
Chupava meus dedos limpando o recheio, quando senti Jay me abraçar forte, indicando que já havia acabado de comer. Preferi passar a noite olhando para o Nath ao invés do Max, para não correr o risco de nossos olhos se encontrarem.
Nathan parecia triste, diferente de como ele chegou, e deduzi que fosse pela proximidade da minha Vicky com o Tom.
Não sei se o meu amiguinho já havia percebido algo de esquisito, mas eu sim.
– A noite está tão boa, não? – Jay disse, sussurrando em meu ouvido, me fazendo assustar acordando dos meus pensamentos.

Help! I need somebody. Help! Not just anybody. Help! You know I need someone, help…

Socorro! Eu preciso de alguém. Socorro! Não qualquer pessoa. Socorro! Você sabe que eu preciso de alguém, socorro.

Max começou a cantar fazendo com que minha atenção voltasse para ele.
– Lucy? – Jay perguntou, olhando para mim, fazendo careta.
– Oi? – voltei meus olhos para ele. – Desculpa. É que eu adoro essa música.
Jay sorriu e disse:
– É, eu sei. – e beijou meus cabelos.

When I was younger, so much younger than today, I never needed anybody’s help in any away
Quando eu era jovem, muito mais jovem que hoje, eu nunca precisei da ajuda de ninguém, em nenhum sentido

– Jay? – falei, sentindo algo esquisito em minhas costas. – Espero que isso que esteja me cutucando aí atrás seja o seu celular.
– Ah! – ele falou rindo, me fazendo afastar e colocando a mão no bolso da frente da calça. – Sim, é meu celular. – ele colocou no ouvido, atendendo. – Oi, pai.
Fiquei sentada na espreguiçadeira, ouvindo a voz de Jay distante, falando com seu pai. Senti que Max me olhava, mas não retribuí.
Fiquei encarando o chão, simplesmente ouvindo a música.

Help me if you can, I’m feeling down, and I appreciate you being around
Ajude-me, se você puder, eu me sinto pra baixo, e eu vou apreciar sua luta na existência

– Lucy. – a mão do Jay tocou em meu ombro. – Vem cá. – ele apontou para dentro de casa.
Levantei-me e o segui, cada vez mais a música ficava longe.
– Algum problema? – perguntei a ele, parando no meio da sala.
– Meu pai ligou, disse que vou precisar levar uns documentos que estão em casa para a reunião na empresa e falou que já que eu estaria lá, seria bom ver como se seguem as reuniões.
– Ah! – falei triste, abaixando a cabeça. – Então você tem que ir?
– Sim. – ele me deu um sorriso levemente triste – Não sei de que horas as coisas vão terminar, então acho que só volto aqui amanhã.
– Tudo bem. – eu disse, sem realmente estar tudo bem.
Eu gostava tanto de ficar com ele.
– Você vai dormir aqui mesmo? – ele perguntou.
– Sim. Já falei com a Vicky e o Tom. Todo mundo vai dormir aqui. – disse, lembrando-me da minha bolsa cheia de roupas e do livro O Retrato de Dorian Gray guardado nela para ler antes de dormir.
– Melhor. Pelo menos eu sei que você vai estar em lugar seguro. – Jay disse carinhosamente.
– Ok. Agora me dá um beijo pelo resto da noite, já que você vai ficar longe de mim! – falei sorrindo e puxando sua camisa.
Ele abraçou-me e beijou a minha boca de um modo caprichado, fazendo com que eu preferisse trancá-lo em algum dos quartos e não o deixasse ir embora.
– Boa noite, Lu. – ele disse com o rosto perto do meu e me dando um selinho de despedida.
Vi-o indo embora, com aquele seu corpo perfeito, com a sua roupa de grife, mas nem por isso de gente metida.
Sorri ao ver meu Jay me dando um tchauzinho antes de fechar a porta.
Voltei para o quintal. Help! Continuava a tocar e cada vez mais eu via o Tom e a Vicky próximos.
Olhei para piscina, iluminada por lâmpadas debaixo d’água, e sentei-me na sua ponta, de frente para os meus amigos. Coloquei meu pé para dentro e senti a água aquecida me tocar, fazendo-me arrepiar.
Fechei meus olhos por um tempo e fiquei ouvindo a música, balançando meus pés e com um sorriso no rosto.
O cheiro de Jay estava em mim e sentia a sua falta ao meu lado.
Nesse tempo de namoro tudo estava bem.
O único defeito, por culpa minha, é que ainda não havíamos conseguido transar.
Não sei exatamente o motivo, mas sempre travava na hora e o Jay nunca ficou chateado comigo, ao menos não falando, mas em seus olhos eu via um pouco de incômodo com a questão.
– Você deve estar com frio. – disse algum garoto, fazendo-me abrir os olhos ao sentir um pano tocar meu corpo.
Max George estava ali, próximo a mim, sorrindo simpaticamente.
– Obrigada. – falei, arrumando o cobertor em meus ombros. – Me acompanha? – bati minha mão no lugar ao meu lado.

Kiss me beneath the milk twilight, lead me out on the moonlit floor, lift your open hand, strike up the band make the fireflies dance, silver moon’s sparkling. 

So kiss me...

Beije-me sobre o crepúsculo leitoso, leve-me para fora, no solo enluarado, levante sua mão aberta, toque uma música e faça os vaga-lumes dançarem. A lua prateada está cintilante. Então, beije-me.

– Claro. – Max disse, sentando-se no lugar indicado – Compartilha? – logo apontou para o cobertor.
– Sim. – e lhe ofereci um lado, fazendo com que ele ficasse mais próximo.
Ri da maneira como a gente havia voltado a se falar.
– Está rindo do que? – o garoto questionou, enquanto colocava seus pés na água.
– Disso. – falei, virando-me para Max. – Passamos dois meses sem nos falarmos e agora estamos dividindo um cobertor, na piscina, ao som de Kiss Me.
Nathan continuava com o violão, dessa vez, ele e a Vicky cantavam juntos, enquanto Tom tomava uma garrafa de cerveja, alisando os cabelos da minha amiga.
Percebi a risada do Max ao meu lado e voltei a minha atenção para ele.
– Foi esquisito. – o menino fez uma careta – Ficar longe de você. Já estava acostumado a estudarmos juntos, a vermos filmes, ficar na internet, te ensinar violão.
Ri por um pequeno momento.
As cordas do violão não iam com minha cara.
– Foi difícil para mim também. – concluí.
– Mas você tinha mais o que fazer. – George disse, em Tom sério.
– Não vamos entrar nesse assunto. – logo balancei a cabeça negativamente, afastando pensamentos.
– Tudo bem. – ele voltou os olhos para água, assim como eu estava.
– LUCY! – o Tom gritou para mim, fazendo com que eu e o Max nos assustássemos – Onde está o Jay?
– Precisou ir embora! – falei, olhando em direção a ele – Reunião com o pai!
– Mas que filho da puta! Só veio para comer! – Tom resmungou, fazendo todos rirem.
– Pensava que ele só tinha dado uma saidinha. – falou Max.
– Não, não. Teve que ir embora mesmo. – disse, tentando não parecer que fui abandonada no meio da noite no aniversário do amigo.
– Hum. – Max fez um barulho com a boca, demonstrando que o assunto estava desinteressante – Você tem lido o livro?
– Dorian Gray? – perguntei.
– Sim.
– E como! – falei rindo. – Max, aquele livro é perfeito! – meus olhos devem ter brilhado quando eu disse isso porque o ele demorou longo tempo olhando para mim, sorrindo.
– Eu sabia que você ia gostar. – o garoto balançou a cabeça em sinal positivo.
– Ah! Pena que você não está lendo. – fiz um rostinho triste, lembrando-me que nem deu tempo de lhe devolver o livro quando deixamos de nos falar.
– Eu baixei da internet e estou lendo também. – Max disse. – Não é o mesmo que ler com você, nem é o mesmo que ler com o livro original, mas ainda assim serve. – deu de ombros, transparecendo sinceridade.
Dei um sorriso sem graça e percebi que não adiantou ele se afastar.
As coisas continuavam do mesmo jeito.
Se eu queria tocar no assunto?
Mas é claro!
Porém fiquei quieta.
– Em que parte você está? – perguntei, voltando minha mente para o assunto.
– Em que Dorian conhece Sibyl, na história que ele vai ao teatro e a vê atuar. – disse preparadamente.
– Não creio! Parei justamente nessa parte! – falei empolgada. – O que acha de lermos juntos?
– Agora?
– Claro! – falei ansiosa para a sua resposta.
– Ok!
– Vou pegar o livro, já venho.
Deixei o cobertor com ele e sai para a varanda, pegando minha bolsa jogada em cima do sofá de dois lugares. Tirei um livro grande e velho e voltei correndo para perto de Max, que me esperava calmamente balançando, suas pernas na água.
– Aqui. – falei, abrindo o livro na página marcada e apoiando-o na minha perna e na dele.
Senti os braços de Max sobre meu ombro, colocando o cobertor para me aquecer.
Seu rosto estava perto do meu e a sua respiração era quente naquele leve frio.
A Sibyl fazia Rosalinda. Claro que o cenário era horrível, e Orlando absurdo. Ah! Mas Sibyl! Haviam de a ter visto! (...)”
Li para ele, enquanto Max acompanhava com seus olhos cada palavra escrita no livro.
– Minha parte preferida é quando eles se beijam. – comentei pensativa.
– Eu gosto mais quando ele fica a admirando. Os elogios que ele dá a ela. – o ar do garoto era totalmente sonhador.
Sinceramente... Adorava coisas fofas, embora as vezes enjoasse de romantismo, mas era realmente perfeita a maneira que Dorian amava Sibyl.
– Vamos continuar a ler? – falei sorrindo, enquanto ele confirmava com a cabeça.
Por um momento cheguei a pensar que nada havia mudado.
Que eu não sabia que Nath gostava da Vicky, que eu e o Jay não namorávamos, que Max nunca havia deixado de falar comigo, que Tom não ficava o tempo inteiro com uma loira chata grudada ao seu lado.
Aquele segundo de nostalgia fez o livro parecer mais interessante do que já era e fez com que minha noite continuasse boa, assim como a dos outros.

* * *

Dia. Acordei-me com um pouco de frio nos pés e assim que abri os olhos demorei para compreender onde estava.
Por um momento pensei que o corpo que estava ao meu lado era de Jay McGuiness e não de Max George.
Ontem lemos tanto que o chão da piscina já estava fazendo nossos corpos doerem e decidimos ir para a rede cinza que havia na varanda.
Deitamo-nos juntos e ficamos lendo com o cobertor em cima de nós, como tantas vezes fazíamos em anos anteriores que íamos passar o final de semana na casa da Vicky e Tom.
Sentei-me tentando não fazer o negócio balançar muito, mas Max dormia tranquilamente, como um anjo e pelo seu rosto parecia estar tendo um sonho maravilhoso.
Levantei-me e cobri o resto do seu corpo, tirando o livro pesado que estava sobre sua barriga.
Só depois disso me espreguicei e pisquei os olhos várias vezes para tentar acordar um pouco mais.
Olhei ao redor e ri com a situação.
Tom dormia todo torto no sofá de dois lugares, onde minha bolsa havia ficado ontem à noite.
Já o Nath, tadinho, dormia na pequena poltrona perto do Tom, de boca aberta, abraçado ao Louis, como se fosse seu ursinho de pelúcia. Cheguei perto dele e dei-lhe um beijo em sua cabeça.
Só então percebi que a Vicky não estava ali.
Fui para dentro da casa e assim que virei, chegando perto da porta de saída e da escada para o andar de cima, notei minha amiga sentada no balcão da cozinha, com uma caneca na mão, olhando distraidamente para o piso.
– Bom dia, gostosa! – falei, entrando na cozinha e sorrindo para ela.
Dei-lhe um beijo na bochecha e comecei a mexer nos armários.
– Bom dia. – ela me respondeu. – A canela está na terceira porta, na prateleira do meio. – disse, rindo da minha ânsia por achar a especiaria – Não sei como você aguenta tomar chá de canela a essa hora da manhã!
– Me faz bem, amiga. – sorri, abrindo o saquinho e preparando as coisas para esquentar a água. – Gosto de tomar canela com leite.
– Ai meu Deus, Lucy! – ela disse incrédula, mas ao mesmo tempo rindo. – Toma só o leite!
– Cala boca! Hoje vou tomar só chá. – falei sorrindo, perto do fogão. – Fique com seu achocolatado, que eu fico com minha canela!
– Beleza, biscate! – Vicky fez cara de que não iria mais tocar no assunto.
– Amiga! Que noite foi essa? – olhei para ela, encostando no balcão.
– O que teve a noite passada? – ela perguntou, fingindo que o fundo da caneca era mais interessante que minha cara.
– Não se faça de desentendida. – falei sorrindo. – Vi você ontem com o Tom.
– E daí? Você me viu com meu irmão! – ela exclamou como se fosse tudo muito óbvio.
– Victoria! – falei, tirando a água quente do fogo. – Até quando você vai me fazer de imbecil?
– Até quando você quiser agir como uma! – disse com impaciência.
Fiquei, com a xícara cheia de água quente, olhando para ela, incrédula. Eu sabia dos sentimentos da minha amiga e controlei a forte vontade que tive de bater na sua cara para que ela deixasse de ser prostituta e assumisse pra mim!
– Não me faça listar todas as coisas que me fizerem levar a uma conclusão sobre seus sentimentos, Vicky. – falei, colocando o sachê de canela na xícara.
– Então diga. Aposto que todos serão ilusões da sua cabeça. – sua voz não foi de raiva, e sim de receio.
Tomei um pouco do meu chá, e respirei. Eu precisava fazer com que ela falasse e para isso eu teria de ter paciência.
– Ciúmes da Tanya, carinhos no Tom, sorriso bobo, horas falando dele, horas falando com ele, horas pensando nele, horas tentando me enganar e tentando se enganar, amiga! Por que você fica me negando aquilo que está escrito em sua testa? – perguntei, com voz de aflição.
Ela olhou para mim por alguns segundos e depois voltou seus olhos para o chão. Pousou a caneca no balcão e balançou a cabeça em sinal negativo.
– Te odeio por me conhecer tanto. – ela falou. – Não acredito que eu possa gostar dele, Lucy. – sua voz pareceu triste e andei para o outro lado da cozinha, ficando perto dela. – Sabe, é abominável gostar do próprio irmão!
– Seria abominável se ele fosse irmão de sangue. – falei, logicamente, cruzando os braços e me encostando no balcão, ao lado de suas pernas, com a xícara em uma das mãos. – Você e o Tom não foram criados juntos desde cedo. São como se fossem melhores amigos dentro da mesma casa.
– Se todos pensassem como você... – ela deu um leve sorriso – Se eu pensasse feito você...
– Você pensa. – concluí. – Só não aceita. É diferente.
– Filosofar a essa hora, Lucy? – ela disse, fazendo careta. – Seja direta, gata.
– Ok. Você gosta do Tom, isso é claro. Mas você não aceita o fato de gostar dele, isso é péssimo. O motivo: se você aceitasse seria bem mais feliz e bem mais a vontade em correr atrás do que você quer, que nesse caso é o Tom. MAS! Se você não aceita, você não é feliz, porque se preocupa mais com o que os outros pensam do que com o que você pensa. Por isso se repreende tanto. Porque vão pensar que você é uma biscate virada no babado do incesto!
– Andou pegando meu cérebro e estudando, foi sua vadia? – ela me xingou, me fazendo rir.
– Não. Só tive dois meses para analisar tudo isso.
– Pelo visto o Jay não tem comparecido muito, não é? Esse tempo inteiro pensando em vida alheia! – ela falou, tentando mudar de assunto.
– Quem não tem comparecido sou eu! E pensar na vida alheia é uma distração e tanto! Mas não fuja do assunto, piranha. Quero saber o que você pensa sobre isso. – falei, mostrando que nada havia encerrado.
– Estou no dilema que você disse, amiga. – sua voz era aflita. – Eu gosto do Tom, mas tenho medo da reação dele, da mãe dele, do mundo! Putz! Isso é um saco... Gostar de alguém!
– Digo o mesmo! – fechei os olhos, concordando. – Deveríamos ter virado freiras, não estaríamos sofrendo por isso.
–Tem razão, amiga! – ela sorriu – Mas vamos deixar de falar disso que daqui a pouco entro em depressão por excesso de sentimentalismo filosófico.
– Está bem, biscate! – confirmei, empurrando ela mais para o lado do balcão para poder me sentar nele também.
– E você e o Max ontem em? – ela falou, com uma cara safada – Quando os gatos saem os ratos fazem a festa!
– Cala boca! – falei rindo, dando um tapa na perna dela. – Senti falta do Jay ontem, mas o Max me distraiu.
– Sei... – ela disse, sarcasticamente.
– Não seja chata! Eu gosto do Jay!
– E o Max é um fofo! – ela falou tentando imitar minha voz. – De acordo com suas palavras.
– E você não concorda?
– Sim, concordo. – Vicky parou pensar. – Mas às vezes eu acho que você vê ele muito além de um amigo fofo.
– Não sei gata. Eu gosto do Jay, de beijar, de pegar, dar uns amassos. Mas quando penso no Max eu também penso besteira, só que mais delicadamente.
– Eles mechem com lados oposto de sua alma. – sua cara foi de quem dizia coisa realmente profunda me fazendo rir.
– Que se dane o que eu sinto! – sorri, me encostando na parede. – Eu gosto de namorar o Jay, dou graças a Deus de ter voltado a falar com o Max e que tudo se mantenha assim para meu bem espiritual e sexual!
Nós duas rimos alegremente da situação e da imbecilidade dos problemas da minha vida. Jay me faz bem, mas o Max também e sempre foi assim. Escolher um foi legal, mas deixar o outro de lado foi péssimo e não quero que isso aconteça de novo. Se for para acontecer, que pelo menos seja por motivos além de gostarem de mim. Porque isso faz com que eu queira ficar ao lado deles mais ainda.






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