Capítulo 44 ao 48
CAPÍTULO 44
JOGO DA GARRAFA
Ponto de Vista: Lucy
FLASHBACKON
– Não, Nath! Devolve
minha boneca!
A pequena garota de laços vermelhos gritou na grande casa de campo
da família Sykes. O garoto de cabelo castanho e olhos avelã sorriu do desespero
da amiga.
– Vem pegar, Lucy!
Ele provocou, no patamar da escada, irritando-a.
Sem demoras ela subiu os degraus com tanta pressa e raiva que caiu
antes mesmo de olhar os pés do menino.
– Ai, meu joelho! – Lucy gemeu, sentando-se e afastando o vestido
que escondia o machucado mal coberto pela meia, agora rasgada.
– Ah! Você está bem? – Nathan desceu preocupado, ocupando o lugar
ao lado dela.
– Estou mal por sua culpa! – disse encostando-se mais no corre
mão, querendo distância do culpado.
– Desculpa... Foi sem querer. – ele falou, arrependido – Aqui está
sua boneca.
Lucy o olhou desconfiada, como se Nathan estivesse enganando-a.
Estendeu a mão e pegou a boneca de porcelana, de cabelos ondulados negros,
lábios rosados e vestido de laços em tom pastel.
– Vou chamar a vovó para que ela cuide disso.
– Não, espera, Nath! – ela disse abraçando o brinquedo devolvido –
O que você tem contra mim?
Nathan a analisou docemente, mas Lucy não percebeu isso. Existia
apenas a diferença de um mês entre suas idades e já fazia dois anos que se
conheciam.
Sempre fora implicante com ela, porém adorava a sua companhia.
Nathan achava-a bonita, mas todos os seus amigos diziam que
garotas não servem para nada a não ser dar problemas. Ele discordava, não
achava que Lu era problema, pelo contrário, era qualquer coisa boa, menos algo
ruim.
Lucy observava-o ansiosa. Quando o garoto à sua frente não
inventava lhe estressar, era um ótimo amigo para brincar, até mesmo de papai e
mamãe, quando ela o chantageava, dizendo que teriam que tomar chá juntos se ele
quisesse chocolate após o almoço.
– Não tenho nada contra você. – Nathan disse carinhosamente com a
sua voz de criança – Mas... Meninos não devem se dar bem com meninas.
Lu sorriu do que ele disse, achando engraçado e bobo:
– Quem te disse isso? Aquele menino com cara de batata?
Nathan riu lembrando-se de John, seu vizinho:
– Sim, foi ele.
– E você sabe de alguma coisa? – Nathan perguntou atrevido.
– Talvez não, mas não acho que é problema sermos amigos. – Lucy
sentiu-se envergonhada com essas palavras, olhando para o próprio vestido e
brincando com a borda de renda dele.
Nathan cerrou os olhos ao ver o rosto da garota ficar ruborizado e
com sua pequena boca beijou a sua bochecha gentilmente. Lu olhou-o assustada:
– Meninas sabem jogar bola? – ele disse sorridente.
– Aposto que posso jogar melhor que você! – Lucy provocou.
– Duvido! – Nathan sorriu – Então vamos lá para fora para ver quem
ganha!
E saiu correndo sem nem mesmo ajudar a menina a descer.
Não que ela se importasse... Mas achava divertido esse jeito do
menino Nath ser.
FLASHBACKOFF
– Você às vezes era tão bobo quando criança. – falei sorrindo,
encostada no corpo de Nath, em minha cama.
– Eu era bobo? Então quer dizer que não sou mais? – ele disse
impressionado.
– Não quis dizer isso. – comentei sincera.
– Ah, sua chata! – ele resmungou, arrancado a foto de quando
éramos pequenos, na casa de campo da sua avó, da minha mão – Você se lembra
daqueles jardins?
– Claro que sim. – falei pensativa, olhando para o teto – Uma vez
você me deu uma flor lá.
– Eu lembro! Aquela flor branca que você jogou no chão dizendo que
era sem graça.
– Só disse aquilo para te chatear, porque você tinha jogado lama
em meu vestido.
– Foi sem querer! – Nath disse tentando segurar o riso.
– Realmente foi sem querer passar com a bicicleta naquela poça de
água suja enquanto eu estava bem por perto.
Ficamos calados apenas para recordarmos e caímos na gargalhada
novamente.
Nath me apertou forte e beijou o lado da minha bochecha:
– Te amo. – ele sussurrou.
– Eu sei. – falei tão baixo quanto ele.
Abril passou muito rápido, após os problemas resolvidos, e os
momentos entre mim, Nath, Tom e Vicky voltaram a ser felizes.
Dava até medo do quanto aquilo estava bom.
Maio chegou e uma sensação de fim começou a nos dominar, faltava
um pouco mais de um mês para que pudéssemos terminar o colégio e receber as
cartas de Oxford:
– Você acha que passou? – perguntei de repente.
– Em que?
– Na universidade.
– Não sei. Não estudei nada, mas... Quase ninguém faz faculdade de
música, então tenho grandes chances. E você?
– Não faço a mínima ideia. – ri sem jeito – Fui péssima em
cálculos... Mas já era de se esperar.
– Acho que não deveria pensar nisso. Você fica ansiosa facilmente,
depois começa a chorar pelos cantos. – Nath disse mais em tom engraçado do que
de preocupação.
– Ah, cala a boca! – ordenei divertidamente.
– Calar a boca impede de beijar? – ele perguntou pensativo.
– Impediria se tivesse dito ‘fecha a boca’.
– É mesmo, tem razão. Agora vem cá que eu vou...
– Para, Nath!
– Não, é sério!
Nath puxava meu corpo enquanto eu tentava fugir do beijo molhado
que provavelmente ele me daria só para implicar.
Ele sempre começava com um diálogo desses quando queria lamber
minha bochecha.
Coisa nojenta!
Mas divertida...
Havíamos marcado de juntar os casais.
Logo Tom e Vicky chegariam, passaríamos a noite juntos, falando e
fazendo qualquer besteira.
Talvez jogando coisas íntimas...
– Onde está sua mãe? – minha amiga perguntou assim que abri a
porta. Ouvimos um barulho vindo da cozinha – Isso foi o Nathan?
– Acho que sim! – exclamei preocupada – Oi, Tom! Podem ir
entrando...
Falei andando rápido até onde o ser desastrado estava.
– Ops! – Nath disse assim que coloquei meus pés no mesmo cômodo
que ele.
– Poxa, Nathan! – disse chateada observando todo o chão sujo de
chocolate derretido.
– Foi sem querer! – vi-o fazer cara de “a culpa não foi minha” –
Eu fui pegar algumas canecas no armário de cima aí bati meu corpo no cabo da
panela.
– Ah, não precisa se explicar. – levantei meu rosto e fiz um
sorriso esperto – Só precisa limpar o desastre!
– Chata!
– Oi, povão! – Tom disse se intrometendo – Puta que pariu, Nathan!
– Tirou as palavras da minha boca. – Vicky falou com tédio,
cruzando os braços – Deixe-me adivinhar... Bateu o quadril no cabo da panela
quando foi pegar algo no armário.
– LU, A VICKY É VIDENTE! – Nath arregalou os olhos de maneira
engraçada.
Tom e eu rimos, Vi só deu as costas.
– E onde está a sua mãe? Você não me respondeu. – ela disse
ignorando o garoto que passava panos molhados um atrás do outro, tentando
limpar tudo.
– Está com o Marc. – falei fazendo de tudo para controlar a
irritação com o fato, enquanto lavava o recipiente para preparar mais chocolate
quente – Incrível, daqui a um tempo vão estar casados e morando juntos!
– Já imaginou você morando na mesma casa que ele? - Tom falou
irônico, olhei-o assustada.
– VICKY, BATE NA BOCA DESSE SEU NAMORADO PRAGUENTO! – resmunguei.
– PODE DEIXAR!
De repente uma revista voou na cara de Tom:
– Ai, sua besta! – ele xingou tocando a parte afetada do rosto,
Vicky ria da sala de estar.
– Pronto! – Nath disse como se não estivéssemos falando sobre assunto
nenhum, enquanto ele trabalhava de empregado – Agora falta lavar os panos,
passar um cheirinho... Por que é que sua mãe não quer empregada mesmo?
– Porque ela acha que vou virar uma vagabunda se não fizer os
afazeres domésticos. – comentei com tédio – E, aliás, continue assim... Quando
formos morar juntos eu trabalho e você limpa.
– Ok, patroa! – Nath falou com pose de soldado.
Tom riu em deboche.
– Vai rindo... A Vicky vai fazer pior com você. – falei zoando com
ele.
– Ah, fala sério! – e então saiu da cozinha, chateado, se juntado
a namorada, que já via televisão na sala.
Nath e eu fizemos novamente o chocolate quente.
Para ser sincera... Só eu fiz, ele apenas me deu apoio moral.
Fiquei com medo de deixá-lo chegar perto do fogão.
Antes foi a panela que caiu, agora poderia ser o corpo dele
pegando fogo...
A noite foi promíscua...
Sério mesmo!
Vimos filmes pornôs, como já não fazíamos desde a época do
aniversário do Tom.
A única diferença é que naquela época ninguém estava se pegando,
ninguém havia transado com ninguém.
Mas agora as coisas mudaram e não chegamos nem em meia hora de
filme para sermos bulinadas.
A Vicky sofreu mais do que eu, pois assim que Nath viu que comigo
só teria algo depois da meia noite, aquietou o Albert. Já Tom, que não tem controle
sobre o próprio pênis, teve de levar um aperto no dito cujo para parar de
tentar fazer sexo público com minha amiga.
QUE HORROR!
– O que acha de fazermos alguma brincadeira? – falei após tampar a
visão do filme pornô, na tela da televisão.
– Pega-pega no escuro! – Nath exclamou sorridente e esperto.
– Acha mesmo que vamos brincar disso com vocês dois depois do que
estávamos vendo? – Vicky comentou, cruzando os braços.
Ri bobamente concordando.
Nath fez biquinho de decepção.
Tom revirou os olhos.
– Então, o que acham de pré-liminares?
– Como assim? – a namorada perguntou curiosa.
– Poderíamos fazer alguma brincadeira não muito santa. O primeiro
casal que desistir vai para o quarto e faz o que tem que fazer... Vocês sabem!
– E como sabemos! – Nath falou pensativo – Gostei da ideia! O que
acha Lu?
– Depende.
– Do que? – ele falou duvidoso.
– Depende do jogo. Porque assim... – refleti sobre a pessoa que
deu a ideia – Não confio na mente podre do Tom. As pré-liminares dele podem ser
meio sadomasoquista, sexo grupal...
– Orgia! – Nath exclamou feliz.
Ri jogando-me em seu colo.
– Ele não está louco! – Vicky resmungou dando um chute na coxa do
Tom.
– Ai! – ele revidou empurrando a sua perna de volta – Eu não falei
que íamos fazer isso. Apenas sugeri algo diferente! Vocês que tem mentes mais
infectadas que a minha.
– Tom, você é o mestre pornojedi! – meu namorado disse, me
soltando e juntando as mãos – Devemos-lhe respeito, oh mestre!
Vicky e eu nos entreolhamos para só depois começarmos a rir.
Mestre pornojedi?
QUE PORRA É ESSA, NATHAN SYKES?
– Obrigado, obrigado. – Tom disse se achando – Lu... Vou precisar
de papel, caneta e duas caixas.
– Ok, já venho.
– Eu vou com você! – Nath disse.
– Não vai não! – Vicky falou puxando a camisa dele – Ou vocês não
voltam mais!
– Ela tem razão. – concordei com a cabeça, subindo rápido a
escada.
Não demorei muito para pegar as coisas. Quando voltei, percebi
Vicky fazendo penteados engraçados no cabelo do Tom, enquanto ele ficava de
cara fechada por Nath estar rindo dele.
– Aqui estão, docinhos!
– Ótimo! – o pornojedi disse, pegando o material – Agora me deixem
fazer que depois explico a vocês.
Mais alguns minutos de espera interessantes, porque é legal morder
o Nath:
– Pronto! Tem papéis cortados com nomes dentro dessas duas caixas.
A primeira – ele apontou para a que eu guardava os presentes do Jay, que agora
estão jogados em qualquer canto do meu closet – Servirá para com “o que se
tocará”.
– Uuuuuuh! – Nath exclamou.
– Cala a boca, ele nem explicou tudo ainda! – Vicky resmungou,
batendo em sua cabeça.
– A segunda – dessa vez ele apontou para que a que guardo os
presentes do Nath, que agora estão jogados na cama, só para ele se emocionar
quando formos para meu quarto mais tarde – Servirá para as partes do corpo que
receberão o toque.
– E quais partes você colocou nelas duas? – perguntei curiosa.
– Na que escolherá com que parte vai se tocar coloquei: boca, mão,
pé, barriga, bochecha, peitos, cabelos, pescoço, braços, pernas, bunda... E
afins. Na de receber os toques coloquei a mesma coisa.
– Aaaah, entendi! – falei compreendendo todo o esquema ridículo da
brincadeira – Legal! Só tenho uma dúvida.
– Qual? – ele perguntou.
– Casal com casal ou misturado?
Silêncio.
Todos se entreolharam, menos eu, que fiquei esperando que a
resposta viesse do céu:
– Mistura! – Nath gritou de repente.
– Isso vai ser tão... Esquisito! – Vicky disse com a voz estranha.
– Por quê? – Tom questionou.
– Já imaginou você colocando o pescoço na perna do Nathan?
– Oh, shit!
– Ah, eu preciso ver isso! – falei batendo as mãos de empolgação –
Vai ser essa brincadeira mesmo!
– Lucy! – Nath exclamou de cara feia – Eu não quero o pescoço dele
em meu corpo virgem.
– Virgem? – Tom e Vicky perguntaram ao mesmo tempo.
– Eu ainda não dei para homens, querida! – meu namorado fez voz de
gay, que causou gargalhada em todo mundo, inclusive em mim, mas nem por isso
deixei em branco, dando-lhe uma tapa bem dada no ombro, para que ele não
repetisse o ataque de homossexualismo – Mas enfim... – ele disse massageando a
parte dolorida – Quem começa?
– Eu! – Vicky e Tom falaram novamente ao mesmo tempo.
– Sai! – a garota exclamou empurrando a mão do Tom na caixa e
depois parando no meio do caminho – Precisamos de uma garrafa!
– Para quê? – o namorado dela perguntou.
– Para ver com quem vai ser a vítima, seu burro! – ela disse
irritada – Vou pegar umas cervejas para vocês dois esvaziarem.
– Agora a coisa vai ficar boa! – Nath disse esfregando as mãos.
– Alcoólatra anônimo dando o ar das graças. – falei revirando os
olhos.
Os dois garotos, que dizem beber socialmente, esvaziaram as duas
primeiras garrafas de bebidas exóticas, com frutas vermelhas e canela, que tem
cheiro bom, mas como nem eu nem Vicky bebemos, ficamos só olhando eles se
deliciarem com a droga liberal.
– Girando! – a menina que iniciaria o jogo anunciou, girando o
vidro transparente e cilindricamente deformado na mesa de centro – MEU DEUS,
TOM, VOCÊ ME PERSEGUE!
– É o amor! – falei com voz fresca, para irritá-la pelo fato do
seu próprio namorado ter saído logo de primeira.
– Agora vamos ver a caixa. – ela disse embaralhando os papéis de
qual parte do próprio corpo teria que usar – Pescoço.
– Minha vez... – Tom disse fazendo o mesmo que a namora, mas em
outra caixa, que servia para quem ia receber as carícias. – Pé!
– Ai, que nojo! – falei rindo, com Nath rolando no chão, de tanto
gargalhar.
– Isso é tão humilhante! – Vicky disse ao se ajoelhar, com Tom
sentado no sofá, e esticando seu pé feio, achando divertido o que estava
fazendo com ela – Pelo menos você lavou ele hoje?
– Lavei pensando em você! – ele disse piscando os olhos.
– Você ejaculou e jogou no seu pé? – Vicky fez um rosto chocado,
levando as mãos à boca – Que imundo!
Mais barulhos de riso.
– Você gosta de mim até sem aparar os pelos, imagina com meus
maravilhosos dedos lavados com um tipo de sabonete líquido especial?
– Aaaah, Tom! Para com isso! – observamos ela se levantar, com o
rosto completamente enojado – E só não reclamo dos seus pelos porque sei que se
for passar uma tesoura nas suas partes seu pênis vai junto!
– E você não vai mais poder fazer uso dele... – Tom disse
tristemente – Agora vem cá amor, sentir o poder de um pé!
– Você tem que ir, Vicky. – Nath irritou.
– Fique na sua! – ela falou mexendo os dedos no ar, olhando de uma
maneira assustadora para Nath, que se encolheu – Ah, tudo bem! Já fiz coisa
pior com esse... Ser desprezível! – então ela apontou para Tom, todo
esparramado no sofá, que lhe mandou um beijo no ar – Vamos lá, Vicky! É questão
de honra! – Vi disse para si mesma, voltando a posição de antes, analisando
cada canto do local a ser tocado.
Esticou seu pescoço e fez careta ao tocar o pé do menino, que
começou a rir de cócegas, quase batendo na namorada desesperada.
– Dez segundos! – gritei – Um, dois, três, quatro... Vicky, se
você parar, contarei do começo! Cinco, seis, sete, oito, nove, dez. CHEGA DE
ROMANCE!
Tom fez cara de triste assim que a namorada se levantou numa
rapidez incrível.
Ela começou a esfregar o pescoço com as mãos, como se as bactérias
fossem sair com aquele contato.
– Agora é minha vez! – Tom disse girando a garrafa – Ah, que
droga, Nathan!
– Que droga digo eu! – meu namorado falou irritado ao se levantar
– Não quero ter contato nenhum com você! – Vicky e eu trocamos olhares.
– A vingança é doce... – a garota, agora ao meu lado, cantarolou.
Encarei Nath com piedade, que revirou os olhos.
Em seguida ele mexeu nos papeis da caixa, pensativo, esperançoso,
ou sei lá o que!
Não consegui decifrar sua cara de quem seduzia o teto.
– Perna. – ouvi sua voz sem graça.
Então Tom fez o mesmo que ele, na outra que sobrou:
– AH, NÃO! – ele gritou – EU NÃO VOU FAZER ISSO! – e jogou o papel
no chão – ISSO É GAY DEMAIS!
– Que foi? – perguntei curiosa, engatinhado até o pequeno pedaço
branco, preenchido pela letra tosca, jogado ao chão – Ah, não acredito!
– Cadê, cadê? – Vicky falou chegando até mim – Uuuuui, que
lindamente sensual! Vai ser tão gostoso ver a boca do Tom na pernitcha do
Nathan!
Nós duas gargalhamos de doer a barriga, já eles nos olhavam
incrédulos pelas próprias namoradas estarem compactuando com toda aquela
gayzisse.
– Vamos! – falei apressando os dois.
Vimos eles se movimentarem até uma parte mais central da sala.
Nath colocou as duas mãos na cintura e começou a olhar para o teto, como se
qualquer contato visual com o outro fosse causar amor à primeira vista.
Tom se ajoelhou em sua frente e não deixei de zoar:
– Só não vale se empolgar com a boca e... Errar a perna!
Foi o suficiente para que eu e Vicky batêssemos uma na outra rindo
e apontado para os dois.
Nath, pacientemente, esperou ficarmos quietas e, quando eu
enxugava as lágrimas dos olhos, ele disse:
– Continue a brincar e mais tarde vai sofrer na minha mão.
Tal ameaça fez-me engolir em seco e arregalar os olhos. Vicky, com
vestígios de risos, analisou-o duvidosa:
– Você não faz porcaria nenhuma! – ela disse sarcástica.
Nath fez uma cara de triste:
– É, tem razão.
Sorri feito besta e Nath mandou um beijinho no ar, que eu ignorei,
observando o Tom:
– Agiliza, querido! Quero rir da sua cara!
– Cala a boca, Lucy! – ele resmungou observando a perna do Nath,
coberta pela calça.
– Não seria melhor se Nathan tirasse a calça?
– Não exagera amiga... Ainda quero meu namorado másculo. –
comentei pensativa.
– Ao menos uma vez na vida você disse algo que preste! – Tom
comentou e mostrei o dedo do meio.
Mais uma vez a análise de uma perna.
O garoto que faria a pior parte respirou fundo e Nath olhava-o
impaciente, querendo terminar logo com aquilo:
– Vou começar a contar. – vi os dois se prepararem
psicologicamente – Um... – Tom encostou os lábios na coxa do meu namorado.
Fizeram careta ao mesmo tempo e continuei – Dois, três, quatro, cinco, seis...
– E a boca de Tom vai subindo! – Vicky comentou com voz de
locutora. Seu namorado fez o mesmo gesto obsceno com os dedos que eu tinha feito
segundos atrás.
– Sete, oito, nove, nove e meio... Ah, não, tô de brincadeira! Não
me olha assim, Nath! E dez! – finalmente acabei de contar.
O garoto que beijava respirou forte, como se tivesse prendido o ar
todo esse tempo, para não sentir o cheiro do macho à sua frente.
Os dois se olharam com desprezo... Eu e Vicky com graça.
– Acho bom sair você ou vou arrancar os cabelos depois dessa. –
Nath comentou, começando a girar a garrafa, olhando para mim enquanto todos iam
para o redor da mesa de centro – Ah! Vicky?
– Porra! Eu não vou brincar nisso hoje? – resmunguei, cruzando os
braços.
– Uma hora Lucy... – Tom falou todo vidente.
– Se você quiser, eu passo minha vez! – Vicky me encarou.
– Na-na-ni-na-não! – o garoto ‘inventor’ da brincadeira disse –
Vai ter que fazer!
– Hey, ela é sua namorada! – Nath comentou pegando as duas caixas
e jogando uma na perna da Vicky, que se assustou.
– E daí? Ela merece sofrer! – Tom disse assassino.
– Ai, cala a boca imprestável. – ela xingou de volta. Observei
tudo tranquila, como se nem estivesse ali por uns segundos – Nuca.
– Bunda! – Nath me olhou com vontade de rir – Não é por nada não
amor, mas isso é ridículo! – eu mesma comecei a gargalhar sozinha. Tom, o que
empurrou a menina segundos atrás, agora olhava um pouco enciumado – Ah, como é
bom rir da sua cara de besta! – Nath disse esfregando o papel no rosto do
amigo, que empurrou sua mão, irritado. – Vamos Vicky, preciso de sua nuca.
– Ok, sir! – ela disse engatinhando para perto dele, que ficou em
pé, enquanto ela estava ajoelhada, afastando os cabelos e olhando para o chão –
Isso parece coisa de macaco. Você deve estar achando o máximo, Nathan!
– Um pouco! – ele comentou rindo e ficando de costas.
– CONTANDO! – gritei bem alto para assustar Tom, que começou um
monólogo de sussurros consigo mesmo – UM! – Nath flexionou as pernas e encostou
o bumbum na nuca da Vicky, que soltou uma risadinha – DOIS, TRÊS, QUATRO,
CINCO, SEIS, SETE – uma esfregação de nádegas em partes corporais alheias
começou, causando uma séria vontade de rir junto a que recebia o ‘carinho’ –
OITO!
– Apressa logo isso! – Tom resmungou de repente.
– Nooooooooooooove, nove? – pensei em implicar com sua cara e foi
o que fiz – De-de-de-de-deeeez! CHEGA! – falei puxando a Vicky para o lado, que
quase caiu, perdendo o equilíbrio.
Nath passou por Tom fazendo questão de virar sua bunda para ele.
– Lembre-me de não tocar nessa parte do seu corpo hoje. – ele
comentou triste, mantendo certa distância de Vi, que não deu importância, logo
se levantando.
Girou a garrafa e:
– LUCY! – ela gritou rindo – Vamos lá gata, nos amar e ter filhos!
Me empolguei com seu comentário e revirei os papéis.
– Costas.
– Bochechas.
Todos nos entreolhamos, imaginando a cena:
– Isso é tão sexualmente fresco! – comentei, finalmente quebrando
o silêncio.
Todos começaram a gargalhar.
Chegou uma hora que nem precisávamos estar fazendo algo engraçado
para rirmos.
– Ok. Vou me ajoelhar e você faz o mesmo, só que atrás de mim.
– Vocês combinam assim quando se comem no banheiro do colégio? – Tom
perguntou, recebendo uma cotovelada do Nath.
– Não mesmo. – falei fazendo o que Vi disse, enquanto mais uma vez
ela afastava o cabelo – Normalmente nos comemos na sua cama, quando você vai
para a pista de skate. – dei um sorrisinho debochado – Você é tão incompetente
que nem satisfazer a própria namorada consegue.
– Ouch, tomou bonito! – Nath fez questão de dizer assim que acabei
de falar. Tom o olhou com ódio, fazendo-o calar a boca – Vamos acabar logo com
isso? – ele disse, fugindo do assunto.
– Ok. – confirmei com a cabeça – Preparada, amor?
– Para que? – Nath perguntou.
– Ela estava falando comigo, Nathan. – Vicky o olhou impaciente.
– Ah, entendi.
– E sim, estou pronta, Lu. – vi-a olhar de lado, para o namorado –
Faça algo que preste, ao menos conte.
– Aham... Tá. – ele disse com tédio – Começando... Já! Um, dois,
três – encostei meu rosto na blusa cinza da Vi. Comecei a passar a bochecha de
um lado para o outro por cima da estampa preta e bem, isso não foi legal –
Quatro, cinco, seis – o desenho grudava em minha pele e a garota que recebia o
carinho só ria. Era engraçado vê-la se divertindo com uma brincadeira boba, mas
aquilo estava me incomodando – Sete, oito, nove. – de repente Tom parou. Tentei
olhá-lo por cima do ombro da Vicky, ele sorriu como se esperasse que eu fizesse
isso – Dez, onze, doze...
– AH, CHEGA! – gritei saindo do lugar em que estava.
Vicky continuou a rir descontroladamente, jogando-se no chão,
olhando para cima, com os olhos lacrimejando:
– Quando você quiser pegar ela de jeito, fica passando a bochecha
nas costas dela! – Nath sussurrou para Tom, que fez um resto de “ah, bem
pensado!”. Percebendo que eu os observava, deram um sorrisinho amarelo para mim
– Acho que agora é a sua vez. – o garoto de olhos avelãs disse.
Vicky se recompôs como se nada tivesse acontecido.
Girei a garrafa e percebi que desgraça é desgraça, independente do
que você esteja fazendo:
– Tom? – olhei para o objeto cilíndrico que apontava para um ser
sorridente. Sua namorada segurou o riso e Nath se distraiu, vendo a embalagem
da cerveja – Tom? – me agachei falando com a garrafa – Piranha! – xinguei e
fiquei em pé.
Joguei a caixa bem no meio de suas pernas, um pouco revoltada por
ter que ter um contato com esse pornojedi irritante.
Retirei meu papel:
– Barriga.
– Cabelo.
Olhamo-nos ameaçadores.
– Se deita no sofá. – ele disse se levantando – E levanta a blusa.
– Não. – respondi me esgueirando pelas duas pessoas sentadas ao
chão.
– Por que não?
– Porque ela tem namorado. – Nath respondeu por mim.
– Porque você tem namorada. – Vicky repreendeu-o.
– Mas não vai ter graça se eu ficar passando meu cabelo por cima
da blusa.
Paramos todos para pensar.
Eu me deitei no sofá, deixando minha cabeça onde se senta, fora do
braço, olhando para cima e pensando no que tinha que fazer:
– É. Ele tem razão. – respondi, enfim, começando a levantar a
peça. Nath e Vicky saíram do caminho para Tom deixar seus joelhos no chão,
perto de mim – Só para deixar claro: eu tenho uma mão e ela pode voar na sua
cara.
– Não se preocupe! – ele disse sorrindo – Além de suas mãos, tem
mais quatro. – Tom apontou para os outros dois em pé, atrás dele, separados
pelo centro. – Alguém conta! – o garoto quase gritou.
Fechei os olhos, ansiosa:
– Um. – Vicky disse com tédio – Dois. – Tom encostou sua testa na
minha barriga, fazendo pressão. Sua franja separava o contato de nossa pele –
Três. – ele começou a se movimentar, levei as duas mãos à boca – Quatro,
cinco... – segundos depois eu gargalhava de cócegas, de um jeito ridículo. Tom
não aguentou e me acompanhou na risada – Seis, sete, oito. – Vicky desembestou
a contar, de maneira agoniada. Seu namorado aumentava o vai e vem, fazendo
minhas pernas se contorcerem. Até mesmo Nath começou a achar divertido – Nove,
dez! SAÍ DAÍ, tom! – ela gritou e, levando um empurrão na cabeça, dado por mim,
ele saiu, sentando-se no chão, de rosto vermelho, ainda rindo.
Agora, que o que estava me tirando do controle parou, fiquei
quieta, arrumando meu cabelo, abaixando minha blusa e fingindo que nada
aconteceu:
– Sua vez. – Nath disse, enquanto Tom pegava a caixa a seu lado,
depois se sentando perto de mim, no sofá.
– Você tem que girar a garrafa demente! – Vicky resmungou,
agarrando uma almofada e voltando para o chão.
– Ah, é mesmo! – ele disse girando a garrafa – Nathan, você não
quer se casar logo comigo? – Tom perguntou, enquanto ficava de boca aberta
pelos dois irem ter contatos polêmicos pela segunda vez.
– Não, você nem tem vagina! – Nath disse de um jeito muito
simples, que me fez rir, assanhando seu cabelo.
Os dois pegaram o papel:
– Cotovelo. – meu namorado falou, o nome com a parte do corpo para
dentro da caixa..
Tom ficou calado, olhando para o seu papelzinho.
Começou a falar consigo mesmo, se xingando de burro:
– Que foi? – Vicky disse tentando espiar o que analisava.
– NADA! – ele gritou, afastando o braço para que ela ficasse longe
– Vou devolver isso e...
– NÃO! – Nath gritou e arrancou o papel de sua mão pelo outro lado
– MEU DEUS! – ele fez um rosto assustado.
Pulei por cima dele.
– MEU DEUS! – exclamei também.
– Eu quero ver! – Vicky disse irritada.
– Acho melhor não. – Tom falou nervoso.
– Pau. – entreguei-o.
Vicky tentou ler de longe a letra sinistra do garoto.
Respirou fundo, até que começou a bater nele, com toda a força:
– SEU IMBECIL! ISSO É COISA QUE SE COLOQUE? QUER VIRAR GAY? VAI
FURAR O OLHO DA SUA AMIGA? POR QUE TEM PAU? POR QUE TEM PAU?
– AI, VICKY, AI! – Nath e eu começamos a rir da desgraça do Tom –
FOI SEM QUERER! QUANDO EU ESCREVI NÃO PENSEI QUE IA SER MISTURADO!
– VOCÊ QUERIA QUE EU TOCASSE NO SEU PÊNIS NA FRENTE DOS OUTROS?
– NÃO! SIM! QUER DIZER... AH, NÃO SEI! – Vicky já tinha levado Tom
ao chão, prendendo suas pernas e dando tapas de barulho estridente.
Cada parte do corpo do garoto ficava com marcas vermelhas.
– Amiga! – falei baixo para se acalmar – Amiga! – disse de novo,
pois ela não me deu ouvidos – AMIGA! – gritei e finalmente ela parou.
Tom a empurrou para o lado, começando a respirar afobado, catando
cada parte afetada de sua pele.
– Só por castigo... – ela apertou a orelha do menino, que deu até
certa pena... Na verdade não! – Você vai fazer isso.
– O QUÊ? – Nath gritou de repente. Encarei-o, assustada – Vicky,
esse barraco todo para você nos dizer que temos que fazer?
– Claro! – ela falou revoltada, soltando o outro e olhando o
garoto ao meu lado – Não é nada com você, Nathan, mas ele merece!
– Eu não mereço nada! – Tom retrucou.
– Merece sim! – Vicky mexeu as mãos freneticamente no ar – Já
imaginou se saísse isso com a Lu? Já imaginou como todos nós iríamos ficar
putos com você?
– E lá viria a morte de Tom Parker... – comentei dramática,
olhando para o além.
– Ah, mas eu não quero, Vi! Você pode me castigar de outro jeito.
– ele falou manhoso.
– Não. – Vicky manteve-se firme.
– Lu, só nos resta você! – Nath virou para mim, suplicante. Me segurei
para não ceder – Tem certeza que quer ver meu lindo cotovelo em pênis alheio?
– Sim. – respondi com um sorriso forçado.
Nath revirou os olhos e encarou entre as pernas do Tom. O outro
rapidamente tampou o local observado, como se estivesse sendo estuprado
visualmente.
– Tudo bem... – o meu namorado falou, respirando fundo – Me dá
licença? – ele disse virando-se para mim.
Concordei com a cabeça e me levantei do sofá, indo para o lado da
Vicky. Nath ocupou meu espaço e Tom arrastou-se para o seu.
Nós duas enlaçamos o braço, esperando, ansiosas, o momento
maravilhoso do auge da gayzisse.
– Abre as pernas. – Nath falou com tédio.
– Não mesmo! – Tom disse irritado.
– ABRE LOGO ESTA PORRA! VOCÊ COLOCOU A GENTE NESSA! – meu namorado
gritou e o outro logo obedeceu com medo. Soltei um sorrisinho, seguida da
Vicky, que mordia os lábios, feliz, por ver o Tom sofrer – Por favor, comecem a
contar. – ele disse triste e fiz até biquinho para demonstrar minha
cumplicidade naquela desgraça.
Nath preparou o cotovelo de maneira engraçada, em cima do pênis de
Tom, coberto pela calça jeans grossa.
Ainda bem!
Quem visse de longe ia pensar que tudo não pensava de um golpe
mortal...
Aham... Sei!
– Um... – Vicky foi quem começou, já que me distraí com a cena.
Nath encostou a parte do seu corpo no membro do pornojedi – Não tem graça! Tem
que mexer! – ela resmungou e ri alto com isso, pois os dois a olharam chocados
– DE NOVO!
– Ai, meu Deus! – seu namorado disse olhando para o teto
sofridamente. – Permita-me ter ereção essa noite! – Nath riu, inclinando-se um
pouco sobre as pernas do outro.
Vicky aproveitou para contar novamente.
– UM, DOIS, TRÊS, QUATRO... – meu namorado gargalhava de nervoso,
nem mesmo precisando mexer o cotovelo, pois seu corpo se balançava todo. Tom
olhava tenso, como se estivesse acontecendo o fim do mundo entre suas pernas. –
CINCO, SEIS, SETE – ele levou a mão à cabeça, seu rosto ficando vermelho. Nath
parou de rir e deu porradinhas, fazendo cara de provocação – OITO...
– ACABA LOGO COM ISSO! – Tom gemeu alto, sentindo uma leve dor.
– NOVE, DEZ!
Foi o suficiente para que uma explosão de risadas surgisse no
cômodo, com Tom chutando Nath para o outro lado do sofá, só sendo parado pelo
braço do local em que estavam sentados. Ele se levantou revoltado e disse:
– Cansei, não quero mais brincar!
– Senta aí, que você vai brincar até quando eu quiser! – Vicky
mandou e logo Tom fechou a cara – Nath, sua vez.
– Ok. – ele girou a garrafa, recuperado do que teve que passar,
levando tudo numa boa depois dos momentos de falsa esperança de que iria fugir
daquela – Ah, sempre vem algo bom depois da porcaria!
– Eu! – falei sorridente e fiquei feliz por isso.
A brincadeira continuou animada. Minha parte com Nath saiu cabelo
e boca. Tive de lamber todos os pelos visíveis de seu corpo.
Foi nojento, engraçado e sexy!
Ficamos nesse troca-troca. Problema foi quando começou a sair
excesso de mim e Vicky.
Depois que tive que deixar minha amiga esfregar seus peitos em
minha bunda, os garotos se obrigaram a colocar almofadas entre as pernas.
Tom ainda lambeu o dedo mindinho de Nath. O outro teve de passar o
dedo nas axilas da Vicky. Eu fiz de muito mau gosto, com o namorado da minha
amiga, um carinho com a orelha, em sua perna.
Perdemos o rumo de quem tinha que tocar em quem com o que, pois
preferimos optar pelo mais ridículo.
Tudo terminou quando caiu bunda e pau para mim e o Nath, que não
aguentou três segundos. Gritou que desistia e segundos depois eu estava sendo
beijada no corredor dos quartos, pressionada contra a parede, até mesmo com
violência.
Nath entrou em meu quarto, guiando-me, já que eu estava de costas,
de olhos fechados, sem saber exatamente onde pisava.
Senti-o me encostar em algo fofo, sobre a minha poltrona, e o
besta havia me deitado sobre o urso George, tornando a situação assustadora,
pois parecia que estávamos sendo vigiados. E, para não partir o clima, Nath me
puxou para me levar até a cama, mas embolou nossos pés no meio do caminho e,
revezando entre beijar e rir, nos satisfizemos no chão mesmo.
Ao fim da realização dos desejos reprimidos (ok, isso foi muito
brega), ainda ouvimos algumas batidas no quarto ao lado, percebendo a
selvageria do sexo dos vizinhos, ou talvez Vicky tivesse espancado o Tom por
tudo que ele aprontou. Ri com a cabeça encostada no peito nu de Nath, que subia
e descia tranquilamente.
Depois nos banhamos e fomos dormir. Peguei no sono primeiro que
ele e algo dominou minha mente, passando meu sonho para lembranças. Lembranças
infelizes, mas que mostraram para mim, novamente, que nada entre mim e meu
namorado foi inusitado, inesperado ou até mesmo impensado.
FLASHBACKON
Festa de aniversário de Nathan Sykes. Lucy Mason tinha apenas doze
anos e entrava pela sala conhecida e movimentada da casa de seu melhor amigo.
Avistou de longe Tom e Vicky conversando, ele muito mais animado
que ela. Preferiu manter-se longe dos dois, queria encontrar o aniversariante e
lhe desejar parabéns, quem sabe revelar seus sentimentos.
Um bom amigo pode fazer uma garota se apaixonar e a confiança de
que ele será a última pessoa do mundo a magoá-la faz com que tudo aprove muito
mais o sentimento.
Lucy não sabia dizer o que Nathan sentia, mas ela estava
completamente mexida.
Amizade ou outra coisa?
Indecifrável, pois com essa idade tudo parece ser mais intenso do
que realmente é.
De longe ela via o garoto bem vestido e sorridente, conversando
com seus amigos.
Logo que a percebeu veio ao seu encontro, com bastante simpatia.
– Hey! – ele disse abraçando-a timidamente. Contatos corporais sem
más intenções só iria acontecer dois anos mais tarde – Você demorou.
– Desculpa, estava com dúvida no que vestir.
– Como se precisasse se preocupar com isso. – ele comentou,
olhando o seu look, que ela montou especialmente para chamar a sua atenção – Já
falou com Tom e Vicky? A garota estava te procurando feito louca! Não aguenta
mais o irmão ao lado.
Lucy sorriu, pensando o quanto os dois eram cão e gato:
– Depois eu os procuro. Posso falar com você agora?
– Claro!
– Nathan!
Uma garota loira de cabelos cacheados pôs-se entre os amigos.
– Ah! Olá, Marisa. Pensei que não viria! – ele disse galanteador.
Lucy percebeu a intenção do garoto e cerrou os olhos, prestando
atenção na cena.
– E eu perderia uma festa de Nathan Sykes? – a garota disse,
jogando-se quase em cima dele, dando toques e risos provocativos.
Nathan riu sem jeito, passando as mãos no cabelo, logo em seguida
percebeu o quanto sua amiga se sentia excluída, afastando-se disfarçadamente da
dupla que havia acabado de se formar:
– Marisa, essa é a Lucy, também é de nossa sala. – ele falou
apontando para quem se referia.
– Ah! Oi. – ela disse com descaso, voltando seu rosto para o do
garoto – Nathan, eu não sei bem onde tem bebidas... – seus dedos mexerem nos
botões da camisa do menino à sua frente – Bem que você poderia me mostrar.
– Claro! – ele respondeu nervoso – Vamos... Lu, vem com a gente?
– Acho melhor não. – Lucy respondeu envergonhada – Vou procurar a
Vi.
E saiu de cabeça baixa, deixando os outros dois procurarem bebidas
ou qualquer outra coisa a mais que os divertissem.
Por um segundo, andando entre as pessoas, Lucy odiou-se por não
beber, mesmo sendo tão nova, embora Nathan e Marisa tivessem apenas treze anos,
pois poderia ter usado a mesma cantada.
Sentiu-se uma inútil por não saber reverter a situação. Decidiu
deixar os amigos de lado, sentando-se na escada, observando tudo por entre as
aberturas do corrimão, esperando o momento em que seu amigo voltaria sozinho,
de preferência.
Mas ele não voltou e bebidas pareciam não ter importância no meio
daquilo que a garota foi obrigada a ver. Nathan e Marisa se beijavam, antes
mesmo de ter chegado a cozinha. Quase se devoravam e a menina que via tudo
mordeu os lábios tristemente. Não sentia vontade de chorar, nem nada, mas ficou
decepcionada ao ver aquilo, pois se iludiu pensando que por Nathan a conhecer
as coisas seriam simples. Mas não eram, garotos não se importam com isso e Lucy
chegou a tal conclusão.
No momento, o que se passava dentro dela era inferioridade por não
ter tido tal competência de tomar o lugar da garota e ser ela que estava nos
braços dele, recebendo o beijo pela primeira vez da pessoa que mais confiava.
Levantou-se decidida a sair dali, pensando o que deveria fazer em
seguida. Não era justo ela ficar chateada com o Nathan e demonstrar isso, pois
até então não era de seu conhecimento tal interesse que surgiu em Lucy.
Então, quando tudo pareceu mais tranquilo e menos doloroso, seus
pensamentos confirmaram que a amizade dos dois era mais importante que qualquer
outra coisa.
Se um dia isso levasse para algo além do que já tinham, Lucy daria
liberdade para que tal sentimento dominasse seu corpo novamente, abrindo mão
apenas se mais alguém disputasse a sua mente junto a Nathan Sykes.
FLASHBACKOFF
Acordei-me ainda de madrugada, após lembrar-me de tudo isso. Eu me
via em toda aquela cena que vivi anos atrás como se fosse outra pessoa.
Sentei-me na cama, pensativa, pelo momento nostálgico e até mesmo nervosa.
Como as coisas mudaram tanto?
Eu nunca imaginaria que aquilo que guardei dentro de mim, aos doze
anos, poderia voltar de uma maneira tão boa e tranquilizadora como estava sendo
agora.
Foi uma mistura de saber e não saber sobre meu próprio futuro,
pois apenas Jay pôde disputar minha mente com Nath. Mas agora tudo estava tão
limpo que nem mesmo ele fazia parte disso que decidi para minha vida, assim que
o namoro aconteceu.
Tom e Vicky juntos? Sorri sozinha, porque muitas vezes concluí o
quanto isso era impossível.
Marisa me veio a tona e parei para refletir no que aconteceu com
ela. Hoje com um bebê de oito meses, tendo acabado com toda perspectiva de
futuro que seu status social lhe propunha.
Voltei-me para Nath, que dormia docemente e, pela primeira vez, eu
agradeci a Deus por ele ser muito mais que um amigo.
Deixei meu corpo cair cuidadosamente sobre suas costas nuas, minha
respiração quente alisava a sua pele na área um pouco atrás dos ombros, onde em
seguida beijei com meus lábios frios.
Nath riu levemente, pois com meu carinho o acordei. Só pude ver um
de seus olhos, agora aberto, o outro estava escondido pelo seu rosto enfiado no
travesseiro. Ele piscou algumas vezes sem compreender o porquê de eu ter me
acordado no meio da noite para tal ato, mas não me importei com isso,
concluindo que eu já havia levado longe de mais o que eu deveria ter lhe dito
logo, quando ele me revelou as palavras fofas no dia de seu aniversário:
– Eu te amo. – sussurrei em seu ouvido – Mais do que tudo no
mundo. – completei, achando mais que necessário.
Observei sua reação assustada. Seus olhos avelã, escuros pela
falta de luz do quarto, piscaram mais algumas vezes, como se aquilo fosse
confuso. Seus lábios entreabertos e quase mexendo para falar, retribuir ou me
dizer qualquer coisa que se passasse em sua mente no momento:
– Não diga nada. – falei encostando novamente meu rosto em seu
corpo – Volte a dormir, Nath.
Ouvi-o sorrir docemente, ficando calado, como pedi.
Dormi calma por cima dele, satisfeita com o que havia acontecido
até então.
* * *
CAPÍTULO 45
JACK FOSTER
Ponto de Vista: Vicky
FLASHBACKON
– Papai, preciso mesmo ir para esse jantar? – Victoria perguntou
ao homem alto, que penteava seus cabelos, sentado em sua cama.
– Claro que sim, querida. É importante que você conheça a minha
amiga. – ele disse gentilmente, sem querer forçar a filha a fazer aquilo.
– Amiga? O senhor nunca teve amigas. – a menina concluiu
pensativa, evitando mexer a cabeça, enquanto seu pai terminava o penteado de
tranças, bastante difícil para homens.
– Mas agora tenho e você vai adorá-la. Está ansiosa para
conhecê-la. – falou dando um toque final ao prender o que restou do cabelo. –
Pronto, pegue seu casaco agora, para não nos atrasarmos.
– Tudo bem. – Vicky disse de mau gosto.
Com apenas nove anos só lhe restava seu pai, Jack Foster, viúvo e
de ótimos negócios. Victoria o amava e era a única pessoa que conseguia
demonstrar esse sentimento. Sempre fora muito fechada, mesmo tendo amigos como
Lucy Mason e Daniel Jones, que conheceu aos seis anos.
A pequena garota entrou no carro do pai, desconfiada desse jantar,
com medo das revelações que poderiam vir pelo caminho:
– Jack! – uma mulher disse assim que abriu a porta – Ah! Essa deve
ser a garotinha Vicky.
– Victoria. – ela corrigiu incomodada. Não conhecia aquela pessoa,
então não era para existir intimidades.
– É que ela prefere ser chamada pelo nome. – o pai justificou
falsamente.
A menina não se importava de ser chamada de Vicky.
– Não tem problema. – a mulher disse – Por favor... Entrem.
Os dois entraram na casa luxuosa, extremamente branca e grande. Vi
olhou admirada pela belíssima decoração.
– Então, esquecemos que você não sabe quem eu sou. Chamo-me
Samantha Parker. – ela disse estendendo a mão. Vicky duvidou se deveria
apertar, mas o fez com os olhos cerrados.
– E onde está o menino? – Jack perguntou – Estou ansioso para
conhecê-lo.
– Ah, claro! Irei chamá-lo. – Samantha disse – Com licença.
E subiu a grande escada, sumindo logo em seguida pelo corredor.
Segundos depois retornou arrumando os cabelos:
– Tom já vem.
– Ótimo! – o homem disse.
– Até ofereceria uma bebida, mas assim que meu filho descer
pedirei para que sirvam o jantar e poderemos tomar um bom vinho.
– Maravilhosa escolha para a noite de hoje.
Vicky observou o pai um pouco assustada. Sua voz era galanteadora,
assim como os olhares para cima da mulher, que sorria envergonhadamente.
Ao recuperar-se gritou:
– THOMAS PARKER, SE VOCÊ NÃO LARGAR ESSE VIDEO GAME AGORA VOU AÍ
ARRANCAR SEUS CABELOS! – os visitantes arregalaram os olhos. Percebendo a gafe
que cometeu, Samantha disse sem graça – Crianças!
– É a idade. – Jack comentou – Quando eu tinha dez anos nunca
fazia o que sua avó mandava. – então se virou falando intimamente com a filha
que sorriu.
– Pronto, senhora Parker.
Os olhos da menina percorreram pelo garoto de cabelos castanhos,
que vinha descendo a escada distraidamente. Aparentava a mesma idade que a sua,
mas as roupas enganavam, disfarçando-o de adolescente skatista, com bermudas e
sapatos largos, mais uma camisa com marca famosa de qualquer empresa de
material esportivo.
– Tom, esse é o senhor Jack Foster e a sua filha Victoria. – a mãe
do menino apresentou-os assim que ele colocou os pés no plano.
– Ah, legal! E aí, cara? – Tom disse estendendo a mão, Vicky
admirou-se ao ver seu pai se socializar de maneira tão moderna fazendo gestos
malandros para o cumprimento – E olá... Criança. – Vi ouviu-o dizer com um descaso
simpático, que a fez sentir-se com raiva por ser tão baixa aos nove anos,
embora ele também não fosse grande coisa.
– Agora vamos jantar, pois se demorarmos mais teremos que mudar o
horário para café da manhã.
Jack sorriu divertidamente, guiando a filha pela casa, passando a
impressão que já conhecia a residência... Bem demais.
A mesa estava perfeitamente bem arrumada e em questão de minutos
foi preenchida por travessas aparentemente deliciosas, de vários tipos de
comida.
Vicky pode não ter gostado de Samantha, embora não pudesse
entender exatamente o porquê disso. Mas algo de bom tinha que ter dentro
daquele lugar e foi justamente o jantar.
– Então... O que achou Victoria? – a anfitriã perguntou animada.
– Bom. – Vicky respondeu séria, limpado os lábios com o lenço de
pano.
– Maravilhoso Samy, como sempre. – o homem disse tocando a mão da
mulher por cima da mesa. Vi obrigou-se a arregalar os olhos – Temos algo para
contar a vocês, antes que a sobremesa venha. – ele continuou sorridente.
Vicky sentiu os olhos de Tom lhe queimarem, buscando um pouco de
cumplicidade nesse medo que surgiu nos dois:
– Vamos nos casar. – foi Samantha que disse e os dois apaixonados
trocaram selinhos.
Tom jogou o talher em cima do prato, revoltado, e saiu batendo o
pé sem nem ao menos olhar para trás. Vicky, assustada demais, não conseguiu
expressar nenhuma reação, embora dentro de si uma raiva misturada com angústia
a fazia sentir uma egoísta por não compartilhar da felicidade do pai.
– Vou atrás dele! – Samantha disse, tentando se levantar.
– Não. Deixei-o pensar um pouco, digerir a informação. – Jack
falou com precaução, segurando levemente o braço da mulher, que voltou ao seu
lugar.
– Podemos conversar papai? – Vicky disse gentilmente.
– Em casa querida. – ele falou no mesmo tom que a filha.
– Tudo bem. – Vi fez um rosto fingidamente simpático para Samantha
– Então, teremos sobremesa?
– Claro! Claro. – a mulher respondeu parecendo acordar de
pensamentos preocupantes. – Pedirei para trazer o sorvete.
– Perfeito! – a menina disse animada.
Conseguiu disfarçar o seu desgosto pela notícia até o fim da
noite. Prezou pela educação que seu pai lhe deu e ao vê-lo tão feliz com aquele
acontecimento não se sentiu justa de terminar tudo.
Tão nova fora obrigada a amadurecer sozinha para circunstâncias do
tipo. Carregava uma casca para esconder seus medos, pois achava que ninguém era
merecedor de suas frustrações a não ser ela mesma.
Pensou na amiga Lucy, que superou a separação dos pais encontrando
o lado bom do fato. Vicky gostaria de ser como a amiga, de não dar valor as
partes ruins, mas ela não conseguia e, quando finalmente entrou pela sala da
sua confortável casa, disse:
– Você vai me deixar, papai? – seus olhos voltaram-se tristes para
seu velho, que sorriu docemente, indo em sua direção.
– Claro que não. – ele respondeu agachando-se.
– Então não se case com ela!
– O que você tem contra a Samantha? Ela pareceu gostar tanto de
você. – Jack comentou preocupado com os sentimentos da filha.
– A senhora Parker parece ser uma boa pessoa. Mas até quando? Até
quando o senhor esquecer que sou sua filha e der valor apenas a nova família? –
a menina disse revoltada – Não papai! O senhor tem que evitar isso!
– Mas eu nunca deixaria de me importar com você, nem por mulher,
nem por novo enteado algum! – ele disse soando convincente – Eu quero lhe dar
um exemplo de mãe.
– Ninguém a substituiria. – a garota comentou de cabeça baixa.
O pai arrependeu-se pela comparação.
– Eu sei. – ele disse e sentou-se no sofá. Puxando a menina até
ele, deixando-a de costas, começando a desfazer o penteado preparado ainda mais
cedo – Um dia eu disse que sempre teríamos apenas um ao outro. Lembra-se?
– Lembro.
– E continuaremos assim. Me casarei, mas você poderá contar comigo
para tudo, pois sou seu pai e te amo.
– Também te amo. – Vicky respondeu com os cabelos já soltos,
abraçando com seus pequenos braços o corpo do homem mais importante do mundo.
FLASHBACKOFF
– O que você e sua mãe conversaram na noite em que nos conhecemos?
– Nossa, foi longe! Como foi parar para pensar nisso? – Tom me
perguntou.
Algumas semanas se passaram desde o dia na casa de Lucy. Estávamos
na pista de skate, a noite, completamente vazia, apenas com nossos corpos, que
observavam toda extensão da rua ao lado e o céu sem estrelas.
– Estava me lembrando do dia em que nossos pais deram a notícia
que iriam se casar.
– Ah, foi um dia difícil. – ele comentou sorrindo e pensativo.
– Para nós dois. – completei.
– Fiquei revoltado. Haviam feito apenas quatro meses que meu pai
tinha sumido e mamãe já iria se casar.
– O que ela disse?
– Que foram os quatro meses mais tristes da vida dela e que a
única notícia que o senhor Parker fez questão de nos dar foi o papel de
separação. – Tom riu sem jeito – Mais esquisito que isso aconteceu no casamento
quando ele enviou como presente um javali que tinha grafado a frase “Noivos
Felizes”. – ri lembrando-me da reação de sua mãe – Achei legal quando soube que
papai havia se enfiado na África.
Concordei com a cabeça, analisando seus olhos sonhadores.
– Inicialmente eu não queria o casamento, porque pensava que meu
pai me deixaria. Mas no fundo ele tinha razão, é bom ter uma família.
Tom me deu um sorriso mais divertido do que eu queria ver:
– Puta que pariu, você está o cúmulo de sentimentalismo hoje! –
ele comentou com deboche.
– Mesmo? – falei achando esquisito, pois me achava muito normal –
Nem percebi.
– É porque até mesmo seu sentimentalismo é fingido. – ele fechou
os olhos – Ele não é igual ao dos outros.
– Ainda bem. – comentei pensando que se fosse outra pessoa estaria
em lágrimas.
Ficamos calados e senti o braço do Tom envolver minha cintura.
Nossos pés pendiam sobre a pista Half-Pipe (a que tem formato de U). O vento
soprou forte, fazendo meus cabelos se balançarem. Minha cabeça caiu sobre seu
corpo, se encostando no pescoço e em um pedaço do seu rosto:
– Quero ir vê-lo. – falei baixo.
Tom estendeu sua mão, pegando a minha livre:
– Tudo bem. – ele disse no mesmo tom que eu – Quando?
– Amanhã. – concluí que para mim isso era uma pressa.
– Está bem. Poderíamos levar flores – ele completou – O Jack
gostava quando a mamãe enfeitava nossa casa com orquídeas.
– É, tem razão. – disse com um leve sorriso – Vamos para casa?
Estou cansada.
– Ok.
Tom ajudou-me a descer pela escada lateral. Andamos abraços de
lado, ele carregando skate com sua mão livre. Em seguida estávamos voltando
tarde da noite, e de bicicleta, para casa.
Aqueles dias eu vinha me sentindo muito nostálgica.
* * *
– Hey, acorda. – Tom sussurrou no meu ouvido, repentinamente.
Abri os olhos, deixando-os ser invadidos pela claridade da cortina
aberta. Senti seus dedos afastarem os cabelos que cobriam meu pescoço, sendo
depositado em tal local um beijo de lábios molhados. Encolhi-me com o carinho,
para só depois me mexer e finalmente me levantar.
Tomamos o café calmamente após ter feito minha limpeza matinal. A
mãe do Tom parecia não saber aonde iríamos. Achei melhor, já bastava a mim
dentro daquela casa pensando no passado.
No criado mudo, ao lado do sofá, um buquê com belas orquídeas nos
esperava. O garoto fez o favor de se acordar mais cedo e ir escolhê-las para
não me dar esse trabalho.
Fomos de bicicleta, o cemitério não era tão distante e foi
maravilhoso sentir o sol no rosto, ver o céu azul e as nuvens brancas,
contrastando mais uma vez no ano com os momentos difíceis de uma vida.
Caminhamos pela grama verde, passando por lápides de concreto com
dizeres bonitos de familiares tristes. De um lado Tom carregava as flores, do
outro segurava minha mão firmemente, coisa que dificilmente fazíamos por ser
excessivamente fresco.
– Acho que é essa. – ele disse com uma voz quase inaudível.
– Eu tenho certeza. – respondi encarando fixamente o bloco de
concreto levemente arredondado.
Agachei-me para ler melhor a frase que, por tanto tempo, tentei
esquecer:
Aqui está o corpo do homem que se foi, mas que deixou seu amor
para todos.
Meus dedos deslizaram delicadamente por cada contorno.
Não havia tristeza, apenas lembranças.
Jack Michael Foster – 1969/2008
FLASHBACKON
Por que o sol estava tão bonito?
Vicky se perguntava sempre que olhava para o céu limpo logo à
cima. Respirou forte deixando o ar com cheiro de planta penetrar em seu nariz,
para depois relaxar seus músculos encostando-se a uma árvore.
Ela dormia em casa, no quarto, quando recebeu a triste notícia.
Vicky não chorou, apenas ficou observando o nada, incrédula.
Como seu herói pôde ter ido embora?
Não viu Samantha, nem mesmo Tom. Deitou-se em sua cama e dormiu um
sono profundo e até pecadoramente tranquilo. No outro dia, seus olhos abriram
buscando pelo senhor de cabelos grisalhos que sempre levava seu achocolatado,
lhe dando um bom dia.
Mas ele não estava lá e nunca mais estaria.
O decorrer da madrugada os preparativos para o enterro
aconteceram. Quem tomou as rédeas da situação? Não soube dizer, mas com certeza
não foi Samantha, que demonstrava total desequilíbrio com a perda do marido.
Estava dopada, olhando o caixão erguido sob rostos de tristeza. Um familiar a
consolava.
Deveria ser Tom ao seu lado, não deveria? Ou quem sabe poderia ser
a própria Vicky? Mas ela não queria estar ali, a ideia de enterro negava-se a
penetrar em sua mente, pois toda essa reunião social só confirmaria uma coisa:
ele estava morto.
Vi suspirou, cruzando os braços, e reparando em um pequeno grupo
que caminhava tranquilamente pelo lugar, indo em direção aos outros de preto.
Todos eram conhecidos e debaixo da sombra da árvore permaneceu,
sem ir cumprimentar Nathan e Lucy, seus amigos. A menina trazia os olhos
vermelhos e marejados, se dava muito bem com Jack. Nathan apertava a garota
contra seu corpo, sua expressão era vaga, admirando os próprios pés com cada
passo.
Os pais dos dois viam logo atrás, parecendo muito mais afetados
que os filhos. Também pudera, um grande amigo disse adeus. Até mesmo o pai de
Lucy, que dificilmente vinha para a Inglaterra, estava ali, consolando a ex-
esposa com visíveis sinais de fraqueza.
Os casais seguiram, os amigos ficaram para trás. Andaram para uma
árvore distante e de frente para o outro começaram a conversar. Nathan
acariciava o rosto de Lucy, que segundos depois descansou seu rosto no corpo do
garoto.
E lá ficaram.
Vicky não queria assumir que precisava de alguém, não um Nathan,
mas uma pessoa que simplesmente segurasse sua mão e dissesse:
– Você não está só.
Vi olhou para o lado, sem susto, apenas para observar o rosto
concentrado de Tom que analisava de longe o sofrimento da mãe. Ficou calada,
fazendo o mesmo que ele, mas os dedos do menino enlaçaram os dela de um modo
aconchegante. Vicky sentiu os lábios tremerem, seu coração disparar e permitiu
que Tom puxa-se a para si, consolando as lágrimas que finalmente saíram
daqueles olhos.
As mãos juntas, abaixo do rosto que estava escondido um pouco a
cima do peito do garoto, deixaram-na confortável. Vi chorava molhando o paletó,
mas Tom parecia não ligar. Alisava suavemente os cabelos da garota que apenas
desarmou seu porte em tais braços.
Ficou ali esperando voltar a sua consciência normal de que tudo
ficaria bem, que não estaria só.
Passava em sua mente uma sensação de que não havia se despedido
adequadamente do pai. Que assim que todos fossem embora, os dois ficariam
juntos, como fora antes de ter uma família.
FLASHBACKOFF
Suspirei com a minha mente confusa. Tom agachou-se ao meu lado,
dando-me as orquídeas, que coloquei em cima do bloco de mármore, que ficava ao
chão.
– Quer dizer alguma coisa? – ele perguntou olhando para o mesmo
lugar que eu.
Observei-o por um segundo, como se precisasse de um tempo a sós e
Tom entendeu, saindo do meu lado.
– Sempre será só nós dois? – perguntei em um sussurro, como se
Jack Foster pudesse me ouvir – Independente de onde você esteja eu posso te
responder que sim, que sempre será nós dois, porque você foi a única pessoa que
me amou por todo momento sem me odiar ou sentir raiva do que me tornei. – sorri
de leve – Eu e você somos as únicas pessoas que conseguiram me aturar! – passei
mais uma vez o dedo no concreto e concluí – Eu te amo, papai.
Não demorei por muito tempo nesse momento. Levantei-me decidida a
sair dali, acenando com a cabeça para Tom, que logo veio para o meu lado,
passando a mão em minha cintura, nosso jeito comum de andar.
Um alívio passou pelo meu corpo, sorri como se estivesse feliz e o
meu namorado retribuiu, compreendendo o quanto aqueles segundos com Jack Foster
haviam me feito bem.
* * *
CAPÍTULO 46
PAPO H
Ponto de Vista: Tom
– É sério que a gente vai ter que esperá-las? – reclamei, tomando
a segunda cerveja da tarde.
– A Lucy mandou uma mensagem dizendo que não iam demorar muito. –
Nathan respondeu sem fazer caso da demora das garotas.
Junho começou trazendo uma sensação de fim maior ainda. Logo o
baile chegaria, as férias e os papéis de quem passaria em Oxford.
Lucy e Vicky deram um perdido em mim e em Nathan na saída do
colégio. Disseram que iam ao banheiro e quando vimos estavam dentro de um táxi,
nos dando tchau e com os rostos pela janela, rindo da gente.
– Elas poderiam ter nos chamado. – falei observando os recortes de
jornais no pub amadeirado e confortável.
– E ter ido fazer compras com garotas? – Nathan perguntou de olhos
fechados encostando a cabeça no sofá – Não, prefiro uma boa cerveja...
– E eu prefiro peitos. – respondi imitando sua posição – De
preferência da Vicky.
Ouvi-o gargalhar e depois se calar, provavelmente tomando mais um
gole da bebida.
– Posso te perguntar uma coisa? – ele disse.
– Não, não sou gay. – falei logo, antes que Nathan começasse a
perguntar besteira.
– Você fala tanto em coisas gays que já nem preciso perguntar
sobre isso. – assustei-me com sua resposta, mas comecei a rir assim que vi sua
cara de pirralho mijão – Mas eu ia te perguntar desde quando você é a fim da
Vicky.
– Cara! As meninas deram o maior pitu na gente e vamos ficar
falando delas?
Nathan me olhou sério:
– Tem assunto melhor?
– Não. – desabafei tomando o resto da cerveja e fazendo sinal para
nos trazerem mais duas – Gosto dela desde que tínhamos catorze anos.
– Sério?
– Aham. – confirmei – Mas eu nunca quis ter nada com ela, pois
ficava com aquela história de que Vicky era minha irmã e mais um monte de
merda.
– Coisas de adolescentes.
– Exato. Mesmo a gente ainda sendo adolescentes. – sorri achando
ridículo nossa mudança – Só que chegou uma hora que eu a queria para mim, mas
você também tava no jogo e eu não sabia como chegar na minha própria irmã de
criação e quando vi estava fazendo a burrice de beijar a Tanya.
– Cara! Por que você fez aquilo? – ele perguntou em tom de revolta
– Foi tão... Idiota!
– Eu sei. Mas, uma coisa que me liga a Vicky, é o nosso impulso. –
respondi pensativo, o efeito do álcool surgindo pelas filosofias que a conversa
estava começando a ter – Você, na festa do Jay, a chamou para dançar e
simplesmente fiquei puto por dentro. Peguei a primeira piranha que vi pela
frente e nesse caso foi a Tanya.
– Poderia ter se vingado da Vicky bem longe daquela casa maldita.
– Nathan disse meio dramático, outro que estava dando sinais de efeitos
colaterais – Você queria que ela te visse?
– Por um lado sim, outro não. No fundo eu só queria estar por cima
e fiquei na bosta! A garota sumiu e voltou te namorando. – sorri sem graça –
Obrigado. – respondi reparando na bunda da garçonete que aparentava vinte anos.
Voltei meu rosto para o Nathan e ele fazia o mesmo – Agora me fale de você e da
Lucy.
– Não fala o nome dela quando eu tô admirando traseiro alheio. –
ele disse de olhos fechados como se fosse muito sério – É pecado.
– Por sua culpa. – falei rindo – Ela se incomoda?
– Não, só não gosta que faça descarado. E a Vicky?
– Se incomoda porque eu faço descarado.
Nathan gargalhou alto seguido de mim. Bebi mais um pouco e
continuei:
– Vamos, desde quando existe sentimentos entre você e a Lucy?
Observei-o parar para pensar olhando para a janela a nossa
esquerda:
– Acho que desde sempre.
– Jura? Nossos destinos foram traçados na maternidade? – falei em
tom irônico.
– Não, anta! – ele disse impaciente, fazendo-me sorrir de leve –
Eu quis dizer que sempre existiu algo entre nós, mas só veio se manifestar
agora... Concretamente.
– Está enrolando e tô sem entender porra nenhuma.
– Eu e a Lucy somos essa garrafa de cerveja. – ele disse apontando
para o recipiente – A nossa infância fez com que ela se enchesse até a metade,
na adolescência o resto foi sendo preenchido aos poucos até que finalmente
estamos onde estamos.
– Ah! – compreendi... Acho – Quais da adolescência aconteceram?
– Ela me disse que já gostou de mim aos doze anos, já gostei dela
aos quinze.
– E por que não ficou com ela? – perguntei curioso, já que aquela
história não era do meu conhecimento.
– Porque o Max estava no meio. – ele suspirou – Posso assumir uma
coisa?
– Claro. – pensei em fazer mais uma piadinha sobre gays, mas
depois da sua última resposta preferi ficar calado.
– Max me metia mais medo que o McGuiness.
– SÉRIO? – gritei mais alto do que queria, antes de começar a rir,
admirado – Mas é sem comparação, cassete!
– Agora eu sei disso. – ele mexeu os ombros tristemente – É que
quando eu percebi que a Lucy era uma garota o Max já tinha percebido que seria
muito melhor fazê-la uma mulher. – Nathan revirou os olhos – Você sabe como
aquilo é romanticamente veado.
– Nem me fale! – falei com certa repugnância.
– Então, eu achava que a Lu gostava mais de caras feito o Max e
que por isso eu não tinha chance. Desisti na hora. Aí saí pegando tudo quanto
era de garota.
– Pra suprir a vontade que tinha de ficar com a Lucy?
– Não, para comer mesmo. – Nathan comentou aquilo comumente.
– E depois?
– Veio a Vicky.
– Por que a Vicky? – perguntei indignado, não por ciúmes, mas
simplesmente porque era muito esquisito pensar em alguém como Nathan junto a
minha namorada.
– Porque eu pensava que ela nunca ia me dar bola.
– Complexo de inferioridade! – falei rindo.
– Não! – ele corrigiu esgueirando sobre a mesa – Amor pela
solteirice. Eu poderia pegar qualquer garota e dispensar dizendo: Ah! Desculpa,
gosto de outra! – Nathan riu de si mesmo – Era melhor gostar da Vicky do que
gostar da Lucy e estar gostando de verdade. Pensei alguns segundos e confirmei
com a cabeça - A última pessoa no mundo que eu poderia imaginar no meio dessa
história era o McGuiness. Porque assim... Se você parar para pensar ele e Lucy
são muito opostos.
– Eu sei, mas é o que o Jay gosta no relacionamento deles.
– Relacionamento deles? – Nathan disse meio revoltado.
– Ah! Deixa para lá. – falei me esquecendo que eu era o único ser
do grupo que ainda conseguia manter contato com as duas gangues de lados
diferentes de um jogo. – Continue. – era engraçado ver Nathan falando das
desgraças da sua vida.
– Aí quando eles dois começaram a namorar pensei: Ah! Não vai
durar dois dias. – Nathan abaixou o rosto quase se encostando na mesa – Mas
durou bem dois meses. – e fez o sinal de três na mão, jurando que era um número
a menos – Então como meu objetivo era pegar a Vicky por questão de honra,
deixei a Lucy viver a vida dela sabendo que aquela porra num ia da certo. –
vi-o piscar os olhos rapidamente – E não deu.
– Por burrice do Jay. – comentei pensativo.
– Que seja. Só sei que me caguei quando vi que ela tava ficando
com o Max.
Gargalhei mais uma vez da competência que ele teve para se
enganar:
– Você pensou que os dois não iam se separar não é?
– SIM! – ele gritou – Eu não entendo porque meninas gostam tanto
de caras como ele!
– Caras como o Max? – foi minha vez de revoltar – Se ele não
tivesse pegando a Katy diria que foi o que mais se ferrou por esses tempos.
– É... Tem razão.
– MAS CONTINUA! – gritei para que ele completasse a história.
– Ah! Aí vi que não tinha jeito meu namoro com a Vicky, mas eu não
sabia se Lucy gostava de mim, já tinha dois caras para se preocupar, deduzi que
ela não ia querer se meter na encrenca de enfiar mais um – Nathan apontou para
si mesmo – Na bagunça. O meu namoro com a Vi foi afundando porque ela se
amarrava na sua...
– É mais normal ouvir os outros dizendo que a Vicky gosta de mim,
do que ela mesma dizer tais palavras. – comentei deprimido e rindo logo em
seguida para espantar o bêbado boboca que queria sair.
– É mesmo! – ele confirmou rindo da minha cara – Eu tenho pena e
orgulho de vocês dois.
– Por quê?
– Parece que vivem em guerra constante.
– Mas guerra de amor é satisfatória. – falei me lembrando das
transas selvagens que viemos tendo por vários cômodos da casa.
– Nem preciso de detalhes. – ele disse com um sorriso esperto –
Mas para acabar essa porra, quando vi a Lucy também gostava de mim... Porque
ela nunca tinha me visto ‘sério’ com uma garota e nos entendemos e vivemos
felizes para sempre.
– Ou até que o Jay McGuiness os separe... NÃO, EU TÔ BRINCANDO! TÔ
BRINCANDO! – gritei assim que vi uma garrafa sendo ameaçada de se partir em
minha cabeça – Agora vamos para a parte boa... Sexo.
– Não vou dizer a cor da lingerie da Lucy. – ele disse cruzando os
braços feito criança.
– É vermelha. – falei com tédio.
– COMO VOCÊ SABE? – ele gritou.
– Está escrito na testa dela ‘Até meu xixi é vermelho!’. Imagina
as roupas íntimas?
– Ah, cara, assim não vale! – Nathan disse revirando os olhos –
Embora as da Vicky sejam roxas e tal. É chato falar da lingerie das namoradas.
– Eu preferia ficar sem saber que você se lembrava desse pequeno
detalhe. – ele riu como criança fazendo-me cerrar os olhos – Vamos ver... Qual
o lugar mais estranho que transaram?
– Estranho? – Nathan para pra pensar – A cama da mãe dela.
Comecei a rir:
– Que malvados!
– Vai dizer que nunca fez na da sua mãe?
– Várias vezes. – respondi sério – E o mais excitante?
– Com certeza foi a mesa de sinuca. – Nathan fez um rosto
pensativo – Aquela noite foi toda muito... Danada! – completou com um sorriso
malandro – E você?
– Esquisito foi transar com a geladeira aberta, encostando a Vicky
nas prateleiras. – falei e Nathan começou a gargalhar – Excitante foi no meu
carro. Gosto de carros e peitos juntos.
– Não gosto de carros, Lucy... Me lembra histórias.
– Puta que pariu. – exclamei com pena dele.
– Ah! Mas ela compensa na cadeira de balanço.
– Cadeira de balanço? – falei assustado.
– Sim, você devia tentar. – ele disse enquanto ouvi uma porta se
abrindo – É bom fazer com a geladeira aberta?
– Demais! – respondi contente.
– Olá, donzelas! – ouvimos a voz da Lucy e logo seu vulto pulou,
jogando-se no Nathan.
– Hi, donkey! – Vicky disse sentando-se ao meu lado e colocando
algumas sacolas no espaço vazio do sofá, deixei-a me beijar com a sua língua
quentinha entrando em minha boca – Eargh! Gosto de cerveja.
– Só para você! – comentei rindo.
– Sobre o que falavam? – Lucy disse e reparei Nathan olhando
dentro de uma sacola, com um sorriso animador, em seguida tirando uma caixa com
uma mulher pelada na frente – Ai! Esconde isso seu doente! – a namorada disse,
envergonhada.
– Ah, só para descontrair... Vou tentar adivinhar o que
conversavam! Sobre garotas e futebol? – Vicky perguntou achando que estava
totalmente certa.
– Quase isso. – Nathan disse voltando a vida.
– Vocês e nossas bolas. – corrigi rindo e recebi um tapa na cara
logo em seguida.
O garoto do outro lado riu feliz demais pelo álcool.
– O que vamos fazer hoje à tarde? – sua namorada perguntou.
– Por mim, continuava a encher a cara. – falei bebendo até o
último gole da garrafa.
– E por mim você tinha uma cirrose. – Vicky disse empurrando a
garrafa na minha cara, fazendo minha boca machucar, em seguida rindo satisfeita
com o mau trato – O que tinha no cinema da rua ao lado Lu?
– Tombstone! – ela falou dramaticamente empolgada – Vamos ver?
Vamos?
– TOMBSTONE? – Nathan gritou levantando-se – É CLARO QUE A GENTE
VAI VER!
– Que porra é Tombstone? – perguntei intrigado.
– É um filme de faroeste! – Vicky falou feliz feito os outros, só
não tão exagerada.
– Não é simplesmente um filme de faroeste, é ‘O filme’ de
faroeste! – Lucy disse puxando Nathan, que estava na sua frente ainda muito
impressionado pelo filme – Não sei vocês, mas eu e ele já estamos lá.
– E eu estou junto! – Vicky falou alto levantando os braços – Ele
também vai.
– E eu disse que queria ir? – perguntei indignado.
– Vai me dizer que você não ia? – ela retrucou com as mãos na
cintura.
– Tá, eu ia, mas preferia que fosse pela minha boca e...
– Ah, fica quieto! Paguem logo as cervejas e vamos! Vocês tem
muito o que carregar. – ela disse por fim, saindo do sofá, enquanto Lucy a
seguia dando uma risadinha divertida.
– Garotas. – Nathan revirou os olhos e nós dois gargalhamos.
* * *
CAPÍTULO 47
VALENTINE'S DAY
(Parte 1)
(Parte 1)
Ponto de Vista: Lucy
Era o que pensava todos os dias
do mês quando me acordava. Estava morrendo de medo de largar o colégio. Mesmo
que odiasse estudar, ir para ele era... Tão bom! Encontrar os amigos, dormir
nas aulas, matar as aulas, fofocar nas aulas e não assistir nenhuma matéria do
ano para no final se ferrar so much!
Enfim... Eu realmente iria sentir
falta de um lugar tão inútil como esse.
Acontece que em um sonho que tive
algo me veio à cabeça.
Não comemoramos o dia dos
namorados esse ano! N
a época, em fevereiro, eu estava
ficando com o Max e a Vicky estava com o Nath, por isso tudo passou em branco!
Sem falar que eu não namorava...
Apenas ficava.
E numa conversa com o fofinho de
Nova Iorque, peguei a mania de chamar Max assim, e ele adora (boboca!), ele me
disse que no Brasil o Dia dos Namorados acontece em 12 de Junho.
Só era o que faltava para
completar meu grande plano.
– Preciso falar com você! – disse
puxando a Vicky pelo corredor do colégio, aproveitando a distração de Tom e
Nath de terem ido comprar refrigerante na máquina rouba dinheiro – É algo muito
útil!
– Como o quê? – ela disse
sussurrando forte enquanto eu a empurrava pelo corredor que meu namorado disse,
um dia, ter ouvido a conversa entre Tanya e o Jay maldito.
– Dia dos namorados! O que acha
de uma festa?
– Festa? Biscate, você já
percebeu em que mês estamos? Você quer arrumar o que? Um cruzeiro dos namorados
para fevereiro do ano que vem?
– Não sua anta sem cultura! –
xinguei batendo minha mão na parede de tijolos velhos e me arrependendo ao
sentir dor, massageando a parte logo em seguida – O Max me disse que tem um
país que essa data se comemora no dia doze desse mês!
– Ah, que legal! – ela gritou
feliz – Às vezes esqueço que existe um mundo fora de Londres. – ouvi seu tom
sonhador e ri baixo – Mas no que você está pensando?
– O que acha de algo para compensar
o tempo em que ficamos sem fazer festa desde o aniversário do Nath?
– É, ia ser maravilhoso. As
pessoas do colégio estão começando a sentir falta dos nossos barracos.
– Tem razão. – comentei pensativa
e cruzando os braços – Eu imaginei algo tipo festa a fantasia.
– Adorei a ideia! – ela deu um
tapinha em mim fazendo-me rir.
– Obrigada, bisca! – falei
animada – Mas acho que vou fazer lá em casa mesmo! Só para os casais do
colégio.
– Por que não para os outros?
– Porque eu não quero ser culpada
de que os caras solteiros estejam comendo as garotas comprometidas.
– Então como vamos organizar
isso?
– Precisamos de uma pessoa.
– Quem? – ela perguntou
intrigada, observando meu sorriso esperto.
* * *
– Juan, você vai ter que nos
ajudar! – falei com o nosso amigo gay de várias datas, um latino virado no
babado – Juro que dou um convite para você e seu bofe!
– Ai, gata, primeiro me conta o
que vocês tão aprontando! Vai fazer um ménage com algum partido musculoso? –
Juan fez um rosto sonhador – Já contei que adoro pênis?
– Isso é meio óbvio... – Vicky
franziu a testa – Festa do dia dos namorados.
– Estão loucas? Perderem o
calendário? – ele disse mexendo as mãos de unhas pintadas no ar.
Era a coisa mais andrógena que
existia ali!
– Não, gato! – ela respondeu – A
garota aqui foi buscar no inferno que tem lugar que essa data se comemora nesse
mês.
– Ai, que lindo! – a bicha
exclamou apertando meu braço – Já estou lá com o David!
– David? – perguntei risonha –
Quem é o escandaloso da vez?
– Meu vizinho, menina! Pura
se-du-ção! – ele gargalhou e fui junto.
– Depois fofocamos! Já, já os
meninos voltam. – Vicky disse relembrando das pestes que se chamam namorados –
Você sabe todos os casais do terceiro ano?
– Óbvio, não é, bitch? Acha que
venho para o colégio para que?
– Estudar com certeza não é. –
falei.
– Sua danada! – ele disse
apertando-me novamente – A festa é vip?
– Exato. – a minha amiga
respondeu – Para casais felizes. Pode nos dar uma lista para depois da aula?
– Claro que sim! Ah, Lucy, você
não sabe do novo escândalo! E nem você Vicky linda.
– Qual? – perguntamos aproximando
nossos rostos dele.
– O McGuiness gostoso, ai senhor
meu Deus, me socorre no ânus! – ele gargalhou mais uma vez abaixando o tom de
voz em seguida – Está pegando a Tanya pelanca!
– COMO ASSIM? – Vicky e eu
gritamos juntas.
– Pois é. Vi o maior pega deles
dois dias atrás.
– Não brinca? – minha amiga disse
– Cassete, ele é bom demais para aquela puta.
– Também acho! Só sei que ele é
bom demais para mim – Juan disse bem humorado.
– Ele caiu muito de nível. –
comentei insatisfeita com a notícia. – Se ao menos fosse alguém do meu porte.
– Impossível. Assim feito você só
Amy Winehouse... Não! É brincadeira, minha diva! – ele logo corrigiu assim que
viu que minha mão ia voar na sua cara por ter me comparando a uma magrela, da
voz foda, mas magrela drogada.
– Vamos ter que chamar ele? –
perguntei duvidosa.
– Acho que não. – Vicky completou
meu pensamento.
– Claro que sim! Seria muito feio
da parte de vocês fazer isso, ia demonstrar que não tinham superado a diferença
desses tempos! Vocês têm que ser mais divas do que os outros amores. – ele
falou dando um tchauzinho de miss.
– Ah, ele tem razão. – comentei
cabisbaixa – Mas tudo bem! Depois converso com o Nath sobre isso. Enfim, my
baby rainbow...
– Adoro!
– Vamos indo para nossos bofes.
– Infelizmente. – Juan disse
dramático nos dando beijos estralados na bochecha – Cuidem bem daqueles deuses
gregos que iguais aqueles, só na minha cama.
– BYE AMOR! – Vicky gritou antes
de virarmos o corredor.
– Então... Vamos tentar superar
os problemas com o Jay e com a Tanya? – falei pensativa.
– Não mesmo! – Vicky comentou
firme.
* * *
A preparação foi corrida, mas
satisfatória. Juan entregou a lista na hora marcada e eu ainda estava na dúvida
se deveria convidar o Jay e a Tanya. Ao contrário do que a biba disse, eu não
me sentiria uma mal educada se não os chamasse.
Então nos reunimos para votar no
assunto, Tom foi o único a favor, resumindo, sua opinião foi excluída e
ganhamos. Jay e Tanya não viriam, coisa que me fez respirar aliviada.
Eu queria curtir a noite com meu
namorado, e não com o meu ex e uma puta que ferrou a vida da minha amiga!
Seria muito esquisito.
Enfim, a noite do Dia dos
Namorados chegou e foi uma notícia que correu pelo colégio. A cada ano que
passa nossas festas estão se tornando mais famosas e logo isso terminaria, mas
teríamos de aproveitar enquanto desse.
Como já tinha dito a Vicky, a
reunião seria na minha casa e todos nós tivemos em torno de uma semana e meia
para que tudo ficasse impecável.
Desci as escadas com a festa já
acontecendo, deixei Nath cuidando de tudo enquanto eu brigava com a peruca
curta da Branca de Neve, que insistia em se enrolar nos meus cabelos normais. E
depois de muito esforço desci os degraus divamente, com meu vestido curto de
princesa, salto alto e nunca abandonado batom vermelho.
– Wow! Quem será a garota mais
linda da festa que acabou de aparecer na minha frente? – Nath disse enquanto eu
arrumava seu gorro do anãozinho Dunga na cabeça.
Ele estava a coisa mais fofa do
mundo!
– A sua namorada, ao menos por
essa noite. – respondi com um sorriso sacana.
– Ah, porra! O que será de mim
nas outras?
– Poderia ocupar meu lugar com
uma boneca inflável de peruca! – falei e começamos a gargalhar.
– Agora vem cá... – ele disse
puxando-me para perto dele enquanto eu aquecia seu pescoço com meus braços ao
redor. Senti seus lábios passarem de leve sobre os meus – Onde está meu
presente?
– Vestido em meu corpo. –
sussurrei e Nath arregalou os olhos com um sorriso feliz – Mas também tem uma
coisinha a mais no meu criado mudo que você pode abrir amanhã.
– Ah, claro! Vamos estar muito
ocupados depois. – mordi seu lábio inferior ao ouvir isso e em seguida recebi
seu selinho – O seu está em meu carro, mas só vou te dar amanhã também.
– Ótimo! – respondi contente e
finalmente permitindo que o diálogo acabasse para um beijo. – Onde está a Vi e
o imprestável do Tom? – falei partindo o prazer das nossas bocas e observando o
local movimentado, na maior parte dos cantos, por duplas fantasiadas.
– Não chegaram ainda. – ele disse
me soltando. Um garoto vestido de O Fantasma da Ópera entrou pela sala de mãos
dadas com uma enfermeira zumbi, que tinha o rosto coberto por cicatrizes, seu
cabelo artificial ruivo – O que foi?
– Nada. – respondi meio perdida
no garoto, assim como na sua acompanhante. Não conseguia os reconhecer e um
calafrio passou pelo meu corpo. – Estou com fome, preciso de cupcakes!
– Lu, por falar nisso... – Nath
disse sem notar a direção que cheguei a observar segundos atrás – Detonei o
chocolate que tinha de reserva na sua cozinha!
– Nath! Era melhor você ter
detonando o da mesa, depois vão pensar que não sei organizar a porra de uma
festa e minha imagem já era! – resmunguei chateada.
– São apenas chocolates, Lu! –
ele retrucou me puxando pela segunda vez – Ainda tem os seus bem cupcakes,
salgadinhos, álcool e beijinhos! – Nath distribuiu vários beijos pelo meu rosto
fazendo-me rir – Agora vamos comer o que você disse que queria comer.
E saímos pelas pessoas deixando
uma banda, que o Nath conhecia, tocar várias músicas dos anos 60 e 70 fazendo
os casais dançarem seus passos mal feitos, tentando imitar nossos queridos
pais.
Me enchi de cupcakes e só não
comi mais porque me lembrei que não era o único ser do mundo, sem falar que se
eu acabasse com tudo a Vicky me mataria!
– Gente, que casal escândalo! –
ouvi a voz do Juan e logo nos viramos – Sykes, querido, se você não fosse muito
gostoso como homem te transformaria num fogo só para poder queimar a minha
rosca.
– Ai, que podre! – xinguei rindo
e observando o ser de dois metros que tinha ao seu lado – Você deve ser o
David, certo?
– Isso mesmo. – o cara com voz de
retardado, aparentando vinte anos, respondeu. ‘Muito músculo e pouca
inteligência’, pensei. – A festa está muito boa!
– Obrigada. – falei sincera.
– E, aliás, Juan! – Nath começou
a falar envolvendo minha cintura enquanto eu estava de costas para ele – Se eu
deixasse de ser homem seria uma rosca feito você!
– Ah, que lindo! Iríamos colar o
velcro! Se você não sabe dentro de mim existe uma diva! – a Barbie a nossa
frente disse, escandalosa demais, fazendo o Nath rir alto em meu ouvido a ponto
de doer – Agora me dêem licença que vou amortecer o bumbum... Se é que me
entendem! – ele disse em tom malicioso.
– Só não sujem minha casa de
lubrificante! – gritei.
– PODE DEIXAR! – ele falou de
volta – E diga a puta da Victoria que mandei um beijo na periquita!
– Pode deixar gostosão! – falei
percebendo que Juan entendeu muito mais lendo meus lábios – Gays. – disse
pensativa voltando-me para o Nath.
– Sabe o que estava me lembrando?
– ele falou ignorando meu comentário, pois estava perdido demais na cabeça.
– O quê?
– Não tiramos fotos de nada
ainda!
– Ah, é mesmo! – falei dramática
– Sou uma demente! Deixei até a câmera carregando em meu quarto.
– Você quer que eu vá pegar? –
ele disse prestativo.
– Não! Eu vou, porque se começar
barraco não vou poder separar, já você pode se ferrar tentando – ri
malignamente – Já venho!
– Ok! – Nath disse me dando um
selinho antes que lhe desse as costas.
Subi as escadas pedindo para
algumas pessoas descerem, pois o andar de cima estava proibido para convidados.
Entrei em meu quarto escuro, indo
até a tomada próxima à janela, retirando a câmera. De longe eu ouvia as
movimentações da sala de estar, assim como de outros cantos.
Encapei a câmera e mãos tocaram
minha cintura, apertando-as de leve.
Sorri e disse:
– Eu disse que era para você
ficar cuidando da festa.
– Para que ficar cuidando da
festa se eu posso ficar aqui, cuidando de você?
Não era Nath.
Meu corpo tornou-se tenso nas
mãos do homem que me tocava. A respiração desregulou a cada passo que ele deu
para perto de mim senti-me uma besta pelo susto ter tirado o controle dos meus
membros.
– Jay? –
perguntei com a esperança de que fosse uma ilusão.
– Olá, Lucy. – ouvi a sua voz
rouca e sexy próxima aos meus ouvidos.
Tremi.
– O que você faz aqui? – era
visível o tom de voz medroso que soou pelo quarto.
– Vim te ver. – então seu sorriso
arrepiou-me – Eu imaginei você vestida exatamente assim... Como Branca de Neve.
Embora seja melhor despida.
Meu rosto corou e tomei coragem
para retirar as mãos de Jay do meu corpo. Afastei-me dele enquanto seus olhos
me seguiam atentamente. Percebi a porta fechada e agradeci o fato do lugar
estar escuro o suficiente para ele não poder enxergar o acanhamento que surgiu.
– Mas não te convidei. – falei
infantil, totalmente o contrário do que eu queria.
– Acha mesmo que isso pode mudar
alguma coisa? – ele sorriu, divertindo-se.
– Ao menos saia do meu quarto. –
continuei tentando buscar firmeza em mim, cada vez mais dando passos para trás,
para a parede ao lado da minha cama.
– Não antes de conversarmos. –
ele falou se apoiando na mesa do computador.
Nath que me desculpe, mas o
McGuiness estava lindo vestido de Fantasma da Ópera, e a iluminação deixava a
cena muito mais surreal, quase contribuindo para seu jeito.
– O que você quer conversar? –
perguntei querendo acabar logo com aquele contato inesperado – Não posso perder
meu tempo... Enfiada aqui! – falei meio rude, mas ele não ligou, apenas me
encarando.
– Estou querendo questionar
algumas coisas, Lu. – ele se desencostou de repente, fazendo-me tombar com o
criado mudo – Está com medo? – Jay perguntou dando passos firmes até mim – Acha
que vim te machucar?
– Como eu disse da última vez...
– consegui tomar certa coragem, maior do que imaginei que conseguiria – Não sei
mais o que pensar de você.
– Você não viu aquilo como um ato
desesperado? – senti minhas costas tocarem a parede, segundos depois ele me
prensou, deixando-me encurralada – Eu não me juntaria com a Tanya se não
tivesse um bom motivo.
Foi a minha vez de rir
divertidamente enquanto suas mãos voltavam para a minha cintura.
Desprezei seu toque presa nos
meus pensamentos:
– Até onde sei... Você está com a
Tanya. – sorri ironicamente – Como eu já disse a outras pessoas: desceu de
nível, Jay.
Percebi-o me encarar, sério:
– Então, Lu, se deixou iludir que
eu me rebaixaria a Linus se não tivesse um propósito maior? – aos poucos seu
rosto foi ficando próximo ao meu. Minha cabeça podia fundir com a parede de
tanto que a forcei contra – Por que você não liga quando quero chamar a sua
atenção?
– Porque não é da minha conta sua
vida. – respondi de mau gosto, começando a me incomodar com a liberdade que ele
estava tendo em meu corpo.
– Gostaria de dizer o mesmo sobre
você, mas não consigo. – Jay disse sincero e com um leve sorriso, que fez meus
pensamentos de empurrá-lo e sair correndo acalmarem-se dentro de mim – Agora me
diga, Lucy... – veio o primeiro contato da nossa pele. Encarando-me, seu rosto
encostou no meu de um modo mais íntimo do que eu queria, como fazia num passado
distante. Seus lábios beijaram levemente minha bochecha e nenhum segundo se
quer deixei a minha expressão facial mudar diante do seu atrevimento – O quanto
o Sykes te satisfaz? – a barba recém-feita de Jay deslizou pelo meu tato até
sua boca ficar próxima ao meu ouvido. Os músculos de seu corpo pressionavam os
meus quase que intimidadoramente – O quanto você chama o nome dele? Ele te toca
como te toquei? – os dedos dele afastaram o cabelo artificial e seus dentes
puxaram de leve o lóbulo da minha orelha. Fechei os olhos com um autocontrole
surreal. Eu não poderia fazer com que os outros notassem que Jay estava ali,
quem acreditaria no que explicaria? – Sykes teve a capacidade de te fazer gemer
como eu fiz? – seu nariz alisou minha pele e me contrai, infelizmente, contra
seu corpo – Por que eu não consigo ver que vocês se amam? Por que eu sinto que
posso ser o seu homem muito melhor que ele? – agora seus olhos encararam-me
frente a frente. Analisei a máscara que cobria o outro lado de seu rosto, a
máscara do personagem que ele encarnou assustadoramente naquela noite – Você o
ama?
Mordi o lábio inferior, seguindo
seus olhos azuis, que se abaixaram para dá-los atenção. Voltei a meu estado
normal, percebendo que nenhum ato poderia ser atraente naquele momento, mesmo
que eu fizesse sem querer.
Meus dedos subiram quase que
incontrolavelmente até tocar a máscara. Alisei-a e a retirei sem dificuldades,
colocando-a no bolso de trás de sua calça social.
Respirei firme e comecei:
– Escute o que vou te dizer Jay,
pois não vou repetir. – fiquei ereta assim que seu corpo diminuiu a pressão,
sem afastar-se de mim – Seus olhos são voltados apenas para seu íntimo egoísta
e possessivo. Eu não sou sua desde seu aniversário e quando transamos seu corpo
foi mais um objeto de prazer do que de qualquer tipo de sentimento. Nath não é
sexo, é tudo que pode existir de bom em um relacionamento. Do puro ao mais
pecaminoso, de um jeito que você não consegue nem mesmo imaginar. Quantas vezes
você me despiu em sua mente? Quantas vezes fez isso apenas essa noite? – sorri
de leve – Por um segundo se quer pensou em dizer que me amava? Tenho certeza que
não. – respondi por ele, que prestava atenção em cada palavra minha – Eu amo o
Nath, e posso dizer isso menos vezes do que escuto, mas ele sabe, por que
consegue perceber isso em meus olhos, diferente de você, que está enfiado na
neblina. Jay, se não for o Nath, não será ninguém. Ele me satisfaz de todos os
jeitos que quiser deduzir e odiar. E o mais importante de tudo... Ele não me
machuca. Nunca.
– Quero ver até quando. – Jay
falou irônico e segui o seu sorriso.
– Todos cometem erros. –
completei.
– Então por que não mereço uma
chance para provar o quanto mudei? – seu tom soou extremamente rebaixado.
– Jay... Tornar-se inferior não
combina com você. Não vê o quanto isso tudo se tornou ridículo? Correr atrás de
uma garota que não te quer?
– Lucy, acha que é fácil? – pela
primeira vez vi-o perder o controle de si, com a voz completamente embargada,
encarando-me com desespero – Não tem ideia o quanto me odeio por gostar de
você, te amar... Que seja. Acordar-me todo dia e saber que tem outro que não
vai te deixar ir embora... Como deixei.
Observei por mais alguns segundos
os olhos lacrimejados de Jay. Parecendo sentir vergonha por sua fraqueza, saiu
de perto de mim. Sua capa esvoaçando dramaticamente no ar e logo ele a retirou
raivosamente, jogando-a na cama.
Observei-o apoiar-se na mesa de
computador, de cabeça baixa e de costas. Meus olhos desenharam todo o contorno
do seu corpo e me senti com pena, embora eu quisesse controlar essa sensação,
só então levando em conta o quanto havia pegado pesado com a minha declaração.
Larguei a intimidade que criei
com a parede dando passos receosos até ele, que pareceu não se importar com a
minha aproximação. Não sabia dizer se chorava, mas quis consolá-lo por ter sido
malvada.
– Jay...
Disse colocando alguns dedos
delicadamente em suas costas, alisando-as e, em seguida, deslizando até a parte
da frente do seu corpo, meu primeiro braço apertando-o e logo o outro fez o
mesmo, deixando-me enlaçada a ele:
– Por que não nos deixa ser
livres? Cada um seguir a sua vida. Não acha isso atraente? – meu tom foi
manipulador e carinhoso – Logo as aulas terminarão e poderemos nos ver longe um
do outro. Não parece divertido?
– Nunca. – Jay disse rouco.
Apertei-o mais ainda, encostado meu rosto em suas costas e olhando para a
parede onde ficava a janela.
– Então me deixe ir. Até quando
vai me segurar dentro de você?
– Eu não me sinto pronto.
– Mas eu me sinto e há muito
tempo. – continuei – É a melhor coisa que pode fazer.
– Para você? – ele disse irônico,
sua voz voltando ao normal.
– Sim. – sorri levemente – Agora
eu que estou sendo a egoísta, mas não posso deixar de tentar. – esperei ouvir
alguma comoção, mas até então nada – Ao menos por um tempo. Abra mão de mim...
Abra mão do que tivemos.
Deixei de abraça-lo, permitindo-o
se virar. Encostado na mesa, ele cruzou os braços, analisando-me:
– Não consigo. Desculpe. – seus
olhos sérios confirmaram as suas palavras. Sua expressão misteriosa me deu
calafrios e era isso que distanciava mais ainda Jay e Nath. Um eu poderia ler
tudo apenas por um toque, o outro eu não conseguia decifrar nada de sua mente –
Se quiser, fique com o Sykes, mas não garanto me afastar, mais uma vez.
Pisquei algumas vezes decidida a
não dar início aquilo que vinha se arrastando por todo esse tempo, do quanto
ele iria insistir em me fazer olhar a sua existência e lhe dar uma segunda
chance.
Suspirei e disse:
– Uma festa acontece lá embaixo.
– coloquei minhas mãos em seus braços e me apoiando beijei sua bochecha,
deixando-a marcada com meu batom vermelho – E tenho um garoto me esperando.
Fique o quanto quiser em meu quarto. – sorri de leve, pegando a câmera e dando
as costas em seguida, arrumando meus cabelos por baixo dos falsos. Toquei na
maçaneta e me virei para ele, que me observava com certa admiração – Quem sabe em
outra vida, Jay.
E saí fechando o cômodo atrás de
mim, deixando-o lá dentro. Respirei fundo me preparando para voltar a realidade
e, como se todo o diálogo que tivesse acontecido fosse apenas um sonho,
caminhei pelo corredor, desencapando a câmera.
– Ai! – gemi assim que alguém
tombou em mim – Nath?
– Oi! – ele disse sorridente –
Demorou! Vim ver se estava bem. Aconteceu alguma coisa? – Nath disse tocando
minhas mãos e sentindo-as frias e mais suadas que o normal – Parece um pouco
nervosa.
– É o Jay.
– Quem? – ele disse assustado.
– Jay. Ele está no meu quarto.
Queria conversar. – falei indiferente, mas sincera.
– E por que você está me contando
isso? – Nath disse cruzando os braços, meio desconfiado.
– Tanya pode estar nos ouvindo e
depois surge um boato que estive trancada no quarto com o Jay, não vai ser
bonito para você. – sorri de leve – Mas te explico tudo quando tivermos tempo,
porque agora acho melhor voltarmos lá para baixo.
– Certo... – ele encarou a porta
ameaçadoramente, fazendo-me rir e em seguida segurando minha mão, começando a
andar.
– Espera! – falei parando-o e
puxando-o pela camisa – Já disse que te amo hoje?
– Não fala desde a semana
passada. – Nath disse fingindo estar sentido, fechando os olhos. Gargalhei com
a sua cara deixando agora os braços corretos abraçarem minha cintura.
– Te amo, ok?
– Ok! – vi seu sorriso muito
perto de mim antes de receber seus lábios em minha boca, com gosto de chocolate
– Também te amo. – ele retribuiu aprofundando as nossas línguas.
– Hey! – parei de repente, vendo
seu biquinho animado no ar – Você andou comendo mais chocolate?
– Assim, Lu... – ele me soltou
passando as mãos no cabelo, por debaixo do gorrinho, sem jeito, com cara de
criança que apronta – Você demorou, sabe?
– Sei! – falei dando uma tapa de
leve em seu braço, fazendo-o gemer e rir – Vamos descer que quero ver se alguém
quebrou o vaso francês da minha mãe.
– Ok senhorita, vamos!
E voltamos ao andar de baixo,
parecendo um mundo diferente do de cima. Com a câmera tiramos fotos de todos os
casais, muitos elogiando a festa. Todos iriam parar no facebook para quem
quisesse relembrar esse dia, uma das últimas reuniões antes que houvesse a
separação e seguíssemos nossas vidas, alguns em Cambridge, outros em Oxford,
fora os que iriam ser bancados por maridos ou pais ricos.
Procurei mais uma vez o casal que
faltava:
– Onde aqueles parasitas se
enfiaram? – perguntei cruzando os braços.
– Devem estar se comendo no carro
aí na frente! – Nath disse rindo parecendo não se importar com a demora dos
dois – Falando neles...
Olhei em direção do lugar que ele
observava (a entrada), o casal vinha de roupa formal em nossa direção.
Sorri deduzindo a fantasia dos
dois.
Logo perceberam onde estávamos e
vieram em nossa direção:
– Finalmente! – exclamei – E bem
sugestivo... – falei passando a mão no corpo da Vicky, que riu satisfeita.
– Pensei que iam demorar a
decifrar do que estamos vestidos. – Tom disse insatisfeito com o fato de que
descobrir rápido.
– Na verdade... – Nath começou –
Não faço a mínima ideia do que estão fantasiados.
– Ai, Nathan! – Vicky exclamou
impaciente, arrumando seus cabelos para o lado, para manter o penteado,
analisei achando o vestido que estava perfeito em seu corpo – Senhor e Senhora
Smith! Já ouviu falar?
– AH, CARALHO! – ele gritou
impressionado fazendo eu e Tom rirmos – É mesmo e NOSSA, É TÃO A CARA DE VOCêS!
– e continuou gritando – É TANTA PORRADA QUE ROLA NESSE NAMORO! – então baixou
o tom de voz extremamente pensativo – Igual ao filme... GOSTEI!
– Que bom que você pensa. – Vicky
disse fingindo uma voz retardada – E você de Dunga? Por que será?
– Eu acho muito eu e o Nath! –
exclamei abraçando-o de lado.
– Amiga, você é malvada! Faz seu
namorado assinar papel de retardado só para sair de diva!
– Lu! – Nath disse fingindo se
chatear comigo – Eu não tinha pensado nisso!
– Por que será? – Tom disse
irônico – Onde tem cerveja nessa porra?
– Nessa porra eu não sei, mas na
minha casa tem vários recipientes espalhados com cervejas geladas. – informei
enquanto ele sorriu satisfeito pela provocação. – Nath, leva o Tom? Quero que a
Vicky me ajude a tirar algumas fotos!
– Ok! – ele disse beijando minha
bochecha e arrastando o outro garoto que pareceu perceber agora o decote do
vestido da namorada.
– E alguma novidade? – ela
perguntou ignorando a taradisse do outro.
– Algumas, que direi depois. –
comentei. – Agora vamos as fotos! – exclamei e foi minha vez de puxá-la.
Eu tinha certeza que a outra
garota que entrou com o Jay era a Tanya, mas não conseguia enxergá-la deduzindo
que poderia ter ido embora ao não achar o Tom, por isso não senti necessidade
de contar nada a minha amiga que parecia bastante animada com a festa.
Mais uma vez resisti a tentação,
mais uma vez Nath reagiu bem com as provocações do Jay, mais uma vez Tanya veio
correr atrás do Tom e mais uma vez eu esperava que nada de ruim acontecesse
entre a Vi e o namorado.
Está tudo tão perfeito que nem
quero porcaria de puta interferindo em vida feliz e alheia!
* * *
CAPÍTULO 48
VALENTINE'S DAY
(Parte 2)
(Parte 2)
Ponto de Vista: Vicky
– Lu, estou morta de tirar fotos! – falei jogando-me no sofá vazio
de sua varanda movimentada.
– Mas ainda não me cansei! – ela exclamou feliz, juntando seu
rosto ao meu e sorrindo, enquanto eu mostrava o dedo do meio para o flash que
saiu da câmera. – Precisamos guardar esses nossos últimos dias de vadias!
– Nem me fala! Só de pensar que vamos largar duas folhas de
caderno, para quinhentas páginas de livros meus olhos pulam da cara. – disse
mexendo nas pálpebras, tentando não borrar a maquiagem. Estava praticamente
virando o sofá de tão confortável que me senti – Onde está o Tom? – perguntei
de repente, lembrando-me de sua existência.
– Em qualquer lugar com o Nath. – Lucy disse sem caso, olhando
para o aparelho em sua mão, distraída com as fotos da noite.
– Acho que não. – disse, ficando ereta ao ver Nathan vindo em
nossa direção cheio de doces gigantes na mão.
– Oi, oi, voltei! – ele disse empurrando a namorada e sentando ao
seu lado.
– Cadê o Tom? – perguntei desconfiada.
– Tom? – Nathan fez careta enquanto Lucy largava a câmera para
roubar os doces – O que tem ele?
– Onde ele se enfiou? Até onde sei aquele boboca foi com você
pegar bebida. – falei tentando ser paciente com aquela criança de problemas mentais.
– Ah, é mesmo! – finalmente Nathan disse rindo e tocando a testa –
Nos perdemos!
– Como assim? – Lucy disse de boca cheia, sem conseguir ficar
longe da conversa – A casa é grande, mas nem tanto, principalmente estando
cheia de gente!
– Eu não sei. – Nathan falou confuso – Fui pegar doces para vocês
depois de termos pego a cerveja – então ele olhou para o próprio corpo – Que,
aliás, eu não sei onde deixei... Depois que me distraí com a mesa... Não me
lembro de tê-lo visto mais.
– MEU DEUS, ELE FOI SEQUESTRADO! – Lucy gritou dramática, depois
ficando séria – Embora aquilo seja tão cão que devem ter desistido de levá-lo.
– sua expressão tornou-se mais firme ainda, arregalando os olhos.
Dessa vez parecia não brincar.
– Algum problema? – falei desconfiada – O que foi? – insisti.
– Amiga, só vá atrás dele. – Lucy disse calma – Rápido. –
continuou com o mesmo tom de voz.
– Por quê? É ridículo correr atrás do Tom, uma hora ele volta...
– VAI! – Lu gritou fazendo-me assustar – AGORA!
– Tá, tá! – falei irritada e me levantando.
– Procura nos cantos mais... Privados da casa. – Lucy prosseguiu
pensativa, fazendo-me cruzar os braços. Ao perceber meu gesto, disse – E eu não
sei de nada!
– Ah, vou atrás daquela peste e pronto! – falei enfim, dando as
costas aos dois que logo começaram a cochichar.
Cantos privados?
Pensei ao passar por pessoas sem importância, em dúvida onde
começar. Olhei as escadas e um homem descia vestido de Fantasma da Ópera,
adorei a fantasia e até sorri para o rapaz, mas ele sumiu antes mesmo de me
deixar decifrar se era alguém conhecido.
Dei de ombros e comecei a caminhar.
O corredor que havia em uma parte da sala de estar da casa de Lucy
me chamava para entrar nele. Lá tinha a biblioteca e sala de estudos, assim
como o escritório da Senhora Mason, para os dias em que ela quisesse trabalhar
seus casos de advocacia na própria residência.
Adentrei o corredor nem um pouco nervosa, só irritada pelo seu
sumiço mais que repentino. Muita burrice deixar o Nathan, logo o Nathan, com
ele:
– Caralho! Para de ser chata, Tanya!
Ouvi a voz do Tom, no escritório:
– Eu não estou sendo chata! Estou esfregando na sua cara que a
Foster não é garota para você!
– E por um acaso a senhorita Linus acha que é o suficiente para
mim?
– CLARO QUE SOU! – ela gritou convencida e revirei os olhos, me
encostando na porta dupla – Tom, o que você é? Um otário? Não percebe o quanto
ela te usa e te joga fora?
– O namorado dela sou eu. Então não é da sua conta saber como as
coisas acontecem em nosso relacionamento!
– Mas comigo seria muito mais simples!
– Com você seria muito mais chato!
– O que você vê nela que eu não tenho?
Sorri baixo.
Pergunta mais imbecil!
Eu tenho tantas coisas, sua puta...
– Ela tem muitas coisas! – Tom disse o mesmo que pensei – Eu gosto
da Vicky e pronto!
– NÃO É JUSTO! – Tanya falou choramingando.
– Não é questão de ser justo! Tô pouco me fodendo para o que você
acha, só sei que se continuar a me pentelhar vou jogar fora toda a consideração
que tenho por você!
– Tom... – ela continuou com sua voz fresca e oferecida – Por
favor, por favor, por fav...
– CHEGA PORRA! EU AMO A VICKY! SÓ A VICKY! É ELA E PRONTO! NÃO
VOCÊ! PARA DE SER IRRITANTE, SUA LOUCA!
Como assim?
Eu amo a Vicky!
Eu amo a Vicky!
– SEU DESGRAÇADO FILHO DA MÃE! – gritei jogando a primeira coisa que
minha mão alcançou ao entrar no escritório.
O objeto passou de raspão na cabeça de Tom, quebrando na parede
próxima.
– Vicky? – ele perguntou assustado.
– SUA VADIA DOIDA! O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI? – Tanya gritou.
– CALA A BOCA, SUA PUTA, QUE MEU PROBLEMA É COM O TOM!
– O que eu fiz? – ele disse encolhendo-se.
– O QUE VOCÊ FEZ? – falei colocando as mãos na cintura – O QUE
VOCÊ FEZ?
– Eu disse que te amava e pronto! – o imbecil disse já sabendo o
ponto em que me incomodava – Mas eu te amo mesmo, amor!
– AMOR? – gritei de novo.
De repente já não me importava mais a Tanya, pulei para cima de
Tom e despejei tapas fortes por todo seu corpo. Tentando se proteger,
colocou-se para trás, caindo sobre a mesa e derrubando mais alguns objetos.
A Lucy me mataria depois...
– Larga ele! – Tanya dizia tentando puxar meus cabelos.
– SAI DAQUI... – falei alto, parecendo uma possuída. – AGORA OU
VAI SOBRAR PARA VOCÊ!
Não deu dois segundos e a vadia havia sumido da sala, com a sua
roupa ridícula de enfermeira.
Tom tinha as mãos na frente do rosto, esperando mais uma tapa que
eu desse, enquanto estava deitado sobre a mesa, tremendo:
– Repita aquilo que disse... – falei impaciente e subindo na
superfície. Minhas pernas abriram deixando seu corpo entre elas, a abertura
lateral do vestido facilitando minha posição – REPETE!
– Não... – ele falou com medo – Acho melhor não.
– AGORA!
– Te amo! TE AMO! TE AMO! TE AMO! – Tom gritou descontrolado.
mexendo os braços no ar – TE AMO!
Gargalhei alto com cada repetição.
De repente ele parou, encarando-me, desconfiado.
Continuei a rir alto sentindo até mesmo a barriga doer com o ato:
– Que foi? – ele disse em tom desesperado – Tá pirando, mulher?
– Não! – falei ainda me tremendo de rir, deixei-me cair sobre ele,
meus lábios chegaram ao seu ouvido e tornei-me séria – Se você repetir isso de
novo... Eu te mato!
E foi o suficiente para que me afastasse, antes pressionando sua
parte íntima com meu corpo, só para provocar e, com os pés no chão, arrumei o
vestido, observando seus pequenos olhos agora esbugalhados:
– Tem cinco minutos para aparecer na piscina. Se não fizer isso...
Venho te buscar, puxando sua orelha pelo meio das pessoas.
Mexi no cabelo, deixando-o no lugar:
– Vicky...
– Ouviu não me ouviu? – insisti – E dê um jeito nessa roupa amassada!
– dei as costas, caminhando tranquilamente e com reboladinhas até a porta, que
foi fechada com força.
Retornei pelo mesmo lugar, sorrindo pelo último acontecimento.
Ele me amava? Não poderia negar que era algo bonito, mas ele não
precisava saber disso.
– Achou? – Lucy perguntou assim que me viu chegar à piscina.
Nathan e ela estavam sentados, com os pés para dentro da água,
observando um livro.
Para ser sincera... Um álbum.
– Sim, estava no escritório da sua mãe. – comentei retirando o
salto e me colocando ao seu lado – Aliás, quebrei algumas coisas do cômodo.
– MEU DEUS! O VAZO FRANCÊS DO SECULO XVIII! MINHA MÃE VAI ME
MATAR! – Lucy disse colocando a mão na testa, assustada, Nathan acompanhou sua
expressão, provavelmente sem compreender o valor do objeto, mas apenas para ser
prestativo.
– Não se preocupe. Tom paga, nem que ele faça isso pelo resto da
vida. – falei sorrindo e observando o livro – O que é?
– Cheguei! – o dito cujo falou antes que me respondessem. Arrumou
sua roupa e jogou-se ao meu lado, colocando seus pés na água aquecida – Já
estão indo embora. – então ele apontou para trás.
– São duas da manhã, mais do que na hora. – Nathan disse olhando
para o lugar indicado – Depois expulsamos os bêbados que sobraram.
– Ótimo! E enquanto isso... – Lucy começou.
– O que é? – Tom perguntou como fiz segundos atrás.
– Se não tivesse interrompido-a pela segunda vez já saberíamos! –
falei impaciente – Então?
– É um álbum. – foi Nathan que respondeu fechando-o nas pernas da
Lucy – Um dos meus presentes do dia dos namorados. Tem fotos de todos nós desde
o início. – Tom, eu, Lucy, assim como garoto que falava, sorrimos – Vocês dois
abraçados!
– Porra! – Tom disse arrancando o livro grande e pesado da perna
da garota.
– Hey! – ela falou incomodada, enquanto o outro procurava a foto.
– Cassete, isso foi tão distante! No seu aniversário de onze anos,
olha! – ele falou apontando para uma foto na antiga casa da família Parker,
onde morávamos antes da atual – Você era tão linda!
– Era? – falei desafiadora.
– Se ferrou! - Nathan disse sorrindo e girando o gorro da fantasia
na própria cabeça, enquanto Lucy o fazia parar.
– Você continua linda e perfeita! – Tom disse galanteador,
acariciando minha bochecha e me dando um selinho.
– Só porque escovou meu ego não vou te xingar. – falei convencida,
passando algumas páginas – Olha! É o Max! – disse contente, sendo pega de
surpresa.
– Vocês se lembram dele chegando ao colégio? – Lucy começou a
dizer, sorrindo sonhadora e todos nós entramos num clima de lembranças.
FLASHBACKON
Max George havia acabado de chegar ao colégio Londrino. Estudou em
outro desde pequeno, mas com a mudança de cidade dos seus pais, foi obrigado a
abandonar o antigo.
Os jardins grandes do local o impressionaram, mas muito mais
impressionante foi a recepção calorosa, até demais, dos alunos que se
acariciavam espontaneamente por entre as árvores.
– Com licença, onde fica o nono ano? – ele perguntou a uma garota
emburrada, junto a um menino de cabelos castanhos.
– Ah! Aluno novo? – o garoto disse mais simpático – Prazer!
Chamo-me Tom Parker.
– Olá, sou Max George. – ele respondeu sorridente, feliz por
alguém ter o considerado, já que era tímido.
Apertou a mão do outro e olhou para a garota esperando a sua
apresentação que não veio.
– Essa se chama Victoria Foster, minha irmã de criação. – Tom lhe
disse, apontando para a menina que mexeu a cabeça e passou os dedos nos
cabelos, enrolando suas pontas – E não sabemos onde vamos ficar esse ano. – ele
respondeu por fim ao novato.
– Então seremos da mesma classe? – Max perguntou.
– Talvez sim, talvez não. – Tom olhou para trás do garoto, que o
observou – HEY NATHAN, LUCY! – ele gritou levantando os braços.
– AMIGA! – a menina correu até a outra, abraçando-a. Pela primeira
vez Max viu a ruiva sorrir – Te vi ontem, mas tô cheia de saudades!
– Besta! – Victoria disse sorridente – Olá, Nathan.
– Oi, Vicky! – o garoto de olhos avelã respondeu com um grande
sorriso – Oi, cara! – e bateu no ombro de Tom, que retribuiu.
– Oi para você e um cu para Lucy! – o outro respondeu.
– Ah, coisa bonita para se dizer a essa hora! – a menina chamada
Lucy comentou, revirando os olhos – E... Quem é você?
– Esse é o Max! Max George! – Tom respondeu por ele.
– Oi! – o novato disse sem jeito para Lu, que parecia animada
demais.
– Oi! – ela retribui – Sou Lucy Mason e esse é Nathan Sykes, ou só
Nath.
– E aí? Beleza? – Nathan disse também estendendo a mão.
– Beleza. – mais uma vez George sentiu-se acanhado.
– Então cara, como eu ia te dizer. – Tom voltou a falar – Tanto
faz tanto fez ficarmos na mesma sala. Nos matriculamos juntos, mas às vezes a
diretora nota o comportamento dos alunos e separa. Por exemplo, acho que não
vou ficar na mesma sala que o Nathan.
– Nem eu na mesma sala que a Lucy. – o último citado completou.
– Comprovando que vamos ficar juntas. – Vicky disse por fim, de
braços cruzados. – Você corre o risco de ficar com o retardado, o irritante, a
dorminhoca ou a muito gata, que sou eu! – a garota falou, fazendo os outros
rirem, até mesmo Max que pensava que ela não tivesse um senso de humor.
– Por mim, o que vier é lucro. – George respondeu com um leve
sorriso.
Conversaram mais um tempo até o toque. A separação das salas veio
e Max ficou com Vicky e Lucy, resultado da grande aproximação dos três hoje.
Vicky tem vários gostos parecidos ao de Max, quando se trata de
estudos, principalmente. Por outro lado ele é a parte mais sentimental que a
garota poderia ter, o que se tornou um complemento, às vezes ignorado, só
surgindo em momentos mais apertados.
Lucy, por sua vez, era mais simpática e falante que a amiga,
tornando o contato entre ela e o garoto consequência pelo seu jeito. Max
sentiu-se atraído por Lu, principalmente nas vezes em que se encontravam fora
das aulas para lerem livros.
Nathan e Tom ajudaram o novato a fazer parte de vez do grupo. Aos
poucos George foi se acostumando com o jeito pornográfico, ridículo e engraçado
que cada um dali levava a amizade, sentindo-se acolhido por todos.
FLASHBACKOFF
– Ele era tão tímido. – comentei após o longo silêncio.
– Melhor, pelo menos não chegou com cara de metido feito o
McGuiness. – Nathan disse.
– Ou com cara de oferecida feito a Tanya. – completei seu
pensamento.
Lucy e Tom se entreolharam.
Passamos mais umas páginas e a foto que tinha as duas últimas
pessoas citadas surgiu, fazendo nossa cabeça mexer mais uma vez...
FLASHBACKON
O novo garoto chamou atenção de várias pessoas no colégio.
Causando suspiro nas saias e inveja nas calças.
Jay McGuiness era rico, bonito e com ar de prepotência. Desprezo
que fazia todos o observarem, tentando descobrir o seu mistério, por debaixo
daqueles olhos azuis e de seu nariz empinado.
Tom Parker foi o único daquela classe que pareceu recebê-lo bem,
assim como a outra menina de cabelos loiros, Tanya Linus. Ele era simpático,
sem ser forçado e o contato veio em um trabalho de química laboratorial, que
foram obrigados a fazer juntos.
Victoria simplesmente o via como alguém atraente, apenas isso,
nada que pudesse prender a sua atenção.
Nathan nem mesmo se deu ao trabalho de saber quem era o tal Masquiguines,
jurando ele que ouviu o sobrenome correto do garoto.
Lucy, por outro lado, que ficou na mesma sala que Tom esse ano,
inicialmente não gostou do jeito superior de agir do mais novo aluno. Sentia-se
intimidada, comentando sobre tal assunto várias vezes com Max, que de cara não
suportou o almofadinha, que era o tipo de pessoa que aparentava humilhar nerds
feito ele.
– Olá, Mason. – McGuiness falou ao ver Lucy passar por ele na
segunda semana de aula do ano. A garota o olhou assustada, admirada pelo
cumprimento.
– Olá, McGuiness. – ela respondeu em tom educado, seguindo o seu
caminho ao encontro dos amigos.
Os dias se passaram sempre com esse ar de respeito entre os dois,
que chegou a incomodar Lu, pois, de todas as meninas de sua classe, era a única
que o garoto de olhos azuis chegou a trocar alguma palavra.
Isso a intrigava.
Algumas vezes, nas aulas mais chatas, parava para reparar em seu
jeito e aos poucos foi amolecendo com cada cumprimento que ele lhe dava em
novos dias.
– Mãe, quanto tempo mais a senhora vai demorar? – a garota
perguntava incomodada com o atraso de meia hora – Estou com fome! Quero
almoçar!
– Desculpe querida, mas a audiência ainda não terminou. Pegue um
táxi e vá para casa. Preciso ir agora, beijos.
– Beijos. – Lucy respondeu cabisbaixa.
– Oi. – Jay disse, Lucy virou para vê-lo.
– Ah! Olá. – ela respondeu sem jeito, sempre se sentia
envergonhada perto do novato.
– Espero que não me veja como um curioso, mas ouvi a sua conversa
no celular.
– Pois é. Minha mãe não vai poder vir me buscar. – Lu disse
mexendo nos cabelos, o garoto a observava com seus olhos penetrantes.
Rapidamente ela mudou de foco, ruborizando. – Mas, preciso ir. Tenho que
procurar um táxi.
– Não precisa! – Jay disse segurando o braço da menina, assim que
ela virou as costas. Lu voltou seu olhar, curiosa – Quer dizer... Eu posso te
deixar em casa, se quiser.
– Ah, não quero te dar trabalho! – Lucy disse dando um pulinho,
Jay sorriu com isso – Me viro sozinha!
– Mas... – o garoto colocou as mãos nos bolsos, mantendo o rosto
bem humorado – Sou novato aqui, fiz amizade com poucas pessoas, sei que pode
ser avançado demais te deixar em casa, mas pelo menos seria alguém a mais para
falar algo além de bom dia.
Lu distraiu-se pensando e olhando para os próprios pés.
Jay a esperou tranquilamente, analisando cada expressão sua:
– Tudo bem! – ela disse por fim com um sorriso – Mas posso
escolher o que ouvir?
– Claro! – Jay disse aliviado – O carro é meu, mas quem se
importa? – ele disse brincando. Lucy riu, pois imaginava ele completamente
diferente – Embora eu aconselhe ouvir Cobra Starship, e sim, estou tentando te
induzir!
A garota gargalhou alto, começando a andar junto com o outro até o
automóvel estacionado.
– Não precisa me induzir, simplesmente porque Cobra Starship era minha
primeira opção.
Jay parou seus olhos azuis na nova acompanhante.
‘Bom gosto musical? Interessante!’
Foi o que pensou.
O contato com Lucy e Tom fez o garoto entrar no ciclo de amigos,
mas isso não queria dizer que ele teve a mesma sorte que Max George de ser
aceito por todos.
Educação existia e Jay tornou-se alguém presente, mas normalmente
mantinha-se calado, a observar.
Diferente de Tanya Linus, que nem mesmo respeitada era, por mexer
justamente com alguém, que supostamente já tinha dona, mas não imaginava.
Seu alvo inicial foi Max.
Acha esquisito?
Pois não é.
Assim como Joseph sofre e sofrerá até os últimos de aula dentro do
colégio com as chantagens sexuais de Tanya, Max também foi uma vítima cogitada.
Mas Lucy Mason e agora Nathan Sykes não largavam dele.
Victoria Foster, de cara, não foi com a loira, e quando não fez
questão de manter contato constante com o ex-amigo de classe, ao menos o
alertou o quão cobra poderia ser a garota que havia mudado de horário.
Não, Tanya Linus não era uma novata, era uma aluna da casa que
apenas passou para o turno da manhã, dando o desgosto a Vicky de se interessar
justamente pelo seu irmão de criação.
E a menina de cabelos loiros pareceu ser a primeira a notar o que
acontecia, tornando suas provocações com o Parker quase suicidas de tanta raiva
para Vi.
Nathan, de todos, foi o que se manteve mais afastado de problemas.
Max rapidamente virou seu amigo, amigo até demais a ponto de fazê-lo desistir
de Lucy por um tempo. Jay McGuiness era completamente desnecessário em sua
vida, mas o achava no máximo simpático quando estava em grupo. Tanya era apenas
uma oferecida como tantas outras que havia pela vida de um adolescente.
E agora tudo se desintegrou, sobrando apenas os verdadeiros
amigos.
FLASHBACKOFF
– Sinto como se fosse ontem. – falei olhando a água se movimentar
em nossos pés molhados.
– Para mim parece que foi num passado muito distante... Tudo. –
Lucy disse me encarando com um leve sorriso.
– O mais engraçado é que... – Nathan começou – Sobramos nós quatro
e o Max em Nova Iorque.
– No início do ano letivo todos nós éramos amigos. – Tom completou
o pensamento do outro – Mas parece que para que a gente ficasse junto dois
tivessem que sair.
– Ainda bem que não foram três. – disse lembrando-me do fato de
Max não ser um pirado por garotas que não lhe retribuem sentimentos. Os outros
concordaram comigo, balançando a cabeça – Sei que isso não deveria vir de mim,
mas... Se alguém daqui não for para Oxford, não vai ser a mesma coisa. Nunca.
– Tem razão. – Nathan falou, a conversa estava com ar de séria,
coisa que era muito difícil entre a gente – Não pode sobrar ninguém.
– Não vai sobrar ninguém! – Tom disse com um sorriso convincente.
– Jura? – Lucy falou irônica com sua mania de pessimismo. Nathan
beijou-a de leve no rosto e ela voltou a falar um pouco mais sorridente – É
melhor pensar que vamos ficar unidos. Só isso!
– Exato! – Tom levantou os braços – E agora... PISCINA!
Mal pude me recuperar do clima que rolava e senti a água invadindo
cada parte do meu corpo.
Falta de ar e roupa molhada.
Voltei a superfície a tempo de ver Nathan jogando a Lucy e vindo
logo em seguida.
Puxei o pé de Tom que se juntou a todos nós.
Ficamos brincando, como nos finais de semana de quando éramos mais
novos e, com isso, a noite chegou ao fim.
Nem se quer nos separamos ou expulsamos os folgados. O chão da
sala foi o suficiente para que nos acomodássemos um por cima do outro, sem
querer se soltar nem mesmo para os prazeres sexuais que um dia como esse
oferece.
* * *
Acordei-me com uma dor nas costas terrível.
Também, pudera:
Estava com a cabeça na perna do Tom, meu braço por cima da Lucy e
os meus pés no peito do Nathan.
E cada um dormia mais esquisito que o outro, pelas suas posições
engraçadas.
Por consequência, quando abri os olhos, infelizmente trouxe o
Nathan junto, já que quase o chutei. Quer dizer... Eu realmente fiz isso! E o
coitado se assustou, dando um gemido de dor e não conseguindo mais voltar ao
sono matinal.
Ele levou a Lucy para o quarto dela, a garota nem se quer se
mexeu, acho que Nathan faz isso constantemente.
Como eu não podia carregar Tom e mesmo se pudesse eu não faria,
apenas coloquei uma almofada em sua cabeça e joguei um cobertor sobre seu
corpo, afrouxando sua gravata, que o doente se esqueceu de arrumar, correndo o
risco de morrer asfixiado ridiculamente.
– Será que tem achocolatado? – perguntei entrando na cozinha,
Nathan logo atrás.
– Tem sim, no mesmo lugar de sempre. – ele respondeu – Lucy
comprou ontem quando deduziu que fossem dormir aqui. – Nathan sorriu e fez rosto
de quem pensa – Se eu não for tomar banho ela me mata!
Comecei a gargalhar quando o garoto saiu correndo pela casa,
provavelmente indo fazer aquilo que a namorada desejava.
Preparei não só meu café, mas o de todo mundo, só depois de tomar
meu achocolatado e me sentir revigorada pela noite de lembranças da última
madrugada.
Não sabia exatamente o que iríamos fazer pelo resto do dia e
fiquei rindo ao fazer omeletes, com muita dificuldade, por notar o quanto era
agradável termos nos acertado quase na mesma época, pois não seria tão legal se
os casais não estivessem namorando.
Agora passamos a maior parte do tempo juntos, em quadrado,
sorrindo e curtindo pelos cantos.
Mas óbvio também que cada um tem o seu lado, até porque Tom e eu
moramos na mesma casa, já Lucy e Nathan já tem um costume de se ver sempre e
sempre, por causa da amizade de longas datas. Estarmos juntos era apenas um
complemento e consequência do que éramos e nos tornamos.
Ponto.
– Bom dia, bisca diva! – ouvi a voz sonolenta da minha amiga e depois
seu corpo me abraçando por trás.
– Bom dia, gostosa. – respondi apertando seus braços ao meu redor.
– Seu namorado quer se fundir ao meu carpete? Ele está tão
ridículo estatelado no chão. Parece até que você judiou dele. – soltei um
olharzinho esperto para a Lucy, que arregalou os olhos – Você judiou dele?
– Não sua boba! Só estou brincando com a sua cara! – falei
apertando sua bochecha, enquanto ela tentava dar um jeito em seus cabelos
desgrenhados – O Nathan saiu correndo há uns vinte minutos para ir tomar banho,
disse que você o mataria se ele não fizesse isso. Maldade!
– Maldade? Nath acha que é gato, que lambidas vão o deixar
cheiroso! Eu não coloco língua em corpo nenhum se não estiver com cheiro de
lavanda! – Lucy disse mexendo as mãos no ar, de olhos fechados – E ele fica
gostoso com cheirinho de lavanda... Tão apertável!
– Se você diz. – respondi sorrindo, levando a segunda omelete
pronta à bandeja.
– Tem ideia do que o Tom vai te dar de presente? – Lucy perguntou
colocando água e canela para ferver.
– Não faço a mínima ideia e fico até com medo! Com um mês de
namoro ele me deu anus de chocolate, imagino em uma data como essas!
– Ah, dá até excitação de imaginar! – Lucy disse irônica,
recebendo um aperto forte no braço, que a fez se contorcer e rir.
– Hey! Se eu soubesse que você ia se acordar agora teria te
deixado na sala. – Nathan disse entrando na cozinha e indo em direção à
namorada, que estava do meu lado oposto.
– Se eu me acordasse no chão Nathan Sykes não iria mais existir a
partir de hoje! – ela disse ameaçadora, recebendo um abraço dele.
– Então ainda bem que te subi! – ele disse rindo e revirei os
olhos.
– AMIGA! – Lucy gritou fazendo-me assustar.
– Que é, peste? – resmunguei com a mão no peito – Eu estou a
passos de você! Não a quilômetros.
– Que seja! – ela disse com descaso e sorrindo – Sente o cheiro da
lavanda... – e o seu olhar dramático me fez rir, observando-a e percebendo um
cheiro bem agradável na pessoa que havia acabado de entrar.
– Vem de mim, não é? – Nathan falou orgulhoso.
– Não, vem da minha bunda! – Tom disse, surgindo com o cabelo todo
despenteado e o rosto amassado. – Bom dia androides Vinte e Dois, Vinte e Três
– então ele olhou para o garoto de bermuda e sem camisa – Ui, Vinte e Quatro!
– Já começou chateando! – Nathan resmungou pegando alguns
recipientes – Vou levar isso para a mesa.
– Ok! – Lucy e eu respondemos ao mesmo tempo.
– Vicky.
– Que é?
– Vem me dar um beijinho de bafinho?
– Ah, QUE NOJO! – Lu resmungou pegando sua xícara com chá e saindo
da cozinha.
– Só toca em mim depois que escovar os dentes!
– Mas já vou comer! – Tom falou feito criança.
– Mas vai ter que escovar! – respondi no mesmo tom que ele –
Depois eu te beijo, te agarro e te faço sexo.
– OPA! Já vou indo! – ele disse saindo correndo como o outro fez
mais cedo.
Acabei tudo praticamente sozinha já que Nathan, Tom e Lucy apenas
ajudaram a levar as coisas para o local correto.
Os garotos pegaram uma mesa de monta/desmonta e colocaram na
varanda, em cima da grama e perto da pisciana, aproveitando o dia lindo de céu
azul e luz clara, mas nada de calor ou sol forte.
– Os presentes! – Lucy disse batendo as mãos – Acabem de comer e
vamos ao que interessa! – ela falou comendo torradas e a sua omelete.
– Interesseira. – Tom disse rindo, enquanto ela mostrava o dedo do
meio.
Na verdade não era questão de interesse e sim de curiosidade.
Não era só a Lucy, mas todos nós queríamos saber o que havíamos
comprado uns para os outros de acordo com os casais.
No tempo de organização da festa minha amiga e eu entramos em um
acordo de cursos para fazermos com Nathan e Tom, de acordo com a personalidade
do relacionamento. Se eles iam gostar... Essa era uma questão que nos
despertava ansiedade.
Andamos pela casa pegando nossos presentes escondidos, que
retiramos ainda na noite anterior, antes de pegarmos no sono, para não ter
tanto trabalho de manhã.
– Vou ser o primeiro! – Tom disse sentando-se em seu lugar. Meu
estômago deu uma volta para saber o que aquele doido tinha comprado – Por mim
eu te dava um recipiente em formato de pênis para você guardar seu
achocolatado, mas o Nathan me aconselhou a não fazer isso.
– Ainda bem! – falei sorrindo e dando um sinal de legal para o
outro garoto.
– Aqui está. – Tom me entregou dois embrulhos, um pequeno e o
outro médio e achatado.
Abri-os rapidamente jogando os papéis na grama. Peguei o grande
primeiro deduzindo que o menor fosse algum acessório:
– Ah! Um kit para pintar! – falei olhando o estojo com livro para
amadores.
– Não é um simples kit para pintar. É sobre pintura a óleo. – ele
corrigiu dando uma de inteligente.
– Tá! – falei sorrindo e colocando-o em cima da mesa enquanto
pegava o outro – Ai, que lindo! Caracóis!
Meus olhos brilharam ao ver a pequena pulseira de caracóis
dourados.
Eles eram pequeninos e grudados.
– Obrigada, Tom! – agradeci, dando-lhe um selinho carinhoso.
Pois é...
– Agora é minha vez! – Nathan disse antes que os meus selinhos com
o Tom se transformassem em algo mais interessante.
Nathan entregou também dois presentes a namorada, duas caixas, uma
delas menor e mais fina:
– Ah, não acredito! – ela começou a dizer sem nem mesmo ter aberto
o último presente citado, fazendo isso logo em seguida – Meus chocolates
suíços!
– Você gostou? – Nathan disse ansioso.
– Óbvio, é chocolate! – Tom respondeu por ela, fazendo-nos rir.
– E esse? – Lucy falou abrindo a caixa maior rapidamente – Gosh! É
um jogo de chá de porcelana!
– Porcelana fina! – Nathan disse no mesmo tom de voz de Tom ao
falar da tinta a óleo.
– Obrigada, amor! – ela disse apertando o namorado que esperou
receber um beijinho, mas não deu certo, pois logo a garota voltou a atenção
para os embrulhos em seu colo.
– O que eu trouxe para você, Tom... - comecei a falar – Um deles
será para nós dois.
– Mas Vicky, era para ser só para mim!
– Cala a boca, que se eu quiser será para nós dois e o resto do
mundo! – falei mandona e ele revirou os olhos, ficando quieto – E toma logo que
já não aguento mais essa sua cara!
– Ah, meu Deus! Essa bola acende? – foi o primeiro presente que
ele abriu. Uma bola de vidro transparente que acende e forma vários desenhos.
Tom adora essas coisas esquisitas e bonitas ao mesmo tempo – Vai ficar tão foda
no meu quarto.
– É, eu sei. – falei convencida – Vá logo para o outro!
– Tá! Deixe-me curtir a bola, poxa! – ele resmungou guardando-a cuidadosamente
na caixa com isopor.
Foi a vez do próximo presente, que era um carnê que coloquei
dentro de um envelope.
Tom o olhou desconfiado.
Não duvido nada que tenha pensado que fiz dívida e empurrei para
ele pagar com a mesada, mas enfim:
– Lê! – indiquei assim que percebi que ele não compreendeu a
finalidade daquilo.
Só depois de fazer o que disse que seus olhos piscaram, sua boca
abriu e então um sorriso se formou.
– É esse o presente para nós dois? – Tom perguntou me encarando.
– Exatamente. – respondi feliz, com um leve sorriso.
– Gostei dos dois! – ele disse me abraçando – Quando começa?
– Hey! Dá para dizer o que você deu a ele? – Nathan perguntou sem
entender.
Tinha me esquecido que Lucy já sabia.
Apenas seu namorado não tinha o conhecimento.
– Um curso de paraquedismo, Nathan! – Tom exclamou.
– CARA, QUE LEGAL! – o outro disse animado – Agora vocês podem
morrer juntos!
Lucy riu descontroladamente:
– Ai, que romântico! – ela disse fazendo cara de amor que nem o
namorado.
Tom e eu reviramos os olhos:
– É sua vez agora, Lu! – falei interrompendo o momento ‘gosto de
zoar casal alheio’ dos outros dois a nossa frente.
– Ah, é mesmo! – a garota respondeu batendo na própria testa –
Aqui! – ela disse entregando a Nathan.
O garoto foi o mais rápido de todos, praticamente o presente
parecia já ter sido entregue sem embrulho:
– PANTUFAS DE PREGUIÇA! – ele gritou.
– Não são lindas? – Lucy disse de olhos brilhando, com as mãos
juntas.
– SÃO! – Nathan continuou a gritar e sorrir ao mesmo tempo – Vou
passar o resto do dia em sua casa para poder usá-las e...
– Não. – ela disse séria – Vamos sair, vamos para o parque!
– Pode usar pantufas no parque? – Nathan perguntou.
– Se você quiser estragá-las, por que não? – Lucy disse sorrindo.
– Eita, tem razão! – Nathan disse gargalhando como se realmente
tivesse cogitado a hipótese de usá-las fora de casa – E o outro?
Nathan abriu o envelope igual ao que eu dei ao Tom:
– Piano? – ele falou entusiasmado.
– Sim! – Lucy respondeu no mesmo tom – Não ia ser lindo nós dois
aprendendo a tocar piano? Sem falar que pode ajudar alguma coisa na
universidade.
– CLARO! – Nathan falou agarrando-a, sem vergonha.
– Tem gente olhando! – Tom falou jogando uma torrada na cabeça de
Nathan, que gemeu.
O garoto fez sinal de espera, enquanto Lucy intensificava mais
aquilo.
Tive uma vaga impressão que era uma questão de implicância e mais
nada:
– Tom.
– O quê?
– Vamos transar na cama da Lu?
– NÃO! – ela gritou empurrando o namorado – Na minha cama não!
Prometo que não pego mais ninguém por hoje.
Nathan fez bico de quem estava triste.
Eu e Tom nos entreolhamos, sorrindo:
– Então, iremos mesmo para o parque? – perguntei.
O garoto ao meu lado voltou a comer como se não tivesse feito isso
há minutos atrás.
– Claro, quero andar de patins! – minha amiga disse levantando os
braços, feliz.
– E eu de skate! – Tom sorriu de boca cheia, enquanto Nathan fazia
careta de quem achava engraçado.
– Eu sou preguiça vai com as outras, vou para onde vocês forem. –
ele disse coçando a cabeça e olhando o céu.
– Parque, aí vamos nós! – falei por, fim antes de todos irem se
arrumar.
O que Tom disse na noite anterior, sobre me amar, não saiu da
minha cabeça, mas tentei me controlar para não demonstrar até mesmo para a Lu o
quanto a revelação havia mexido comigo.
Gostar dele, eu gosto, e muito!
Mas a ponte de amar?
Não sei até quando vou ser tão adversa a esse sentimento.
* * *
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