PAINTBALL
Ponto de Vista: Vicky
– Não, Tom, não toca na comida! Eles ainda não desceram!
Já era a terceira vez que gritava isso para o idiota ao lado.
Passava das 10h do dia, Lucy e Nathan ainda não tinham dado sinal
de vida. Nossos estômagos roncavam de fome, mas como estávamos na casa dos
outros, mesmo que esse outro nos conhecesse há muito tempo, não era nem um
pouco educado sair comendo por aí:
– Tenho certeza que o Nathan não se importa se comermos ao menos
um bolinho de chocolate! – Tom retrucou cruzando os braços.
– Você já esperou meia hora, pode esperar mais vinte minutos! –
falei tentando mostrar para ele que educação existia.
– Vinte minutos? – ele quase gritou – Você sabe que aqueles dois
podem demorar uma eternidade para fazer qualquer coisa que seja!
– Não xinga, você não fica muito atrás... – disse impaciente,
massageando as pálpebras fechadas e só assim ele calou a boca por um tempo.
Logo que o casal feliz saiu do salão de jogos, e após observarmos
assustados o terremoto que aconteceu na porta do cômodo, obriguei Tom a tirar a
mão do meu seio que tinha ido parar lá, não sei como, e começasse a movimentar
os neurônios para podermos ver a câmera da festa, se algo acontecia de bizarro
para rirmos. Ele fez de mau gosto, pensando que iria satisfazer seus desejos
sexuais em meu lindo corpo sensual, mas logo dei uma tapa na sua realidade para
que ele acordasse que o seio que ele tocou era de Vicky Foster e não de uma
vadia qualquer.
Foi útil fugir do sexo para rir da desgraça dos outros, já que
vimos uma garota subir na mesa e se jogar entre homens que quiseram tirar
proveito de sua cabeça cheia de álcool. Vimos quatro dançarinas caírem, porque
derrubaram bebida no local e, como estava escuro, não viram nada de molhado no
chão, que conseguimos observar na câmera, e levaram seus bumbunzinhos
amortecidos por tecidos caros ao piso do bordel. Os gays que haviam sido
citados na conversa do Max, deduzi que fossem eles, pois eram os únicos ‘mais
alegres’ coloridamente, foram obrigados a se enfiar em um quarto qualquer pela
mulher de cabelo ruivo que estava recebendo os convites. De acordo com a Lucy,
era a irmã da dona do lugar.
Nesse tempo tentei fazer Tom parar de querer me seduzir, embora fosse
difícil, porque até dança do acasalamento ele fez e eu poderia me entregar a
ele, só para o garoto parar de pagar mico. Acabou que se cansando e dormimos
abraçados no sofá confortável do salão de jogos.
Já hoje, nos levantamos e arrumamos a bagunça da madrugada.
Tomamos banho, separadamente, e trocamos de roupa. Nessa hora agradeci a
esperteza da minha amiga de na quinta feira nos pedir para que separássemos
trajes para que ela guardasse na casa de Nathan, já para o sábado. Não tivemos
muito trabalho, porque praticamente aproveitamos o que tínhamos levado para o
hospital, retiramos aquelas que não usaríamos mais para ela guardar. A nossa
bolsa estava em cima da poltrona do quarto de hóspedes, que fica em frente ao
quarto de Nathan. Tom, curioso, não resistiu e tentou fuçar os dois para ver se
faziam algo de ‘errado’, mas dormiam feito duas crianças inocentes.
– Good morning, my bitches!
Nathan gritou de repente, na porta da cozinha, carregava Lucy nas
costas e logo foi sua vez:
– Bom dia gente boa que fez café!
Então ele a colocou no chão e logo a garota saiu correndo para me
abraçar, como se nunca mais tivesse me visto na vida.
– Não foi a gente, foi a senhora Sanders. – Tom respondeu de boca
cheia.
Nem mesmo vi sua mão pegar a comida.
Lucy começou a cutucar Tom, ele virou para abraçá-la, mas ela deu
as costas, deixando ele no vácuo. Ri dos dois e a vi se sentar ao lado do
namorado, que também já estava de boca preenchida.
– Faz muito tempo que vocês se acordaram? – Nathan perguntou
concentrado no recheio do bolinho que sujava seu dedo. Lucy lhe entregou um
guardanapo, rindo dele.
– Não.
– Sim.
Olhei irritada para o ser imbecil ao meu lado. Era preciso dizer
aos dois seres felizes, que se encontravam perto de mim, que haviam demorado
demais se comendo e que estávamos passando fome por causa deles? Que fazia mais
de meia hora que eu contava mosquitos inexistentes na cozinha?
Lucy e Nathan nos observavam com certo tédio:
– Nos acordamos faz uma hora e meia. – respondi passando geleia na
torrada – Arrumamos as coisas, ajudamos em outras a Senhora Sanders e ficamos
esperando vocês. – achei melhor falar do que o Tom, ele poderia contar que
entrou no quarto para ver se estavam transando...
– Vocês são pessoas pacientes. – Lucy comentou irônica – Poderiam
passar o resto do dia nos esperando. – então ela deu uma olhadinha para mim,
enquanto eu lhe mostrava a língua.
Nosso momento ‘eu te odeio te amando’ foi interrompido pelo ser
mais retardado daquele lugar: Nathan Sykes. O outro ria, olhando para meu ser
retardado: Tom Parker. Ninguém entendeu nada, a não ser ele.
– Que foi? – perguntei curiosa.
– Tom perereca! – ele falou apontando para o meu namorado, que
parecia tão confuso quanto eu.
Então compreendi, Nathan falava da camisa verde tosco que Tom
usava.
Ele estava muito gostosão!
Mas ninguém precisa saber desse meu último pensamento.
– Ah, está falando da camisa? – Lucy perguntou e ele concordou com
a cabeça – É tão... Verde! – ri sem querer, Tom me cutucou irritado – E na
verdade era para ser rã, não perereca!
Pausa.
Nathan e Lucy se olharam de maneira assustadora, com cara de
‘vamos zoar?’.
E eu não estava errada.
Os dois se levantaram da cadeira, e o garoto estendeu a mão para a
namorada que começou:
– One, two, one, two, three, four...
– VICKY FOSTER SAIU PRA PASSEAR COM A RÃ! – eles começaram a
dançar de um lado para o outro, dando pulinhos, levantando os braços – VICKY
FOSTER QUERIA FAZER AHAM COM A RÃ! – Lucy se posicionou de costas, na frente de
Nathan, e de acordo com um ritmo começaram um vai e vem pornograficamente
engraçado.
Mordi minha boca de raiva!
Principalmente depois de ouvir a risada estridente do Tom, logo ao
meu lado.
Olhei-o nervosa, mas o anão nem se intimidou.
Os ‘ideiotas’ voltaram para seus lugares vermelhos de gargalhar e
só eu tinha a cara séria de que nada daquilo era engraçado:
– Já vi onde me meti. – resmunguei jogando a torrada no prato e
cruzando os braços – Pagarei todos os pecados aturando vocês três.
– Então espero que você não tenha feito muita besteira na vida. –
Tom disse sarcástico, enquanto Nathan jogava um guardanapo amassado na cara
dele.
Sério mesmo.
Onde é que desligamos o botão de ‘amigos irritantes’?
* * *
– Paintball!
Tom e Nathan gritaram assim que saíram do carro. Lucy e eu nos
entreolhamos assustadas, enquanto eles corriam até a fila para entrar no lugar.
No café da manhã, para a droga da musica da rã não ser cantada
pela quinta vez no dia, decidi puxar assunto para o que faríamos. Chegamos a
conclusão que fazia um bom tempo que não nos sujávamos de tinta, nem chegávamos
roxos em casa, por causa das pancadas que levávamos no paintball, e mal essa
sugestão surgiu, Tom e Nathan já estavam preparados, dentro do carro, dizendo
que eu e minha amiga éramos duas lerdas.
– Então, como foi a noite? – perguntei enlaçando meu braço no de
Lucy.
Ainda não havíamos tido chance de ficar a sós.
– A palavra mais correta para descrever é... – ela me olhava
pensativa, para depois virar o rosto com um sorriso aproveitador –
Interessante.
Sorri sem querer saber de mais detalhes. Como Lucy disse, aquela
palavra falou tudo.
Observei logo a frente. O lugar pintando de amarelo e laranja
estava cheio, com duas filas gigantes a cada lado das duas entradas principais.
Procurei com meus olhos as crianças e os vi discutindo com uma mulher, provavelmente
porque furaram uma das filas indianas:
– Faz cara de retardada amiga. – sussurrei para Lucy e rapidamente
ela fez o seu papel de doente mental, ficando estrábica e lesada.
Segurei para não rir.
Andamos devagar até eles, come se a deficiente tivesse problemas
até mesmo para pisar direito no chão:
– Ah, que bom que vocês conseguiram um lugar mais a frente! –
comentei simpática, segurando firme a Lucy pelo braço.
Nathan começou a rir e saiu de perto da gente. A mulher nos olhou
confusa:
– Você estava guardando lugar para ela?
– Sim. – Tom confirmou com a cabeça convincente – A minha prima de
terceiro grau tem problemas mentais, coitada, nem mesmo sabe dar nó no cadarço,
prender o cabelo. Precisa de ajuda até para fazer xixi.
Sua voz foi tão dramática que a senhora desconfiada, com duas
crianças, nos olhou comovida:
– Mamãe? – Lucy disse de repente, olhando para mim.
– Não querida. – falei como se ela fosse um bebê – Sua mãe está em
casa.
– Você não é a mamãe? – movimentei minha cabeça de um jeito que
ninguém além de mim e Lucy pudesse ver as nossas expressões, rimos uma para
outra, depois ficando séria.
– Não, não sou. E sua mamãe disse que se você se comportar poderá
ir ao zoológico no próximo fim de semana! – falei sorridente. Lu piscou e abriu
um sorriso forçado de criança.
– Então ta bom! – ela virou-se para o Tom – Lagarto malvado quer
pau?
– Como? – ele falou sem entender.
– Ela está te chamando para a briga! – a criança ao lado da
senhora falou.
– Fica quieto, Dino! – ela disse repreendendo, o garoto cruzou os
braços, emburrado.
– Não me faça lhe dar outra tarja preta, priminha! – Tom disse,
dando um leve beliscão na Lucy, que se contorceu de dor. Empurrei a mão dele
irritada, ele sorriu, enquanto ela o mostrou a língua disfarçadamente. – Se não
ameaçarmos ela se torna violenta! – ele disse mais uma vez convincente – Está
vendo aquele garoto ali? É o primo de segundo grau por parte de pai dela. –
então ele apontou para o Nathan, a mulher olhou curiosa ele rindo, virado para
a gente, mas ficando sério logo que percebeu que estava sendo observado – Ficou
retardado só porque ela o empurrou da escada! – Tom se aproximou e fofocou em
seu ouvido – Além de doida é violenta! CUIDADO! – ele gritou e todos olharam –
ELA MORDE!
– Senhora?
– Sim?
O guarda, que ficava na entrada, chegou perto de nós e falando em
tom baixo disse:
– Não gostaria de entrar logo ao invés de ficar na fila? Causaria
menos confusões.
– Claro! – disse simpática – Até porque ficar em pé a deixa
irritada, depois sonolenta. Ela quebra tudo para depois dormir.
Comentei e Tom concordou.
– Me acompanhem. – ele disse e começamos a segui-lo. A mulher fez
o favor de afastar as duas crianças de Lucy assim que ela passou.
Chamei Nathan com a mão e ele saiu correndo para nos acompanhar.
– Como assim eu mordo?
Lucy perguntou, revoltada já quando estávamos dentro do lugar,
andando por uma praça cheia de bancos e lojas. Parecia uma pequena cidade para
que finalmente viesse a parte de matos e árvores, como campos de treinamento,
onde iríamos jogar.
– Você que começou! – Tom disse segurando minha mão, como se tudo
fosse normal.
– O que importa é que conseguimos entrar. – falei satisfeita
olhando para frente.
– Na próxima eu quero ser um autista. – a pessoa ao meu lado
disse, sonhador.
– Ah, sua cara. – fiz questão de dizer irônica – Só que não.
– E você? – Lucy voltou com a sua voz revoltada – Se tivesse
ficado por perto ia estragar tudo!
– É que sua cara de retardada é muito sexy. – Nathan disse
galanteador, passando a mão pelo braço da namorada, ela virou o rosto,
emburrada.
– Não tem nada de sedução em ser estrábica e lesada!
– Em você tem! – Nathan se manteve firme, Lucy se desarmou,
abraçando-o de lado.
Revirei os olhos para Tom, que também estava com tédio dos dois.
– E as duplas? – perguntei quando paramos em frente a loja que
alugava roupas.
– Garoto contra garotas. – Nathan falou sorrindo espertamente.
Minha amiga veio para o meu lado, enquanto meu namorado foi para o
lado do outro.
– Lu, amor, o que você acha disso? – perguntei cruzando os braços,
desafiadora.
– MASSACRE! – ela gritou e começamos a imitar serra elétrica, os
outros dois riram descontroladamente, depois paramos e fingimos que nada tinha
acontecido, entrando na loja e deixando os dois para trás, com cara de bestas.
Não demoramos a colocar nossos macacões sem estilo. Tivemos alguns
problemas com o tamanho das roupas, tendo que dobrar as pernas e os braços,
nada de mais.
Em seguida fomos onde se alugam as armas, pegamos munições e
óbvio, eu e Lucy obrigamos os garotos a levarem tudo. Depois demos o ingresso
de entrada e esperamos sentados uma das divisões do campo ficar livre para
podermos entrar.
– Vocês querem sorvete? – Lucy perguntou, olhando tentadoramente
para o lado de fora da cerca, mais precisamente para o carrinho de sorvetes
laranja e amarelo.
– Eu quero! – respondi com o Tom.
Nathan já estava em pé saindo sem nem mesmo esperar a namorada.
– Já volto! – ela disse e saiu correndo atrás dele.
– Você está feliz? – Tom me perguntou, enquanto eu os observava de
mãos dadas indo até a o carrinho.
– Muito. – respondi sem olhá-lo. Eu sentia um prazer imenso dentro
de mim por estar com meus amigos e com o garoto que gosto, mas até assim tinha
medo de demonstrar qualquer sentimento além de ‘tudo está simples’.
Ouvi Tom sorrir e sua boca tocou minha bochecha. Voltei minha
atenção para ele. Deixei-o tocar em meus cabelos e brincar com o brinco em
minha orelha:
– Sonhei muito com isso... – ele falou sorrindo de leve, para só
depois se entregar a uma gargalhada engraçada – E nunca pensei que ia ser tão
divertido!
Não resisti e ri suavemente. Tom abriu as pernas em cima do banco,
deixando-as pender de cada lado do corpo, tocando no chão. Mexi meu corpo e me
arrastei para mais perto do seu, sentindo em seguida seus braços envolverem
minha cintura e seu nariz cheirar meu pescoço.
– O que mais quero é ver a reação da Tanya.
Não consegui controlar essa frase que estava dentro de minha boca,
pedindo para sair. Tom sorriu como se achasse aquilo que eu disse muito óbvio:
– Por que ainda se importa com ela? – sua voz não foi de
repreensão, apenas de curiosidade.
– Questão de honra. – olhei-o com tranquilidade – Ela me torturou,
só vou dar o troco de maneira brilhante.
– Durona! – ele me xingou fazendo careta.
– Imbecil! – xinguei-o de volta, franzido o nariz.
Senti seus lábios tocarem os meus, minha língua entrar em sua
boca, passar pelos seus dentes e finalmente misturarem nossas salivas. Tom me
apertou com mais força, enquanto eu subi meu braço para poder passar por cima
de seus ombros, algo mais complicado que o normal, já que eu estava de lado.
Meus dedos se distraíram com o velcro do macacão, seu cheiro esportivo invadiu
minhas narinas e o beijo ficou mais gostoso quando pressionei sua cabeça contra
a minha:
– Depois falam da gente. – Nathan sussurrou.
Parei de beijar o gnomo para olhar para as crianças risonhas e com
sorvete:
– Tinha que ter Lucy Mason para estragar tudo. – Tom resmungou. A
garota apenas jogou os cabelos no ar, mostrando que ignorou o comentário.
Nathan entregou meu sorvete de morango, o do Tom de chocolate,
depois se sentou ao lado da namorada, que estava com um de sonho, o dele era
azul, devia ser de tutti frutti.
Apressamos no sorvete quando vimos que logo chegaria nossa vez de
jogar. Eu estava ansiosa para poder atirar mil vezes no Tom. Queria ver ele
roxo.
Tenho esse instinto assassino quando se trata dele, é tão
satisfatório.
Pegamos máscara, separamos as cores, os garotos de verde, eu e
Lucy de vermelho. Amarramos lenços nos braços, de acordo com as tintas não
tóxicas de dentro das cápsulas de gelatina.
– Qual tipo vai ser? – perguntou o juiz para a gente, na entrada
do campo.
– Deathamatch? – falei olhando para os outros, que concordaram com
a cabeça.
– Vão querer supervisão? – ele continuou o questionamento, nos
levando para a marca central.
– Creio que não. – Nathan disse – Por tanto que elas não
trapaceiem!
Lucy deu uma cotovelada, que só o fez rir.
– Ótimo. – paramos num círculo amarelo no chão – Conhecem as
regras: nada de tirar a máscara, nada de agressão física, ganha quem acertar primeiro
os adversários. Tem o campo por 15 minutos. Mais que isso serei obrigado a
inspecioná-los. Não façam nada a não ser jogar.
– Ok! – falamos juntos.
– Bom jogo! – finalmente o senhor sério disse, tentando ser
simpático, mas sendo totalmente forçado.
Lucy colocou-se do meu lado, Tom ao lado de Nathan.
– Contando... – minha amiga começou, enquanto colocávamos as
máscaras. Uma adrenalina começou a passar pelos meus dedos preparados para
acertar em qualquer um dos dois ali mesmo – Um, dois, TIRA O DEDO DAÍ, TOM! –
ela gritou logo que viu o indicador dele no gatilho – De novo... – sua voz saiu
abafada – Um, dois, três, JÁ!
Saímos correndo assim que ela deu o sinal, cada um se separando e
indo para lados opostos. De acordo com as regras, que nós mesmos nos dávamos,
tínhamos 20 segundos livres para se esconder, ou achar uma estratégia, até
finalmente podermos ir atrás um dos outros.
Procurei Lucy e percebi que ela não estava perto de mim.
Entrei no que seria uma casa destruída, uma área de concreto,
marcas de janela, madeiras jogadas, sujeira no chão, tudo muito realista.
Agachei-me atenta a qualquer passo e me irritei com o fato de ter negado botas
para proteção, elas são muito melhores de ouvir quando alguém está por perto.
Aos poucos, ainda abaixada, fui andando até o portal, observando a
parte de fora, aparentemente vazia.
Verde!
Uma cápsula estourou perto do meu rosto, sujando parte da máscara.
Encostei-me rapidamente, respirando forte do susto. Andei até a abertura da
janela e observei cuidadosamente o lado de fora. Nathan escondia-se em uma
moita. Pela distância seria péssimo para acertá-lo, móvito pelo qual ele também
errou o alvo.
Saí do lugar pela parte dos fundos e me deparei com a Lucy.
– Estava te procurando. – ela sussurrou – Quase acertei o Tom, mas
ele foi mais para dentro das árvores.
– Acho melhor não irmos para lá. – sussurrei de volta, olhando ao
redor – É mais fácil dele nos pegar.
– Viu o Nath? – Lucy perguntou curiosa, descendo ao chão, olhando
atentamente se algo vinha pelas minhas costas.
– Não. – respondi e olhei para trás da sua – Mas vamos ficar por
aqui. Será fácil achá-lo.
– Ok! Eu vou atrás dele, você fica de olho nas árvores para ver se
o Tom não nos pega de surpresa.
E saiu antes mesmo de me permitir fazer qualquer objeção, embora
eu realmente não fosse fazer isso. Ela conhecia a cabeça do namorado, eu
conhecia a cabeça do meu. Sabia perfeitamente que Tom deveria, naquele exato
momento, estar nos observando entre os troncos. Mas Lucy foi por dentro da casa
abandonada, não seria pega, e eu estava escondida ao lado de um caixote de
madeira encostado na parede.
Circulei a casa até me deparar com várias partes de barricadas com
sacos de areia. Ouvi um barulho de mato e me virei.
Vermelho!
Errei. Tom foi rápido demais e conseguiu desviar do meu tiro.
Odiei-me e deixei outra cápsula de tinta preencher o cano. Voltei a apontar
para o ponto que ele estava antes, sem nem ao menos me importar com Nathan que
poderia aparecer por trás e me acertar.
Verde!
Foi a vez de Tom tentar me atingir. Mas não conseguiu e ri da sua
péssima mira já, que eu estava em campo aberto.
– Vou aparecer com a espingarda voltada para você... – ele começou
a gritar, escondido – Não vou atirar e espero que faça o mesmo.
– Ok! – falei de volta, esperando-o ansiosamente.
Tom se mostrou do jeito que disse, e veio até mim com a arma
virada em direção ao meu corpo. Nem parecíamos namorados, era uma questão de
competição saber quem iria sair dali sem se sujar primeiro. Por trás dele
busquei Lucy, com esperança que ela aparecesse de surpresa e o acertasse. Tom
também observava o campo atento, provavelmente pensando o mesmo que eu, só que
sobre Nath.
– Onde estão os dois? – ele finalmente disse, fazendo careta.
– BOSTA!
Os sacos de areia começaram a cair, Tom e eu nos viramos assustados,
despreocupados se estávamos desprevenidos:
– Que porra é essa?
Tom sussurrou antes de cairmos na gargalhada.
Lucy e Nathan foram pegos no flagra.
– Eu disse que não era pra você me agarrar ali! – ela disse
revoltada, jogando a máscara no namorado.
– Mas você gostou, Lucy! – ele disse tão revoltado quanto ela,
todo sujo de areia.
– Ah! Mas foi bom e...
– ESTAMOS AQUI! – gritei rindo da cara dos dois, que nos olharam
surpresos, só então percebendo que estávamos presente.
– Ah não! – minha amiga disse e Nathan riu daquele jeito de
criança quando apronta.
– Me ajuda aqui! – Lu resmungou tentando tirar um saco de areia
que estava em cima de sua perna – E nada de comentários ridículos! - ela disse
envergonhada e olhei provocativa para o Tom.
Nathan empurrou os que estavam sobre seu corpo e levantou-se para
ajudar a namorada. Era o momento certo para acertá-lo já que estava distraído.
Em pé, consegui observar Lucy por entre suas pernas dando uma piscadinha e
fazendo um sinal positivo com a mão, disfarçadamente.
Vermelho!
E o garoto foi colocado para fora do jogo.
– Se é assim...
Verde!
Antes mesmo de dar tempo de comemorar senti um impacto no meu
braço e desequilibrei caindo no chão. Olhei assustada para Tom e, sentindo
ódio, comecei a resmungar junto com o Nathan, que estava lá do outro lado
dizendo que estávamos trapaceando.
Tom ria de mim e estendeu a mão para que me levantasse, enquanto
eu tirava a máscara revoltada.
Vermelho!
E ganhamos!
Foi a minha vez de rir da idiotice do Tom. Vi a tinta vermelha
escorrer pela parte coberta do seu rosto. Ele jogou, irritado, a espingarda no
chão. Lucy ria de longe.
Levantei-me sozinha e feliz:
– Na próxima se lembre que a pessoa que te irrita vai te acertar!
– ela gritou e de repente vi Nathan se jogar sobre ela, por cima dos sacos de
areia.
Limpei o macacão totalmente satisfeita e vi meu namorado mostrar
seu rosto vermelho, pelo impacto certeiro do tiro. Ri na sua cara muito alegre
e disse:
– Acho melhor você se comportar essa semana, ou vou ser obrigada a
esfregar na sua cara que perdeu para uma garota.
– Cala a boca, Foster! – ele xingou mexendo nos cabelos, beijei
sua bochecha no lugar afetado, Tom relaxou, mas manteve a cara feia – VAMOS
SEUS TARADOS! QUERO REVANCHE!
Ele gritou para Lucy e Nathan. O garoto levantou o braço fazendo
sinal de espera e segundos depois vi minha amiga empurrá-lo sobre os sacos,
saindo do chão, arrumando os cabelos como se nada tivesse acontecido.
Jogamos mais uma vez, os garotos ganharam, demos um tempo, fizemos
um lanche e voltamos a ativa. Para desempate, e sorte minha e da Lu, ganhamos.
Zoamos com os garotos o resto do caminho.
– Não consigo tirar a tinta daqui! – Nathan disse agoniado sentado
no banco em frente ao banheiro.
– Fica quieto que eu te ajudo. – Lucy disse passando hidratante em
um pedaço da mão dele.
– Meu rosto está dolorido. – Tom disse alisando a bochecha – Vai
ficar inchado.
– Não vai não. – falei sentada ao seu lado, prendendo meu cabelo,
cansada pela atividade – Quando chegar em casa colocamos gelo e melhora. –
sorri preparada para fazer uma piadinha.
– Nem vem com essa cara para meu lado, se você falar qualquer
besteira vou fazer um string skipping na guitarra nível hard enquanto você
dorme e...
– Tá, tá! Estou quieta!
Depois Nathan nos deixou em casa e seguiu seu caminho com a
namorada para a residência dele. Tom e eu passamos o resto dia nos beijando,
amassando e claro brigando divertidamente.
* * *
CAPÍTULO 41
UM CASTIGO PARA VICTORIA
Ponto de Vista: Vicky
– Tom, aqui não!
Falei, tentando afastá-lo do meu corpo, mas revezando entre empurrar
e puxar.
– Qual o problema? – ele sussurrou antes de voltar a enfiar seu
rosto em meu pescoço.
Gemi de leve.
– Sua mãe pode chegar a qualquer momento!
Disse passando minhas mãos em seus braços descobertos pela camisa
regata branca.
– Você sabe que ela não chega cedo...
Tom falou abrindo o meu sutiã pelo fecho traseiro.
Mordi seu lábio inferior.
– Mas e se ela chegar? – comentei receosa, misturando o perigo com
as sensações boas que era ter seu corpo perto do meu.
Beijei sua boca, mas Tom não retribuiu e com o rosto perto do meu
disse:
– Você está com medo?
Era noite e estávamos em nossa casa, na espreguiçadeira, perto da
piscina. Estava frio, mas, enquanto nos abraçávamos, os carinhos aumentaram e
demos um jeito de deixar tudo quente.
De repente eu e Tom já havíamos encaixado nossas pernas, ele por
cima de mim, suas mãos massageavam meus seios cobertos e minha boca satisfazia
a sua com nossas línguas divertidas.
Há quase um mês estávamos juntos, diferente da Lucy e Nathan, que
já tinham feito ‘aniversário’. Era abril, o frio não era tão intenso e nada de
ruim havia acontecido desde que todos se acertaram.
Tanya continuou puta, irritada e briguenta, sem o poder da ironia
e de sair diva de alguma confusão. Jay manteve-se quieto, assim como comentou
com o Nathan, que daria um tempo até quando suportasse. Lucy e eu estávamos
felizes, só que ela demonstrava isso muito mais que eu.
Não é da conta de ninguém o que se passa em minha cabeça.
– Medo? – perguntei sem entender, fazendo pressão em suas costas,
para que ele continuasse perto de mim.
Tom colocou suas mãos em minhas coxas e as acariciou forte e
lentamente, deixando-me com vontade de puxá-lo, esquecendo o diálogo que estava
atrapalhando nosso envolvimento.
– Sim. – ele sussurrou, suas mãos subiram para minha cintura,
levando-me até seu tronco, sua boca tocou a minha e o beijo foi diferente...
Tranquilo e emocionado demais, para ser mais precisa. Deixei-o prosseguir
buscando a compreensão de seu toque ter passado do quente para o tedioso –
Prometo que vou fazer com calma...
Tom comentou, olhando-me profundamente. Seus lábios descerem sobre
o meu pescoço e fechei meus olhos, confusa com suas palavras, com a situação...
E
Ele achava que eu era virgem?
Senti sua boca morder meus seios levemente, por cima da roupa.
Suspirei e compreendi:
Tom estava se iludindo.
– Não sou virgem... – falei séria, empurrando o prazer que aquilo
me proporcionou – Ai! – seus dentes fecharam-se sobre minha pele. Vi seus olhos
assustados me observarem.
– Como assim, Vicky? – ele disse sentando sobre suas pernas
dobradas, apoiando seu bumbum sobre os pés.
– Não sou virgem, seu bobo! Transei com o Nathan. – falei como se
tudo fosse óbvio demais e voltei a puxar sua camisa.
Tom afastou minhas mãos.
– Você está me dizendo que esse tempo inteiro você ficou enrolando
só para brincar comigo? – disse com seriedade, levantando-se.
Continuei meio deitada, meio sentada, olhando-o com certo tédio
por ter me deixado com vontade.
– É... Talvez. – respondi indiferente – Agora vem cá, deixa de conversa
e...
– QUE ÓDIO! – Tom disse e me assustei com seu grito rouco. Vi-o
levar as duas mãos à cabeça e puxar os cabelos com certa irritação. Seu rosto
avermelhado voltou-se para mim. Percebi que agora a coisa não ia ser fácil.
Sentei-me, ataquei o sutiã, cruzei as pernas e esperei ele dar seu ataque –
Toda aquela história de passar a mão e depois dizer tchau, de ignorar minhas
brincadeiras pornográficas e de me deixar com vontade, obrigando-me a
satisfazer meus gostos de homem do meu jeito, apenas para no final você rir da
minha cara?
– Não exatamente... – falei analisando o que ele disse, mas com
preguiça de pensar mais intensamente.
– VOCÊ ACHA ISSO CERTO? – ele gritou, me encarando. Tentei fingir
que não me assustei.
– Acho. – confirmei fechando os olhos.
– POR QUE VOCÊ É ASSIM? POR QUE VOCÊ TRANSOU COM ELE?
– Abaixe seu tom de voz que eu não sou obrigada a ouvir a sua
irritação de gay! – falei levantando-me e batendo o pé. Tom me deu as costas
rindo ironicamente, fazendo um giro e voltando a me encarar. – Eu namorava o
Nathan! Era óbvio que eu iria transar com ele! – disse irritada com o fato dele
ser imbecil demais para não concluir isso sozinho.
– MAS VOCÊ GOSTA DE MIM!
– NÃO GRITA!
– EU GRITO SE EU QUISER!
– ENTÃO EU VOU GRITAR MAIS ALTO!
– ENTÃO A GENTE NÃO CONVERSA! FIQUE AÍ GRITANDO SOZINHA, PORQUE
NÃO QUERO VER SUA CARA!
E de repente não havia mais ninguém comigo no quintal.
* * *
– É incrível a capacidade que você tem de se meter em confusão
quando se trata do Tom. – Lucy disse retocando o batom vermelho, no banheiro do
colégio.
– A culpa não foi minha. – respondi arrumando os anéis nos dedos –
Se ele tivesse continuado calado, teríamos transado e pronto.
– Era justo o Tom saber que você perdeu a virgindade com o Nath. –
ela disse e percebi seu rosto ficar um pouco vermelho na região das bochechas.
Lucy ignorou meus olhos e apenas observou sua própria imagem.
– O que diz respeito a minha vida não é tão útil o Tom saber. –
comentei, voltando a trocar os anéis de lugar e a observar as cores das minhas
unhas – Ele achou mesmo que só porque eu gosto dele iria perder a oportunidade
de transar com outro cara?
– Esse outro cara se chama Nathan Sykes, meu atual namorado. –
Lucy disse, virando-se para mim. Fiz o favor de não olhar para sua cara, pois
me dava um pouco de tédio seu ciúmes – Não o trate como se não fosse ninguém de
importante.
– A única importância que ele tem para mim é o fato de ter sido o
primeiro garoto e apenas isso. – falei indiferente.
– Vicky!
– Lucy! – falei irônica, percebendo-a um pouco irritada, mas se
controlando rapidamente, deixando de me encarar para arrumar o laço vinho no
cabelo, vendo o próprio reflexo.
Um silêncio ficou e ouvimos uma movimentação num box qualquer do
banheiro.
– Só acho que você não deveria se irritar com o jeito que trato o
Nathan. Ele só serviu para dar um tempo no Tom e...
– PARA! – ela gritou e olhei-a assustada – Dá para parar de olhar
o próprio umbigo e perceber que isso me incomoda de verdade?
– Eu só estou querendo mostrar que o Nathan foi indiferente na
minha vida!
– Claro! E nesse tempo que ele foi indiferente não pudemos ficar
juntos! – sua voz tornou-se aguda demais, seus olhos estavam rosados e a sua
reação irritou-me. Logo me esqueci que Lucy era diferente de mim e se importava
com o fato de gostar de alguém.
– Acontece que se eu e Nathan não tivéssemos namorando vocês não
iriam perceber que gostam um do outro! – continuei decidida a sair vencedora da
discussão, mostrando para minha amiga o quanto era inútil brigar por homens.
– Uma hora iríamos nos entender sem a sua ajuda! – ela falou alto,
aproximando-se de mim. Arrumei minha posição, ficando ereta – Então não precisa
ficar esfregando na minha cara que você perdeu a virgindade com ele!
– Mas eu não... – comecei a dizer, tentando buscar em minha cabeça
quando tive a intenção de esfregar isso na cara dela – A culpa não é minha se
você perdeu a virgindade com o Jay!
Falei isso burramente e foi o suficiente para Lucy me dar as
costas, batendo a porta do banheiro com força.
Ouvi distante a descarga do box ocupado e respirei fundo. Um ódio
misturado com arrependimento surgiu dentro de mim.
Tudo bem me irritar com o Tom... Mas com a Lucy?
E pelo Nathan?
Eu não fiz nada de mais, a culpa não é minha se ele gostava de
mim... Ela não transou com o Jay? Por que eu não podia transar com o Nathan?
Simplesmente por que ele era namorado dela?
Lucy não tem o direito de sentir ciúmes desse modo se nem mesmo
sabe o que é amor, principalmente com a idade que temos!
– Imbecil! – xingue-a antes de ser a minha vez de bater a porta.
Entrei na sala com raiva de ver o rosto de qualquer um que
estivesse ali dentro.
Tom, que ainda estava irritado comigo, pelo dia anterior,
observou-me sentar de cara fechada, mas não parecendo tão sério quanto a minha
amiga, que estava na fileira de trás, com um rosto chateado.
Nathan acariciava seus cabelos e não deu para saber se ela havia
comentado algo com ele.
Jay, ao meu lado, estava de braços cruzados, olhando para o
professor, como se estivesse com preguiça de estar ali.
Fiquei pensando o quanto era ridículo as duas pessoas mais
importantes da minha vida serem sentimentalistas demais. Por que era da conta
do Tom eu perder a virgindade com o Nathan?
Provavelmente ele tinha transado com alguma garota no tempo em que
estávamos brigados e poderia até mesmo ter sido a Tanya.
Não estou arrependida daquela noite, muito menos do ato
precipitado. Nem mesmo se quer apareceu em mim raiva das próprias coisas que
fiz ou falei.
Sorri comigo mesma, satisfeita com minhas atitudes e sabendo, que
pelos dois conhecerem o meu jeito, logo perdoariam as confusões que acabaram de
acontecer.
Com isso tranquilizei-me, prestando atenção na aula.
– Vamos para os jardins? – falei animada, levantando-me e olhando
para o grupo após o fim da aula.
– Vou catar o que fazer. Tchau! – Tom disse saindo, sem me dar
atenção.
Fiz careta, mas voltei meus olhos com um rosto sorridente para o
casal que estava sentado ali perto.
– Então? – continuei empolgada.
Lucy ficou calada, mexendo no próprio celular, coisa que percebi
que fez a aula inteira.
– Acho melhor não.
Foi Nathan que me respondeu e revirei os olhos:
– Vai ficar com raiva de mim? – perguntei colocando meus joelhos
sobre minha própria cadeira.
Jay levantou-se saindo pelo lado do Tom, parecendo incomodado com
a minha presença.
Ok... O que o mundo tem contra mim hoje?
– Não é do meu interesse a maneira que você trata o Tom. – ela
começou a falar tão séria que não parecia Lucy, lembrando-me o dia em que Jay a
traiu. Nathan a olhava, prestando atenção, porém sua namorada parecia mais
interessada na tela do celular – Só não venha usar comigo o seu jeito imbecil.
Então, faça o favor de me deixar a sós com o fato de me importar com o Nath ou
serei obrigada a tomar uma decisão qualquer para me ver longe de suas atitudes
impensadas.
Encarei Lu um pouco impressionada, assim como o namorado dela.
Para fugir da situação e não sair por baixo disse:
– Faça como quiser.
E me retirei da sala, deixando os dois para trás, decidida a não
dar o prazer da minha presença para nenhum dos três seres mais repugnantes do
dia de hoje.
O intervalo se arrastou devagar demais, pois não tinha nada de
interessante para fazer ou conversar. Sentei-me numa árvore qualquer e, ouvindo
música, me distraí, observando a vida chata dos outros ‘coleguinhas’ de escola.
Tom conversava com garotos que frequentavam pistas de skate,
entretido demais para notar que estava sozinha e louca para que ele se sentasse
ao meu lado, apenas para falar alguma besteira que eu achava engraçado, mas me
segurava para não rir em sua frente, só para não lhe dar o prazer de ver meus
dentes.
Retornei para a classe feliz porque a aula começaria e eu poderia
prestar atenção em algo, além da minha consciência, que inventou de perturbar
minha paz.
Consegui entender tudo do assunto, mesmo com preguiça de fazer
anotações e passei metade do tempo de cabeça baixa, ouvindo cada palavra do
professor, mas achando muito mais interessante descansar as pálpebras.
“Tom Parker e Vicky Foster nunca foram um casal perfeito... E,
para completar, a garota não é das mais santas. Perder a virgindade com o amigo
do namorado? Nathan Sykes não perde tempo! Quem diria? Acho melhor começarmos a
prestar atenção em quais são as verdadeiras putas do colégio... As que se
fingem de duronas, assim como as santas, são as piores!
Ah, Foster, você sabe quem eu sou e... Você pediu por isso.”
Beijinhos!
11:10h.
Fui pega de surpresa com o som de que havia um novo e-mail em
minha caixa de entrada. Li aquilo impressionada com cada palavra que havia
falando sobre mim e maquinando em minha cabeça quem teria dito isso.
Olhei ao redor da sala de aula, algumas poucas pessoas que não
foram ao banheiro, ou levar um vento, qualquer coisa do tipo, me observavam,
questionando o e-mail.
Cochichos começaram e alguém riu sarcasticamente atrás de mim.
Quando me virei, deparei-me com Lucy sentada sobre a banca vazia de Nathan,
encarando o celular, dizendo:
– Não basta se ferrar só... Tem que levar os outros juntos. – a
garota se levantou e, passando por mim, completou – Ok que o Nath está
participando da fofoca, mas... – nos seus lábios formou-se um sorriso divertido
– Tenho certeza que você vai ser obrigada a pedir desculpas a alguém.
Não entendi o que ela disse e, muito antes de perguntar algo, saiu
de nariz empinado, fazendo-me respirar por não ouvir mais a sua voz em tom de
quem repreende seriamente, sabendo mais das coisas do que eu.
Pensei que teria uma amiga para me ajudar a entender aquela
mensagem, que parece ter sido enviada para muitas pessoas do colégio, já que um
acúmulo de gente começou a surgir na sala, encarando-me divertidamente.
Uma vergonha me dominou e odiei-me por ter falado sobre a transa
da Lucy com o Jay, como se aquilo fosse um assunto fácil demais para se
comentar, mas a odiei por não ter ficado do meu lado em um momento como esses
que eu não via ninguém conhecido que pudesse me dar um apoio moral.
Meu coração de repente disparou de medo e me senti frágil. Minha
consciência dizia que era para deixar de me importar com os olhos malvados dos
outros, mas a minha parte humana insistiu em me fazer incomodada por ser o
centro das atenções pelo resto das aulas dentro daquele inferno!
* * *
– NÃO BASTA TER ME ESCONDIDO QUE PERDEU A VIRGINDADE COM O NATHAN,
AINDA TEM QUE DEIXAR ESSA HISTÓRIA SE ESPALHAR?
Tom gritou, jogando a bolsa do colégio em cima do sofá.
Nem mesmo me importei em estar chorando. Não que aquilo me
agradasse, mas eu estava me assustado com a proporção maléfica que o dia estava
tomando:
– EU NÃO DEIXEI A HISTÓRIA ESPALHAR! – gritei de volta, com a voz
descontrolada.
Vi-o tirar a gravata com raiva e jogá-la em qualquer lugar do
chão. Soltei minha bolsa perto da escada e por alguns segundos desejei minha
cama para me deitar e pensar...
– NÃO ME IMPORTA SE VOCÊ DEIXOU ESPALHAR OU NÃO! ACONTECE QUE
AGORA EU SOU O MAIS NOVO CORNO DO COLÉGIO! – ele disse e seu tom fez o meu
cérebro latejar.
Fechei os olhos com força, controlando todas as sensações que
percorriam meu corpo.
– Mas eu não te traí! – falei baixo e Tom pareceu se assustar pelo
fato de não ter ouvido minha voz alta, replicando-o – Eu era namorada do
Nathan!
– E você acha mesmo que as pessoas do colégio vão se importar com
isso? – ele disse chegando perto de mim, e, por um segundo vi seus olhos muito
vermelhos sentirem raiva.
– Por que você se importa com o que os outros estão pensando? –
falei aproximando-me também, passei meus braços ao redor de seus ombros, as
lágrimas já não saiam dos meus olhos, estava mais preocupada em reverter a
situação.
– Porque quando se trata de você eu tenho que me importar com
muitas coisas.
E pela segunda vez Tom me afastou.
Sem reação, por sempre conseguir controlar nossas brigas, fiquei
parada vendo-o recolher suas coisas e colocar o pé no primeiro degrau da
escada:
– Não quero namorar alguém como você Vicky, que não está a mínima
para os sentimentos dos outros e não liga com o fato de uma fofoca ter sido
espalhada e o próprio namorado ter sido atingido. – sua voz foi tão explicativa
e tranquila que quis batê-lo por estar fazendo de suas palavras as últimas –
Então não vou namorar mais com você e espero que entenda meus motivos.
– Entender? – falei revoltada.
Tom subiu as escadas e fui correndo atrás dele, mas muito antes de
qualquer coisa ele já estava trancado no quarto, ignorando-me novamente.
Passei o resto da tarde em minha cama pensando em minha vida e no
que tinha feito. Poderia simplesmente estar tomando sorvete, no shopping, com
meus amigos e namorado, agora ex, mas os céus decidiram acordar virados na
macumba comigo, fazendo meu dia ser realmente chato, desprezível e não reciclável.
Depois de cansar, por ter passado muito tempo xingando meu próprio
tédio, cheguei a conclusão que deveria começar a pensar e, uma hora, depois eu
já estava revoltada, enfiada em um táxi, indo para a casa da até então
‘impossível melhor amiga’.
Como ela teve coragem?
Bati na porta de trás do carro, com raiva, e o taxista me olhou de
lado, achando que tinha pego uma doida.
Cruzei os braços e listei em minha cabeça todo o processo por ter
me levado a chegar ali, naquele automóvel, preparada para uma boa briga:
1 – Eu e Lucy brigamos
2 – Ela está puta comigo
3 - Agora estou puta com ela
4 – Ridículo demais a gente ter brigado pelo Nathan
5 – Mais ridículo ainda ela ter espalhado o boato sobre o próprio
namorado e a melhor amiga apenas para sair por cima!
Compreenderam o que quis dizer?
Foi a Lucy que mandou aquele e-mail para todo mundo no colégio!
Não estou ficando louca!
Ela que ficou!
Falta de consideração comigo e com os outros. Não éramos melhores
amigas?
E agora ela me vem com uma dessas.
Grunhi pensando nesse azar e no que tão ruim eu tinha feito para
ela. Lembrei-me de suas ameaças para que eu ficasse longe e do seu tom
sarcástico. Ninguém, além dela, do Nathan, Max e do Tom sabiam com quem eu
havia perdido a virgindade.
Tom, por mais imbecil que seja, não prejudicaria a si mesmo.
Nathan é tapado demais para fazer isso. Max está do outro lado do oceano. Já
Lucy... Não que ela tenha uma mente vingativa, mas dos três, era a mais
brilhante.
– COMO VOCÊ PÔDE?
Gritei assim que ela abriu a porta.
Entrei na casa sem nem mesmo ser convidada e, pelo horário,
percebi que estava sozinha. Sua mãe não me pararia se eu quisesse bater na sua
cabeça para que sua consciência voltasse.
– Como eu pude o quê? – ela perguntou curiosa – Só não digo para
você sentar porque não era para você ter entrado. – então Lucy sorriu daquele
jeito que me fez chegar a seguinte conclusão...
– FOI VOCÊ NÃO FOI? FOI VOCÊ QUE ESPALHOU, QUE MANDOU OS E-MAILS!
– comecei a gritar descontroladamente, pouco me importando com o fato de estar
fazendo isso na casa dos outros. Voltei-me para minha amiga, ou nem tão amiga,
que estava sentada tranquilamente no sofá. A imagem do tédio fez com que eu me
irritasse mais ainda – POR QUE VOCÊ FEZ ISSO? O QUE EU TE FIZ? SIMPLESMENTE NÃO
DAVA PARA VOCÊ IGNORAR O FATO DE EU NÃO PENSAR NO QUE DIGO?
– Como nesse exato momento? – Lucy disse e revirei os olhos.
– DEIXA DE FINGIR QUE NÃO SABE DE NADA! – me aproximei dela, seu
rosto me encarou preparada para qualquer coisa, sem medo – VOCÊ PASSOU O DIA
INTEIRO NO CELULAR! NÃO FOI O TOM, NÃO FOI O NATHAN... FOI A MINHA MELHOR
AMIGA! A PESSOA QUE É IMPORTANTE PARA MIM! – descansei minha garganta e abaixei
meu tom de voz, mas não muito – E agora graças a você o Tom terminou comigo.
– Pelos seus próprios erros. – ela encostou-se preguiçosamente,
cruzando os braços, como se cada palavra minha fosse óbvia, quando no fundo eu
estava mostrando todas as suposições de seu crime.
– DA PRA GRITAR COMIGO? REVIDAR? DIZER ALGO QUE PRESTE?
– Claro... – ela sorriu e afastando meu corpo se levantou,
começando a falar calmo, como se todo meu grito não tivesse interferido no seu
humor – Pense o que quiser de mim, é seu direito. – observei-a abrir a porta –
Agora saia da minha casa, não se esqueça que foi aqui que eu te acolhi quando precisou.
Desrespeite-me, mas o lugar onde eu moro não.
Olhei-a incrédula pela sua reação. Passei por Lucy batendo os pés
e não foi minha intenção ser desrespeitosa, foi apenas instinto eu ter entrado
ali para falar, ou gritar com ela. Poderia ter feito isso no shopping, na praça
de alimentação, num parquinho...
– Te odeio! – gritei de costas para Lucy.
– As pessoas que você odeia são as que mais te amam, Vicky.
E antes mesmo de poder terminar de passar na fachada de sua casa,
ouvi sua porta bater com força.
O que ela fez dali para frente não me interessa, mas eu me sentei
no primeiro gramado molhado que vi e chorei por ter brigado mais uma vez com
Lucy.
Eu tinha perdido amiga, namorado e até então não sabia o motivo
correto para isso.
Eles se magoaram comigo, mas o que eu fiz enfim?
Poderiam simplesmente me dizer?
Não sou tão incompreensível assim, ou talvez seja... Mas ainda
acho que tudo poderia ter sido diferente:
– Você tem que pedir desculpas!
Fui para casa, assim que me recuperei do que tinha acontecido, e
liguei para a única pessoa que não poderia me odiar pelo resto desse dia:
– Por que eu tenho que pedir desculpas, Max? O que eu fiz de
errado?
– Tudo!
Contei-lhe toda a história. Ele ouviu pacientemente, inclusive
meus comentários sobre o quanto os dois eram malucos e, depois de alguns
segundos em silêncio, cheguei a ouvir que estava errada.
– Dá para me explicar? Até agora não sei o que fiz para deixá-los
assim! Eu só fiz o que sempre faço.
– Problema foi que dessa vez você pegou no ponto fraco da Lucy e
do Tom. – Max suspirou no telefone e acariciei meu cachorrinho de pelúcia que
estava jogado preguiçosamente sobre minha barriga. Olhava para o teto
concentrada, preparada para a aula de sentimentalismo que aquele ser me daria –
O ponto fraco de Lucy?
– Nathan.
– O ponto fraco de Tom?
– Eu? – falei em dúvida.
– Exatamente. E qual foram os motivos das brigas?
– Eu ter comentado com a Lu que perdi a virgindade com o Nathan e
eu ter escondido isso de Tom.
– O de Lucy está correto, o de Tom tem uma coisa a mais. Você
passou esse tempo em que estavam juntos tentado o garoto entre transar ou não
para no final nem ser virgem! Dá para entendê-lo agora?
– Talvez... – falei confusa.
– Além da namorada dele já ter ido para cama com outro cara, que,
aliás, é um amigo, ela ainda omitiu isso. Para Tom você fez de propósito, só
para rir dele.
– Mas eu não ri por causa da transa, eu ri porque era engraçado
torturá-lo!
– E agora você vê as consequências disso...
– E a Lu?
– O que tem ela?
– Por que brigar comigo por causa do Nathan? Ela não sabe que
nunca gostei dele?
– Você usou as palavras erradas na hora em que ela estava nervosa
pelo assunto que estava sendo discutido na conversa. Ao invés de dizer que,
independente do que tiveram, Nathan gosta dela e, agora é seu namorado, você
preferiu humilhar o garoto, mas insistir na tecla de que foi Vicky e não Lucy
que perdeu a virgindade com o ele. Sem falar na parte do Jay...
– Ah! Na parte do Jay eu sei que peguei pesado... Mas a do Nathan
ainda é incompreensível.
– Para você que tem coração fechado. – Max falou impaciente, mas
tranquilo – Já imaginou se a Lucy já tivesse namorado o Tom? Se ela tivesse
perdido a virgindade com ele? Como você se sentiria?
– Com muito ódio!
– E se ela ficasse falando isso para você?
– Iria batê-la!
– Então agradeça por ela não pensar como você.
– Mas por que Lucy me ouviu calada quando eu a acusei? Alguém que
é inocente deveria se defender!
– Acho que ela não queria brigar, pelo que você falou... Qualquer
coisa que Lu dissesse não iria te fazer mudar de opinião.
– Ah, agora não sei mais se foi ela...
– Não foi!
– Por que tanta certeza?
– A vingativa do grupo é você! O que ela ganharia colocando o
Nathan no boato? Mesmo que na mente dela você merecesse um castigo, acho que Lu
não ganharia muita coisa em troca fazendo isso. – Max ficou alguns segundos
calado, permitindo-me pensar – Por isso você deve pedir desculpas,
principalmente para ela.
– E por que ela não faz isso?
– Porque se você for ela irá aceitar e pedir desculpas de volta,
mas se Lucy tomar a iniciativa, provavelmente seu orgulho te fará negar a
rendição dela.
– Isso é muito complexo!
– Eu sei.
– E o Tom?
– Dê um tempo... Deixe-o esfriar a cabeça e converse com calma,
vocês sempre se entendem. Então tranquilize.
– Ah, tudo bem... Agora que você me explicou essas coisas
ridículas dos outros... – Max pigarreou como reprovação e revirei os olhos –
Vou dormir que tenho aula. E obrigada pela ajuda.
– Por nada. E se não conseguir dormir só é entrar na internet,
estarei on.
– Não tem aula amanhã? – perguntei curiosa.
– Tenho, mas aí em Londres é mais tarde do que aqui em NY.
– Ah, é mesmo! Tinha me esquecido. – lembrei-me de um assunto e
sorri pensativa – Você ainda está devendo uma explicação sobre a Katy!
– Eu dei ela para Lu ontem! Como vocês brigaram acho que não deu
tempo dela te contar.
– É, creio que não... Enfim, vou dormir. Boa noite e até outro
dia.
– Tcha...
Desliguei antes de ouvi-lo se despedir. Suspirei um pouco mais
tranquila, mas ainda assim incomodada pelo dia ter sido tão perdedor.
Deitei-me de lado e peguei no sono rapidamente, sonhando sobre o
que deveria fazer.
* * *
Ponto de Vista: Jay
Três dias se passaram desde que soube a confusão que estava
acontecendo entre o grupo de amigos felizes.
Tirando a Lucy, posso dizer que até ri da desgraça dos outros.
Sempre sou o excluído e agora existia mais uma na lista: Victoria Foster.
– Parabéns, Lucy.
Deixei que minha voz chegasse a seus ouvidos, em um tom baixo.
Percebi o seu corpo se assustar e relaxar logo em seguida.
– Obrigada.
Ela respondeu virando-se para mim com um leve sorriso e voltando a
sua atenção para o material escolar, que havia em cima da carteira, antes
preenchida pelo George.
Coloquei a bolsa em meu lugar e observando a cadeira vazia, pensei
se deveria entregar aquilo que estava guardado no bolso da minha calça.
Seu celular tocou e meus olhos se voltaram para ela.
– Oi, Nath!
Sua boca permitiu que eu visse seus dentes em uma risada feliz.
Senti repugnância pelo cara com quem ela conversava.
Disfarcei ainda de pé, mexendo no celular, como se estivesse
fazendo algo importante.
– Ah, eu pensava que você já ia estar aqui quando chegasse! – Lu
falava olhando para a janela, algumas mesas a nossa frente – Tudo bem! Eu vou
esperar, até porque estou trancada no colégio! – ela riu e segurei para não
fazer o mesmo, graças ao comentário bobo – Ok, tchau! Beijo.
– Você sabe do Tom? – Lucy perguntou, fazendo-me despertar sobre o
presente guardado.
– Disse que estava na pista de skate, logo chegaria. – comentei
sem jeito por outras pessoas estarem sendo nosso assunto, como se estivéssemos
nos conhecendo agora – Trouxe algo para você. – falei, finalmente decidido a
entregar, mesmo que recusasse.
– Não precisava. – ela falou sincera e séria, encarando-me.
– Uma vez você me disse que presentes não se recusam... – retirei
a pequena caixa vermelha que estava no bolso, estendi minha mão e Lucy observou
em dúvida, cerrando os olhos, até que finalmente pegou – Não sei se você se
lembra, mas vou refrescar sua memória – me sentei na mesa que era da sua
ex-amiga e olhando-a com um sorriso quase imperceptível no canto da boca,
comecei a falar – Estávamos no shopping, voltando do cinema, passamos em frente
a uma joalheria, você viu essa pequena maçã – apontei para a corrente dourada
com um pingente da fruta – e você se apaixonou por ela, mas disse que já havia
gastado todo o limite do cartão.
– Como sempre... – Lucy comentou bem humorada, entretida com a
história.
– Então eu disse que daria, mas o presente foi recusado e com os
olhos brilhando comentou que...
– Seria um ótimo presente para me dar de aniversário... – ela
completou pensativa, sua expressão tornou-se meiga, porém receosa – Obrigada e
aceito que você me deu, mas não prometo usá-lo. – Lu guardou o colar na pequena
caixa – Não é correto.
– Tudo bem. – respondi sério, na verdade não estava tudo bem, mas
eu não iria dizer isso – Apenas guarde-o.
– É o que farei.
E colocando-o dentro da bolsa, Lucy saiu da sala, me deixando
sozinho com seu cheiro e alguns seres insignificantes.
Sentei-me na cadeira e comecei a organizar todas as fichas de aula
que o professor de química havia me dado, como ‘assistente’.
Sempre é bom bajular gente assim, no final do ano você pode
precisar de alguns pontos...
– E aê! – Tom chegou dando uma tapa em meu ombro e sentando do meu
lado – Já deu parabéns a Lucy?
– Óbvio. – respondi apertando a sua mão como cumprimento e
voltando a atenção para o que fazia antes.
Não gosto de conversa quando me atrapalham no meio de algum
objetivo. Nesse caso, terminar tudo antes da aula começar.
– A Victoria tava esquisita. Acho que é porque será o primeiro
aniversário desde que as duas se conheceram que vão passar sem trocar palavras.
– E onde ela está? – falei sem tirar os olhos dos papeis. achando
chato o assunto, perguntei apenas porque percebi que ninguém havia se sentado
do meu outro lado.
– Não a trouxe.
– Como? – perguntei um pouco incrédulo – Desde quando?
– Desde que terminei com ela deixei de ser seu motorista. Está
vindo de táxi todo dia. – Tom sorriu feliz, balancei a cabeça, vendo o quanto
isso era ridículo.
– Agora... – joguei umas folhas na sua frente – Vamos deixar de
conversa besta e me ajude nesse trabalho.
Ele me olhou com tédio e disse:
– Tenho que ir ao banheiro, foi mal!
E saiu antes mesmo de ver meu sorriso satisfeito por ele ter me
deixado em meu silêncio.
A Foster chegou antes do ex-namorado e da ex-amiga retornarem para
seus lugares. Esses só vieram aparecer novamente, juntos, após o toque e, até
então, o ser mais desprezível em que eu era obrigado a conviver não havia dado
as caras. Ótimo, torcia para que ele decepcionasse a Lucy, nesse dia
supostamente importante, para que se tornasse fácil algum contato com ela, como
consolos, enfim...
– Com licença professor! – mal pensei nele e a minha mente o
atraiu. Metade do seu corpo surgiu entre as duas portas, e o outro ficou de
fora, segurando algo – Posso entrar?
– Claro, senhor Sykes.
E colocando-se todo para fora, um urso de pelúcia branco e grande,
muito grande, entrou na sala primeiro que ele. Lucy, atrás de mim, deu um grito
agudo que me fez perceber o quanto o colar com a maçã havia sido inútil para
uma garota que metade do tempo gosta de coisas infantis.
Sykes veio satisfeito com o urso logo a sua frente, tropeçando em
algumas carteiras. Lucy saiu correndo como um vulto e não deixei de perceber
que a Foster ria, achando divertida aquela cena.
Revirei os olhos.
O professor observava tudo tranquilamente, permitindo a
interrupção como se tivesse percebido o que acontecia. Sykes e Lucy deram um
selinho, como sempre faziam, sem se importar com os outros, digo comigo, e
apenas para aquela coisa sem graça se estender por mais alguns pedaços da aula,
começaram a cantar parabéns, que se não fosse pela cotovelada que levei do Tom,
não teria acompanhado.
O urso ficou com o nome de George, comentário feito pela própria
Lucy, que o colocou na cadeira vazia ao seu lado.
Depois dessa fingi que prestava atenção na aula, copiando tudo e
odiando a todos, quebrando mil vezes a ponta do grafite e finalmente
desistindo, pedindo para ir ao banheiro e passando o resto da aula comendo
frutas secas em uma árvore qualquer dos jardins, apenas para me acalmar.
Quando o intervalo veio, eu já estava muito mais aliviado de ter
parado de respirar felicidade, voltando a normalidade do tédio.
Pessoas saiam para o ar livre e Victoria foi a primeira a surgir
dos quatro, sozinha, com fones de ouvido, sentando-se em uma árvore qualquer
muito distante de mim.
Segundos depois veio Tom, Sykes, conversando distraidamente, e
Lucy, ao lado do namorado, falando animada no celular, provavelmente
agradecendo alguma ligação de aniversário.
Sentaram-se em um banco perto das paredes do colégio, embaixo de
uma janela alta e sem vidros, em que ao redor tinha algumas moitas de flores
brancas e meio mortas.
Agradeci mentalmente o fato de o urso ter ficado na sala, não é
agradável nem o nome e nem a pessoa que o comprou, então até o momento era o
objeto que mais poderia me causar náuseas.
– Você não se cansa de fazer isso?
Poderia ter me assustado com a voz chata que surgiu em meus
ouvidos, mas simplesmente encostei minha cabeça na árvore, com preguiça de
perder meu tempo olhando para certa pessoa:
– Prefiro quando não trocamos palavras, Linus.
Falei sério, demonstrando meu desprezo pela sua presença.
– Então finja que não estou aqui. Apenas escute minha voz.
– Também preferia não ouvi-la.
– Ora McGuiness, não há nada melhor para fazer agora e tenho algo
do seu interesse para falar. – sua voz era de barganha e imaginei se ela me
ofereceria seu corpo.
– Não estou interessado.
Respondi imediatamente, seguindo a linha de raciocínio e chegando
a conclusão que no mínimo ela já teve doenças sexualmente transmissíveis.
– Nem mesmo sabe o que quero falar.
– Ainda bem, aposto que não é da minha conta o que diz respeito a
sua vida.
– E se disser respeito a vida da Mason? – ouvi uma risada esperta
e revirei os olhos, só então voltando de leve minha cabeça para trás e
percebendo que ela estava sentada do outro lado árvore.
Dependendo do ângulo que as pessoas passavam, poderiam pensar que
havia apenas uma pessoa naquele local.
– O que você tem a falar sobre a Lucy? – perguntei, desconfiando
do assunto. Era óbvio que as duas não se gostavam, mas era muito mais pelos
problemas com a Victoria, do que pelo mau relacionamento de uma para a outra.
– Eu não tenho nada para falar sobre ela, já você...
– O que quer dizer com isso? – falei um pouco mais alto do que
queria, um garoto do primeiro ano passou, pensando que eu estava falando
sozinho – Não me agrada o fato de você se meter na vida dela.
– É algo útil para nós dois, não se preocupe. – ouvi-a suspirar e
aos poucos a situação se tornou tensa pela minha curiosidade e pelo o que eu
tinha a ver com isso – Foster e Mason estão brigadas, isso você já deve saber,
assim como a questão de que Tom está solteiro. Resumindo: Foster está só, por
mérito meu, claro.
– Então foi você? – não deixei de rir, após prestar atenção no que
ela disse.
Foi um ato completamente infantil, mas com bons resultados,
assumo.
– Sim. Avise para a sua queridinha que deve tomar cuidado com o
que fala no banheiro. Sexo não é algo bonito de se discutir, principalmente
quando tem alguém escondida em algum box. – Linus se calou por alguns segundos
– Embora tudo tenha começado pela Foster, mas isso não vem ao caso. Para
completar meu plano...
– Eu não vou ajudar. – respondi prontamente. Não existia nada
naquele plano ridículo que me fizesse concordar.
– Mesmo? – ela riu novamente daquele jeito enjoativo – Foster
disse que você transou com a Mason. Poderia me passar detalhes, só isso e o
resto pode deixar que resolvo.
– Por que eu contaria algo? Isso só diz respeito a mim e a ela. –
qualquer coisa a mais que eu contasse poderia me afastar de vez da Lucy não
queria correr esse risco, mas até então eu não havia compreendido a ligação
disso com a história – Qual o seu problema com a Lucy?
– Nenhum. – Linus disse com descaso – Não gosto dela, isso está
claro, mas meu problema é com a amiga, ou ex. – ouvi seu sorriso divertido e
franzi a testa, como se estivesse conversando com uma psicopata – Soube que a
Foster achou que foi a Mason que espalhou o boato da transa dela com o Sykes?
– Sim, soube.
– Pois bem, e se essa história se repetir?
Finalmente concluí o que ela queria comigo.
– Você quer que eu conte algo para que Lucy ache que foi a Victoria?
– voltei-me novamente para ela, percebi seus olhos pousados no meu, como se
fosse necessário, naquele momento de negócios, uma troca de... Sinceridade?
Não. – O que ganho com isso?
– Mason. – ela respondeu voltando a sua posição normal, assim como
eu.
– Lucy? Ah, claro! – falei irônico.
– Eu te admiro por ser esperto, mas hoje você esta um caso sério.
– ouvi sua voz de repreensão e fechei os olhos impaciente com aquilo.
Poderia ser um simples intervalo chato como os outros, mas não...
– Não preciso da sua admiração, obrigado. Tenho quem faça isso. –
falei enfim, saindo por cima daquela garota oferecida e desprezível.
– Mas precisa da minha ajuda para terminar o namoro do Sykes e da
Mason. Conte-me detalhes da transa e quando o boato for espalhado o Sykes
ficará muito puto com a namorada, vem o fim do relacionamento e entra você em
cena. Não acha o suficiente para seu ego?
Refleti sobre o assunto que, de uma hora para outra, pareceu
interessante.
Imaginei o quanto seria feliz o Sykes terminando o namoro e, mesmo
que Lucy ficasse triste, eu estaria lá para suprir todas as suas necessidades,
e ela as minhas... Tenho mais que competência para isso.
– Lucy perdeu a virgindade comigo. – falei após a breve reflexão.
– Isso é obvio. – ela falou impaciente.
– Se você ficar calada, minha paciência agradece, minha cabeça tem
limites para aturar sua voz chata, então não me interrompa. – retruquei
rispidamente, sendo sincero em cada palavra que saía da minha boca. –
Continuando... – respirei concentrado – Isso aconteceu quando já estávamos
separados, dias antes da Lucy se envolver com o Sykes.
– Que safada! – ela disse num sussurro forte e pigarreei como
repreensão – Acho que já é o suficiente, o resto eu manifesto por e-mail.
– Se você exagerar em algo, vai se ver comigo. – fiz questão de
dizer desafiadoramente.
– Não se preocupe! Esqueceu-se que quero atingir a Foster e não a
Mason? – ouvi uma movimentação deduzindo que ela se levantava. – Até mais
McGuiness.
– Até nunca.
Respondi para mim mesmo.
* * *
Ponto de Vista: Lucy
– Não consigo me lembrar todas as cores do arco-íris, Nath. –
resmunguei de repente – Vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, violeta e
falta uma!
– Anil! – ele respondeu rapidamente.
– É ESSA MESMO! – falei exageradamente, enquanto ele ria.
Passei maior parte do tempo em que estávamos no parque, perto de
minha casa, observando o lago e os patos, pensando nisso.
Ainda era meu aniversário e qualquer coisa para me distrair
parecia útil.
Estávamos sentados confortavelmente na grama, agora quente. O
clima estava agradável e o dia parecia lindo, traindo as coisas que vieram
acontecendo.
Meu corpo estava encostado no Nath, que me encaixou entre suas
pernas, uma estirada e a outra flexionada, seus braços em minha cintura. Fomos
para lá depois de um almoço que tivemos com minha mãe.
– Como você se lembrou de anil? Não é uma cor comum... – falei
pensativa, uma coisa é Nath se lembrar de amarelo, outra é ele se lembrar de
anil!
– É sabor de jujuba, Lucy! – ele falou como se fosse óbvio.
Observei uma de suas mãos movimentarem-se a minha frente – Ela é azul, mas
dizem que é anil. – a última cor ele falou fazendo voz retardada, causando-me
uma leve risada.
– Ah, é a que tem gosto ruim! – comentei, finalmente lembrando-me
da que ele se referia.
– Sim! A que no fundo tem gosto de menta.
– Deus! Isso é complexo. Vejamos: anil, é a cor que tem no
arco-íris, que é sabor de jujuba, que na verdade é azul com gosto de menta!
– Será que existe faculdade para análise de doces? – ele disse com
voz pensativa e comecei a imaginar o Willy Wonka. – Seria interessante...
Perdi-me alguns segundos pensando o quanto fazer uma faculdade
comendo jujubas, pirulito, chiclete, entre outras coisas, todos os dias, seria
divertido.
– A Vicky te deu parabéns?
– Como? – perguntei despertando do transe feliz. – Ah, não...
Compreensível.
– Não quer falar sobre isso, não é?
– Não. – respondi ficando calada, recebendo em seguida um beijo no
topo da minha cabeça, que me fez relaxar novamente.
Está sendo difícil viver longe dela, mas por enquanto é
necessário. Nunca pensei que em meu aniversário pudesse estar tão fingida de
felicidade, pois por mais que os outros se esforcem para me deixar bem, eu me
sinto mal, e poderia ir atrás dela pedir desculpas, mesmo sabendo que não
adiantaria.
Os garotos vieram me ajudando nesse tempo e agradeci o fato de Max
estar mantendo contato com a Vicky, para não deixá-la tão só.
Tom, tão afetado quanto eu, finge que está tudo ok, mas vez ou
outra se abre comigo, comentando o quanto está péssimo por tudo, dizendo-me que
não vê a hora de deixar de ser um imbecil e ter coragem para uma conversa
sincera com a garota.
O Nath, por ser meu namorado, está na obrigação de me distrair
mais que tudo, coisa que ele tem feito perfeitamente bem, principalmente quando
está comigo e, ao ficarmos longe, me liga apenas para falar qualquer
inutilidade.
Já Max me aconselhou a dar um tempo para Vicky se situar. Mas eu
estava com medo que isso acontecesse e estava com medo também de sua próxima
atitude.
Ela me acusou de algo que não fiz e se ela prender a essa ideia,
não sei o que será de mim, pois é assustador imaginar o que se passa na mente
maligna da Vicky.
Meu celular tremeu no bolso interno do paletó. Peguei-o com certa
dificuldade, assim como Nath pegou o seu, que também dava sinal de vida:
“Mason, Mason, Mason... A garota com cara de santa que mais trocou
de garotos. Vamos contar? Jay McGuiness, Max George, Nathan Sykes. Será que ela
já gostou de algum de verdade? Posso dizer com toda a certeza que o mais
sortudo de todos foi o McGuiness, premiado com a virgindade da santa fingida. E
o mais divertido? Não foi quando eles namoravam... Cuidado quando for passar em
alguma porta, Sykes, talvez os seus chifres não lhe permitam uma boa locomoção.
Apenas para ficarmos no mesmo nível, Lucy!”
xx
Li a mensagem mais de uma vez.
Eu e Nath ficamos calados e aos poucos um sentimento de ira surgiu
em mim. A frase “Apenas para ficarmos no mesmo nível, Lucy” não saía do meu
cérebro e quando percebi estava gritando com o meu namorado:
– ME LEVA AGORA NA CASA DA VICKY!
– Eu não vou fazer isso! – ele falava vindo atrás de mim, meus
passos eram apressados e largos, não via a hora de chegar ao seu carro. Quando
finalmente cheguei, forcei a porta parecendo uma louca e Nath continuava a
falar – Não vou abrir isso. SE ACALMA, LUCY!
Ele gritou quando me viu dando as costas.
Eu já estava na rua e segundos depois parando um táxi. Deixei-o
para trás, sem me preocupar com o que ele ia pensar de mim, porque nesse exato
momento estava martelando o quanto terminar qualquer relacionamento com a Vicky
parecia atraente.
Não bastou esfregar na minha cara a transa com o Jay, ainda
espalhou isso apenas para se vingar de mim, para ficarmos no mesmo nível?
E o Max ainda disse que ela não faria nada...
Qual o propósito dela com isso? Eu era sua amiga, e ela pensava
coisas de mim, me dizia um monte de besteiras e agora me humilhava?
MEU DEUS!
E o Nath?
Será que ele vai ficar que nem o Tom e terminar comigo?
Com cada imagem ruim eu sentia lágrimas quentes caírem pelo meu
rosto. Soluçava e estava preferindo chorar antes de vê-la, pois eu queria ter
uma conversa séria, passando confiança, levantando uma bandeira branca para que
cada uma seguisse suas vidas sem interromper no que viria pela frente.
Meu celular tremeu mais uma vez e era Nath ligando. Não dei
atenção, ignorando a chamada, e um carro atrás do táxi buzinou.
Percebi que ele nos seguia.
Senti-me com medo, pois não bastava a conversa que eu teria com a
Vicky, mas logo, logo teria de me explicar para Nath e pedir desculpas pela
vergonha que o fiz passar, por causa de uma briga besta, que tomou proporções
doloridas.
– Onde ela está? – falei quando Tom abriu a porta. Seus olhos me
analisaram tristemente, provavelmente por ter recebido o mesmo e-mail.
– Não acha melhor voltar outra hora? – ele falou, me deixando do
lado de fora, causando-me certa impaciência.
– Acha mesmo que isso pode esperar? – falei impaciente, entrando
na casa.
Subi a escada rapidamente, Tom atrás de mim, falando qualquer
coisa para me convencer a não continuar:
– LUCY! – Nath gritou me fazendo lembrar que seu carro vinha logo
atrás do meu.
Segundos depois eu estava trancada no mesmo quarto que Victoria,
respirando o mesmo ar que ela e sem saber o que aconteceria.
Ouvi os dois chamarem meu nome mais algumas vezes, mas os olhos da
Vicky me encarando fizeram-me ignorar qualquer coisa lá fora.
– Pode me explicar isso? – falei retirando o celular do bolso do
paletó.
– Isso o quê? – ela perguntou duvidosamente falsa.
– Isso o quê? – repeti irônica e cheguei perto dela.
Vicky, sentada na cama, de pernas estiradas e encostada em grandes
travesseiros, lia um livro grosso e parecia distraída antes que meu corpo
aparecesse em seu quarto.
Joguei o celular em seu colo, ela pegou rapidamente, passando os
olhos pelo e-mail:
– O que tem aqui é tudo verdade, coisa que você já sabe, então não
tenho nada para explicar. – ela disse devolvendo o aparelho.
Encarei-a de péssimo humor, insatisfeita com seu ar falso de
fingir que não fez nada.
– E só porque é verdade acha certo sair dizendo isso para todos?
Até onde sei tal assunto só diz respeito a mim e ao Nath! – falei tentando
controlar meu tom de voz e a proposta de não chorar na sua frente parecia que
não ia dar muito certo. Minha garganta apertava, preparada para me deixar
dramática, mesmo que eu não quisesse – Você não sabe como me magoa com essas
coisas!
– Essas coisas? Eu não fiz nada! Do que você esta falando? – Vicky
sentou-se colocando os pés para o lado de fora da cama, tocando-os no chão.
Comecei a andar de um lado para o outro fugindo de seu rosto. – Não venha me
dizer que está pensando que fui eu que enviei esse e-mai...
– É EXATAMENTE O QUE ESTOU PENSANDO! – gritei parando rapidamente
com os pés firmes no plano – Se achou que eu tinha capacidade de te difamar, o
que será que devo imaginar de você?
– MAS NÃO FUI EU! – ela gritou de volta, parecendo desesperada,
revirei os olhos molhados.
– Não acredito! E só te peço uma coisa – falei apontando o dedo
indicador para qualquer coisa a minha frente – Fica longe da minha vida e já chega
de confusões! – minha voz saiu pausada, como se fosse difícil de compreender o
que estava sendo discutido.
– Ok, só não se arrependa depois do que está fazendo agora! – ela
falou jogando-se na cama e cruzando os braços.
Andei em direção a porta, aliviada por ter falado o que estava
preso em mim. Toquei na maçaneta e sem me virar para vê-la pela última vez,
disse:
– Vou me arrepender no dia em que você fizer o mesmo.
E saí do cômodo, passando por dois garotos curiosos. Só então
deixei minhas lágrimas preencherem meus olhos novamente. Dizendo aquelas
palavras me senti fraca, porque havia acabado de dispensar uma das pessoas que
mais amo em minha vida.
Eu e Vicky fizemos por onde nos afastarmos e me lembrei dos
momentos bons que tivemos juntas, desde os seis anos de idade em que ela era
uma garota birrenta, mas divertida com as pessoas que ia com a cara.
Tive sorte que ela gostasse de mim e tive sorte de ter passado
tanto tempo tendo sua amizade. Mas agora que acabou cheguei a imaginar que tudo
não havia passado de uma simples vida distante. Como se não fosse comum pensar
nessas coisas, não na situação em que me encontrava.
Distraí-me com cada parte da conversa que havia acontecido,
misturando com as outras coisas que passamos juntas nesse tempo, como a separação
dos meus pais e a morte do seu, como sermos idiotas e demorarmos a compreender
quem deveriam ser os nossos garotos.
Sorri triste e enxuguei meu rosto com a manga da roupa, parando na
rua. Uma mão tocou meu ombro e não me assustei, sabia quem era e eu tinha que
estar preparada se ele não me quisesse mais:
– Como você está? – sua voz rouca soou em meus ouvidos.
– Você me odeia?
Falei ignorando sua pergunta, era óbvio que eu não estava bem.
A mão de Nath desceu sobre a lateral do meu braço e fiquei olhando
para o asfalto, esperando o som de sua voz novamente:
– Nunca.
Mordi o lábio, pois senti uma vontade de gritar e cheguei a
conclusão que nunca odiaria Nath, só por ele me surpreender nos meus momentos
de medo.
Seus braços me envolverem e deixei minha cabeça ir aos poucos para
trás até descansar em seu corpo, meus olhos fecharam com meus cílios quentes e
úmidos.
– Era para você me odiar. – falei enfim e Nath sorriu, achei
imbecil ele fazer isso, pois foi muito sincero o que disse.
– Não vou te odiar por fazer as suas vontades. – olhei para o céu
muito azul, mas sem luz forte, prestando atenção no que ele dizia – Se o que
tinha no e-mail não fosse do meu conhecimento, provavelmente estaria brigando
com você agora, mais por tristeza do que por ódio.
Seus dedos apertaram minha mão e me senti protegida. Deixei de
ficar de costas, voltando-me para ele. Nath passou seu polegar em minha
bochecha, enxugando-a, e depois recebi um selinho seu, que me fez sorrir,
aliviada:
– Vou te levar para casa, você vai tomar um banho, descansar e
decidir o que quer fazer hoje à noite. – seus olhos analisavam cada parte do
meu rosto, meus dedos brincavam com seu cabelo – Até onde sei ainda é seu
aniversário. – sorri lembrando que era para eu estar feliz e meu sentimento era
o oposto – Então, quando você já tiver se distraído bem muito teremos uma
conversa. Nada de sério, mas precisará me ouvir com calma.
– Tudo bem. – respondi, minha curiosidade foi rapidamente
controlada pela preguiça que surgiu em mim de começar o diálogo naquele
momento.
Dessa vez não fiquei com medo de ser algo sobre o e-mail, pois ele
havia me passado segurança.
Andamos de mãos dadas, voltando o caminho até chegarmos ao seu
carro. Agradeci o fato de nem Tom nem Vicky estarem presentes, ao menos não
visivelmente, em sua residência.
Não demoramos muito, ao menos não que eu tenha notado, pois
segundos depois Nath já abria a porta para que eu saísse e pudesse entrar na
minha casa.
Ele me deixou, falando mais algumas coisas tranquilizantes, indo
embora em seguida. Só então parei para pensar o rumo desagradável que as coisas
haviam tomado.
O segundo e-mail enviado eu acreditava que tinha sido a Vicky, mas
e o primeiro?
Quem fez isso com ela?
Quem fez isso com nós duas?
Preferi pensar nesse assunto a remoer em minha cabeça que havíamos
deixado de ser amigas.
* * *
CAPÍTULO 42
TUDO VOLTA AO NORMAL
Ponto de Vista: Nathan
Parece que todos estão cegos com essas histórias.
Ninguém ainda parou para pensar em tudo em sua ordem correta, só
eu. Não que eu goste de perder meu tempo fazendo isso, mas já que ninguém faz,
sobra para mim.
Agora Lu e Vicky estão sem se falar supostamente de vez. O Tom
está solteiro e só quero ver como vai ser a recepção das pessoas do colégio
quando olharem para minha cara, sabendo que Lucy perdeu a virgindade com o Jay
A sensação que tive quando soube sobre esse assunto retornou, mas
ainda assim não senti nenhum pingo se quer de sentimento diferente pela minha
namorada. Por mim, tudo o que aconteceu antes não faz parte das nossas vidas de
agora, independente dos outros e, na minha sincera opinião, o Tom deveria
considerar isso, pois terminar com a Vicky pelo que tivemos é completamente sem
sentido.
Todo mundo sabe que aquele namoro foi uma ilusão, ponto.
– Já decidiu o que vai querer fazer?
Perguntei entrando no quarto de Lucy.
Fui à sua casa, como prometido, esperando suas ‘ordens’ sobre o
que faríamos da noite. Vi-a séria, mas não triste e enquanto eu me sentava em
sua poltrona, Lu jogou-se na cama, deixando sua cabeça sair da mesma, permitindo
seus cabelos tocarem o chão. Ela encarava o teto e os seus seios estavam
salientes no decote do vestido de festa. Senti um desconforto entre as pernas.
– Quero ir para uma balada, dançar até gastar a sola do all star,
depois voltar para casa, transar com você na cama da minha mãe só porque perigo
excita, sentir-me sem ar de tanto sexo e pegar no sono para poder me acordar no
outro dia, na minha cama, pois você vai me carregar no braço, de bom namorado
que é. E assim ignorarei o resto do mundo e da vida bandida, porque transa e
música podem salvar a alma de problemas. Não acha? – Lucy virou-se, encostando
a barriga na cama e pousando o queixo na mão, com seu cotovelo apoiado no
colchão.
Distraí-me com seu corpo e tentei pensar no que ela tinha dito, só
então rindo da parte sobre sexo:
– Por mim é uma maravilha! Agora vamos que quero que a parte da
cama da sua mãe chegue logo!
Ela riu, chegando na porta primeiro que eu ,deixando-me aliviado
por vê-la de costas e não de frente.
O resto seguiu-se como o seu plano inicial e a melhor parte nem
preciso entrar em detalhes, ou preciso?
* * *
– Nath, essa é a minha escova!
Lucy reclamou assim que entrei no banheiro para começar a escovar
os dentes.
– Eita, como azul parece com vermelho às sete da manhã. – falei fazendo-a
sorrir, enquanto saía molhada do box.
– E não derrube creme dental na pia! Quando seca dá trabalho de
limpar!
– Ok, mamãe! – imitei a voz de uma criança, Lucy bateu em minha
bunda ao passar por mim – Ai, sua tarada!
– Você disse ontem que tinha algo para conversar comigo. – ela
gritou de dentro do quarto, provavelmente trocando de roupa.
Olhei-me no espelho com a boca cheia de espuma branca e ardente,
franzi a testa para só depois me lembrar.
Limpei os dentes com água e disse:
– Me esqueci disso!
Lucy apareceu no portal do banheiro, sorrindo:
– Por que será?
– Você se acordou um caso sério. – disse em tom de repreensão, com
as mãos na cintura – Vem cá, quer transar antes de ir?
– É... Não!
E sumiu:
– Você provoca e some?
– Claro! – Lucy ficou alguns segundos calada. Esperei que
continuasse – Para ser sincera... Até faria, mas estamos atrasados, ainda temos
que tomar café e tem a conversa. Sou curiosa, então preciso saber do assunto
urgente!
– Tá! Tá! – disse emburrado e olhando para o chuveiro, pensando em
água e batendo uma preguiça – Tenho mesmo que tomar banho?
– Óbvio, Nath!
Ouvi isso com um tom tão autoritário e cansado de escutar essa
minha pergunta repetitiva que nem mesmo fiz questão de abrir a boca de novo.
Corri para debaixo do chuveiro sentindo a água quente, tomando banho com
pulinhos e, depois de ver meu corpo limpo, finalmente saí daquela tortura de
todos os dias de manhã cedo.
Tomamos café com a sua mãe, que não desconfiou de nada, pois fiz
questão de arrumar tudo após levar a Lucy para o quarto, de três horas da
manhã, e conseguimos enrolá-la, fingindo que não fizemos nada de polêmico.
Finalmente fomos para o colégio. Lu, muito pensativa, olhando pela
janela, me fez preferir deixá-la quieta, já que desde ontem fui responsável por
fazê-la sorrir, era justo minha voz dar uma descanso em sua cabeça.
As sete e quarenta já entrávamos pelos jardins movimentados. Na
escada ,para entrarmos no grande prédio velho, segurei o braço de Lu,
impedindo-a de seguir distraída em minha frente:
– Que foi? – ela falou, voltando-se para mim.
– A conversa.
– Ah, é mesmo! – Lucy sorriu descendo um degrau e ficando no mesmo
que eu.
Encostei-a no corrimão de concreto antigo, acariciando seu rosto:
– Já percebeu o quanto isso é louco?
– Isso o quê? – ela disse fazendo careta.
– Isso, Lu! Você e a Vicky, desse jeito...
– Nath, não vamos falar disso agora, por favor.
– Não vou te repreender por nada. – sorri de leve ao sentir seu
corpo tenso perto do meu, rapidamente ela tranquilizou. – Só acredito que essa
história não passa de um mal entendido. Que no fundo alguém está causando esse
problema entre vocês duas.
– EI SYKES! COMO ESTÁ A CABEÇA HOJE? MUITO PESADA PELOS ENFEITES?
– PERGUNTE AO SEU PAI! ELE VAI SABER DIZER EXATAMENTE COMO ESTOU!
Falei mostrando o dedo do meio para o imbecil que passou pelo
outro lado, gritando essa gracinha sem graça. Lu olhava-o desconfiada, virei
seu rosto para mim:
– Ninguém me tira da cabeça que o segundo e-mail foi a Vicky.
Lucy cruzou os braços, fazendo certo biquinho de emburrada:
– Isso tudo é tão infantil! – resmunguei revirando os olhos – Não
sente falta de quando todos nós nos dávamos bem? De ver ela e Tom como
namorados brigando, mas se gostando?
Lu passou seus braços ao redor do meu corpo e enfiou seu rosto um
pouco acima do meu peito. Deixei-a descansar em mim, enquanto descansava minhas
mãos no corrimão.
– Somos duas crianças bobocas! – ela disse de voz abafada,
fazendo-me rir alto – E queria que tudo voltasse ao normal. – seu rosto
apareceu perto do meu, seus olhos tristes – Mas tenho medo que isso nunca
aconteça.
Respirei fundo, passando as mãos em seus cabelos, depois beijei
sua testa:
– Não se preocupe... As coisas vão se ajeitar.
– Espero que sim. – recebi um leve beijo seu – Agora vamos que
quero fazer xixi!
Revirei os olhos escutando-a rir.
Muito mais interessante ser traído por uma bacia sanitária.
Segui-a, deixando-a em frente ao banheiro. Peguei sua bolsa
vermelha, dizendo que iria para sala colocar as coisas lá.
Caminhei pelo corredor de altas janelas, pouco movimentado, mas
com grande barulho do lado de fora e comecei a pensar que, dependendo de Vicky
Lucy e Tom nada se normalizaria e que dependeria do meu lindo ser fazer algo
que preste em relação a isso:
– Você viu os dois lá fora?
Parei antes de passar por um corredor escuro, que dava para salas
que não estavam em uso:
– Sim, eu vi. E o que tem?
Conhecia as vozes:
– E o que tem? – o tom de voz sarcástico fez um eco sinistro e me
encostei na parede, indo aos poucos para frente – Era para o Sykes e a Lucy terem
terminado! VOCÊ É UMA IMPRESTÁVEL!
– Fale baixo, McGuiness!
Então cheguei a conclusão de que minha mente estava correta. Só
não era compreensível que pessoas tão diferentes pudessem estar dialogando:
– Falar baixo, Linus? Está se iludindo que manda em mim? –
coloquei um pedaço do meu rosto para dentro do corredor e consegui vê-los.
McGuiness de costas para mim e Tanya em sua frente, escondida pelo seu corpo
alto – Só aceitei participar desse plano, pois a minha recompensa seria o fim
do namoro deles e até agora isso não aconteceu!
– A culpa não é minha se o Sykes gosta de ser chifrado! – ela
disse balançando os braços, permitindo-me vê-los.
Andei encostado na parede, entrando pelo corredor e chegando a uma
porta trancada. Abri-a percebendo a sala vazia e empoeirada. Entrei e deixei
uma pequena abertura para poder ouvir o que conversavam, do lado de fora:
– Ah, pouco me importa o que o Sykes gosta! Mas o que está me
irritando é que o que você queria deu certo.
– Como assim?
– Tom me ligou dizendo que Lucy e Victoria brigaram. Sinta-se
satisfeita, Linus.
– Tem certeza que eu sou a imprestável? – ela disse isso dando um
sorriso alto e agudo, que me obrigou a fazer uma careta.
– Dane-se, estou puto com tudo isso! O que a Lucy vê nele?
– Ele é bonito e rico, já é muita coisa!
– Sou isso e muito mais.
– Só o fato de você se achar afasta as pessoas.
– Não preciso de sua psicologia de prostituta para responder
minhas perguntas. Fui muito burro de pensar que esse plano ia dar certo duas
vezes. Que o segundo e-mail ia ter tanto efeito quanto o primeiro, que
aconteceria com o Sykes e a Lucy o mesmo que aconteceu com a Victoria e o Tom.
– O problema está todo do seu lado, querido. Foi ótimo fazer
negócios com você, se não deu certo... Não se culpe, o burro aqui é o Sykes.
Até mais.
– Até nunca.
Ele disse em alto e bom som.
Escondi-me quando percebi a garota passar, logo em seguida foi a
vez do McGuiness.
Deduzindo que os passos haviam acabado, coloquei minha cabeça para
o lado de fora e só então saí por completo, quando tudo estava vazio.
– Hey, Tom!
Gritei ainda confuso com tanta informação:
– E aí, Nathan! – ele respondeu simpático – O que você esta
fazendo nesse corredor? – recebi dois tapas no peito – A Lucy ta aí na sala? –
vi-o tentar espiar, depois o empurrei para trás.
– Claro que não! – disse impaciente – Hey, preciso te contar algo.
– Precisa? Olha... Eu aceito você ser gay, mas não quero ser sua
namorada.
– Cala boca! – disse irritado com sua brincadeira.
– Nossa, calma, Nathan. O que aconteceu? Você nunca foi assim.
– Aconteceram... Coisas.
– Ah, explicou muito! – ele disse irônico.
– Oi, Tom!
Vi a Lucy chegar de repente. Rapidamente coloquei um sorriso no
meu rosto e o outro garoto fez careta:
– Vamos para sala, amor? – falei mais simpático do que queria,
tentando disfarçar, e ela caiu direitinho.
– Ok!
E pegou a bolsa, indo a nossa frente, dando-nos certa liberdade de
conversa:
– Por que ela não pode saber de nada? – Tom sussurrou o mais baixo
que pode.
– Porque ela me acharia um louco.
Respondi pensativo.
* * *
Uma prova surpresa de geografia entrou em meus planos. Não que eu
tenha feito tudo correto, mas como não sabia de nada, saí logo da sala e
minutos depois foi a vez do Tom, agradeci o fato da Lucy demorar em provas
assim.
– Então, o que tem para contar? – ele disse jogando-se na minha
frente, no gramado, embaixo da sombra de uma árvore.
– Ouvi algo sério e precisamos fazer alguma coisa em relação a
isso.
– Dá para parar de falar em códigos e finalmente me contar a
história? – Tom disse impaciente.
– Quem armou tudo foi a Tanya.
– Tudo o que?
– A história dos e-mails, Tom! – sussurrei com força e ele fez
cara de “Ah, claro!”.
– Como assim Tanya?
– O primeiro e-mail, pelo que eu entendi, ela fez para separar
você e Vicky. O segundo e-mail ela teve ajuda do Jay, para Lucy brigar com Vi,
mas o Jay a ajudou, pois deve ter pensado que a Lu não me contou sobre a transa
deles e que por isso, quando eu descobrisse, iria terminar com ela.
– Quanta coisa, cara!
– Pois é.
– Sim... E como você soube de tudo isso? Entrou naquele corredor e
fez macumba para que os espíritos te passassem informações secretas?
Olhei-o diretamente frio e pela sua cara de quem faz piada forçada
obriguei-me a rir, porque o que ele falou tinha sido engraçado.
– Não, óbvio! Eu ouvi tudo.
– Coisa de mulher, Nathan!
– Coisa de mulher? Com isso podemos resolver a vida da Lucy e da
Vicky, mas você está pensando que isso é coisa de mulher?
– Ah, e daí? E como assim “podemos”? Você pode! Eu não.
– Você vai me ajudar, Tom!
– Claro que não, não tenho nada a ver com a história.
– E a Vicky? – falei incrédulo.
– O que tem ela?
– É sua namorada!
– Ex!
– É a garota que você gosta!
– Estou tratando de não gostar mais.
– Seu burro! Vocês se gostam! Deixa de ser durão, já que ela não
faz isso e toma uma atitude decente! Cassete, é tão difícil para você se virar
com garotas? – comentei por fim, com falta de ar por ter falado uma coisa atrás
da outra.
Ele me olhou sério, pensativo, tentando entender o que iria fazer:
– Acho que ela não vai querer minha ajuda.
– A Vicky não precisa de sua ajuda, porque ela nunca pede, mas se
você não considera o que sente por ela, faça ao menos isso por mim e pela Lucy.
Por toda a amizade que as duas tiverem todo esse tempo!
Mais uma vez ele pensou e coloquei em prática o meu rosto de gato
do Shrek só para apelar, dando certo:
– Ok! Tira essa cara de “quero dar” porque não vou te comer! – Tom
comentou e gargalhei alto – Já pensou em algo?
– Sim.
– Perigo! Não era para você pensar, não é bom nisso!
Sorri meio besta, porque era verdade...
– Mas eu pensei, porque as pessoas agora dependem de mim, então
tenho que fazer tudo certo.
– Que seja... – ele disse indiferente – Agora fala.
– Você vai para casa da Tanya.
– Como?
– É isso que você ouviu. Quando aquela puta descer por aquelas
escadas – apontei para o lugar falado – Você vai sair correndo atrás e marcar
para “estudarem” juntos. Lá na casa dela, só é pedir para usar o computador, em
seguida diga algo para ela buscar, como uma água, comida... Enfim, como ela vai
querer te agradar, antes que você a coma...
– Ao menos na cabeça dela. – Tom disse rindo.
– Você aproveita e entra no e-mail que ela deve ter criado para
espalhar os boatos. Normalmente as pessoas deixam a senha salva no próprio
computador. Então tire foto da página dos itens enviados, coloque no pen drive,
depois fuja dela, imprima tudo e me entregue que a amanhã levaremos para
Diretora, para que possa resolver essa questão.
– Não é algo tão ruim. – ele comentou – Posso fazer isso, mas por
você e pela Lucy, porque a Vicky não merece nada e...
– Dane-se, isso é problema seu e dela. E faça o favor a mim de
conversar logo com a garota, o que ta interferindo na vida de vocês não é toda
essa confusão, é a transa que aconteceu na época do nosso namoro, em um passado
muito distante, que ela já gostava de você, mas ficou comigo apenas porque você
procurou isso. E agora estou com a Lu, amando-a, não tem porque você ficar
chapado com nada disso.
– É o que você pensa. Quantas vezes mais terei que aturá-la
brincando com minha cara? Não estou chateado com você por ter ido com ela para
cama, mas o que me incomoda foi não ter sabido disso antes. A Lucy não te
contou sobre o Jay? Vocês num estão entendidos? Se a Vicky tivesse feito o
mesmo não estaríamos passando por isso agora.
Suspirei concordando com o pensamento dele, mas não com as
atitudes. Vicky veio descendo as escadas, distraída, lendo um livro, revezando
entre andar e olhar para o chão. Lucy vinha mais atrás observando a amiga mais
a frente, mas disfarçando logo que percebeu meus olhos nela, me dando um
sorriso carinhoso.
Logo tudo voltaria ao normal.
Ao menos era o que eu esperava...
* * *
Ponto de Vista: Tom
– Então queridinho, gostou do almoço?
– Claro, macarrão instantâneo é uma delícia!
Exclamei após deixar que Tanya colocasse os pratos sujos no lava
louças.
– O que acha de agora irmos para o quarto... Estudar? – senti-a
passando seus dedos pegajosos pelos botões do uniforme escolar.
– Ah! Seria uma maravilha. – falei o mais galanteador que o meu
nojo recém surgido por ela permitiu.
Saí da mesa e começamos a andar pela grande casa, bem decorada
para uma perua, pois nunca tinha visto tanta estampa de bichos em um mesmo
lugar.
Sua mãe era viúva, tinha duas filhas, Tanya a mais nova, a mais
velha se chamava Gabrielle, casada com um homem rico e quase morto pela idade.
Completamente compreensível o jeito oferecido de Tanya ser, a
Senhora Linus não é o maior exemplo, sempre metida em escândalos de jogos em
cassinos clandestinos e responsável por muitos fins de casamentos, exercendo um
papel que lhe cai bem, de amante.
Por isso, por mais impaciente que eu fosse com a Tanya, ainda
assim deixei-a ter contato comigo, uma bondade dos céus, assumo, pois a garota
nunca teve um bom exemplo do que é ser uma pessoa decente, coisa que sou e
muito.
Não mesmo!
Mas voltando ao assunto:
– Bem vindo ao meu lindo quarto...
– Cor de rosa! – completei rindo e me controlando rapidamente.
Olhei aquilo tentando não fazer cara de susto, pois o quarto era
grande, rosa e com cheiro de perfume forte de flores, que causava até tontura.
Tanya, aproveitando o meu momento de embriaguês por cheiro tosco,
grudou em meu corpo, sua boca perto da minha, não deixei de fazer careta por
ser tão rápida e, entrando no clima, coloquei as minhas mãos em sua cintura.
Preferi beijar seu pescoço que a sua boca, e foi o que fiz. Aos
poucos a guiei até a cama, jogando-a lá e beijando todo o seu colo que havia
sido descoberto pelos meus dedos. Se na minha cabeça não estivesse a imagem
fixa da Vicky provavelmente me odiando, se um dia souber que fiz isso, poderia
continuar com tudo aquilo, apenas para iniciar mais um jogo que, até então,
estava pausado.
Tanya apertou minhas coxas, subindo suas mãos até tocar meu
membro. Levei um choque, me lembrando que ela era rápida, que não esperava ninguém
fazer para que ela fizesse também:
– Não está sentindo falta de uma sobremesa? – sussurrei em seu
ouvido.
– Sobremesa? – ela perguntou, encarando-me.
– O que acha de chantili e morangos em seu corpo?
Um rosto de garota dada surgiu nela e sorri esperto, achando foda
ela ter caído naquilo:
– Não sei se tem morangos, mas vou dar um jeito de achar.
Ela disse se livrando de mim:
– Poderíamos ver filmes pornôs. – comentei sentando-me na cama e
apontando para o computador – Conheço um site ótimo que mostra várias posições
eróticas capazes de causar orgasmos múltiplos em uma mulher.
Tanya pareceu impressionada e deslumbrada com a informação:
– Fique a vontade, gatinho!
– Ah! Coloca o chantili em uma tigela, é mais prático. – comecei a
maquinar na minha cabeça se tudo o que eu estava pedindo para ela fazer daria
tempo para que eu chegasse ao meu objetivo – Poderia trazer gelo também!
Conheço umas boas técnicas...
– Tudo que tiver de excitante na cozinha eu trago! – ela falou
empolgada e saindo correndo.
Fiquei olhando para onde ela estava antes, rindo.
– Idiota. – sussurrei.
Corri para o notebook, em cima de uma mesa branca, cheia de coisas
rosas e lilás. Sorri para mim mesmo com o fato dele estar no modo espera,
ajudando tudo o que teria que fazer.
Segundos depois eu já estava vendo sua lista de e-mails e no meio
deles havia o vouferrar_a_victoria@ que nem precisou me fazer pensar para ter
certeza que era aquele, e como Nathan disse, estava de senha salva.
Comecei a mexer na prova do crime, percebendo que havia respostas
para os boatos enviados, comentando se tinha mais alguma fofoca a serem ditas,
de outras pessoas, ou mais detalhes sobre aqueles que já foram soltos. Tirei
foto pelo próprio notebook, passando para o paint e salvando no pen drive, que
tinha sido conectado naquele momento. Em outra janela abri o site, que
realmente existia, para poder disfarçar, caso ela entrasse de repente.
Minutos depois tudo estava pronto e eu me sentia satisfeito comigo
mesmo por ter conseguido sem ser pego no flagra.
A página do site pornô abriu e mulheres peladas em posições
excitantes surgiram nos meus olhos, causando movimentações suspeitas em meu
pênis. Não aguentei e corri até o corredor para ver se tinha sinal da Tanya,
mas nada. Ainda ouvia barulhos na cozinha, dela provavelmente procurando coisas
para serem usadas no meio daquilo que ela se iludiu que iríamos fazer.
Voltei para a cadeira em que eu estava antes, e deixei-me viajar
pelo site, assim como minha mão viajou lá por você sabe onde e oito minutos
depois eu estava satisfeito, feliz e agradecendo a Afrodite por ter deixado a
puta lá pelo outro cômodo.
Limpei-me em seu banheiro, mas deixei aberta em seu notebook a
página da safadeza para que, quando eu desse no pé, a Tanya tivesse com o que
se contentar.
Bati na minha própria cara olhando para o espelho, peguei meu
celular no bolso do paletó e segundos depois eu estava correndo pela sua casa:
– TANYA!
– Na cozinha, querido!
Ela gritou e chegando lá foi uma cena sexy, mas engraçada, vê-la
de calcinha e sutiã pintando com um pincel o próprio corpo de chantili. Até
senti pena, mas continuei:
– Mamãe acabou de ligar dizendo que alguém bateu em seu carro.
Desculpa, mas preciso ir!
– Não, você não pode ir! – ela fez uma voz manhosa de desesperada,
estampei na minha cara desespero para tentar ser mais convincente.
– EU VOU! Porque se eu não for, vou ficar de castigo e se eu
quiser passar esse final de semana fazendo ‘coisas’ com você, terá de me deixar
ir.
– Aaaaah, nem uma rapidinha?
– Nem duas, Tany! – puxei-a para mim fazendo o favor a meu
uniforme de deixar a parte pintada longe. Olhei-a galanteador – Aguarde-me, que
qualquer dia desses realizarei todos os seus desejos obscenos.
E beijei com força sua boca, foi mais um selinho exagerado que um
beijo, mas a Tanya deve ter achado que foi muita coisa.
Antes mesmo dela mudar de ideia e fazer escândalo, peguei minha
mochila, jogada em seu sofá vermelho com almofadas de tigre, e saí fingidamente
desesperado, rindo de mim mesmo por ter sido tão convincente.
No carro, decidi passar na casa do Nathan antes de ir para minha,
queria adiar o fato de ver o rosto da Vicky, como vinha fazendo todo esse
tempo.
Era chato estarmos brigados debaixo do mesmo teto:
– E aí? – ele perguntou assim que entrou na sala. Tive de
esperá-lo, pois estava em seu treino de box.
– Consegui!
– Ótimo! – Nathan exclamou feliz – Agora vamos ao escritório do
meu pai para imprimirmos.
Acabamos o trabalho e recebi bons elogios do Nathan, assim como
elogiei o fato dele finalmente ter conseguido pensar em um plano decente que
tenha dado certo. Fiquei por lá por mais algum tempo, aproveitei que ele só
veria Lucy à noite, já que de tarde ela iria para o médico. Jogamos Guitar Hero
e Need For Speed e recebi conselhos novamente sobre o que deveria fazer em
relação a minha ex-namorada.
Ninguém precisava me dizer o que Nathan me disse, eu sabia que
teríamos de conversar, uma hora... Mas, por enquanto, deixe-me pensar que vou
ser o super herói dela, e que vou poder esfregar isso na cara de Vicky Foster
logo, logo.
* * *
Ponto de Vista: Nathan
Caminhei rápido, com o Tom ao meu lado, pelo corredor de fraco
movimento do colégio. Disse a Lucy que não poderia buscá-la em casa, assim como
Tom não veio com Vicky.
A hora de terminar com tudo isso estava chegando e eu me sentia ansioso,
pedindo a Deus que as impressões dos e-mails e da caixa de entrada fossem o
suficiente para convencer a diretora de acabar com os planos da Tanya, e agora
do McGuiness, para que mais nada acontecesse e os dois tomassem um corretivo:
– Gostaríamos de falar com a diretora Dixon. Ela já chegou? –
perguntei a secretária, que estava lá naquela mesa desde que nasci.
– Sim, senhores...?
– Sykes e Parker. – respondi preparadamente.
– Verei se ela pode os atender no momento.
– Ok.
Tom e eu nos entreolhamos, ele com o envelope amarelo na mão:
– Podem entrar. A diretora Dixon os aguarda.
– Obrigado. – Tom disse.
Segundos depois estávamos sentados nas duas cadeiras de couro, em
frente à grande mesa imponente da diretora de cabelos castanhos escuros,
óculos, paletó feminino e mãos enrugadas.
Sempre com a imagem severa, mas não era tão perversa assim:
– Então... O que os senhores querem para estar aqui tão cedo? –
ela perguntou em tom de voz simpático, se era fingido ou não, só a diretora
sabia.
– Provavelmente a senhora ouviu falar sobre os e-mails enviados
nessa semana sobre as alunas Victoria Foster e Lucy Mason, do último ano, não é
mesmo? – comecei tentando controlar meu nervosismo.
– Claro. Um absurdo o que fizeram com as duas garotas, só lhes diz
respeito as suas vidas sexuais e estamos tratando de procurar o culpado pelo
acontecimento.
– Não precisa mais procurar. – Tom disse – Nós sabemos a pessoa
que fez isso.
– Ou as pessoas que fizeram. – corrigi, encarando-o.
O grande xis da questão era se deveríamos contar que o McGuiness
ajudou ou não. Claro que em minha opinião é correto ele pagar pelo que fez a
Lucy, expondo-a daquela maneira, mas Tom ainda considerava-o um grande amigo
(mesmo tendo compactuado com o plano de Tanya), por isso não tinha coragem de difamá-lo
para diretora.
Acontece que em meu ver a garota era que sairia mais prejudicada.
Assim como na briga de Max e McGuiness os dois levaram apenas advertências e
suspensão, faltava apenas menos de três meses para o fim do ano letivo e ele já
tinha feito prova para Oxford, era um bom aluno, de boas notas, boa imagem.
Mesmo metido nessa confusão não se prejudicaria por completo, já Tanya... É
outro lado da moeda. A diretora Dixon sabe muito bem o tipo de gente que a mãe
da garota é, e óbvio, não admite o jeito vulgar que a família Linus leva, por
isso ela não perderia tempo em dar um bom castigo para Tanya.
Então, se Tom não abrisse a boca para falar do McGuiness, eu
falaria.
– Vocês sabem que acusar pessoas sem provas é algo muito sério. –
a diretora continuou, fazendo-me despertar dos pensamentos.
– Mas temos provas. – Tom comentou colocando o envelope em cima da
mesa – Tanya Linus, da nossa sala, assim como das meninas, é a responsável por
tudo.
– Ou quase tudo. – completei – O aluno James McGuiness também a
ajudou, passando a informação do segundo boato.
– Nathan! – o garoto ao meu lado disse em tom de repreensão, mas
ignorei.
Observamos calados a diretora analisar os papéis.
Após um tempo ela os colocou de lado e disse:
– Vocês vão ter que aguardar o horário da aula na sala de espera,
só então chamarei os envolvidos nessa confusão.
– Tudo bem, com licença. – disse e segundos depois Tom e eu
estávamos do lado de fora, jogados nas cadeiras desconfortáveis.
– Você não deveria ter citado o nome do Jay!
– Mesmo? Até onde eu sei, ele foi tão covarde quanto a Tanya. –
comentei indiferente.
– Acho que você só está fazendo isso para se vingar pelo que ele
fez com a Lucy. – olhei para Tom um pouco afetado pelo que disse.
– Acha que sou você que entra em jogos para prejudicar ou competir
com os outros? Para mostrar que é melhor? Minha vida com a Lu é diferente da
sua com a Vicky, não misture as coisas, Tom. Se estiver incomodado porque eu
falei do seu amigo, a culpa não é minha, a culpa é sua que tem péssimo dedo para
escolher amizades.
Foi o suficiente para que ele ficasse calado pela próxima meia
hora. Nesse tempo descarreguei a bateria do meu celular, jogando bloquinhos
coloridos e quando finalmente deu Game Over e eu não bati meu próprio recorde,
a secretária falou:
– A diretora Dixon está chamando vocês na sala.
Concordamos com a cabeça e, ao entrarmos novamente, nos foram
indicadas as cadeiras confortáveis de couro. Sentei-me feliz porque minha bunda
não ficaria mais doendo, e ouvimos:
– Betty, passe na sala 38 e traga as senhoritas Tanya Linus,
Victoria Foster e Lucy Mason, mais o senhor Jay McGuiness. – Dixon entregou um
papel a velha secretária – Todos os nomes estão escritos aí, para que não se
esqueça.
– Tudo bem, já volto.
E um silêncio mortal ficou no local.
Provavelmente seria uma surpresa para as quatro pessoas, que logo
estariam ali. Fiz questão de deixar tudo isso escondido para a Lucy não ficar
ansiosa. Tom, sem falar com a Vicky, o fez ficar de boca fechada, e o resto não
interessa. Mas eu queria mesmo era ver a cara do McGuiness quando soubesse que
havia sido pego no flagra.
Ele me subestima tanto.
– Aqui estão os quatro alunos, senhora.
– Obrigada, Betty, pode voltar ao trabalho.
Vicky foi a primeira a entrar desconfiada, Lu veio em seguida com
rosto de medo, Tanya estava com a cara de puta de sempre, mascando chiclete, e
McGuiness, com seu ar prepotente, de nariz empinado.
Levantei-me da cadeira e cumprimentei Lucy com um leve beijo na
testa, ela sussurrou para mim “o que foi?”, mas apenas indiquei que se
sentasse.
Tom fingiu que Vicky não estava ali, achando muito interessante as
próprias unhas.
– Senhor Parker, poderia dar lugar a senhorita Foster? – a senhora
Dixon falou educadamente.
– Não. – ele disse mal educado.
– Sai daí! – Vicky resmungou, empurrando o garoto da cadeira, que
conseguiu se equilibrar por muito pouco. Majestosamente ela sentou-se, cruzou
as pernas e encarou a mulher à sua frente – Então, o que aconteceu para nos
tirar da aula interessantíssima de matemática?
– Bem... Os últimos acontecimentos não foram os melhores para as
senhoritas, nem para os senhores – então ela apontou para os dois casais
principais da sala – E o colégio vai tomar uma posição enquanto a isso,
principalmente agora que sabemos quem aprontou essa criancice. – Dixon
aprumou-se na mesa, de mãos juntas e dedos enlaçados – Acho melhor o senhor
McGuiness e a senhorita Linus pedirem desculpas as senhoritas Foster e Mason.
– Do que a senhora está falan...?
– Senhorita Linus! – Tanya foi interrompida rapidamente – Só quero
ouvir a sua voz para as desculpas, para outras coisas apenas quando eu
perguntar. Então vamos logo que não tenho o resto do dia para me dedicar ao
problema que foi causado pela senhorita.
Tanya revirou os olhos, mas Lucy e Vicky ficaram caladas. Por um
segundo vi nos olhos do McGuiness pânico, encarando a Lu, que o ignorava no
momento, extremamente pensativa:
– Então nós duas brigamos por causa dos outros? – ela falou
olhando para o chão.
– Pior de tudo... – Vicky disse – Nós brigamos por causa da Tanya.
– Ridículo! – Lu comentou envergonhada.
– Ainda não ouvi o pedido de desculpas! Peçam logo, que assim os
senhores Parker e Sykes, mais as senhoritas Mason e Foster poderão retornar à
classe e assistir ao resto da aula interessantíssima de matemática.
Vicky levantou-se:
– Se me permite senhora Dixon... Vou saindo. Não quero nada que
venha da Linus, nem mesmo seu arrependimento fingido.
Então caminhou até a porta, sem esperar por ninguém.
Esperei qual seria a atitude do McGuiness, assim como da Lucy.
Se ele encosta-se um dedo nela partiria pra cima.
Lu levantou-se tranquila, mas assustada, então parou na frente do
McGuiness, que a encarou de olhos avermelhados, extremamente sério:
– Desculpa...
– Não peça. – ela o interrompeu – Eu nunca imaginei que você
poderia fazer isso comigo e agora não sei nem mesmo o que pensar sobre o que se
tornou.
Ela o olhou com desprezo total, mas o filho da mãe do McGuiness,
ao invés de se abalar, empinou mais o nariz, virando o rosto quando Lu deu as
costas, jogando o cabelo para trás:
– Podemos ir também? – Tom perguntou com a voz baixa.
– Devem. – a diretora respondeu impaciente.
Saímos o mais rápido que pudemos, mas antes disso dei um
sorrisinho de satisfação para McGuiness e a Tanya.
Do lado de fora, caminhamos pelo corredor, observando Vicky, que
ia bem mais a frente, e a Lucy, que estava há alguns poucos passos de nós:
– VICKY! – Lu gritou de repente, a garota olhou para trás.
Minha namorada correu até Vi, que a encava, curiosa:
– O que foi? – ela perguntou.
– Desculpa. – Lucy disse – Por tudo.
– Tudo bem. – Vicky respondeu séria.
Tom e eu paramos no caminho, deixando as duas entenderem-se, mas,
pelo visto Victoria não queria isso, pois, com a última frase, deu as costas à
amiga, que a olhou incrédula por não ter se redimido também.
Preparei-me para ir até ela, mas Vicky, que já estava mais a
frente, se virou para Lu sorrindo e disse:
– Ah, já ia me esquecendo! Você também me desculpa?
Lucy riu aliviada e, mordendo o lábio inferior, empolgada, disse:
– Claro que sim!
Tom e eu nos entreolhamos e quando vi a garota que ficou para trás
já estava perto da gente:
– Agora vocês dois vão deixar de ir para aula de matemática, assim
como eu, para me contarem toda essa história... Com detalhes.
Concordei com a cabeça, e agora só faltava o Tom e a Vicky se
entenderam para que tudo desse certo.
* * *
CAPÍTULO 43
VAI SER ALI
(Capítulo com +18)
(Capítulo com +18)
Ponto de Vista: Vicky
Fazia uns dias que eu não sentia essa sensação boa de que está
tudo bem. Consegui na hora do intervalo ter uma conversa decente com Lucy e até
falamos de Max e Katy, o casal mais esquisito do mundo.
De acordo com o que ela me disse, Max encontrou a garota no
colégio que está estudando em Nova Iorque. Katy está morando na cidade desde o
ano passado e, ultimamente, só tem ido passar as férias em Miami, diferente do
que Nathan pensava.
E, como ele não conhecia ninguém para se enturmar, sobrou para
Katy, que é muito sociável, mas Lucy disse que está desconfiada que Max tem
curtido a vida mais que o normal lá por Nova Iorque.
Não o culpo, NY foi feita para isso!
– Podemos conversar agora, se você quiser... – Tom disse assim que
entrei em casa.
Ele, pelo menos uma vez nesse tempo, foi bom e me trouxe para
casa. Coisa que eu não aguentava mais era pegar táxi e ter que aturar
motoristas tarados por colegiais.
– Conversar? – perguntei tentando me situar.
– Sim. – Tom desabotoou o paletó e andou até a sala de jantar,
pegando uma pequena tigela de prata, cheia de biscoitos, ele começou a comer,
obrigando-me a ir atrás dele para vê-lo melhor.
Seu paletó agora repousava sobre a cadeira da cabeceira.
– Agora você quer conversar? – falei sarcástica.
– Já começou errado... – ele repreendeu.
– Dane-se. Só precisamos pedir desculpas um ao outro, certo? –
falei pegando um biscoito, pois meu estômago dava pulos de fome.
– Quase isso.
– Então me explica por que tanta raiva? Você já sabia o que tinha
no e-mail.
– Não foi raiva, foi mágoa. – Tom corrigiu, cruzando os braços.
Dessa vez fui eu que tirei meu paletó – Fiquei chateado por você ter me
escondido que transou com o Nathan e por ter fugido de mim no nosso tempo de
namoro.
– Eu apenas não achei que essas coisas poderiam tomar uma
proporção que te incomoda-se. Torturei, não por maldade, e sim porque era
divertido ver você com vontade de transar sem poder.
– Sempre me surpreendo com o quanto você é perversa. – ele disse
irônico.
Encostei-me na mesa, ao seu lado, dando um empurrãozinho em seu
corpo com meu quadril:
– Desculpa?
– Sim. E me desculpa por ter me afastado nesse momento difícil?
– Tudo bem. Foi até melhor, porque se não você ia querer me
proteger. Ia começar a ficar fresco e grudento demais. Dando-me vontade de te
bater e te fazer virar macho.
Tom riu divertidamente e percebi como tinha se tornado esquisito o
som da sua voz naquele tom tranquilo, assim como seus olhos castanhos quase
invisíveis quando ele sorria.
– Tom.
– Oi?
Encarei-o e vi-o fazer o mesmo:
– Sua última chance, quer voltar a namorar comigo ou não?
Ele respirou fundo, observando o chão por alguns segundos:
– Eu poderia dizer não, mas infelizmente é chato viver sem brigar
com você. – não deixei de rir – E sim, quero voltar a namorar.
– Ótimo! – falei contente – Porque só por castigo você não toca em
mim hoje.
Dei as costas rindo:
– COMO ASSIM? – ele gritou ao me ver subindo as escadas, saindo da
sala de jantar.
– Tchau, Tom!
Otário!
Pensou mesmo que ia perdoar a sua ausência no momento difícil?
* * *
– Já sabem... Qualquer coisa que precisarem, é só ligar. Enquanto
eu estiver no avião, óbvio que não vou poder atender, mas assim que desembarcar
falarei com vocês.
– Nós sabemos mãe. Pode viajar tranquila como todas as outras
vezes. – Tom disse.
Era de noite, já haviam feito duas semanas que voltamos. O destino
de Tanya foi uma semana de suspensão, mais o pedido de desculpas em público,
parte muito boa, pois foi agradável vê-la se humilhar publicamente, e um novo
e-mail desmentindo os boatos, sem falar na carta enviada a Oxford com um
pequeno histórico dos seus belos feitos no colégio, cada um pior que o outro.
Jay também pegou a suspensão, mas nada de problemas com Oxford,
nem humilhação pública. Por outro lado rondou a Lucy para falar com ela
pessoalmente, coisa que deixou Nathan irritado, mas não tanto.
– Agora estamos a sós. – Tom comentou, sorrindo, como se
pudéssemos tirar proveito disso, e podíamos...
– Ok! Já esta na hora de dormir. Amanhã temos aula. – falei
sorridente, fingindo não entender a sua indireta.
Senti sua mão puxar meu braço.
Tom virou-me, deixando de costas para ele, nossos corpos
encostados. Sua perna fez pressão na minha para que eu andasse e ele me guiou
para a sala de jantar. Com a cabeça ele apontou para a mesa, acariciando minhas
coxas, afastando meus cabelos e falando em meu ouvido:
– Vai ser ali.
Sorri já pensando besteiras.
Estava na hora de parar de fugir.
Fomos andando até o ‘nosso’ local, minha bunda pressionava seu
órgão e Tom fazia questão de manter esse contato.
Segundos depois, minhas coxas, nuas pelo short curto, tocaram no
mármore frio. Ele fez um nó em meu cabelo, deixando minha nuca a mostra, e,
enquanto beijava-a, desatacou a minha primeira peça de roupa da parte baixa.
Antes de sua mão entrar, pressionou a área íntima entre minhas
pernas, fazendo-me morder o lábio, de olhos fechados. Então, depois, já estava
sendo invadida por seu dedo, que me massageava de maneira lenta e forte.
Arrepios passaram sobre meu corpo e a luz acesa me incomodou,
mas... Por enquanto ficaria assim. As sensações descontroladas que me
percorreram obrigaram meu tronco a se colocar para trás. E com a cabeça caindo
de lado, recebi mordidas na orelha e beijos molhados na bochecha, enquanto Tom
me satisfazia.
Seu dedo desceu mais e levantei minha perna, apoiando-a na mesa, e
ele encaixou-se mais no espaço vazio atrás de mim. Antes que voltasse a fazer o
de antes, retirei minha blusa, deixando meus seios sem sutiã a mostra.
Ouvi-o sorrir espertamente.
Com a mão livre deixei-o brincar com a parte de cima do meu corpo,
enquanto a de baixo já estava sendo muito bem preenchida por dois dedos seus
que me faziam gemer querendo mais. Tom pressionou-me para frente e o prazer
aumentou. Minhas mãos se apoiaram na mesa e quando quase gozei fiz o parar,
pois nessa transa eu queria que ele me completasse apenas de um jeito.
– Deite-se sobre a mesa. – sussurrei em seu ouvido.
E saindo da frente, olhei-o retirar a camisa e calça rapidamente.
Fiz o mesmo com meu short, já desatacado, retirando até mesmo a calcinha. Logo
em seguida Tom afastou os enfeites de prata que estavam sobre o plano,
deitando-se sobre o mármore frio.
Subi na mesa, deixando uma perna entre as suas, e a outra do lado.
Soltei o nó frouxo do meu cabelo e, ficando um pouco mais para cima, desliguei
a luz do lustre baixo, deixando o cômodo escuro do jeito que eu queria.
Tom sorriu, observando meu corpo nu iluminado pela janela de
cortinas fechadas, atrás de mim.
Engatinhei por ele, distribuindo beijos pela sua coxa e deslizando
meus dedos pelo seu tronco de respiração ofegante e ansioso. Retirei seu pênis
do local em que estava escondido apertadamente e, em plena ereção, masturbei-o
sem pressa, torturando-o, assim como ele fez ao atrever-se a tocar entre minhas
pernas.
Tom gemia e vi algumas veias pulando em seu pescoço, enquanto ele
me olhava com expectativa, sempre que demonstrava que encostaria meus lábios em
seu órgão. E, parando o trabalho com as mãos, beijei a primeira parte do pênis,
distribuindo pelo resto e com um leve toque da minha língua achei que fosse o
suficiente para o Parker e voltei a masturbação, segundos depois sendo parada
para que pudesse pegar a camisinha, que estava no bolso da sua calça.
O desgraçado já sabia o que iria ter pela noite.
E voltando a posição anterior, coloquei o preservativo em seu
devido lugar. Tom, apoiando-se nos cotovelos, puxou minha cabeça para a sua e
trocamos beijos carinhosos, graças a ele.
Achei aquilo meloso demais para alguém que estava transando e
empurrei seu tronco para trás, com certa violência, fazendo-o encostar
novamente no mármore gelado e, enquanto nossas línguas procuravam uma pela
outra, meu quadril fazia movimentações absurdas em um órgão quase em seu ponto
máximo, revezando entre continuar e parar, deixando-o cada vez mais vermelho
com aquela situação de dominação.
Mas quando percebi que nem mesmo eu aguentava aquilo, me preparei
para ser penetrada e sem muita frescura de ir devagar ou rápido demais, deixei
com que tudo entrasse na medida de tempo certa, fazendo com que tanto eu quanto
Tom soltássemos suspiros mais altos que os outros que já havíamos dado.
Fiz meu primeiro movimento para cima, depois para baixo e
lentamente fiquei nessa, sem vontade de aumentar, pois seu pênis encostava-se
exatamente em meu ponto G, e se dane os cientistas que disseram que isso não
existe.
Deve ser porque nunca transaram!
Tom começou a gemer mais do que eu e sorri em meu trabalho
prazeroso, com o fato de não ser a única a estar satisfeita com a posição que
nos encontrávamos.
Coloquei minha mão para trás e a pressão foi maior. Pacientemente
resisti para não aumentar a velocidade e passamos um longo tempo naquilo,
soltando gemidos repentinos. Os dedos de Tom apertavam minha coxa e minha
coluna doía por estar inclinada para trás.
Ao notar que ele estava quase chegando à tão esperada hora voltei
a ficar ereta sobre ele. A rapidez de meu corpo veio, fazendo-o gemer alto,
enquanto dava alguns leves gritos de prazer.
Cai sobre ele cansada e sem ar.
Um alívio tomou conta de todo meu corpo e a sensação foi se
desvanecendo entre minhas pernas, de maneira interessante, como se o orgasmo
durasse pouco tempo, mais as suas consequências fossem mais além.
Tom acariciou meus cabelos, seu órgão saiu de mim e com uma perna
flexionada fez a minha parte tocar em sua coxa, com isso meu corpo subiu mais
no seu e pudemos nos beijar, meus dedos tocando seus cabelos molhados de suor e
os meus caindo sobre seu rosto.
Ficamos calados naquele momento, sem dizer uma palavra.
Ainda bem, porque abomino um “eu te amo” numa hora como essa e, se
ele o dissesse, não faria questão de cortar seu pinto fora agora mesmo!
* * *
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