sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Guilty Pleasure (2ª Temporada - Especial AB)

Especial Atlantic Beach




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Capítulo IV

More Than Words




Point of View: Victoria Foster


- Outro conhaque? – exclamei quando vi Tom com o copo cheio da bebida – Você está querendo pegar cirrose apenas em um dia?
- Ah, relaxa. Só é o terceiro copo. – Tom disse indiferente, sem nenhum sinal de embriaguês. Revirei os olhos.
Estávamos na festa/jantar que a senhora George havia preparado. Agora que fazia parte de Nova Iorque, simplesmente não podia deixar o aniversário de vinte anos do seu filho passar em branco.
- Lá em Londres eu nunca precisei disso. – Max falou, parecendo inconformado com a ideia da mãe.
- De certa maneira eu a entendo, Max. – Lucy disse prestativa, colocando a mão no ombro do amigo – Na Inglaterra cada um se importa com a própria vida. Já aqui, todos se importam com qualquer vida. – falou irônica e bebeu um pouco de vinho que Nath insistiu que ela provasse, assim como eu.
- Sinceramente... Eu acho tão divertido. – Katy de repente apareceu, comendo algo que parecia ser uma mistura de Romeu e Julieta – Essas senhoras fingindo serem santas quando na verdade gemem no carro do motorista. – expirou inspiradora e prosseguiu – É a beleza da sociedade decadente.
- Sério mesmo que estamos analisando isso? – Tom cruzou os braços, se encostando na parede de alvenaria – Poderíamos estar curtindo algo mais... Jovem que isso.
- Por mim fugíamos. – Max sugeriu.
- O homenageado da festa é você. – lembrei-o.
- Onde está o Nathan? – Katy falou do nada.
Lucy sorriu:
- Resolvendo umas coisas. – respondeu.
- Sei. – disse desconfiada – Mas, enfim, sua mãe ficaria bem chateada se sumíssemos.
- É. Eu sei. – Max falou cabisbaixo, enquanto Katy o abraçava de lado.
- Na verdade... – Lu começou a dizer, olhando em uma direção fixa – Acho que podemos dar um jeito nisso.
- Ah, mesmo? Vão sequestrar minha mãe? – Max fez gestos exagerados com a mão, com a voz totalmente irônica.
- Não vamos sequestrar. – respondi pela minha amiga.
- Vamos embriagar. – Lucy sorriu espertamente e dei uma piscadinha para ela.

* * *

Antes mesmo de Max fazer qualquer objeção, peguei o copo de conhaque quase cheio que estava na mão de Tom.
Lucy andou entre as pessoas bem vestidas comigo logo atrás. Abríamos caminho educadamente até chegar ao nosso alvo:
- Senhora George. – Lu falou simpática, dando um beijo de cumprimento na anfitriã – A festa está maravilhosa.
- Obrigada, querida. – Debby agradeceu parecendo animada – Olá, Victoria!
- Olá senhora George. – sorri e também lhe beijei a bochecha – Gostaria de uma bebida? – mostrei-lhe o copo.
- Ah, essa não é sua? – ela analisou a bebida cor de mel.
- Não, não bebo. – informei e tomei a taça vazia que estava em sua mão, entregando o recipiente cheio de álcool para ela que tomou grande parte com apenas um gole – Percebi que quase não está tendo tempo de tomar uma bebida, comer algo. Se quiser podemos trazer alguma coisa para a senhora.
- Não precisa de tanta atenção, Victoria. – Debby sorriu gentil, bebericando mais uma vez – Eu posso achar alguém que faça isso por mim.
- Mas senhora George... – Lucy falou na minha frente – Queremos dar um pouco de ar ao Max e a Katy e como não conhecemos os convidados, seria um grande prazer ajudá-la.
Debby nos analisou por um longo período. Eu e minha amiga mantivemos rostos mais angelicais possíveis:
- Tudo bem! Mas quero apresentá-las ao meu namorado. – finalmente nos respondeu, com um sorriso enorme.
- Como a senhora quiser. – falei satisfeita, mas sem que ela percebesse o meu tom irônico.
Fomos apresentadas a quase todos da festa. Alguns poucos tinham a nossa idade, o suficiente para preencher uma sala de aula, o que fez com que eu deduzisse que eram os antigos amigos de escola de Max, junto com seus pais.
Sempre que passava algum garçom por mim ou por Lucy, pegávamos uma bebida e entregávamos a Debby, que aceitava prontamente.
- O que vocês estão fazendo com ela? – Max perguntou agoniado, segurando meu braço, enquanto Lu entregava alguma comida qualquer para que Debby não ficasse de barriga vazia.
- Estamos apenas deixando-a bêbada. – respondi puxando meu braço com força.
- Mas ela é minha mãe! – Max quase gritou.
- Nós sabemos. – sussurrei forte levando-o para longe dali – Mas você mesmo disse a gente um dia desses que ela estava bebendo mais do que devia.
- Sim! E agora vocês querem induzir ela a um coma alcoólico? – ele arregalou os olhos, fazendo um rosto irritado logo em seguida.
- Que coma alcoólico! – revirei os olhos. Tom passou por nós e percebeu que cochichávamos, parou perto para ouvir – Sabemos que em Londres a sua mãe quase não bebia. Então depois de um conhaque e três uísques ela mais que capota de sono.
- Mas estamos no meio de uma festa! – Max informou como se não fosse óbvio.
- Que não vai existir daqui a 5 minutos. – Lucy apareceu afobada.
- Do que você está falando? – perguntei desconfiada.
- Explico depois. – ela observou o relógio – Tom, preciso falar com você. Max, leve sua mãe para a cama e diga ao namorado dela para que cuide bem da Tia Debby. E você Vicky – Lu olhou para mim ansiosa – Venho buscar daqui a pouco.
Consenti com a cabeça.
Não sabia o que ela estava aprontando e o Nathan havia sumido. Max obedeceu ao que Lucy disse e Katy correu rápido até mim:
- Cadê os outros? – falou olhando ao redor.
- Por aí. – disse cruzando os braços e me encostando próximo a lareira apagada – Mas só pra deixar claro, fique preparada para qualquer coisa.
Katy me olhou sem entender e apenas dei de ombros. O celular, que estava em minha mão, tremeu:
“Tire os saltos. Xx, Lu.”
- O que ela quis dizer com isso? – Katy perguntou ao meu lado e vi que ela também lia uma mensagem de texto em seu celular.
- Eu não... – levantei a vista e vi que de longe Lu acenava. Discretamente ela tirou o salto alto, tocando os pés no mármore do apartamento.
Imitei-a e disse para Katy fazer o mesmo.
Max desceu as escadas parecendo aliviado. Sua mãe deve realmente ter dormido. Os convidados já estavam tão fartos de comida e bebida que nem perceberam. Procurei a Lucy mais uma vez, mas não a encontrei:
“Faltam apenas 30 segundos. Xx, Lu”
Pude sentir minhas mãos soarem frio. Max e Katy também liam as mensagens em seus celulares. Tom nem Nathan davam o ar das graças. Meus olhos não alcançavam minha amiga e as pessoas presentes estavam sendo vítimas do que podia acontecer.
O que será que esses três sem cérebros estão pensando?
Todos levantaram suas cabeças. Foi um movimento automático graças ao lustre que piscava. As pessoas passaram de conversadoras para silenciosas. Uma tensão surgiu no local e eu não sabia se aquilo fazia parte do plano.
E em poucos segundos tudo estava sombrio. A luz sumiu por completo. Vozes estouraram pelo local, correria e uma mão:
- Vem! – ouvi a voz de Lucy, mas não pude vê-la.
Agarrei ao braço da Katy e logo Lu me puxou em passos rápidos. Um amontoado de gente estava em frente ao elevador particular. Mas ele não abria! Não tinha como! Estávamos no escuro!
- Para onde está nos levando? – ouvi a voz de Max, vendo sua careca reluzir de leve quando passamos perto de uma janela.
Não foi um blackout. A rua estava iluminada.
- Perguntas depois, Max! Apenas ande. – Lucy ordenou e cuidadosamente esbarrávamos em algumas pessoas atônitas.
Entramos no corredor que levava a biblioteca, ao bar, a sala de música, ao escritório.
- Onde está o Tom? – falei parando de repente.
Fui empurrada para frente ao sentir Katy e Max esbarrarem em mim.
Escuro de merda!
- Porra, será que da para confiar em mim? – Lucy perguntou. Seus olhos faiscavam próximos as janelas altas e de cortinas abertas, que seguiam pela parede ao lado, iluminando aquele corredor de um jeito sinistro.
Consenti com a cabeça. O que poderia fazer? Já estávamos no meio do caminho, voltar agora não era o correto.
Novamente ela voltou a andar, para ser mais precisa correr. Os nossos pés descalços faziam pequenos choques com o mármore frio e da outra parte da casa a confusão que deixamos para trás era audível.
Fomos pela esquerda e entramos pelo corredor da cozinha. Garçons passaram por nós, com velas nas mãos, indo em direção a sala. Nem mesmo perceberam nossa presença.
Adentramos a cozinha que apenas os cozinheiros tentavam organizar em meio aos fornos elétricos desligados.
Lu abriu a porta que dava para a escada de emergência:
- Andem! – mandou e passamos rápido em sua frente, ouvindo a batida forte da porta logo em seguida – Temos mais 1 minuto para que o gerador comece a funcionar. – avisou enquanto descíamos as escadas.
As paredes brancas avisavam com placas o andar em que estávamos. Com nossos celulares iluminávamos os degraus. Das nossas bocas só saíam os suspiros pela pressa que nos pressionava.
Uma porta de metal foi aberta e nos deparamos com a garagem do prédio. Faróis piscaram e vi Lucy sorrir indo em direção ao sinal.
- Chegamos! – ela gritou abrindo a porta de correr do furgão branco, tipo uma van – Entrem, entrem! – indicou e fizemos o que mandou logo entrando feito nós – Agora fiquem de cabeça baixa, inclusive você Tom.
Sentando-me na fileira de bancos do meio, pude ver Tom atrás sorrindo empolgado. Lucy agachou-se e logo o carro deu uma arrancada forte, saindo preparado para a placa de Exit:
- E os seguranças? – Max perguntou.
Lu revirou os olhos, mas foi Tom que respondeu:
- Cara, ta acontecendo uma catástrofe no prédio! Você acredita mesmo que alguém vai se preocupar com o que sai daqui?
Era bem lógica sua explicação e realmente não fomos parados. A guarita de observação estava vazia.
- Ai, que empolgante! – Katy falou e ouvi-a batendo as mãos no banco a frente.
Lucy levantou rindo e esgueirou-se até ir para a parte da frente, sentando-se no carona:
- Somos foda! – ela sorriu antes de beijar o motorista com chapéu.
Só então vi a franja e os olhos avelã:
- Nathan? – exclamei assustada.
- E aí! – cumprimentou a todos rindo.
- Oh, meu Deus! Eu não estou entendendo mais nada! – falei confusa e passando a mão na cabeça. Eu poderia desmaiar naquela cadeira – Por favor, o que estamos fazendo?
- Fugindo! – Tom falou animado, vindo para meu lado.
- Amiga, você parece péssima. – Lucy avisou olhando para trás – Descanse um pouco, que logo vamos chegar...

* * *

Uma leve brisa marítima acariciava minha narina e já não sentia mais o balançar do furgão. Abri os olhos lentamente e um horizonte arroxeado fez parte da minha vista:
- Olha só, a dorminhoca acordou! – Nathan falou sorrindo, em um sofá simples de dois lugares.
Sorri de leve, mas ainda estava confusa:
- Onde estamos? – perguntei, sentando-me na rede que estava na varanda de uma pequena cabana, onde o mar fazia parte do quintal.
- Atlantic Beach. – Lucy respondeu saindo pela porta com um cobertor. Sentou ao lado do Nathan e cobriu a perna dos dois – Faz um bom tempo que chegamos.
- Dias? – falei.
- Horas. – sorriu de leve – Ainda vai amanhecer. – e apontou para o horizonte.
Observei o céu se livrando das estrelas, um ar agradável assanhava nossos cabelos e eu me sentia confortável naquela rede, com um cobertor cinza sobre meu colo:
- E o Tom? – olhei ao redor, procurando-o.
- Foi dar uma caminhada. – avisou Katy, aparecendo pela lateral da cabana. Estava com vestes de praia – Ainda bem que pegou nossas roupas. – falou para Lucy.
- É, eu sei. – minha amiga concordou com a cabeça e percebi que também estava sem a roupa da festa, assim como Nathan não estava mais fantasiado.
- Mamãe está bem. – disse Max surgindo de repente – Ah, oi Vicky.
- Oi. – cumprimentei – Ligou para sua casa?
- Sim. Paul – o namorado da senhora George – disse que ela já acordou, mas que logo dormiu de novo. Que nem mesmo se importou com a confusão que deixamos lá em casa. – ele sorriu.
Aos poucos os fleches do que havíamos aprontado vieram em minha mente:
- Como... Como tudo aquilo aconteceu? – perguntei gaguejando.
Parecia um sonho distante.
- Um carinha da Times Square nos deu a ideia. – Lucy falou.
- Você quis dizer um ‘estranho’ da Times Square. – Max corrigiu e sentou-se em um dos dois degraus que havia na varanda antes de chegar à areia.
Katy o acompanhou.
- Ele era um Inglês e nos identificamos. – Nathan explicou-se – Você ficava nos ligando o tempo inteiro falando sobre a preparação da festa, parecia desesperado!
- Então ele nos perguntou o que estava acontecendo e nós contamos. – Lu continuou – Aí Rob, esse é o nome dele, disse que uma vez fugiu com a namorada no meio da sua festa de aniversário.
- Praticamente o plano foi o mesmo. – Nathan suspirou – Até a roupa e o furgão pegamos com ele.
- É que ele trabalha na entrega de comidas para cozinheiros de buffet. – Lucy sorriu de leve, como se aquilo fosse uma profissão engraçada – Nath usou aquela roupa para enrolar os seguranças do prédio e poder ficar com o carro na garagem.
- A Lucy me chamou porque precisava de mim na parte de energia. – a voz do Tom apareceu de repente e pude vê-lo com uma bermuda de praia, apoiando-se sobre o cercado de madeira que protegia a varanda.
- E desde quando você entende de elétrica? – perguntei desconfiada.
- Eu não entendo de elétrica, eu nem toquei nos fios! – explicou-se e franziu a testa – Toquei em um rato!
- Ai, que nojo! – Kay fez careta, fazendo Max rir.
- Uma vez, eu vi em Prison Break, que o rato causa curto circuito. – Lu falou.
- Ah, você se baseou numa séria de TV? – Max arregalou os olhos, encarando-a.
- Cara, também usamos a lógica. – Nathan disse impaciente – Ratos roem fiação. É óbvio!
- Se bem que o importante era o rabinho dele... - Lu deu de ombros.
- E aquilo poderia causar um incêndio! Poderíamos morrer! – Max exclamou levantando os braços.
- Morrer em um prédio que tem alarme, extintor de incêndio e se brincar até mesmo bombeiro particular? Puta que pariu, Max! Deixa de ser medroso! – a garota xingou cruzando os braços. Dei uma risada divertida.
- Eu achei bem excitante! – Kay falou enquanto Max a olhava incrédulo – Faria outra vez, sem arrependimentos.
- Digo que foi louco, mas legal. – assumi também, sorrindo.
- Eu nem imaginei que Nathan poderia pensar algo desse tipo. – Tom olhou para o amigo, fingindo orgulho.
- Mas praticamente foi a Lucy que pensou em tudo junto com o Rob! – o garoto apontou para a namorada, que lhe deu uma cotovelada – Ah! Mas eu ajudei em algumas coisas e...
- Ah! Deixa pra lá, Nath. – ela revirou os olhos – Pelo menos ele não colocou apenas um rato na caixa de energia.
- Se eu não tivesse colocado ninguém colocaria! – Tom retrucou.
- Chega, chega. – falei interrompendo antes que começasse uma briga mais chata – O sol está nascendo e estamos aqui discutindo sobre um plano que já passou? Por que não curtimos o presente que a natureza está nos dando e depois voltamos à guerra?
Todos se entreolharam, silenciosos.
- Ela tem razão. – Nathan disse concordando com a cabeça e me olhando – Vamos para a areia.
Aos poucos cada um foi andando com seus pares. Sentia-me um pouco desconfortável com o vestido da festa, mas pelo que a Katy disse, deveria ter roupas minhas guardadas.
Sentei na areia, abraçando minhas próprias pernas. Tom passou seu braço pelas minhas costas, tocando o outro lado na minha cintura, encostando sua cabeça, em seguida, no braço. Beijei seus cabelos e seus olhos castanhos olharam os meus. Sorri de leve:
- Te amo. – ele sussurrou.
Franzi a testa.
Aquilo ainda era esquisito para mim, ouvi-lo falando aquelas palavras, daquele jeito... Será que um dia eu faria que nem ele?
- Fique calado. – tentei falar gentil, dando-lhe um selinho e voltando minha atenção para o sol.
Apenas quero aproveitar essa areia debaixo de nós e a água do mar à nossa frente.

* * *

  
 Point of View: Lucy Mason


Lá ao fundo, tocando o mar, o céu em tons de laranja deixava as nuvens como borrões. Suspirei com aquela cena.
Era lindo...
Um silêncio pairava em cada boca, apenas as ondas tinham a oportunidade de fazer barulho. Olhei para o lado e estava Nath, a alguns passos Max e Kay e mais para lá Tom e Vicky.
Uma estranha sensação tomou conta de mim e eu não quis mais ver o sol, que aparecia no céu que se tornava azul. Deitei meu corpo sobre a areia, sem me preocupar em me sujar. Simplesmente eu queria pensar, olhando para aquele teto natural, que não era branco, como o do meu quarto.
Eu sentia os olhos de Nath em mim, mas não quis retribuir. Por que essa sensação estranha?
Olhei mais uma vez para meus amigos...
O motivo é eles. E de repente eu observei uma nuvem negra por cima de cada um, como se coisas ruins pudessem acontecer.
- O que se passa aí dentro? – Nath deitou-se ao meu lado, dando batidinhas em minha cabeça, como se fosse uma porta.
- Eu... Não sei. – respondi receosa.
Max e Katy... Era visível que eles se gostavam, mas é um casal tão estranho.
- Mal o dia está nascendo e já está pensando em coisas difíceis? – Nath sorriu, colocando os braços por debaixo da cabeça e olhando a claridade que o céu ia tomando cada vez mais.
Vicky e Tom... Dois irmãos que nunca crescem.
Abri meus braços e minhas pernas, como se faz com anjos na neve. Fiquei imaginando animais com as nuvens.
- Algo esquisito está dentro de mim, Nath. Só não sei explicar o que é. – meus olhos duvidosos viraram para os seus azuis.
Eu e Nath... Amigos, amigos, namoro à parte?
Meu namorado deixou sua posição largada e veio para mais perto de mim, ficando de lado e encolhendo-se todo, como que para ficar do meu tamanho, ao meu nível.
- Sexto sentido? – ele falou.
Sorri, pois me lembrei do filme.
- Talvez. – mordi o lábio. Eu não queria ver gente morta! – Como acha que estaremos daqui a alguns meses?
- Felizes, porque vamos estar com tudo o que queremos. – respondeu pensativo – Faculdade, nossos amigos, nosso namoro. – passou em um movimento rápido o seu dedo indicador na ponta do meu nariz. Sorri com o ato.
- Por que tudo parece tão perfeito? – questionei – Você não acha anormal?
Nath franziu a testa:
- Aonde você quer chegar com esse assunto? – falou de repente.
- Nem eu mesma sei. – sorri derrotada e fiquei de lado, me encolhendo também, imitando sua posição – Acho que devo parar de bobeira e voltar ao normal.
- Por mim tudo bem. Já estou acostumado com seus surtos de existência.
- Ah, Syko! – dei um soquinho em seu peito, fazendo-o gemer. O sol se tornava quente sobre nossas peles. Tom e Vicky se levantaram, voltando de mãos dadas para a cabana.
Beijei Nath de leve, descendo minha cabeça até encostar em seu peito, onde havia batido antes. Esfreguei meu rosto ali, dando alguns outros beijos, fazendo-o gargalhar como uma cócegas.
- Estou com sono. – falei com a voz abafada.
- Tava demorando! – exclamou brincalhão – Vamos entrar.
- Tudo bem. – apareci de novo e cerrei os olhos diante da claridade. Gotas de suor formavam-se na testa de Nath – Ah! Preciso falar com a Kay.
- Sobre o que? – perguntou interessado e fomos sentando.
- Sobre a festa de amanhã do Max. – fiquei de pé tentando tirar a areia do corpo. Meu namorado fazia o mesmo – Seria melhor se ela cancelasse. Temos uma praia quase inteira para nós... Dá até peninha voltar apenas para uma festa e sorrisinhos falsos com gente rica americana.
- Fica falando mal, mas se a tia Eliz deixasse você morar em Manhattan não iria fazer questão de se tornar uma socialight. – brincou.
- Não revele meus segredos. – disse em tom ameaçador.
Passou seu braço por cima de meu ombro enquanto voltamos para casa.
Infelizmente a cabana não era das maiores, era um quarto com duas camas de casal, uma cômoda para televisão e DVD, um sofá de três lugares, frigobar e um banheiro.
Foi o único que nos sobrou.
São férias! E quase final de semana!
- Ah, eles foram mais rápidos. – resmunguei ao ver Max e Katy estatelados em uma cama, e Tom, dormindo como um animal em outra.
Nath cutucou em meu braço, apontou para um lugar:
- Porra, ficamos com o três lugares. – revirou os olhos, irritado.
Ri, pois achei graça de sua cara:
- Vou ao banheiro, a Vicky deve estar lá. – falei andando e pegando minha toalha que estava jogada por cima da minha mala.
- Então vou no chuveiro do lado da casa. – avisou me dando as costas.
Dei algumas batidas na porta:
- Tom, Max ou Nathan? – Vicky gritou.
- Nenhum dos três. – respondi.
- Então pode entrar.
Ouvi a porta sendo destrancada e entrei. Minha amiga estava sentada sobre a bacia sanitária, retirando a meia:
- Posso tomar banho? – apontei para o pequeno box com chuveiro e cortina para cobrir.
- Pode, eu ainda tenho que tirar a maquiagem. – falou se levantando e jogando a meia sobre o vestido já caído no chão.
Despi-me sem vergonha. Somos amigas há tanto tempo que é até normal. Deixei a água cair de formato reto no chão de bambu, pintado de marrom oliva, e então fui relaxando com o frio que tocava em meu corpo quente pelo calor.
- Vamos ficar aqui? – Vicky perguntou.
- Não sei. Estava dizendo ao Nath agora mesmo que preciso falar com a Katy.
- Acho que ela não vai gostar de adiar ou cancelar de vez a festa do Max. – observei pela linha transparente da cortina de plástico (estampada) a minha amiga passando demaquilante no rosto.
- Infelizmente concordo com você. – coloquei xampu e comecei a tirar os grãos finos de areia que se embrenharam pelo meu cabelo – Se não dermos uma boa idéia, ela vai fazer cara feia, vai embora e nos deixa na merda.
- E ainda leva o Max junto... – Vicky se calou por alguns segundos – Não que eu faça questão.
Ri animadamente.
A implicância com o coitado do Max pelo menos continuava.
- Mas acho que essa festa pode ser deixada para outra hora. Eu trouxe vocês aqui para ficarmos mais unidos. Quando estávamos em Manhattan quase nunca ficávamos todos juntos. – terminei de passar o condicionador enquanto espalhava o sabonete líquido – Até o Tom e o Nath fugiram de nós!
Lembrei daquele ocorrido e minha amiga sorriu:
- O mais ridículo é que o puto do Tom queria mostrar ao Nathan uma loja de mulheres de cera! – ela disse em tom incrédulo – Dá pra acreditar que esses garotos não são mais virgens?
- Se eles não nos comecem... – mal terminei de falar e começamos a gargalhar.
Um barulho alto estalou na porta:
- CALEM A BOCA, SUAS PUTAS! – Katy gritou e rimos, dessa vez mais baixo.
- Enfim... – fiquei levando água na cabeça para lavar as impurezas mentais – Vou conversar com ela. Não quer me ajudar?
- Isso é uma pergunta? – Vicky disse duvidosa.
- Você sabe... Primeiro eu sou gentil e só depois eu mando. – sorri – Se você me disser não, vou te obrigar a me ajudar do mesmo jeito. – comuniquei direta.
- Sem escolhas? – pude perceber a esperança em sua voz.
- Sem escolhas. – confirmei.
- O que não fazemos pelos amigos...
Só de ouvir essa frase a tranqüilidade voltou a minha mente.

* * *

Nem mesmo o Papai Noel poderia tirar o Nath do seu sono. Quando me levantei do sofá, não tinha coluna e sim uma banana amassada. Arrastei meu corpo até o lado de fora, o sol forte queimava a cabeça de várias pessoas que rondavam o local. Famílias de outras cabanas, amigos e quiosques abertos.
- Tom! – chamei-o, pois foi o único conhecido que vi. Infelizmente.
- Que foi? – gritou de volta enquanto corria até ele.
- Viu a Katy?
Ele olhou no bolso da bermuda, debaixo dos pés, assanhou o cabelo como se quisesse tirar algo e:
- Ah, desculpa! Ela não ta comigo.
- Vai à merda, Parker! – dei um murro em seu braço, fazendo-o desequilibrar de leve.
- Já estão brigando? – Max chegou perguntando. Uma listra branca de protetor solar no seu nariz. Não segurei e ri na sua cara – Ah, eu sei que estou sexy.
- E como! – ironizei abraçando-o de lado – Viu a sua peguete por aí?
- Peguete? – Max fez rosto de desentendido.
- Ela está se referindo a prostituta que você chama de ficante e que não tem competência pra fazer de namorada. – Tom falou com a sinceridade estampada em sua fuça.
- Não precisava pegar pesado, imbecil! – reclamei, enquanto Max revirava os olhos.
- Foi comprar uma água de coco com a Vicky. Estão daqui a dois quiosques. – e apontou para não sei onde e simplesmente segui sem dar tchau.
Vi dois loiros bronzeados pagando de salva-vidas. Uma loira aguada fazendo topless com seus peitos artificiais. Um quiosque de frutos do mar em cascas de coco artesanais e:
- Amiga, amiga! – Kay chamou meu nome, levantando seu braço. De longe vi seu biquíni de cor hortência. No banco ao lado, Vicky, com um maiô azul escuro perfeito, que compramos na 5th Ave.
- Olá, cats! – sorri chegando até elas e me sentando no banco ao lado da Katy. Ela ia ser atacada pelos dois lados... Logo, logo – Uma água de coco, por favor. – pedi para o atendente que parecia ter nossa idade e mais espinhas do que todos os adolescentes do mundo.
- Então, eu estava aqui falando com a Vicky sobre a festa de amanhã! – falou animada.
- Ah, sim! A festa de amanhã. – sorri de leve – Vamos voltar hoje?
- Claro que sim, amor! – Katy levantou um dos braços, enquanto segurava o coco verde com a outra mão – A fantasia de Darth Vader dele chegou ontem, ele vai ficar tão emocionado!
- Uh, também acho. – Vicky concordou fingindo achar graça, mas não se saindo muito bem.
- Estou vendo na sua cara um ‘tô pouco me fodendo pra amanhã’. Não estou gostando disso, Victoria. – Katy falou ameaçadora, levantando a cabeça e olhando a amiga de baixo para cima.
- Eu preferia ficar na praia. – Vicky disse com descaso e dando de ombros.
- Obrigada. – agradeci pegando o coco e tomando um gole da bebida gelada e deliciosa.
- Como assim ficar na praia? Vai rolar a maior festa amanhã, em uma boate muito louca de Nova Iorque e você prefere ficar na praia? – Katy falou gesticulando loucamente, enquanto eu e Vicky nos desviávamos preparadas.
- É. – respondemos juntas.
- Você também? – se virou para mim e arregalei os olhos.
- Exatamente! – concordei com a minha amiga – Preferimos a praia.
- O Max não vai gostar nada de saber disso. – cerrou os olhos, intimidadora.
- Ele nem sabe da existência da festa! – corrigi e sorri – Vamos, amiguinha, vamos ficar aqui com o mar!
- Pois que fiquem vocês, porque eu e o Max vamos embora agora!
- O QUE? – gritamos juntas.

* * *

- Onde está a Katy? – Vicky perguntou assim que entramos na cabana.
- Acabou de sair... – Nath sentou-se no sofá, coçando a cabeça de cabelos assanhados. Arregalou os olhos repentinamente – Ela... Ela saiu com as malas! Pra onde foi?
- Não sei! – levantei os braços e os desci, batendo em minhas pernas.
- Hey! Hey!
- Ai, Tom! – Vicky resmungou quando seu namorado tropeçou, batendo nela ao entrar – O que foi?
- A Katy está indo embora e levando o Max! – falou parecendo assustado – Já está na hora de ir?
- Claro que não! – minha voz saiu exasperada – Amiga, vem comigo! E vocês dois fiquem aí para o caso deles voltaram.
- Feito. – Nath concordou com a cabeça.
Vicky e eu saímos correndo, em meio ao sol e gente bronzeada. A areia nada ajudava e logo minhas pernas já estavam doendo.
Na orla não víamos carros, nem táxis. Era um hotel, provavelmente tinha ido para o lado de fora pagar alguma corrida:
- Vamos até a saída. – Vicky disse.
Demos passos rápidos, mas a minha cabeça não parava de pensar ‘merda, merda, merda’.
- Como ela convenceu o Max? – a garota ao meu lado disse de repente.
- Não faço a mínima idéia. – falei sincera, com o peito arfando de cansaço.
- Ali! – apontou e vimos os dois.
Nem se quer haviam se vestido. Max segurava a mala dele e de Katy que tentava parar um táxi, sem sucesso.
- KAY! TOM! – Vicky e eu gritamos.
A garota nos olhou assustada e desafiadora. Catou nos lados algum lugar para se esconder:
- Vocês não vão embora? – Max perguntou sorrindo.
Vicky e eu nos entreolhamos.
- Claro que não. – respondi.
- Elas vão embora depois, Max. – Katy tentou dizer.
- Mentira. Nós vamos ficar. – Vicky colocou todo o seu descaso na voz.
- Ah, então não tem porque procurar um táxi. – o garoto jogou a mala no chão.
- O que? Vamos procurar um táxi sim! Eu quero voltar para casa! – Kay falou birrenta.
- Amiga, deixa de manha. Pega as suas coisas e vamos voltar para a cabana. O sol está lindo e estamos perdendo ele aqui, discutindo quem fica, quem vai. – coloquei as mãos na cintura, tentando não pressionar ninguém, apenas convencer.
- Eu tenho planos para mim e para o Max, em Manhattan. – Katy ficou séria – Agradeço a boa intenção sua e do meu primo, mas o nosso lugar não é aqui.
Suspirei e concordei:
- Apenas queria que todos nós ficássemos juntos. – sorri de leve. Eu não estava pedindo desculpas, só estava dando um tempo para pensar em como reverter a situação – Mas se vocês querem ir para seus compromissos, não sou eu nem a Vicky que vamos impedir. – olhei para a minha amiga ao lado, que estava de braços cruzados e com cara ‘ai, que sem importância’.
- Obrigada! – Kay sorriu animada.
- Mas... – Max franziu a testa, nos encarando – Se vocês não vão embora e pelo que eu lembro não tenho nada para fazer em Manhattan, por que eu tenho que voltar para casa?
- Porque eu quero! – Katy autoritária o olhou.
- Porque ela está fazendo uma festa para você. – Vicky falou direta.
- Amiga! – exclamei.
Ainda bem que foi ela que falou, porque se não ia ser eu!
- Outra festa? – Max aumentou a voz – Nós já fugimos de uma e você fez aquele bolo gostoso, mas bem sem graça no dia do meu aniversário e ainda ia ter mais coisa?
- Ah, Max, eu só quero te agradar! – Kay sorriu, segurando o braço dele.
- Mas eu não quero ser agradado! – Max falou irritado.
- Cara, não precisa exagerar. – tentei acalmá-lo, sem jeito.
- Não é exagero, é que... – suspirou – Só não agüento mais essa vida corrida, essas festas, essa gente sempre feliz, sempre bêbada. Estou com saudades de ser eu.
- Ai, exposição de sentimentos a essa hora da tarde não. – Vicky revirou os olhos e pegou a mala do Max – Ele fica, se você quiser vá embora. – e mandou um beijo no ar para a Katy, levando embora a bagagem do outro.
- Acho melhor deixar vocês dois a sós. – corri atrás da Vicky – Amiga, amiga! – chamei-a.
- O que é? – ela falou voltando-se para mim. Entrei em uma moita alta e a puxei junto – Pensava que você ia ficar lá para ver no que ia dar.
- Claro que eu não ia ficar segurando vela. – disse revirando os olhos – Mas eu te puxei para a gente ouvir atrás do muro.
- Ah, safada! – Vi exclamou rindo, largou a mala do Max e foi comigo até atrás do muro, que ficava na saída.
- Eu só tenho a agradecer o que você fez por mim, Kay. – o garoto falou, Vicky e eu grudamos as orelhas na parede quente – Acontece que eu mudei e você sabe, mas sempre que eu tento respirar e voltar ao normal, você me coloca em algo que me faz ser o cara de Nova Iorque.
- Mas eu te dei a vida, garoto! – Katy exclamou – Não que eu prefira o seu jeito atual, também sinto falta do Max antigo, por quem eu me interessei inicialmente – sua voz romântica fez Vicky fazer sinal de que ia vomitar. Segurei a risada – Só que não dá para viver ao lado de um bocó.
- Você me achava um bocó? – ele perguntou parecendo envergonhado.
- Todos te achavam um bocó, mas ninguém dizia. – Katy falou com sinceridade.
- Eu não achava que ele era isso. – sussurrei.
- Ah, amiga, porque você é você! – Vicky fez um rosto óbvio, enquanto fiz careta, sem compreender.
- Kay, eu não posso mudar quem sou. – Max abaixou a voz – Desculpe.
- O problema é seu, Max. – Katy disse isso sem parecer algo malvado – Só que não suporto mais te ver voltar a estaca zero. – arregalei os olhos para Vicky.
- Que profundo. – ela falou.
- Fique com seus amigos. – suspirou alto e continuou – Eu os adoro, mas talvez eu só seja obrigada a conviver com eles quando formos para Oxford.
- E a minha festa? – foi perceptível uma pontinha de arrependimento.
- Que festa? Você não a quer, você não vai ter. – ela disse e um estalo de beijo foi ouvido – Tchau Max.
- Tchau Kay.
- Ela está indo embora. – Vicky colocou um pedaço da cabeça para o lado de fora – Pegou um táxi.
- Eu não queria que ela fosse embora. – falei triste – A culpa é nossa?
- Sei lá, tanto faz. – disse com descaso.
- As duas... – ouvimos a voz de Max – Podem sair daí. O show terminou.
- Ops! – Vicky e eu dissemos juntas.

* * *

- Então a Katy foi embora? – Nath perguntou sério, encostado no portal do banheiro.
- Sim, foi. – Max respondeu.
- E não se sente mal por isso? – falei preocupada – Talvez fosse melhor você ter ido com ela.
- Sempre foi assim. Nunca somos estáveis. Ela se irrita e dá as costas, eu me chateio e a ignoro. – suspirou – Estou mais que acostumado.
- Vocês deveriam acabar com essa frescura! – Tom falou muito ‘gentil’ – É muito gay essa história de ‘vou não vou’.
- Cara, fecha a porra da boca! – Nath disse – Você não é o maior exemplo de namorado.
- Falou tudo, Nathan! – Vicky bateu a mão na palma do meu garoto, os dois riram juntos, enquanto Tom cruzava os braços fingindo estar irritado.
Acariciei a carequinha do Max e ele me olhou sorrindo de leve:
- Liga para ela daqui à uma hora. – falei – Não parece ter sido uma briga séria, então mostre o seu interesse.
- Tudo bem. – concordou com a cabeça.
- Max, se você gosta dela... – Vicky sentou-se ao lado do garoto, na parte vazia do sofá de três lugares – Vai ter que mudá-la.
- Por quê?
Vi suspirou:
- Cara, você é tão bom em dar conselho para os outros e é horrível para cuidar da própria vida. – ela disse revirando os olhos.
- É verdade. – sorri concordando, mas logo fiquei quieta quando vi o olhar dele de repreensão – Foi mal.
- Katy é mimada, birrenta e ‘voadora’. – fez o sinal de aspas com os dedos – Acho que para isso dar certo vai ter que reverter as coisas ao seu favor.
- O que não vai ser fácil. – Nath falou chegando perto e sentando-se na cama a nossa frente – Kay gosta de ser exatamente assim.
- Nós percebemos. – Tom disse irônico.
- Mas não sei nem por onde começar. – por um segundo parecia nervoso.
- E nisso não podemos te ajudar. – falei sem jeito – Você é o que mais a conhece.
Nath era primo de Katy, mas provavelmente Max passou mais tempo com ela e em situações mais diferentes do que o meu namorado teve chance de fazer em toda sua vida.
E boa sorte para o Maximilian!
Ou será para todos nós?

* * *

  
 Point of View: Victoria Foster


- Quem começa? – Nathan falou.
A noite chegou em Atlantic Bitch e grupos de amigos se formaram na areia da praia e com a gente não foi diferente.
- Não quero que contem histórias com bonecas. – disse, abraçando as minhas próprias pernas.
- Mas histórias com bonecas são tão divertidas! – Lucy fez um rosto decepcionado.
Essa menina me assusta!
Ela é fresca em tudo, mas adora história de terror e ainda brinca com minha cara que tenho problema com tais coisas.
- A Vicky se caga de medo! – Tom falou e logo recebeu uma cotovelada – Qual é? – resmungou.
- Todo mundo sabe que sou medrosa! Não precisa ficar relembrando. – Nathan e Lu deram risinhos divertidos, enquanto Tom fazia careta.
Olhei Max ao longe, os outros três voltaram a discutir sobre as histórias de terror que deveriam ser contadas.
Ele bebeu um pouco da sua garrafa de cerveja e prestou atenção no mar, parecendo não se importar conosco.
- Então eu começo. – Nathan falou por fim.
Nathan contando história de terror? Essa eu quero ver!
- Ken voltava pra casa...
- Amor, isso é o nome do namorado da Barbie. – Lucy o olhou segurando a risada.
- Não, burra! – Tom se intrometeu – Isso é o segundo nome do Max!
Ele e Nathan riram.
- Tom... – Max o olhou sério.
- Oi?
- Não venha jogar a frustração da Vicky chamar o seu pau de Ken e te fazer broxa! Eu não tenho nada a ver com seus complexos.
- Ai, ai, ai, ai! – Lu gemia enquanto eu ria jogando-me sobre a areia fria.
- O meu pau não é...
- Cala a boca! – falei entre a risada.
- O KEN VOLTAVA PRA CASA! – Nathan gritou – Ah, desisto!
- Não, não! Conta! – enxuguei as lágrimas.
- Ao menos uma fã! – arregalou os olhos, sorrindo.
- Não exagera, cara. – informei séria.
- Ta! Mas continuando...
- O Ken...
- Dá licença? Quem vai contar a história sou eu e não você. – reclamou com a Lucy que fez cara de ofendida, mas ele não se importou e continuou – O Ken, porque eu quero que seja esse nome, voltava para casa tarde da noite. Ele tinha ido deixar a sua namorada colegial...
- E gostosa. – Tom interrompeu.
- Por que gostosa? – perguntei.
- Já viu terror sem uma gostosa? – ele falou como se fosse óbvio – Continua, mano.
- Ele tinha ido deixar a sua namorada colegial, gostosa e virgem na sua humilde residência, muito pura. No caminho, com vontade de bater vocês sabem o que, viu uma mulher de branco parada na estrada...
- Ah, porra, Nathan! Essa é velha! – xinguei – Todo mundo conhece a história da mulher de branco.
- Mas essa é a história da Mulher de Branco 2011! – exasperou-se.
- 2011? – Tom fez rosto de quem pensava – AH, 2011! A versão pornô que no final o cara é preso e a Mulher de Branco faz sadomasoquismo com ele na frente da namorada virgem que no final vira prostituta!
- Sim! – Nathan confirmou animado com a cabeça – Foi o melhor filme que vi até agora! Ao menos os do que são para homens. – bateu na própria barriga como se conversar sobre esse assunto tivesse matado sua fome.
- Para homens ou crianças? – Lucy sussurrou para mim e demos risadinhas cúmplices.
- Que é que tão cochichando aí? – Tom perguntou curioso.
- Nada que seja da conta da sua baixa estatura. – Lu falou prontamente – Tem outra história para contar, Nath?
- É... Tem a da Branca de Neve...
- Que transa com os sete anões que também comem o príncipe? – Tom interrompeu mais uma vez.
- Dá pra parar de cortar as minhas histórias? – Nathan fez um rosto revoltado.
- Ainda bem que ele tem cortado suas histórias. – falei tentando não rir na cara do outro garoto – Mas é que queremos ouvir um terror, ou algo do tipo, não contos eróticos.
- Só porque os filmes de suspense e terror hoje em dia têm que começar com uma puta dos peitões não quer dizer que as lendas tenham de ser assim. – Lucy completou meu raciocínio.
- Que seja... – Nathan baixou os ombros – Não conheço histórias santas.
- Mas eu conheço uma... Interessante! – Lu deu um sorriso esperto.
- Então conta! – animei-me de uma maneira impressionante para o meu medo.
- Uma repórter foi para Nápoles... Que para os desinformados – olhou para Tom com desdém – Fica na Itália. Quando estava em um pub do interior, leu uma reportagem em um papel de jornal que estava pregado na parede...
“Dizia que uma jovem donzela, de apenas 16 anos, andava pelas ruas de Nápoles todas as sextas feiras. Ela vestia branco, um vestido de renda, um pouco rasgado e um pouco queimado, nunca usava sapatos. Os homens quando a viam ficavam interessados, mas temerosos, mas por bem ou por mal decidiam ajudá-la. A moça era calada, mas ao mesmo tempo tinha os olhos castanhos escuros e doces, que seduzia aqueles que tinham a alma imunda. Então ao tentarem tirar algum proveito sexual da garota, ela enfiava suas unhas longas nos olhos dos homens e fazia-os queimar. Eram encontrados com o sistema visual extremamente afetado por fogo. O causador dessas mortes nunca fora preso, mas boatos rondavam o local sobre a verdadeira assassina, embora outros acreditassem que não se passava de uma lenda...
Intrigada com a história a repórter decidiu voltar para a pensão que se instalara. No caminho, percebeu, olhando em seu celular, que era tarde da noite, assim como estava em uma sexta feira. Um calafrio percorreu seu corpo e o ar tornou-se frio. Ela pode ver a fumaça saindo da própria boca de acordo com a respiração.
Uma sombra bem definida apareceu perto de um poste de luz. A lâmpada piscou chamando a atenção da jovem que retirou os olhos da mancha negra que se formava.
Ela perguntou algumas vezes quem estava ali, mas não foi respondida. A silhueta mostrou uma pequena parte de seu rosto, seus olhos castanhos escuros eram demoníacos, seu sorriso era divertidamente malvado. Logo a menina deu as costas, assoviando alto e andando desengonçadamente, como em uma dança. Um mantra ecoou pelos becos escuros e vazios:
‘O Diabo me mordeu, laia, laia, ’.
Cantarolou animadamente.
Medrosa, a repórter tentou segui-la, mas, em uma última risada torturante, a moça sumiu por entre as sombras.
Desesperada, correu para a pensão, passando pelos corredores e ignorando os presentes. Trancou-se em seu quarto antigo, escondendo-se embaixo das cobertas.
O sono demorou a aparecer, mas quando chegou não teve longos momentos de calma. No meio da noite fora acordada com barulhos de dedos batendo na madeira velha das paredes da casa. Em seguida, unhas foram arranhadas em uma lousa qualquer. A repórter apertou o cobertor contra o corpo, sem saber o que fazer. E em um surto de realismo tomou coragem e saiu da cama, acendendo a uma vela. Fantasmas não existiam e aquela história do pub havia a deixado transtornada bobamente.
Saiu do quarto decidida, teria que achar o maldito rato que a acordara de maneira nem um pouco educada. Mas mais uma vez o ar frio tomou conta do corredor escuro. Descalça, arrastou seus pés receosos pelo tapete velho e mofado que seguia pelo caminho. Ia para o lado oposto da sala de entrada, não sabia aonde aquilo terminaria. Então seguiu, observando os quadros bem pintados com imagens de antepassados.
O corredor terminou e na parede que demonstrava seu fim, pode ver o que temia...
‘Tão inocente’.
Ouviu a mesma voz que cantara, dessa vez sussurrando.
Olhou para o lado, temendo não estar só. Mas nenhuma alma estava presente. Observou o quadro mais uma vez. A jovem do jornal, a jovem da rua, a garota da história era retratada, de uma maneira muito mais saudável e conservada.
Sorria feliz.
A repórter se perguntou o que aquilo significava. Então a moça realmente existia?
’A vida não foi feita para ser olhada aos olhos totalmente nus... Por isso não tire o véu’.
Cerrou os olhos e, na pequena placa embaixo do quadro, tinha essa frase, logo em seguida:
‘Minha amada filha: Anette’.
- Vejo que a conheceu? – uma voz baixa e fraca falou atrás da repórter.
- Desculpe, mas quem é? – perguntou curiosa.
- Minha filha, minha amada filha. – informou o dono da pensão, chegando mais perto, se apoiando em sua bengala.
- O que aconteceu com ela? – a repórter tinha que saber o resto da história.
- Foi morta. Morta por um homem malvado.
- Me conte, por favor.
- Tudo bem, querida. – ele respirou profundamente, já acostumado com tal curiosidade – Ane era uma garota boa e prestativa. Quando voltava da festa de aniversário surpresa, feita por suas amigas, um homem lhe ofereceu carona e a machucou de maneiras imperdoáveis e impensáveis – dizia com dor por se lembrar daquilo – Fora encontrada com seus olhos queimados, roupas rasgadas, seu vestido costurado pela minha falecida esposa estava destruído. Desde então surgiram histórias de que ela ronda a cidade.
- E o senhor acredita nisso?
- Por que não? Todas as almas têm direito de se vingar quando são tiradas de sua longa vida por mãos que não respeitam os próprios princípios e apenas querem satisfazer os prazeres do corpo.
- Então é tudo uma vingança?
- Sim, uma vingança que eu não quero que pare. Pois minha Ane tem direito de seduzir e definhar com as próprias mãos os corpos de qualquer homem perverso que passe diante de seu véu.”
- Fim. – Lucy terminou e nos olhou ansiosa – E aí?
- Amiga, foi tão...
- Legal! – Nathan sorriu – Eu gostei!
- Você não conta, é meu namorado. – disse sem jeito.
- Não gostei. – Tom falou – Parecia uma indireta com pessoas que só pensam em sexo.
- Se a carapuça serviu. – Lu ironizou.
- Mas eu gostei da história e é ótima para pessoas como ele – apontei para meu namorado – Tomarem como lição de vida.
- E você, Max? – Lucy virou-se para o ser calado e inútil.
- Foi boa. – falou sem interesse.
- Porra! Mato-me pra contar uma história e vocês tão cagando pra ela? – virou para o Nathan – Amor, posso me juntar a você na frustração de ninguém dar valor a pessoas inteligentes?
- Ah, a vontade! – ele riu por ter companhia – Agora é sua vez, oh grande contador de histórias! – brincou com Tom que lhe mostrou o dedo do meio.
- A minha vai ser a mais foda de todas. – informou metido.
- Vocês não vão contar nenhuma? – Lucy perguntou para mim e para Max.
- Eu não sei muito sobre essas coisas, porque não gosto. – falei – As que conheço é tipo ‘a mulher de branco’, que todos nós sabemos!
- Ah, que pena. – Lu fez um rosto triste – Max?
- História de terror não da pra contar, mais uma vez eu li um artigo científico muito esquisito.
- Puta que pariu! Cu de ferro agora não, Fletcher! – Tom repreendeu.
- Deixa o cara. – Nathan apoiou Max.
- Então, uma vez eu li que tinham pessoas que começavam a queimar do nada.
- Sério? – arregalei os olhos.
- Sério! Elas pegavam fogo sem nenhuma ligação externa. Era como se fosse de dentro para fora.
- Então a queimação não começava por uma azia! – Nathan brincou – Qual é? Só foi um trocadilho.
- Muito desnecessário. – revirei os olhos.
- E ninguém sabe de onde isso começa? – Lu interessou-se.
- Alguns cientistas acham que pode ser causado pela própria gordura do corpo e por uma descarga elétrica muita rara. – suspirou – Uma coisa muito louca que vocês não entenderiam.
- Vai, nos chama de burros! Joga na cara! – resmunguei.
- Mas, continuando... Normalmente as vítimas são encontradas na própria casa com os corpos carbonizados. As mãos, pernas, pés, essas coisas apresentam-se intactas. E tem alguns casos que os órgãos internos não sofrem queima, ficam inteiros!
- Ai, Max! Para com isso! – Lucy arregalou os olhos.
- Foi melhor que sua história e olha que isso é de verdade. – Tom provocou.
- A da Lu foi algo surreal a do Max foi algo verdadeiramente surreal. – brinquei – Mas as duas são boas e assustadoras. Embora mexer com o que acontece mesmo seja sempre...
- De fazer um cagar! – Nathan me interrompeu – Concordo Vicky.
- Então, deixem de falar merda, porque chegou a minha vez. – Tom levantou os braços, se achando – Vou contar uma história sobre Ana Bolena.
- Gostei. – sorri empolgada.
- Como vocês sabem o casamento dela com o Henrique VIII foi muito problemático. A igreja católica após ouvir o discurso do rei dizendo que Ana Bolena era uma bruxa e o havia enfeitiçado, tomou uma decisão: matar a rainha como se mata a uma pecadora. Então após ser enviada à morte através das mãos de um carrasco francês, seu corpo foi jogado em uma alta fornalha.
“Rumores falam que quando Ana Bolena passou dessa para melhor, ou não, ela estava grávida do seu irmão. Sua alma revoltada veio atormentar ao Rei, que matou uma pequena criança gerada no ventre de Bolena. Todas as noites Henrique VIII via claramente o fantasma da ex Rainha fazendo um aborto, aos pés de sua cama, em seguida, revoltada, ela jogava a criança morta no colo do rei, culpando-o pelo mal que havia acontecido as duas.
Já a Igreja católica ficou por conta do irmão de Bolena, que na verdade, era bastardo. Ossos de antigos cardeais foram queimados, padres foram encontrados mortos com os seus próprios materiais de autoflagelação.
 Por já ter rompido com o catolicismo e por não querer demonstrar sua culpa na execução da ex mulher, o rei, assim como as autoridades da igreja, esconderam o caso.
Mas dizem que até hoje é possível ouvir os gritos do bebê e de Ana Bolena na Torre de Londres. Que Henrique VIII passou o resto da sua vida amaldiçoado pelas mãos das próprias amantes que temiam ter o mesmo destino que Bolena."
- Acabei.
Todos nós ficamos em silêncio:
- Ainda estou procurando o quão foda essa história é. – Lucy falou com o rosto pensativo.
- A história da Lu foi melhor. – Nathan apontou para a namorada.
- Mas a do Tom também foi. – defendi – É porque ele não contou com detalhes.
- É que eu não lembro, porra. – falou revoltado por perceber que nem todos curtiram como ele pensava que ia ser – Vocês são uns merdas que não sabem de história.
- Merdas, vírgula. Eu passei em Oxford justamente nessa matéria. – Lu sorriu convencida.
- Sem falar que é tudo dor de cotovelo. – Nathan implicou.
- Mas sério, a história dos dois foram boas. Foram... – Max pensou no que dizer – Profundas. Não deram medo, mas distraíram.
- Isso é verdade. – concordei.
- Não tem uma versão pornô de Ana Bolena? – Nathan perguntou interessado.
- Ah, cara! Pensava que ninguém ia me perguntar isso! – Tom riu de um canto ao outro de sua cara pornográfica.
- Lá vem! – revirei os olhos.
- No filme que eu vi, ela era a cachorra do rei!
- Zoofilia?
- Não, sadomasoquismo sua anta! – Tom deu um tapa na cabeça de Nathan – Então quando ela morreu ele virava gay e comia os caras da igreja, pra se vingar dos católicos.
- Ui, você andou vendo filme para homossexuais? – Lu ironizou.
- Não, eu andei metendo a mão na sua cara! – Tom ia levantando-se enquanto Lucy ria descontroladamente.
- Ah! Porra, Tom! Sente-se! – puxei-o fazendo-o cair sobre a areia.
- Quer saber, vamos dormir Lu! – Nathan se levantou e estendeu a mão pra ela.
- Mas logo agora que estava ficando divertido? – ela sorriu implicante para o Tom, que mostrou uma ‘banana’ pra ela.
- Agora! – Nathan ordenou e até arregalei os olhos.
Derrotada, Lucy seguiu o namorado para dentro da cabana. Fiquei olhando para o Max para ver se ele não ia embora.
- Quer saber... Vou dar uma caminhada. – tirou a areia da bermuda de praia e fez careta – Se ficar aqui corro o risco de ver o que não quero, se eu entrar corro o risco de presenciar o que não gosto. Tchau.
Deu-nos as costas sem nem ao menos esperar uma despedida.
Ainda bem, porque eu não ia pagar de bem educada mesmo.
- Vamos molhar nossos pés no mar? – falei apontando para a água.
- Tudo bem. – Tom confirmou.
Aquela faixa da praia estava iluminada por vários postes que seguiam a orla. As luzes das cabanas deixavam a areia visível, mas ainda assim o mar parecia escuro.
Uma onda leve veio em nossa direção, molhando os nossos pés. Tom segurou minha mão e começou a bater com força no chão, dando pulos e espirrando água para cima de mim. Comecei a rir tentando me esquivar do salgado. Soltei sua mão e corri, ele vindo logo atrás.
Passamos alguns minutos apenas correndo e gritando. Era uma sensação de liberdade muito boa.
Parei de repente e deixei-o me abraçar, levantando-me e fazendo-me prender minhas pernas em seu corpo. Encaramo-nos demoradamente, meus dedos mexendo em seus cabelos pretos despenteados pelo vento.
Seu sorriso era brincalhão, como sempre, e a qualquer momento ele poderia dizer uma besteira pornográfica para me fazer rir.
Eu o amava e finalmente percebi que poderia assumir isso para mim:
- Tom eu... – comecei a falar.
- Que foi? – ele sorriu curioso, sentando-se na areia, ainda comigo em seus braços. Minhas nádegas tocaram o chão e mais uma onda veio, molhando a parte de baixo das nossas roupas.
- Eu acho que... – tentei mais uma vez.
Eu não iria conseguir. Eu poderia amá-lo e gritar tais palavras dentro de mim, mas para que ele deveria saber disso?
- Vai falar ou vai esperar eu virar uma preguiça no nível Nathan Sykes? – brincou.
Gargalhei jogando meus cabelos para trás e voltando ao normal cheguei à conclusão que não estava pronta para falar sobre o assunto:
- Apenas estou cansada e quero entrar. – disse e logo percebi uma decepção em sua cara curiosa – Se quiser fique aí, que eu já vou.
Sai de seu colo sem esperá-lo e voltei para a cabana. Ele não fez questão de me seguir, talvez tenha notado o que eu queria falar.
Nathan estava deitado na cama que era antes de Max e Katy, a luz do banheiro estava acesa:
- Cadê o mané? – perguntou referindo-se ao meu namorado.
- Ficou vendo o mar. – falei – Estou precisando falar com a Lu.
- Acho melhor conversar com ela depois. Tia Eliz ligou e pelos gritos que a Lucy estava dando, não parecia ser um assunto bom. – informou sentando-se no colchão e retirando a camisa – Mas se quiser, também sirvo como amigo.
Sorri porque Nathan realmente havia se tornado um amigo depois do nosso namoro mal sucedido:
- Não sei se você é a pessoa mais indicado para isso. – disse sentando-me na cama do outro lado. Nathan se arrumou e ficamos um de frente para o outro.
- Por quê? Eu sou um bom ouvinte e talvez bom conselheiro, sem falar nos meus olhos avelãs sedutores. – apontou para si mesmo, fazendo-me rir.
- É porque o que tenho para dizer talvez eu não consiga repetir para minha amiga. – fiz um rosto envergonhado.
Nem mesmo havia colocado para fora e já tava passando vergonha...
 Amar é algo péssimo!
- Mãe, você não pode fazer isso comigo! Não é justo! – Lucy gritou de repente.
- Mas pelo visto a Lu está com problemas demais para se envolver com o meu. – assumi e reparei o rosto preocupado de Nathan.
- Vou ao banheiro e quando voltar a gente conversa. – disse e foi em direção aos gritos que minha amiga dava.
Fui até a janela aberta, que fazia um vento frio entrar, olhei para o lado de fora e Tom estava no mesmo lugar, dessa vez com Max, conversando animadamente. Voltei para a cama assim que Nathan voltou ao cômodo, trancando a porta do banheiro, abafando a voz da Lu:
- O que está acontecendo? – perguntei.
- Não entendi direito, mas é algo que a mãe dela quer fazer e até onde sei a única coisa que deixa a Lucy irritada com a tia Eliza é o...
- Marc. – completei e suspirei – Que Deus coloque juízo na cabeça da tia, porque ela não está mais com idade pra enfrentar processos jurídicos. – falei observando Nathan voltar ao seu lugar na cama.
Encarou-me profundamente:
- Vamos esquecer a Lucy e falar de você. – disse por fim.
- Ok, ok. – confirmei com a cabeça – Mas não sei nem por onde começar.
- Comece pelo começo! – fez um rosto de ‘é obvio’ me fazendo rir de leve e relaxar.
- O Tom disse ‘eu te amo’ para mim.
- E isso já faz um bom tempo. – Nathan demonstrou estar bem informado sobre minha vida.
Lucy fofoqueira!
- É. Mas agora acho que é minha vez. – franzi a testa.
- Espera... Sua vez porque você realmente o ama ou sua vez porque você está se sentindo pressionada?
Eu poderia mentir dizendo que estava me sentindo pressionada.
Mas eu não estava:
- Realmente o amo. – falei tentando não mostrar minha vontade em não dizer isso – Só não quero dizer isso pra ele.
- Mas uma hora o Tom vai precisar ouvir.
- Então, esse é o problema. – suspirei – Não sei se vou conseguir dizer.
Nathan cerrou os olhos e pensou por longos minutos. Comecei a imaginar que ele era a pior pessoa para se contar qualquer problema.
Eu deveria ter pegado o Max!
- Se você demonstrar que o ama, não precisará usar isso com palavras. – falou por fim.
E pareceu que tinha caído uma luz do céu.
- Oi! – Lucy disse entrando no quarto – Do que falam?
- Problemas. – respondi – O que aconteceu?
- É... Depois... – colocou uma mecha atrás da orelha – Depois eu falo. Estou precisando digerir a informação que acabei de receber.
Sentou-se ao lado de Nathan e me olhou:
- Ah, qual o seu problema? – abri a boca para fala, mas ela mexeu as mãos em minha frente, me fazendo ficar calada – Tom? – confirmei com a cabeça – O que ele aprontou dessa vez?
- Nada. – disse sorrindo.
- Ela finalmente deixou de ser uma pedra e está amando o Tom. – Nathan falou com uma seriedade que nem parecia que havia me chamado de pedra – Só que está com medo de dizer isso para ele.
- Não é medo, é... Receio. – tentei buscar uma palavra menos idiota.
Lucy fez uma careta:
- Porra amiga, você se envolve em cada merda! – disse por fim.
- Ah! Obrigada pela ajuda. – usei muita, muita ironia na minha voz.
- E o que resolveram até aqui? – perguntou.
- Que ela não precisa usar as palavras para dizer que o ama. – Nathan falou apontando para mim.
- É, é uma boa. – Lu concordou com a cabeça.
Passamos mais alguns minutos falando besteiras antes de Max e Tom voltarem.
Meu namorado parecia normal, me cumprimentou, me beijou e antes de dormir me desejou um boa noite muito podre, tentando enfiar sua mão por debaixo da minha camisola:
“Aceitar informações de Lucy Mason?”
De repente, quando as luzes já estavam apagadas, meu celular acendeu, mostrando que a Lu queria me enviar algo por Bluetooth.
Aceitei:
“Arquivo recebido. Mostrar?”
“Sim.”
Confirmei.
“More Than Words”
Na cama ao lado, Lucy levantou-se e pude ver um pedaço de seu rosto, que ficou escondido pelo corpo dorminhoco de Nathan. Apontou para os dois ouvidos:
- O que? – sussurrei.
- Ela está mandando você ouvir algo. – Max falou preguiçosamente e reparei que ele nos observava.
Lu sorriu como se tivesse sido pega no flagra e voltou a se esconder pelo corpo de Nathan. Acenei para o Max deitado no sofá como se fosse um ‘boa noite’ e ele fez o mesmo de volta.
Eu conhecia a música e sabia sobre o que ela falava... Então comecei a ouvi-la.
(Nota da autora: coloque para tocar http://www.youtube.com/watch?v=0R-FGchhwLw)

Sayng "I love you"
Is not the words I want hear from you
It's not that I want you
Not to say but if you only know
How easy it would be to show me how you feel
More than words
Is all you have to do to make it real
Then you wouldn't have to say
Thay you love me
'Causa I'd already know...

Dizer "eu te amo"
Não são as palavras que quero ouvir de você
Não é que não sejam ditas, mas se você apenas soubesse
Como seria fácil mostrar-me como você se sente
Mais do que palavras
É tudo o que você tem que fazer para tornar isso real
Então não precisaria dizer que me ama
Porque eu já saberia...

Eu poderia imaginar Tom dizendo cada palavra para mim. Talvez Nathan tivesse razão... É melhor demonstrar do que falar. Pelo menos assim não me sinto pressionada a ser como todas as outras namoradas.

  


* * *

  
 Point of View: Lucy Mason



- Não roube os marshimellows! – reclamei dando uma tapinha na mão atrevida do Nath.
- Desculpa! – sorriu feito uma criança – Você acha mesmo que eles vão achar o caminho?
- Claro que vão! Desenhamos um mapa! – coloquei os marshimellows prontos em uma bandeja maior que havia por perto.
- Desenhamos um mapa no papel higiênico. – falou olhando ajoelhado pela janela – Ainda não chegaram.
- Então senta sua bunda na madeira e relaxa. Estamos numa casa de árvore, num hotel lindo, com macaquinhos pulando e passando por nós. Deixe os outros para lá! – fui até ele, também de joelhos. 
Aquele teto era irritantemente baixo.
- Parecemos sem infância numa casa de árvore. – olhou ao redor, sentando-se.
- Mas brincamos várias vezes na minha antiga casa, se lembra? – perguntei sentando-me de frente para ele. Passei minhas pernas abertas por cima das suas, encaixando-nos. Coloquei minhas mãos em cada lado dos seus ombros, assim como as suas estavam espalmadas em minhas costas, dando-me apoio. Seus pés juntos, à cima do meu bumbum – Uma vez o papai nos deixou dormir lá!
- Sozinhos! – Nath arregalou seus olhos avelã – Acabamos que não dormindo.
- Também, com a quantidade de mosquitos que tinha ali! Foi muito mais legal voltarmos correndo para casa para o cobertor quentinho dos papais Mason. – sorri animada, lembrando-me da nossa infância.
Nath puxou meu queixo e selou minha boca, esfregando seu nariz no meu. Sussurrando falou:
- O que houve ontem? 
Encarei-o séria. Ainda não tinha dito nada sobre a conversa com minha mãe:
- Posso parecer boba por estar chateada com isso, mas ontem mamãe me deu a notícia de que Marc a pediu em casamento e ela...
- Aceitou. – Nath completou e confirmei tristemente com a cabeça.
- Por que ela fez isso, Nath? – parecia ridiculamente irracional.
- Porque ela o ama. – falou sério.
- Mas é tão esquisito. Está escrito na cara dele ‘não presto’.
- Tia Eliza só veio saber disso depois de já ter saído com ele. Agora não pode mais voltar atrás.
- Claro que pode! – resmunguei – Ela tem liberdade pra isso.
- Ninguém tem liberdade quando se ama.
Não quis achar outra resposta revoltada depois de sua última frase. Eu nada mais poderia fazer a não ser aceitar. Pelo menos passaria a maior parte do tempo na faculdade, longe dos dois:
- Só não quero morar com eles. – abaixei meu tom de voz, olhando para a janela que estava atrás de Nath.
- Nas férias pode ir para minha casa, meus pais vão gostar. – sorriu prestativo e retribui.
Será que minha mãe ia querer se mudar mais uma vez? Quem sabe para um lugar maior...
- Vocês vão ficar discutindo? Então eu vou logo.
Ouvimos a voz de Max.
- Chegaram! – sorri empolgada. 
Larguei-me do Nath e nós dois fomos engatinhando, puxando o alçapão:
- Oi!  - Max riu e a fileirinha vinha trás com Vicky e Tom brigando por algum motivo.
Demos espaço para todos entrarem e de repente a casa da árvore ficou muito menor do que já era:
- Nossa, que calor humano! – Max brincou sentando-se – Posso tirar a camisa?
- Independente de poder ou não, eu vou tirar. – falou Tom logo mostrando seu físico magrelo.
Nath me olhava do tipo ‘nem esperam para ver o que tem de legal’ e mostrou um pequeno ventilador ligado a uma das duas tomadas que havia ali:
- De calor a gente não morre! – Vicky sorriu se abanando – Meu Deus! Quem foi que desenhou a droga daquele mapa?
- Ele.
- Ela.
Nath e eu nos apontamos:
- Nós dois. – respondemos juntos.
- Tá, então sinto informar-lhes que vocês dois juntos não completam um cérebro! – pelo visto estava irritadinha – Seguindo o que vocês desenharam fomos parar na área nudista da praia!
- Sério? – meu namorado arregalou os olhos.
- Até quis ficar lá e ver as gatas dos peitões e depiladas, mas a Vicky não deixou. – Tom balançou a cabeça tristemente enquanto Vi o olhava incrédula.
- Por sorte encontramos um guia do hotel que nos mostrou onde ficava a trilha para as árvores. – Max disse – Marshimellows! – exclamou enchendo a boca com o cilindro comestível rosa.
 - Vicky! – chamei minha amiga que logo se virou para mim – Estive pensando... O que acha de pintarmos a cara dos garotos?
- COMO? – gritaram Nath e Tom.
- Pintar de pintar? – ela riu parecendo interessada.
- Não, pintar de comer um avestruz e botar um ovo! – brinquei.
- Ah, obrigada pela educação. – Vicky riu – Mas não temos tinta! 
- Temos sim!
- Temos não! – Nath arregalou os olhos.
- Claro que tem tinta! – peguei minha bolsa que até então eu havia deixado bem fechada – Nath! Deixa eu te fazer de palhacinho!
- Não, Lucy! Eu pensava que tínhamos vindo aqui para jogar cartas!
- Mas podemos fazer isso depois. – Vicky me apoiou, ficando de joelhos e olhando a cara de Tom.
- Vamos fazer assim... – Max se manifestou – Jogamos cartas e quem perder, vai ter que deixar todos rabiscarem algo no rosto. Quem tiver mais derrotas, voltará para a cabana com o rosto todo pintado.
Nos entreolhamos. Foi uma ótima proposta:
- Feito. – respondi e os outros concordaram com a cabeça.
- Então, qual será o tipo? – Vicky falou se preparando.
- TRUCO! – Tom gritou.
- Sou péssima em truco! – fiz uma careta.
- Então vai ser esse mesmo! – ele implicou.
- Esse mesmo vai ser eu te jogando daqui de cima. – olhei-o malignamente – Outro.
- Poker! – Nath falou.
- Sério? Sem fichas, sem sabermos como se joga, sem dinheiro aqui com a gente para apostar. Nossa Nathan, às vezes você é um gênio! – Vicky disse irônica.
- Valeu pelo esculacho, Victoria. – Nath fez um rosto de raiva e dei umas tapinhas prestativas.
- Max? – me virei para ele, era a nossa única esperança.
- Buraco. – disse sério.
- O que? – Vicky arregalou os olhos pensando besteira.
- Biriba! – Max falou de novo.
- Que porra é essa? – Tom perguntou.
- É um jogo de cartas do Brasil. – explicou-se.
- Cara, moramos na Inglaterra, estamos passando as férias nos Estados Unidos! O Brasil deve ficar em outro planeta e você nos vem com um jogo de cartas desses? TA FUMANDO, GEORGE? – Nath quase gritou, fazendo-me rir.
- Me perguntaram e eu respondi se não gostaram fodam-se todos. – irritou-se.
- Oh, falando palavrão! – Tom brincou.
- Não pentelha, Tom. – reclamei – Então teremos que usar a nossa única alternativa...
Fiz mistério.
- Qual? – minha amiga me perguntou.
Retirei um bolo de cartas de dentro da minha bolsa:
- Ah! Não, como você teria coragem! – Nath arregalou os olhos fazendo drama de brincadeira.
- Ai, deixa de frescura! Só é um UNO! – gritei a palavra e todos aplaudiram e quase se jogaram da janela.
- AMIGA! SOMOS UM GÊNIO! – Vicky disse.
- ‘Somos um gênio’? – Max perguntou – Você sabia que ela ia trazer o Uno?
- Apenas tivemos uma briga séria em Londres se deveríamos trazer o jogo ou não. A Lucy disse que íamos ter tantas coisas para fazer em NY que nem nos lembraríamos das cartas. Já eu disse que nem tudo são compras e que deveríamos trazer uno, então ela trouxe por causa de mim. – Vicky se explicou.
- Logo, ela é gênio junto comigo! – abracei minha amiguinha de lado, fazendo-a rir.
- Vamos em duplas? – Tom propôs.
- Claro que não, você é péssimo em uno! Qualquer um que pegar você vai se foder. – falei embaralhando.
- Péssimo em uno o caralho! Isso tudo é inveja das minhas técnicas marciais. – falou convencido pegando suas sete cartas.
- Tom. – Nath o chamou – Você não é péssimo, você é a merda de um cavalo com dor de barriga, resumindo...
- É muito nojento? – Max o interrompeu.
- Não, é muito podre! – Nath o corrigiu – Ele rouba e ainda perde, puta que pariu!
- Porra, isso é complô contra mim? Olha que vou massacrar todos vocês seus bostas! – Tom irritou-se, descendo sua carta vermelha de número nove sobre a azul de número seis.
- Está errado! – Vicky empurrou sua mão – Isso é nove, seu cego! – ela mostrou a carta na cara do namorado – Não seis!
- É nove? AH, MAS PRA MIM É TUDO IGUAL! – falou observando a mão – É, não tenho.
- Então pega. – revirei os olhos.
Dependendo do Tom a primeira rodada acabaria quando ele ganhasse juízo, resumindo: NUNCA.
- Agora é a sua vez, Nathan. – Max avisou.
- Oi? Ah, é! – ele riu e desceu a carta de setas.
- Voltando o jogo! – Vicky avisou.
- É o Tom de novo? – Nath gritou – Fodeu! Só vai chegar em mim de novo amanhã!
- Quem mandou descer a carta de setas? – sorri da cara dele, me colocando de lado pra bater em seu corpo, enquanto na verdade eu queria ver suas cartas.
Todas amarelas.
Coitado!
- Agüenta essa Max! – Tom falou descendo uma carta de +2.
Irritado, Max pegou o que foi obrigado:
- Agora sou eu. – Vicky procurou uma carta na mão – Essa!
- Voltando o jogo mais uma vez. – avisei.
- A vingança é um prato que se come frio e acompanhado de um coringa! – Max falou com uma voz maligna, descendo um +4.
- SE FODEU! – Nath gritou enquanto todos nós riamos dos olhos arregalados de Tom.
- Desafio! – falou esperto.
Max revirou os olhos e mostrou sua mão para Tom:
- Agora pega mais seis, mocinha! – George brincou enquanto o outro revoltado retirava mais duas cartas do bolo que estava todo bagunçado no chão.
- Vocês são uns filhos da puta! Todos contra um... – Tom começou um monólogo de vingança – Mas vou ferrar todos vocês, vocês vão ver...
- Dá para calar a boca, não estou conseguindo pensar! – Nath reclamou mexendo na franja, assanhando-a – Desculpa, amor.
Olhou para a mim com seus olhos de perdão e logo o vi descendo uma carta que “pula a vez”.
- Seu desgraçado! – falei entre os dentes.
Quanto tempo mais eu teria que esperar? Cem anos?
- Obrigada, Nathan! – Vicky agradeceu jogando uma carta qualquer – Vai Max!
- Se fode Tom! – o garoto sorriu colocando um +2.
Rimos dele mais uma vez:
- Não vai desistir? – Vicky perguntou.
- O que acha? – Tom tornou-se sério e pegou as duas cartas. Percebi um sorriso maligno.
Nath colocou mais um número qualquer. Sorri para ele e coloquei sobre as outras cartas o mesmo algarismo, de cor diferente, para que quando chegasse nele tivesse de pegar uma carta, já que não estávamos com amarelo.
Era minha vingança por ter me pulado...
O jogo continuou animadamente! E como o próprio Tom disse: todos contra um. No final foi ele quem perdeu a maior parte das rodadas, revezando entre Nath e Max, já que os dois se empenhavam tanto em destruir o amigo que às vezes se auto-prejudicavam.
De divas, eu e a Vicky apenas ríamos:
- Será que ele vai conseguir sair assim? – sussurrei para o Nath.
- Duvido! – meu namorado riu, segurando minha mão enquanto passávamos pela pequena faixa de árvores que tinha antes de chegarmos à praia.
Tom ia à frente de todos, Vicky e Max estavam juntos, apenas observando com um sorriso no rosto o mico que logo, logo o anão iria pagar.
- TOM KING OF THE JUNGLE! – o garoto de repente gritou sobre si mesmo – EU SOU O REI DO MUNDO!
- AI, MEU DEUS! – corri para minha amiga – Seu namorado ta pirando?
- Claro que não, ele já é pirado por vida! – a Vicky falou arregalando os olhos.
- EU MANDO EM TODOS VOCÊS! – continuou a gritar.
Nath puxou a mim, que puxei a Vicky que estava pouco se fodendo para o Max, mas nos escondemos atrás de uma árvore para podermos olhar melhor aquela cena.
Era uma coisa bizarra vê-lo sem camisa, com uma faixa amarrada na cabeça e a cara totalmente pintada com tinta guache de todas as cores! Seus braços levantados mostrando seus pêlos não aparados... Poderiam levá-lo para o hospício na maior facilidade:
- Eu não volto para cabana com ele fazendo isso! – Vicky disse enquanto Max chegava mais perto da gente.
Várias pessoas o olhavam, rindo e fazendo careta, se perguntando o quão idiota ele deveria saber que estava sendo:
- E vamos ficar aqui esperando ele ir embora? – Nath sussurrou.
- Se sairmos agora ele vai ter o maior prazer de mostrar que somos seus amigos. – falei – A gente fica! – insisti.
- Daqui não saio daqui ninguém me tira. – minha amiga cantarolou.
Tom voltou sua visão para as árvores, procurando por nós. Com seus olhos cerrados nos achou e sorriu espertamente:
- Do que ele ta rindo? – Max falou.
- Não sei! – Vicky balançou a cabeça.
- Eu não acredito que ele está...
Como que para desafiar, continua a nos encarar e com a camisa que estava pendurada no ombro, limpou seu rosto sujo de tinta e aos poucos sua pele voltou a cor normal:
- Se não estamos lá para obrigá-lo a pagar o mico... – Nath disse – Então quer dizer que ele tem direito de não cumprir sua parte.
- Filho de uma mãe! – Vicky falou entre os dentes enquanto seu namorado nos dava as costas, indo pelo caminho da cabana animadamente. 

* * *

Com brincadeiras ridículas o resto do mês de julho foi acontecendo ainda no EUA. Katy não voltou para Atlantic Beach, deixando Max triste na primeira semana, mas logo depois ele se soltou:
- Max, aquela garota está te olhando. – falei dando uma cotovelada de leve nele.
- Amiga, não sei por que você avisa. – Vicky sussurrou ao meu lado. A alguns passos de nós, Nathan e Tom jogavam bola, na areia – Duvido que ele vá trair a Katy amada.
- Porra de Katy amada. – Max reclamou, sentado ao nosso lado, dividindo a única canga com a gente.
- Ai, gente! Ela tá acenando. – dei um sorrisinho – Max, ela te quer.
Ele me olhou com cara de:
- Sério mesmo que você está dizendo essas coisas? – falou, fazendo eu e minha amiga rirmos.
- Aposto que ele nem sabe mais como se pega uma garota! – Vicky provocou.
- Então vamos apostar Victoria. – ele sorriu esperto – Um dia chamando Tom de ‘amor’ se eu conseguir beijá-la em menos de 10 minutos.
- Feito. – Vicky apertou a mão do garoto e logo ele nos deu as costas.
Infelizmente minha querida amiguinha perdeu e ao menos uma vez na vida Tom conseguiu ouvir a Vi chamando-o de amor, com má vontade, mais chamando mesmo assim.
Eu e o Nath continuávamos bem e cada vez mais ele se esforçava para mostrar que havia se tornado maduro, me deixando sempre orgulhosa.
Mas algo no meio disso tudo começou a preocupar, pois ultimamente eu e ele estávamos voltando a ser o que éramos antes:
- Nath, sabe do que tenho medo? – falei com a minha cabeça deitada em seu peito. Olhávamos o céu estrelado e no meu celular tocava Living In The Sky With Diamonds.
- Além de barata? – sorriu – É... Não sei.
- De que a gente seja apenas amigos. – disse em tom sério, sem olhá-lo.
- Mas somos namorados. – sua voz incrédula saiu junto com uma movimentação desconfortável de seu corpo – Como a gente pode retroceder?
- Eu não sei. – pisquei algumas vezes e voltei meu rosto para ele – Eu te amo, só tenho certeza disso.
Nath suspirou e beijou o topo da minha cabeça:
- Mas você ainda não sabe se é amor de namorado ou amor de amigo? – balancei a cabeça negativamente – Bom, só quero dizer que já é tarde para você ter dúvidas sobre isso. Eu te amo de verdade e você me iludir esse tempo inteiro...
- Hey! – sorri sem jeito e beijei o canto da sua boca – Foi mais um ataque de confusão de Lucy Mason. Você sabe que essas loucuras nunca devem ser levadas a sério. Não tenho dúvida do que temos.
O garoto ficou calado por alguns segundos, observando cada parte minha. Simplesmente me abraçou forte:
- Se eu te perder, não sou ninguém. – falou em um tom sombrio que me fez arrepiar.
- Você nunca vai me perder. – sussurrei para tranquiliza-lo.
Depois dessa noite nunca mais tocamos no assunto. Acho que foi uma questão de carência, de repente eu via o Nath com o Tom e com Max para lá e para cá, sempre que vinha para perto de mim conversávamos, conversávamos e nos esquecíamos do resto. Não me refiro a sexo e sim a beijos. Tornaram-se raros, mas quando viam sempre me fazia esquecer esses medos bobos.
Tom e Vicky estavam tão cão e gato como sempre. Esperava a hora de minha amiga amolecer, se declarar ou qualquer coisa do tipo, mas nada.
Certa vez a flagramos com o Tom:
- Nath! – bati em meu namorado na varanda da cabana – É o Tom e a Vicky. – falei chamando-o com a mão.
Levantando-se rápido da rede, Nath ficou ao meu lado:
- Eles estão de mãos dadas! – arregalou os olhos – De mãos dadas! – repetiu.
- Isso é tão incrível! – sorri animada – Estão vindo para cá!
- Vamos nos esconder. – Nath me puxou e entramos.
Dentro, Max dormia em seu sofá de três lugares. Meu namorado e eu nos ajoelhamos perto da janela aberta:
- Foi boa a caminhada. – Vicky falou com uma voz meiga.
- Deveríamos fazer isso nas outras noites. – Tom falou no mesmo tom que a garota.
Escondida atrás da cortina deixei meus olhos passarem o batente da janela. Nath fez o mesmo e começamos a analisá-los.
Os braços da minha amiga estavam ao redor dos ombros do Tom, enquanto ele envolvia sua cintura com força. Começaram a se beijar de maneira íntima.
Nath soltou uma risadinha abafada:
- Shi! – fiz sinal para que ele parece, logo se recompôs.
- Te amo. – Tom falou próximo ao rosto da namorada, encarando os olhos dela. Vicky sorriu bobamente por uma questão de segundos, mas não se demorou muito e colocou uma expressão bem natural na fuça.
E respondeu:
- Que bom. – com bastante ironia.
Revirei os olhos:
- Ela não aprende! – sussurrei dando uma batidinha leve na parede.
Nath deu de ombros e deixamos os dois em paz.
Coisas como essas se tornaram constantes e posso dizer que a viagem foi maravilhosa!
Mas, felizmente, uma hora todos voltam para o lar.
Ai que saudades de Londres! 


Nota da autora: Continue lendo!

Voltando para Londres! (Capítulo 05)

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