sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Guilty Pleasure (1ª Temporada - 49 ao 50 )


Capítulo 49 ao 50 (final da temporada)






CAPÍTULO 49


BUTTERFLYE



Ponto de Vista: Tom



Junho de 2011
BAILE DE FORMATURA
 Os formandos do último ano terão o benefício de um grande baile de despedida de todo seu tempo letivo. A tradição do colégio permitirá que no último sábado do mês, os jardins sejam preenchidos de roupas formais, casais, concursos e músicas para vários gostos.
Convidem seus amigos, namorados e namoradas para participar dessa festa!
ATENÇÃO: apenas para os alunos da casa. Permitido convites para alunos de séries inferiores ao último ano.
Boa sorte, boa despedida e preparem-se para a grande festa do College Lioncourt!

Atenciosamente...
Coordenações Festivas.

– E que comece a correria! – falei assim que vi o primeiro papel grudado nas pilastras dos muros velhos daquele prédio.
Vicky, ao meu lado, lia distraída.
– Uma vantagem de namorar nessas épocas é que pelo menos ninguém corre o risco de não ser convidado. – ela concluiu com um sorriso.
– Está vendo? Não sou tão inútil. – disse tentando tirar vantagem de sua informação.
– Algo de bom você tem que ter, querido. – Vicky falou irônica, dando-me duas tapinhas no ombro.
Puxei seu braço e seu corpo veio de encontro ao meu, fazendo-me desmanchar seu sorriso com um beijo que iniciei.
Nossas bocas grudadas, nossas línguas se procurando, seus braços ao redor do meu pescoço.
– Olha só... O casal in Love do ano! – Nathan disse, chegando de repente.
Ouvi uma risadinha de Lucy e deduzi que estivesse acompanhado.
Mostrei o dedo do meio, mas não parei de beijar a minha garota, deixando-os esperar por nós.
Os dois bocejaram e começaram a cantarolar a música de Happy Tree Friends, aproximando suas cabeças da gente, cada um de um lado. Vicky não resistiu e gargalhou alto, fazendo-os ganhar pela perturbação de partir o contato de nossas bocas.
– Finalmente! – Lucy gritou abraçando a amiga de lado – Já estava começando a pensar que vocês iam se penetrar por cima, de tanto que voava língua, mão e sei lá mais o que por todos os lados! – Nathan riu e ela o olhou sem ter achado muita graça no que disse.
– Já viram o papel da formatura?- perguntei tentando ignorar seu último comentário. Porém não deu muito resultado já que minha namorada iniciou um cochicho com ela.
– Ah, até que demorou! – Nathan disse aproximando seu rosto do anúncio – E aí, Tom... Quem você vai levar?
– Pensei na Tanya. – respondi tentando não rir. Recebi uma tapa no rosto que me fez arregalar os olhos. Vicky me encarava com ódio, e aí sim eu comecei a gargalhar, seguido do Nathan, enquanto Lucy observava as próprias unhas.
– Vamos ter que ver nossas lindas roupas. – Vi comentou com a amiga, fingindo que eu não existia depois da brincadeira – A sua vai ser vermelha?
– Não sei. – ela respondeu – Acho que vou usar algum tom pastel para ter liberdade de fazer uma boa maquiagem, comprar salto de cor chamativa.
– Tem razão. – Vicky disse pensativa – Mas depois pensamos nisso! Temos uma aula muito divertida de Química pela frente.
– Divertida? – Nathan falou em tom revoltado – Você tem problemas na cabeça?
– Não, ela só tem... – Lucy colocou a mão na frente da boca dando um risinho forçado que fez a Vi olhar de lado para ela – Ela só tem um ótimo gosto!
– Do que vocês estão falando? – perguntei desconfiado, enlaçando a cintura da minha namorada enquanto andávamos pelos corredores, indo em direção à sala de aula.
– Nada de mais! – Vicky disse com descaso, dando um beliscão na outra, que se contorceu dando pulinhos ao lado do Nathan, que também me olhava sem entender porra nenhuma.
O quê?
Será que elas acham aquele brutamontes de músculo, dos olhos verdes, alguém bonito e interessante?
Meu Deus!
Não tenho chances perto dele...

* * *

– Você acha que fico bem de azul?
Vicky perguntava pela nona vez em menos de um minuto:
– Sim amor, você fica bem de qualquer jeito. – respondi com certo tédio, sentado e quase deitado no sofá confortável da loja de roupas.
– Eu queria te mostrar, mas quero que seja surpresa no dia da festa!
– Mas eu não vou te ver do mesmo jeito? Agora ou depois... Tanto faz! – falei com descaso.
Uma cortina amarela abriu rapidamente e Vicky apareceu com as mãos na cintura e um vestido tomara que caia azul escuro, cobrindo seu corpo.
Estava perfeita!
– Dá para demonstrar um pouco de interesse nessa porcaria de baile? – ela falou irritada.
– Até quero curtir essa festa, Vi, mas vocês, garotas, fazem tempestade em copo d’água por causa dela!
– Querido... – Vicky veio até mim e sentou no meu colo, por consequência arrumei minha posição – Não que eu seja ligada a frescura de meninas, mas... Um baile é uma tradição e não quero sair da droga do College pensando que minha despedida foi uma bosta! Então coloque um sorriso no rosto e seja um príncipe encantado fajuto pelo resto dessa semana! – Vicky apertou minha bochecha e voltou ao provador, escondendo-se.
– Tudo bem! – respondi encostando minha cabeça, olhando o teto, cruzando os braços – Por você tudo. Mas só vou ser príncipe depois do cochilo que eu der nesse sofá confortável!
– THOMAS!

* * *

Caminhava pelo corredor sozinho.
Vicky havia ido dormir na noite anterior na casa da Lucy e logo as duas chegariam. Faltava apenas dois dias para o baile, tudo estava uma correria, inclusive minha vida.
Festas desse tipo não deveriam interferir nos deveres de um garoto, mas ultimamente eu estava tendo que trocar meu Playstation 3 por provas de smoking.
SMOKING?
Ridículo, mas necessário:
– Tom!
– Oi, Nathan! – falei perto da sala de aula, o outro me alcançou ofegante – Cadê a Lucy e a Vicky?
– A Lu não quis que eu fosse buscá-las.
– Vocês brigaram? – perguntei.
Só então reparei que Nathan parecia meio triste e mais perdido que o normal:
– Quase isso. – ele respondeu e entramos na classe. Sentamo-nos em nossos lugares e me voltei para trás para prestar atenção – Ela está emburrada comigo, mas não sei o motivo.
– Deve ser estresse por causa da festa, do fim das aulas, essas coisas.
– Não sei... – Nathan disse pensativo e suspirando – Desde que soubemos sobre o que terá no sábado ela veio mudando de jeito. Ela estava totalmente feliz e ficava dizendo ‘você não tem nada para perguntar?’. Aí eu dizia ‘viu como estou bonito hoje?’. – sorri da bestice do outro – Normalmente ela ri das minhas piadas, mas dessa vez não fez isso. Ontem, depois que a deixei em casa, ela bateu forte a porta do carro, não disse tchau, não deu beijo, nem nada! A Lucy nem mesmo me chamou para ver as roupas como a Vicky fez com você!
– FALA SÉRIO? – gritei impressionado – Eu pensava que ela ia ser mais rápida que minha namorada em relação a isso!
– Eu sei, mas tem algo de errado! Mas eu não sei o que é! A garota estava mega empolgada com a festa, agora está totalmente com descaso. E sinto que a culpa é minha...
– Só que você não faz ideia. – completei.
– Exato.
Comecei a pensar, já que esse não era o forte de Nathan, então se eu quisesse ajudá-lo teria que fazer isso por ele:
– Vem cá... – comecei a dizer e o cara a minha frente aproximou seu rosto – Você acha que as garotas gostariam de ser convidadas pelos próprios namorados?
– Não... – ele respondeu mexendo a cabeça de um lado para o outro e parou de repente – SIM! SIM! – Nathan gritou – Você chamou a Vicky?
– Não, mas... A Vicky é diferente da Lucy, ela não liga muito para isso. – dei de ombros.
– Tem razão. – ele disse rindo – Sorte sua!
– Nem fale isso, sei que você morre pelo jeito da Lucy assim como morro pelo jeito da Vicky. Não é a toa que estamos cada um com a sua, por serem exatamente da maneira que gostamos.
– Assumo que concordo. – Nathan disse cruzando os braços e parecendo gente – Quando as duas entrarem por aquela porta eu vou perguntar e...
– HEY, TOM! – ouvi a voz da Vicky e uma pessoa voou para minha frente.
– Péssimo dia para todos. – Lucy disse jogando-se em sua cadeira, enquanto eu recebia um beijo da Vicky.
– Ela está esquisita hoje. – a minha namorada disse, sorrindo enquanto eu dava espaço para ela passar por mim e chegar ao seu lugar – Perdemos alguma coisa?
– Não. – Nathan respondeu – Mas foi bom vocês terem chegado. – o garoto me olhou, buscando algum apoio e mexi a cabeça em sinal positivo – Lucy...
– Que é, encosto? – a menina respondeu chateada, enquanto Vicky soltava uma risadinha. Segurei para não rir também, porque, parando para pensar, as duas garotas haviam trocado de posição.
A feliz estava com raiva, a com raiva estava feliz.
– Quer ir ao baile comigo? – Nathan disse enfim, afastando o cabelo da Lucy para poder enxergar melhor o seu rosto.
– Está pirando, Nathan? – Vicky perguntou irônica.
– Ah! – Lucy disse mudando completamente de expressão – Eu quero, eu quero, eu quero!
Vicky olhou-me assustada e de boca aberta, em seguida sussurrando ‘isso é sério?’.
– Ainda bem! Já estava começando a pensar que ia de garçom para dar a desculpa que estava sem par e... – nem mesmo a outra esperou ele acabar de falar, pois foi logo o beijando.
Fiquei satisfeito já que todo aquele problema foi resolvido pelo meu cérebro potente e delicioso.
Menos um problema para certo dia do ano...

* * *

E que venha a tortura!
Pensei assim que me vi todo pronto de roupa formal.
– Meu filhinho está tão lindo! – mamãe exclamou invadindo meu quarto.
– Menos, Dona Samatha, menos. – respondi enquanto ela me abraçava emocionada – A Vicky já está pronta? – perguntei deixando-a dar um retoque na gravata.
– Quase. – ela respondeu – Está muito bonita também, Jack ficaria orgulhoso da filha que teve!
– Tenho certeza que sim. – sorri dando-lhe um beijo na testa – Preciso fazer uma ligação, mãe.
– Claro. Vou indo e... Juízo!
– Pode deixar! – falei acenando enquanto ela fechava a porta.
Peguei o meu celular jogado em qualquer lugar do meu quarto.
Precisava falar com Nathan.
Havíamos combinado de nos escrevermos no concurso de talentos aberto para o dia de hoje. Iríamos cantar músicas para as duas garotas. Eu escolhi Butterfly do Jason Mraz, já ele escolheu All About You.
– Oi, John! – Nathan atendeu o telefone sorridente.
– John? É o Tom!
– Eu sei, mas eu queria te chamar de John, algum problema com isso?
– Não, não... Deixa para lá. – respondi sorrindo – Onde você está?
– No shopping!
– Que porra você foi fazer no shopping? – perguntei assustado e me sentando na cama.
– Vim na joalheria comprar uma pulseira para Lu. – pensei o quão grudento o Nathan era e voltei a atenção para a sua voz – O que você quer?
– Falar sobre os violões.
– Não se preocupe, já vai ter lá. – ele respondeu.
– Que horas você acha que chega? – falei tentando dar um jeito no cabelo.
– Não sei, estou sem carro!
– O que houve?
– Quebrou ontem enquanto eu voltava para casa. Vou ter que pegar um táxi. Só não sei onde vou achar um.
– Ora, dentro do shopping tem uma área de táxi! – falei impaciente.
– Ah, é mesmo! – Nathan gargalhou – É tanto tempo andando de carro que até me esqueci de me virar de outra maneira.
– Pois é. Ah, lembrei! Quer que eu passe e pegue a Lu?
– Não, não. Eu vou buscá-la, nem que a gente vá de metrô!
– Coitada. – comentei, mas ri por dentro porque seria legal vê-la chegar descabelada na festa – Mas qualquer coisa só é ligar que eu vou buscá-los.
– Pode deixar! Agora vou indo procurar onde ficam os táxis. EI MOÇO, VEM CÁ...!
Tutututututu.
E o filho da mãe desligou na minha cara, sem nem dar tchau. Pelo menos não me ouviu rindo de sua idiotice.
Ouvi uma batida na porta e gritei:
– ENTRA!
– Olá! – Vicky falou entrando pelo cômodo.
O vestido azul estava perfeito como esteve dias atrás, um pequeno colar de ouro, salto preto, cabelos soltos, lábios rosa, olhos traçados e a minha garota parecia a menina mais maravilhosa do mundo!
– Nossa! – disse impressionado.
– Gostou? – Vicky disse de volta, chegando perto de mim com certo charme.
– E como! – respondi hipnotizado, sentindo seu cheiro cada vez mais próximo.
Seus braços passaram ao redor do meu pescoço, minhas mãos prenderam sua cintura em mim. Fechei os olhos e permiti nossos rostos se aproximarem, com as bocas se abrindo, as línguas saindo, iniciando um beijo tranquilo de cumprimento.
– Podemos ir? – ela sussurrou.
– Claro. – falei admirado.
Vicky pegou minha mão e saímos do meu quarto, assim como da minha casa, antes a deixando despedir-se da minha mãe.
Não demorou muito e chegamos ao colégio plenamente diferente.
Luminárias invadiram as árvores dos jardins. Uma pista de dança estava no meio, em frente à escada de poucos degraus da entrada. As luzes do corredor, visível pelo lado de fora, estavam acesas. Vários alunos, alguns professores, um palco razoavelmente grande montado ao lado esquerdo da pista, onde uma banda pop tocava qualquer música.
Vicky e eu observamos tudo por entre as pessoas. De longe avistei Tanya, que sorriu para mim, mas que logo decidiu ficar no seu lugar quando viu o rosto de poucos amigos da garota ao meu lado.
– Juan! – exclamei assim que vi a bicha.
– Olá, pombinhos! – ele disse passando por nós com seu paletó lilás – Arrasou no vestido, gata!
Fiz careta só em imaginar ele vestido com roupas de garota:
– E como está a festa? – Vicky perguntou simpática.
– Boa, na medida em que o colégio permite. Muito melhor seria esse lugar cheio de gogo boys e DJs musculosos. Mas já limpei minha vista com as criancinhas do segundo ano. GATA! Praticamente os garotos inteiros da série anterior vieram!
– Meu Deus, as raparigas estavam desesperadas! – comentei rindo.
– Claro, querido... Só você, o Nathan e o McGuiness, ui, come meu ânus, que se salvam! O resto eu jogo no lixo e pinto de purpurina para ver se ficam menos ruins e mais divos! – Juan disse dando uma piscadinha.
– Por falar em meninos, não vi na festa o seu pega, pega, vulgo David. – Vicky disse enlaçando meu braço.
Senti-me o maior babaca por estar ouvindo conversa de ‘meninas’.
– Ah, baby, a culpa não é minha se você estava esquentando a periquita com seu bofe e demorou a chegar. A Lucyzinha conheceu meu deus grego.
– A safada nem me disse! – Vi fez um rosto assassino
– Eu também não diria nada tendo um homem lindo daquele, com aqueles olhos avelã, ao meu lado, para me distrair. Eu mergulharia no mar esverdeado todos os dias e só voltaria de lá depois que me transformasse numa sereia!
Dessa vez não deixei de rir, gargalhando alto:
– Deixa a Lucy ouvir isso que ela arranca sua cabeça fora! – falei.
– Se ela arrancar ainda vou ter meu bumbum pra te oferecer Tom! – Juan deu um sorriso sacana que me fez engolir em seco – Claro, se minha Vicky permitir que eu tire proveito do seu corpo sexy e envolvente nos finais de semana.
– Ah, a vontade, querida. – Vicky disse enquanto eu olhava de lado para ela, meio assustado.
– Ótimo! Amanhã te espero em minha cama com flores. Ui, que bafonicamente romântico. Mas agora vou indo que acabei de ver um gato gotoso mais delícia que meu David. Beijinhos, meus ovários!
E lá se foi a gazela em meio as hienas:
– Puta que pariu, fica me empurrando para gay! Depois que me revoltar e te chifrar com um cara, vai virar uma garota deprimida.
– Se ilude! – Vicky respondeu me puxando, voltando a andar – Agora vamos dançar!
– Ok. – falei. A noite tinha sido feita, infelizmente, para que eu suprisse as vontades dela.
Tocava Take On Me de A-Ha.
Começamos a dançar estilo nossos pais, assim como as pessoas da pista faziam. Revezávamos entre dançar junto e longe, só e acompanhado um do outro. Nunca tive muito jeito com essas coisas, então praticamente deixava-a me guiar enquanto ela ria de algumas pisadas de pés que ela se safava com muita habilidade.
Depois dessa música até tentei dançar They Long To Be (Close To You) na versão remix, mas Vicky disse que era fresca demais pra mexer qualquer músculo com ela, então fomos comer algumas coisas, tomar um ponche.
Levei no paletó uma garrafinha de uísque para batizar aquela porra.
Festa sem álcool não é festa, é missa de igreja!
Então que venham as garotas piradas e que tirem suas roupas, enquanto eu tiro proveito da minha garota em alguma árvore, já que tudo vai estar tão louco que ninguém vai se importar com o que estamos fazendo:
– Se você não fosse meu amigo teria o maior prazer de te delatar.
– Jay, seu filho da mãe! Que susto!
O garoto apareceu ao meu lado de repente, cruzando os braços e encostando-se à mesa:
– A noite está chata com a Victoria e veio fazer isso para que se torne mais interessante?
– Claro que não! A Vicky é agitada demais para que deixe as coisas chatas e... Por que eu estou te dando explicações?
– Porque você sempre faz isso. – ele disse passando as mãos nos cabelos enquanto eu ria em confirmação – E onde ela está?
– Quem?
– Sua namorada.
– Em qualquer lugar aí no celular.
– E a Lucy?
– É justamente a pessoa com a qual a Vicky está tentando falar.
– Ela vem?
– Sim. Cara, sai dessa!
– Tchau, Tom, tchau! – ele disse impacientemente e indo embora.
Fiquei olhando para o nada, tentando compreender seu desaparecimento relâmpago.
– Hey! – recebi um beijo na bochecha e sorri.
– Conseguiu falar com ela? – perguntei escondendo a garrafa disfarçadamente na roupa.
– Sim e o Nathan ainda não chegou.
– O QUÊ? – gritei, pois era o que eu temia.
Se ele ainda não havia ido pegar a namorada era porque iria demorar a chegar e se ele demorasse a chegar eu teria que ficar no palco sozinho, Nathan não cantaria a música para Lucy e no final a noite da garota seria uma merda, assim como a minha já que eu não sabia como ia me virar.
– Só não sei por que ele está demorando tanto. – Vicky disse pensativa, se servindo de um ponche.
– Porque aquele imbecil não sabe andar de táxi! – resmunguei dando um soco na mesa – E vai sobrar para mim, quer dizer, para Lucy ter que aturar isso dele.
– Na verdade... – ela começou a dizer tomando o resto do ponche – Isso aqui está muito bom...! Mas, continuando... Na verdade vai sobrar para você.
– Pra mim? Por quê? – perguntei observando o copo vermelho e me esquecendo de algo.
– Você vai buscá-la. – Vicky disse passando a mão na testa e fazendo careta.
– Claro que não! Uma hora o Nathan chega!
– E uma hora eu te bato por ser tão egoísta! Se eu estivesse no lugar dela gostaria que o Nathan fizesse o mesmo por mim! Então vai e agora!
Eu não queria prejudicar Lucy, mas faltavam apenas vinte minutos para o show de talentos começar e de acordo com a ordem alfabética eu deveria ser o terceiro ou quarto, junto ao Nathan.
Então eu disse:
– Tudo bem, vou buscá-la. – sorri e lhe dei um selinho com gosto de álcool. – Andou beben... VOCÊ TOMOU O PONCHE?
Gritei assim que ela já levava o segundo copo a boca:
– Claro que eu tomei seu imbecil! – ela gritou de volta com raiva por ter puxado o recipiente da sua mão – Por que você fez isso?
– Por nada, por nada! Tchau!
E saí correndo pelos jardins antes que ela percebesse que corria o risco de ficar bêbada por minha culpa.
Disfarcei indo até o estacionamento, mas logo voltei pulando o muro sem dificuldades graças a minha vasta experiência em matar aula e fumar uns cigarros escondido em meu carro.
– Senhor Parker! Precisamos dos inscritos atrás do palco agora! – a secretária da senhora Dixon disse.
– Tudo bem, já vou indo! – falei com certo receio de estar sendo visto e fui andando para o local indicado quase que me escondendo entre arbustos e pessoas grandes.
Cheguei a coxia e vários alunos estavam lá, nervosos, com seus instrumentos e sei lá mais o que:
– O senhor vai fazer o que mesmo?
– Tocar e cantar. – respondi tão nervoso e ansioso quanto os outros.
– E o senhor Sykes? Onde se encontra.
– Já deve estar vindo. – mentira – Vou ligar para ele.
– Ótimo, ou terá de fazer tudo sozinho.
– Ah! E os violões?
– Vou pegá-los. – a secretária disse – E a propósito, arrume essa gravata, seu desastrado!
Resmunguei algo como ‘sai daqui urubu velho’ assim que ela deu as costas e tratei de tirar a peça de roupa desarrumada jogando-a em qualquer lugar:
– Nathan? – perguntei assim que ouvi sua voz.
– Tom! Como estão as coisas?
– Está uma bosta, seu lerdo! Cadê você? Cadê a Lucy?
– CARA! A LUCY VAI ME MATAR! Não consegui achar os táxis logo, tive de ir parar na central de segurança e...
– Não me interessa! Você vem ou não?
– Claro que vou, quer dizer, depende da hora que começa as apresentações.
– Faltam quinze minutos!
– Não, eu não vou.
– Tu és um puto mesmo!
– Obrigado, mas não me importo com você gritando, vai conseguir se sair bem. – Nathan disse tranquilamente – Mas não consigo falar com a Lucy, acho que ela não quer me atender.
– Também pudera, você está atrasado uma hora e meia!
– Tudo isso? – ele disse assustado – É. Realmente vou ser morto.
– Bem feito! – falei rindo – Agora preciso ir que estão me chamando.
– Tchau cara!
– Tchau.
Respondi e desliguei:
– Então?
– Ele não vem. – disse passando as mãos nos cabelos e pegando apenas um violão – Vou ficar apenas com uma música.
– Tudo bem. Vou avisar e não fique tão nervoso! Está começando a transpirar.
Resmunguei mais uma vez assim que ela deu as costas. Acho que a velha senhora estava assim por estresse, já que da última vez que a vi ela parecia muito mais simpática.
Sentei-me em uma cadeira e disquei mais alguns números no celular:
– Que é? – Lucy atendeu com raiva.
– Deveria atender ao Nathan. – falei dando bronca.
– Ele está aí com você?
– Não, já estou na festa.
– E como está? – ela disse curiosa.
– Chata, não se preocupe. – falei pra que Lucy não ficasse com mais ódio – O Nathan está demorando porque foi no shopping comprar algo para você e o idiota se desacostumou a andar de táxi.
– Ah! Foi por isso? – ela disse aliviada – Pensei que ele ia me dar o maior bolo!
– Ele não é louco de fazer isso! Mas não se preocupe, Nathan vai chegar logo e vocês vão poder vir para a festa.
– Espero que sim. – Lucy suspirou – Vou ver se tem algo na televisão para me distrair por enquanto. Beijos e obrigada por me informar do paradeiro do perdido.
– De nada. – falei rindo – Tchau.
Desliguei e comecei a observar por trás do palco a primeira apresentação de duas garotas que sapateavam Britney Spears, até interessante. Vicky começou a me ligar, mas ignorei a chamada enviando uma mensagem dizendo que estava em trânsito.
Procurei-a pelas pessoas e lá estava ela, curtindo mais que o normal a música que tocava, sorrindo e com outro copo vermelho na mão.
Teria que ficar de olho na Vicky pelo resto da noite.
Veio o segundo, com uma apresentação de dança de rua muito mal feita, já que todos dançavam sem sincronia. Comecei a afinar o instrumento para a minha vez e realmente fiquei como terceiro.
Andei nervoso até o centro do palco, tentando não encarar a Vicky. Sentei-me no banco, arrumei o microfone, deixando-o mais baixo, para meu tamanho, e pigarreei para começar a falar:
– Acho que a letra dessa música diz muito para mim e para certa pessoa. Te amo, Vi;
Certo...
Se o fato dela ficar bêbada não atrapalhar a sua frieza, ela arrancará a minha pele, me deixando em carne viva por eu dizer isso na frente de todo mundo que logo cochichou uns ‘Ah, que bonitinho!’.
Pigarreei mais uma vez e de longe vi a Tanya chateada, saindo do grande grupo que se concentrava em frente ao palco, demonstrando que não era obrigada a presenciar aquilo.
Que se dane!
Dedilhei alguns acordes no violão e por segundos senti falta do Nathan para me dar apoio moral e vocal já que minha voz perto da dele não era a das mais bonitas, mas mesmo assim tentei, começando a pronunciar as primeiras palavras em meio a música que saía do instrumento.
(Nota da autora: coloque para tocar Butterfly http://www.youtube.com/watch?v=jxanQSr5T4U)

I’m taking a moment just imagining that I’m dancing with you
I’m your pole, and all you’re wearing is your shoes

Estou aqui só imaginando que estou dançando com você
Sou seu mastro e você está usando apenas sapatos

A letra parecia complicada e rápida demais para mim, porém, depois da primeira fase, as palavras começaram a fluir com facilidade. Logo estava envolvido com a música, me acostumando com seu ritmo sem o apoio do Nathan.

But you don’t fold, you don’t fade
You’ve got everything you need, especially me
Sister, you’ve got it all
You make the call to make my day
In your message say my name
Your talk is all the talk,
Sister, you’ve got it all
You’ve got it all

Mas você não dá o braço a torcer, você não desvanece
Você consegue tudo
Você consegue tudo o que precisa, principalmente a mim
Irmã, você já conseguiu tudo
Você me telefone e faz meu dia

Na sua mensagem diz meu nome
Sua fala é toda a conversa,
Irmã, você já conseguiu tudo
Você já conseguiu tudo



Terminei Butterfly, do Jason Mraz, sentindo que meu coração sairia pela boca de tanto medo por ter errado algo, ou pela apresentação ter sido ruim.
Porque se parar pensar foi uma declaração e se tivesse saído horrível era o mesmo que demonstrar que eu não tenho sentimento decente nenhum pela Vicky:
– O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI? – ela gritou e senti que ia rolar briga.
– Eu fiquei para te dar essa surpresa. – comentei sem jeito, sonhando que pudesse acontecer uma recepção mais simpática.
Vicky parou alguns segundos, me observando de braços cruzados. Seu batom já não estava tão forte, seu cabelo permanecia no mesmo lugar, suas bochechas estavam mais rosadas que o normal, graças a besteira que fiz de deixá-la tomar um (ou mais) ponche.
Senti seus dedos acariciarem meu rosto e seus pés darem passos para mais perto de mim, ela me abraçou forte, muito forte mesmo, como nunca tinha feito.
Pude notar que se entregava em meus braços, como se não houvesse escudo, coisa que Vicky sempre deixou para todos. Por aquele tempo eu poderia ver dentro de sua alma e de seu coração sempre gelado.
Desci minhas mãos espalmadas em seus cabelos soltos, enquanto recebia leves beijos seus vindos da bochecha até minha boca, que logo permitiu o contato de nossas línguas. Minhas mãos prenderam sua cintura e as suas seguravam meu rosto delicadamente.
Aqueles olhos me encararam e um sorriso surgiu nos seus lábios, agora avermelhados:
– Obrigada. – Vicky disse e sorri aliviado, enfiando meu rosto em seu pescoço e cheirando-o – Gosto tanto de você! – ela falou me apertando e esperei ouvir algo a mais que isso, mas não veio – E nunca mais diga que me ama na frente dos outros!
– Dá para aproveitar minha demonstração de amor ao seu jeito chato de ser? – falei imitando uma voz revoltada – É humilhante assumir para todos que sou a mulher da relação!
Deixei-a gargalhar alto e interrompi seu momento de alegria beijando-a novamente, dessa vez do jeito que sempre fazíamos, sem muito romance.
E como eu amo essa minha irmã, como amo essa garota...






   * * *



CAPÍTULO 50

CONTINUED



Ponto de Vista: Nathan


– Poderia me esperar aqui? Aumente o preço da corrida que pago depois, ok? – falei assim que saí do táxi, em frente a casa da Lucy.
Arrumei a gravata e peguei a pequena caixa que estava em minha mão. Presentes sempre melhoram o coração de uma garota.
Corri até em frente de sua porta, toquei a capainha e esperei receoso a sua recepção:
– DESCULPA! – falei alto e de olhos fechados, assim que a porta pesada e branca se abriu.
– Está atrasado duas horas. – ela falou com o tom de voz normal.
Permiti que um de meus olhos abrisse para enxergá-la.
– Não vai me bater? – perguntei com medo – Nem reclamar? Nem me xingar e dizer que me odeia?
– Não. – Lucy disse cabisbaixa – Agora entra e tira essa cara medrosa! – ela resmungou e soltei de leve uma risadinha.
Entrei em sua casa confortável, percebi que estava com visitas. O namorado de sua mãe estava lá, vendo televisão junto a Tia Eliz. Lucy segurou minha mão e me levou até a cozinha, onde pegou um copo de água e começou a bebê-lo. Preparei um para mim e me encostei no balcão, observando-a:
– Que foi? – falei sentindo-me culpado pelo seu jeito.
– Perdi a vontade de ir para a festa. – ela disse encarando o chão.
– Por quê? Pelo meu atraso? Ainda da para aproveitarmos.
– Não, não quero ir mesmo. – Lucy sorriu de leve – Você consegue ver que é o fim? O fim de uma história?
Pisquei algumas vezes tentando compreender o que ela falava.
Desfiz a distância que existia entre nós dois. Espalmei minhas mãos em cada lado do balcão, deixando-a entre elas, meu rosto a alguns centímetros longe do seu perfeitamente maquiado:
– Se a gente for para essa festa vamos ter que assumir que isso acaba, não é? – disse finalmente entendendo onde ela queria chegar.
– Aham. – Lucy disse sem jeito – Poderíamos ir para outro lugar, qualquer outro, menos o colégio. – ela sorriu de leve. – Não quero ter me arrumado à toa!
– Aliás, você está linda. – disse galanteador, beijando sua bochecha – E sei onde te levar.
– Mesmo? – Lu disse mais animada, passando seus braços em meu tronco, enquanto eu arrumava a minha posição – Vamos aproveitar esse tempo, depois podemos chamar a Vicky e o Tom. Quero terminar essa noite ao lado deles dois também.
– Vamos fazer isso. – respondi segurando seu rosto para um selinho – Ah, trouxe uma pulseira para combinar com a sua roupa.
Ela sorriu agradecidamente enquanto eu retirava o objeto da caixa avermelhada. Coloquei em seu pulso. O pequeno acessório de ouro chamava uma atenção delicada em meio a seu vestido de tom pastel e seu salto alto vermelho.
Seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo alto, alguns fios soltos e os lábios da mesma cor dos sapatos.
Lu abraçou minha cintura enquanto eu levantava seu rosto mais uma vez, dando-lhe pequenos beijos partidos, até ela sorrir como se não aguentasse mais a tortura. Finalmente nos beijamos, seus lábios quentes sendo envolvidos pelos meus. Seu nariz de respiração tranquila acariciava de leve minha pele...
Depois já estávamos dentro do carro, indo para o local que eu imaginei que queria levá-la, um lugar comum para os Londrinos, mas que até então não tivemos tempo de ir juntos.
London Eye.
Quando éramos crianças o pai da Lucy sempre nos levava lá, depois de grandes ainda íamos em grupos. Mas desde que começamos a namorar não fizemos isso.
Era como se aquele local marcasse partes das nossas vidas, a infância, a adolescência, o início da juventude.
A cidade parecia calma perto da movimentação que deveria estar. O que nos dava um ar triste e Lu parecia muito pensativa olhando pela janela do carro os borrões que passavam lá fora.
– Obrigado, cara. Bom trabalho! – falei saindo do táxi logo depois da garota.
Andamos pela pequena estrada de concreto iluminada por postes altos, as luzes em tom azulado contrastavam com as de tom branco da London Eye. Árvores com algumas folhas com luminárias da mesma cor das outras.
– Isso é tão romântico! – Lucy disse e olhei para ela, com seus olhos brilhantes voltados para cima. – Muito melhor aqui!
Sorri satisfeito por ter acertado o lugar que a levei. Lu parou e fiz o mesmo, vi-a morder o lábio inferior parecendo feliz. Minhas mãos estavam a cada lado de sua cintura, por cima do pano confortável do vestido. Seus pés deram passos até mim com seus braços ao redor do meu pescoço. Acariciei o rosto da garota com a ponta do meu nariz enquanto ela ria:
– Às vezes eu faço umas besteiras bem úteis. – comentei e Lucy começou a gargalhar.
– E se o Tom não tivesse me ligado eu teria te batido inteiro! – ela disse enquanto eu fazia cara de medroso.
– Você não ia me bater. Ia me beijar, me beijar, me beijar... – falei aproximando cada vez mais minha boca da sua. – E dizer que me ama!
– Ah, convencido! – Lucy disse revirando os olhos, bem humorada.
Mordi seu lábio inferior onde ela fez o mesmo segundos atrás. Ela fechou os olhos, aconchegando suas mãos entre nossos corpos, meus braços a envolvendo protetoramente.
Nos beijamos finalmente, sorriamos entre nossos toques, o contato aumentando cada vez mais. Lucy partiu o que fazíamos:
– Vamos comprar o ingresso?
– Poderíamos demorar mais um pouquinho, não é?
– Não, a London Eye fecha de 21h! – ela exclamou – Eu preciso muito ir lá! Ver o Big Ben a essa hora da noite.
– Está bem... – disse derrotado – Na fila ligamos para Tom e Vicky.
– Ok! – ela respondeu com o pulinho, pegando minha mão.
Lucy saiu andando tão rápido, quase correndo, que logo estávamos na fila indiana. Pegando seu celular comecei a contar o tempo que deveríamos ficar ali, observei-a colocar fones de ouvido e começar a fazer a chamada para que eu pudesse ouvir a Vicky:
– Você está viva? – a amiga perguntou, enquanto minha namorada ria.
– Estou sim! – ela respondeu me dando uma olhadinha engraçada.
– E o Nathan? Chegou? – Vicky continuou o interrogatório – Porque se ele não chegou eu juro que o mato!
– Hey, estou ouvindo sua ameaça! – me manifestei e logo ouvi o suspiro da garota do outro lado.
– Seu merda! Isso é dia de se atrasar? – Vi falou irritada – SAI DAQUI, TOM! – ela gritou.
– Oi! Oi! Oi! – ouvimos a voz do garoto citado anteriormente – Não liguem, ela está bêbada!
– Bêbada? – Lucy e eu perguntamos ao mesmo tempo, bastante assustados.
– Pois é, encheu a cara de ponche! – Tom disse rindo.
– Que você batizou! – Vicky gritou distante.
– Tá, tá... Que eu batizei. – ele disse impaciente – Cadê vocês? Nem chegaram a tempo de me ver cantar... Eu estava muito foda!
– Ah! Então você se saiu bem? – perguntei animado.
– Muito! Por sorte... E nunca mais me deixe na merda, Nathan Sykes! – seu tom de bronca me fez sentir culpado.
– Dá para vocês me explicarem o que está acontecendo? – Lucy disse confusa.
– É que seu namorado teve a brilhante ideia de nos escrever no concurso de talentos do baile. Íamos cantar Butterfly e All About You para você e a sua amiga pinguça, mas o retardado aí não chegou e não te trouxe a tempo! Resumindo: sobrou para mim todo o brilho de sua ideia! – Tom disse com satisfação.
Olhei para Lucy que sorria docemente.
– All About You era para mim? – sua voz manhosa me fez confirmar com a cabeça, dando uma risadinha infantil, quando ela deu vários beijos em minha bochecha.
– Parou de manifestar frescura? – Tom disse como se pudesse ver nossos atos.
– Parei. – Lucy disse séria – Agora sai daí que não quero ouvir sua voz, me deixa falar com minha amiga! Mesmo alcoólatra ela é melhor que você.
– Olha aqui Lucy Mason você deixa de...
– AMIGA! – Vicky gritou sorridente – Eu fui arranjar um namorado feminino, porque pense num garoto para fofocar! – ela soltou uma gargalhada aguda – Hey, Nathan... Você se veste de preguiça e se agarra numa árvore para eu gravar e colocar no Youtube?
– Claro que não! – respondi prontamente, Lucy me olhou como se levasse em conta a ideia e balancei a cabeça assustado – Não dá ideia besta, Vicky! – resmunguei.
– Ah, garoto chato! Acho que vou virar lésbica e roubar sua namorada de você!
– Adorei, gata!
– Lucy! – repreendi.
– Nathan! – Vicky imitou meu tom de voz do outro lado, enquanto a garota perto de mim apenas ria – Enfim, o que vocês querem? Estou começando a ficar assustada com o fato de estar vendo dois do Tom. Será que ele tem dois pênis também?
– Ai, meu Deus amiga! Ele vai te bulinar por dois buracos! – Lucy disse dramática – CORRE!
– LUCY, NÃO DIZ ISSO! EU FICO COM MEDO! – Vicky falou com voz de choro, ouvimos Tom sussurrar ‘que porra é isso?’, enquanto eu olhava impressionado para a Lucy.
– Ela está chorando? – sussurrei.
– Parece que sim. – minha namorada respondeu no mesmo tom, dando de ombros – Amiga, estava brincando, ele não vai te machucar, a não ser que você queira e...
– EU NÃO QUERO!
– Então ele não vai fazer nada! – Lu continuou tentando consertar o que disse – O que acha de vocês dois virem para o London Eye? Eu e o Nathan estamos aqui.
– Mas e se o Tom me empurrar de alguma gôndola?
– Se você continuar medrosa desse jeito eu te empurro é da lua, Vicky Foster! – o namorado a repreendeu distante, eu apenas trocava olhares com a outra ao meu lado – Agora me dá essa bosta de celular que marcar encontro com gente bêbada é o mesmo que pedir ao Nathan que chegue ao baile as sete e ele só aparece duas horas depois! – ele continuou em tom de bronca e de novo me senti culpado por ser tão devagar e deixar Lucy, Tom e Vicky esperando por mim – O que você tava dizendo mesmo?
– Para vocês dois virem nos encontrar na London Eye. Vamos comprar quatro ingressos. – respondi pela Lu que apenas ria da situação da amiga – E vem logo! Devemos estar entrando em cinquenta minutos se passarmos vinte aqui na fila.
– Já estou indo! – Tom falou – TIRA ESSA CHAVE DA TINTURA CARA DO MEU CARRO! NÃO VICKY, NÃO RISCA! NÃO ARRANHA! NÃO FAZ IS...
Tutututututu.
– Normalmente sou eu que desligo na cara dele. – falei ao sentir minha garota tirando o fone de ouvido de mim.
– Ele só esta pagando por ter colocado pecado em bebida alheia! – ela disse filosófica, contando quantas pessoas tinha a nossa frente – É, estamos longe! – Lucy concluiu e concordei com a cabeça. – Por que você não canta baixinho All About You para mim? – disse manhosa, brincando com os botões da minha camisa e afrouxando um pouco minha gravata – Por favor!
– Ah, como você é manipuladora! – falei de olhos fechados e colocando um pouco a cabeça para trás, depois voltando ao normal AO ouvir seu riso – Tudo bem. – disse por fim.
Nota da autora: (coloque para tocar All About You http://www.youtube.com/watch?v=pkXNSNI3B7c)
Lucy me deu as costas, deixando meus braços enlaçarem seu corpo. Meus lábios ficaram próximos ao seu ouvido:


Yesterday you asked me

Something I thought knew

So I told you with smile

It‘s all about you

Ontem você me perguntou

Algo que eu pensei que você sabia

Então te disse com um sorriso

É tudo sobre você

Era como se pudéssemos ouvir uns instrumentos da música e, instintivamente, nos balançávamos para lá e para cá, sem sair do lugar, de olhos fechados.

Then you whispered in my ear

And you told me too

Said you make my life worthfile

It’s all about you

Então você sussurrou em meu ouvido

E me disse também:

Você faz minha vida valer à pena

É tudo sobre você

Levemente senti Lucy se arrepiar, fazendo-me apertá-la mais forte contra meu corpo.


So hold me close and
Say three words like you used to do

Dancing on the kitchen tiles

It’s all about you

Então me abrace

E diga três palavras como você costumava fazer

Dançando nos azulejos da cozinha

É tudo sobre você

Quando terminei o jeito foi ficarmos nos beijando e trocando palavras carinhosas e engraçadas, bem baixinho.
O outro casal só veio chegar quando estávamos perto de entrar, Vicky corria na frente, Tom vinha logo atrás, parecendo irritado:
– AMIGAAAAAAAA! – a outra disse puxando Lucy e a apertando – Saudades coloridas de você! Parece que não te vejo...
– Desde ontem? – Lu disse deixando sua bochecha ser esmagada pela garota feliz.
– Para mim foi uma eternidade... – Vicky respondeu sonhadora – Preguiça silvestre está parecendo gente de paletó! – e foi minha vez de sentir suas mãos apertarem-me – Ah, que bonitinho!
– Faz ela voltar ao normal agora! De gente grudenta já me basta... – Lucy sussurrou para Tom que a ouvia de braços cruzados, enquanto eu tentava empurrar a outra que insistia em querer dar um nó decente em minha gravata, fazendo-me correr risco de morrer.
– Infelizmente não posso fazer nada! – Tom começou a falar de olhos fechados – Ah, a não ser que...
– A não ser que? – falei curioso dando uma gravata na garota violenta, que mordia meus braços, tentando se livrar.
– Solta. – ele falou balançando as mãos no ar e chegando perto, fiz o que disse – Agora vem cá, Vicky.
– Não! – ela respondeu firme. Lucy veio para perto de mim, acariciando a parte que estava sendo mordida.
– Agora! – Tom insistiu – Vem! – então ele puxou o braço da garota que ficou perto dele de mau gosto – Só quero te mostrar uma estrela.
– Estrela? Onde? – Vicky perguntou infantil.
– Bem ali! – Tom apontou para o céu e Vi seguiu seu braço até chegar ao local apontado.
Depois disso as coisas aconteceram rápido.
Tom aproveitou o momento de distração da namorada e pegou-a no colo, colocando-a em seu ombro. Vicky se debatia dando fortes pancadas em suas costas:
– Me larga! – a menina gritava.
– Tom, você vai machucá-la! – Lucy disse receosa.
Mas ele nem deu atenção, saiu correndo pelas partes livres do local, as pessoas da fila nos olhando, achando que éramos loucos. Eu ria da situação enquanto Lu apertava cada vez mais meu braço com medo e a Vicky apenas gritava como uma condenada.
Como se não bastasse, Tom dava círculos insistentes, braços voavam e risadas vinham de sua boca, até que ele desequilibrou e caiu no gramado, junto com a Vi ,que logo se livrou dele, assustada.
A garota levantou-se cambaleando, enquanto Tom gargalhava jogado ao chão. Eu ria, mas não tanto quanto ele. Finalmente Vicky chegou até nós, empurrou a Lucy para o lado, por consequência a mim também, e ajoelhando-se começou a vomitar:
– Ai, que nojo! – Lu disse fazendo careta e virando o rosto para meu braço.
– Deu certo? – Tom disse ofegante correndo até nós – DEU CERTO! – ele comemorou.
– Você queria fazê-la vomitar? – perguntei tentando não rir mais da Vicky, que continuava a colocar tudo o que havia ido para seu estômago pela noite para fora.
– Claro! Só assim o álcool diminui e ela volta ao normal, mesmo que seja um pouco.
– Você é malvado... – Lucy disse de olhos cerrados – Perverso.
– Obrigado. – ele agradeceu.
– Desgraçado! – Vicky sussurrou parando de colocar coisas para fora. Respirou fundo e se levantou, um líquido rosado escorria por ali. Ela limpou a boca com o braço e depois chutes voaram para cima do seu namorado – Agora tô tonta, seu merda!
– Foi preciso! – ele gritava.
– BATE NELE AMIGA! BATE! ARRANCA A CABEÇA! – Lucy gritava junto, fazendo golpes mortais invisíveis com a própria mão.
– EU VOU TE MATAR!– Vicky disse alto com os braços levantados.
Não me controlei e ri de tudo e de todos.
Tom correndo e Vicky logo atrás tentando pegá-lo, caindo algumas vezes, mas se levantando convencida de que o alcançaria. Lucy não era a única da plateia que torcia contra o garoto, várias pessoas da fila começaram a gritar a favor da Vi.
Finalmente ela conseguiu pegá-lo com um pulo, suas mãos seguraram a perna do Tom que acabou caindo no chão. Vicky o puxou para si, subindo nele e dando várias tapas na direção do seu rosto. Ela falava coisas incompreensíveis. Lucy parou de apoiar a amiga para rir junto a mim.
A volta da London Eye parou e todos deixaram de dar atenção ao casal para se prepararem para entrar, inclusive eu e Lu:
– Vocês vão ficar aí se batendo? – falei alto para me ouvirem.
– É mais legal uma briga a vários metros de altura! – Lucy cutucou.
Vicky nos olhou curiosa com as duas afirmações e deixou o Tom na merda, saindo e correndo, dessa vez decentemente, sem cair pelo caminho.
Passou na nossa frente, pegou seu ingresso e se enfiou pelas pessoas a frente entrando em uma gôndola. Todos deram espaço para a ‘louca’ passar. Parada na porta se voltou para nós. Com um sorriso enorme, levantou a mão e começou a nos chamar.
Lucy e eu nos entreolhamos e saímos correndo, felizes por não termos que esperar. Entreguei o ingresso de todos, inclusive do Tom que veio logo atrás, afobado. Em menos de quatro minutos estávamos na gôndola particular, de acordo com o que paguei.
Lucy dava pulinhos, animada, e Vicky vasculhava algo na bolsa:
– Que foi amiga? – Lu perguntou a outra.
– ACHEI! – Vi gritou por fim retirando um esborrifador bucal da bolsa – Graças ao puto do Tom vou ter que te usar! – ela falou conversando com objeto cilíndrico.
O namorado dela me olhou com certo medo por ter ficado pirada e dei de ombros.
A London Eye parecia aos poucos deixar suas gôndolas serem preenchidas. Lucy parou de dar atenção aos ataques de Vicky e Tom atrás da gente para olhar tranquilamente através das paredes de vidro do local.
– É lindo, não é? – ela perguntou inclinada sobre a grade.
– Muito. – respondi olhando para o mesmo lugar que Lucy. Passei meu braço por cima de suas costas, deixando minha mão tocar a sua sobre a grade. Encostando a cabeça em meu corpo beijei o topo, cheirando seus cabelos de baunilha.
– Dá para parar de brigar e aproveitar a vista? – Tom reclamou distante.
– Só porque é o Rio Tâmisa. – Vicky falou e segundos depois estava ao meu lado, seguida do Tom, que ficou ao seu.
Sorrimos nos entreolhando e voltamos a observar o lado de fora. Aconcheguei mais ainda Lucy em meu corpo, assim como Tom fez com Vicky. As duas meninas, que sempre tagarelavam, ficaram caladas por aquele momento. Olhando, paralisadas, a vista do lado de fora.
– Amigos... – comecei a falar quebrando o silêncio – E é com essa imagem perfeita que está diante de nós...
– Falou bonito! – Tom disse irônico.
– Cala boca! – Lucy reclamou – Continua!
– Ok, ok. – falei sorrindo – Com essa imagem perfeita que está diante de nós eu digo que esse ano letivo que passou, mesmo que eu tivesse uma máquina do tempo, não mudaria nada. Não modificaria o fato de gostar da Vicky, nem de ter passado alguns meses sem falar com o Tom ou por ter demorado esses anos inteiros para perceber que quem eu amo está ao meu lado. – Lu me apertou de leve, sorrindo, os outros dois apenas observavam simpáticos – Jay McGuiness, Tanya Linus, se tornaram pessoas que, mesmo com todas as suas loucuras, serviram para nos unir mais ainda.
– Katy e Max... – Lucy me interrompeu falando baixo – Que mesmo estando longe são muito importantes para nós.
– Concordo. – Vicky disse – Eu nunca vou apagar os dias de Miami de minha mente.
– Nem a festa do Nathan! – Lucy disse gargalhando.
– Nem a noite no hospital. – Tom completou.
– Resumindo: tudo aconteceu como deveria ter acontecido. – disse sorrindo por eles estarem sentindo a mesma sensação que eu – Nossas vidas podem mudar no próximo mês, e se alguns ficarem para trás, uma coisa é certa... Que tudo isso que a gente viveu foi muito mais importante do que qualquer coisa que possa tentar nos derrubar.
Os outros três concordaram com a cabeça.
Lucy começou a chorar perto de mim, coisa bem previsível, então logo a abracei.
Tom e Vicky vieram logo para mais perto de nós dois, fazendo um abraço coletivo. Por causa disso deixei as lágrimas saírem dos meus olhos. Não eram lágrimas de tristeza e sim de felicidade.
Me entendi como gente ao lado daquelas quatro pessoas. De Lucy, tão pequena sorrindo para mim ou ficando emburrada quando eu fazia coisas erradas. De Vicky sempre tão brava e anti-social, mas conversando comigo sempre que sentia tédio. De Tom, divertido e brincalhão que sabe de mais coisas pornográficas que site pornô.
Todos os problemas que fomos obrigados a passar, graças ao destino, desenrolaram-se como um filme em minha mente. Pude ver cada parte desse ano descrito com detalhes. Era um trailer meio dramático, divertido, romântico e, principalmente, verdadeiro.
De repente parecia que havia me tornado mais velho mil anos...
Então, olhando para além dos vidros da gôndola, admirando a bela paisagem noturna de Londres, conclui que não me arrependi de nada o que foi feito até agora... Também cheguei a acreditar que, nós quatro, estaríamos, em um futuro próximo, tão unidos quanto nesse momento.
Tom e Vicky se casariam, teriam filhinhos engraçados e violentos.
Lucy seria minha esposa e teríamos crianças que seriam nossas miniaturas.
Nos reuniríamos no final de semana, sentaríamos em uma mesa e relembraríamos de tudo o que vivemos.
Dessas experiências aprendi muita coisa...
Eu modifiquei para eles, eu modifiquei para me adaptar ao jeito de cada um e meus amigos me fizeram amadurecer para que eu cuidasse e os amasse.
Poderia ser o fim do colégio, mas com certeza não era o fim do sentimento que eu tinha por Tom, Vicky e Lucy.
Éramos importantes uns para os outros e isso era o que mais significava para todos nós.

To be continued...

* * *

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