sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Guilty Pleasure (1ª Temporada - 22 ao 29)



Capítulo 22 ao 29



CAPÍTULO 22

  MERRY CHRISTMAS



Ponto de Vista: Tom

Véspera de Natal.
Logo a Vicky chegaria.
A mãe da Lucy me ligou dizendo que era para ir buscá-la no aeroporto, mas não o fiz.
O voo dela deve ter chegado há 2 horas. Decidi que não iria buscá-la hoje, de manhã. Não consegui pregar os olhos, passei a noite em claro, pois finalmente a veria depois do que lhe fiz.
Beijei a Tanya, mas ela me deu um castigo muito pior, me deixando preocupado por um longo tempo sem poder saber se ela estava bem.
Depois que Max e Lucy passaram aqui em casa eu decidi que iria até a residência da Lu tentar falar com Vicky, me explicar do por que ter beijado a Tanya... Mas assim que cheguei fui recebido pela Senhora Mason, dizendo que as duas não estavam. Achei totalmente estranho, pois preferi ir no horário noturno, porque, provavelmente, elas estariam lá. Entretanto me fodi do mesmo jeito, as duas tinham sumido e a Tia Eliz mandou-me ir embora, pois já estava tarde e acabei não sabendo onde elas haviam se metido.
Voltei meio frustrado e quando cheguei vi Jay sentado na escada, em frente à porta, me esperando. Conversamos para saber do paradeiro das duas e meio que começou a bater uma preocupação maior, porque realmente estávamos sem pista nenhuma delas.
O tempo foi passando, até que finalmente recebi uma ligação do Jay dizendo que havia ido conversar com a mãe da Lucy e ela disse que a filha tinha viajado com a Vi. Ele tentou ainda arrancar da Senhora Mason para onde elas tinham ido e não conseguiu. Então decidimos procurar o Nathan, que era o mais provável a saber de algo, mas ninguém da sua família estava em casa. Sobrou o Max, em que eu tive de procurar sozinho ou aconteceria a terceira guerra mundial, e o seu pai disse que ele também tinha viajado. Parei para pensar e deduzi que Max estivesse com as duas garotas, me senti mais tranquilo com isso, pois ele estaria cuidando da Vicky sem riscos.
Mas não contei nada ao Jay, pois ele ficaria o oposto de mim. Disse a ele que também não encontrei o George em casa.
Passamos o resto das férias ligando para seus celulares que, depois de um tempo, só se encontravam desligados.
Finalmente desistimos.
O fato da Victoria não atender minhas chamadas, assim como ter tirado meu sono todos esses dias me levou a tomar a decisão de não ir buscá-la no aeroporto. Que pelo menos ela sofresse um pouco do que eu sofri, nem que seja fisicamente.
Que ela se sinta esquecida como eu me senti nesse tempo sem ter a sua atenção.
Mas assim que Vicky entrar por aquela porta, irei pegá-la e lavá-la até seu quarto para finalmente termos uma conversa. Eu sei que vai estar chateada comigo, não só por não ter ido buscá-la, mas também pelo beijo... Mas estava decidido a tentar me entender com ela esta noite. Dizer que eu realmente gostava dela, que não me importava a imagem que os outros tinham de que éramos irmãos, que estaria preparado para tudo se ela dissesse que queria ser feliz comigo.
Também explicaria o porquê que beijei a vadia da Tanya.
Quando vi a Vicky dançando com o Nathan naquele dia, na festa do Jay, não pude me controlar. Parecia que iria perdê-la... Vicky estava contente dançando com o idiota do Sykes e, com raiva, tomei a atitude mais infantil que me surgiu... Beijar a Tanya para descontar toda a frustração que sentia no momento.
Infelizmente Victoria viu e eu não queria isso.
Era uma vingança muito mais interior beijar a Linus do que provocativa para que a Vicky visse aquela cena.
Não tinha certeza se ela gostava de mim, mas sabia que existia algo entre nós e com aquilo dei um grande chute no ar, fazendo tudo virar ilusão.
Então a Lucy me disse que ‘nos gostávamos’ e percebi o que quis dizer, que Vicky também sente algo por mim e foi a partir daí que eu percebi o quanto tinha que tê-la.
Agora a esperava ansioso e tenso.
Minha mãe, parecendo não compreender o quanto a presença de Tanya me irritava, pois foi por ela que ferrei as minhas férias sem a Vicky, decidiu chamá-la para passar a véspera de Natal com a gente.
A cada segundo pedia a Deus para que tudo desse certo.
Tentei me manter o mais afastado possível daquela loira falsificada e siliconada, e gostosa, mas que não presta, para não correr nenhum risco de ter briga, mas não adiantou muito, porque a Tanya insiste em respirar em meu pescoço de tanto que ela gruda!
Não havíamos jantado e tenho uma vaga impressão que minha mãe não sabe da volta da enteada, ou se não eu nem estaria ali, estaria trazendo-a de volta, com muita vontade de beijá-la, enquanto ela dizia coisas como ‘você tem péssimo gosto e te odeio por isso’.
Sorri comigo mesmo por pensar aquelas coisas, Vicky era muito mais profunda que aquilo, provavelmente nem me olhar nos olhos olharia, só para não me matar:
– Do que você está rindo, Tonzinho? – Tanya disse colocando suas mãos com cheiro de perfume forte e enjoado em meu rosto. Sua cara sorria para mim com uma meiguice forçada.
– Ele deve estar feliz por você estar aqui com a gente, querida! – minha mãe respondeu antes mesmo que eu morresse asfixiado com aquele cheiro horrível.
Tanya bateu as mãos e disse:
– Eu também estou tão feliz de estar aqui! Sabe, foi horrível ficar longe do meu gostosão... – então ela apertou minha perna de maneira indecente – Lá em Caracas os garotos não são tão bons como o Tom.
– Ah! Então você foi passar as férias em Caracas? – mamãe perguntou interessada.
– Sim! E é lindo...
Que as duas conversassem, porque eu tinha mais o que pensar e com certeza não era sobre elas.
Olhei para o relógio apertando minhas mãos que suavam frio, e mal percebi que ainda eram 22:10h quando ouvi o barulho na porta.
Era a Vicky.
Minha Vicky havia chegado.
E com um sorriso realmente feliz fiquei olhando naquela direção, ansioso para vê-la.
Então finalmente a porta se abriu...
Victoria surgiu linda e bronzeada.
Olhei para seu rosto vermelho de raiva, seus olhos cerrados que não estavam em mim e sim em:
– O que essa vadia está fazendo aqui? – disse entrando em casa, deixando as malas do lado de fora.
Tanya levantou-se do sofá, irônica.
– Fui convidada pela Samantha, sua irritante!
– Vicky... – minha mãe tentou dizer, gentil, para fugir daquele clima de briga que logo viria.
– Ah, claro! Ela te chamou e me esqueceu na bosta do aeroporto? – a garota cruzou os braços, olhando para Tanya desafiadoramente.
– Vi, a culpa é minha de não ter ido te buscar no aeroporto...
– CALA A BOCA, Tom! – ela falou mais alto que o normal – NÃO TÔ A FIM DE OUVIR SUA VOZ!
– Isso são modos, Victoria? – minha mãe exclamou enquanto eu engolia em seco.
– Modos? – ela perguntou sarcástica olhando para minha mãe – ALGUÉM NA DROGA DESSA CASA SE PREOCUPOU COM MODOS HOJE QUANDO ME DEIXOU PLANTADA FEITO UMA IDIOTA NA PORCARIA DO AEROPORTO DESDE OITO HORAS? – Vicky veio em nossa direção, lágrimas de raiva surgiram em seus olhos enquanto ela gesticulava com o braço descontroladamente – ALGUÉM SE PREOCUPOU EM COMO SERIA A DROGA DO MEU NATAL? – então ela ficou olhando de um para outro.
Tom burro, Tom burro, Tom burro!
Como você foi egoísta em querer torturá-la justamente hoje!
– Querida, não seja tão irritadinha! – Tanya disse chegando perto dela, com as mãos na cintura – Estresse faz mal a pele! Mas a sua está horrível mesmo! – então soltou um sorrisinho – E ninguém aqui dessa casa se preocupa com as suas loucuras! Não percebe que o Tom não se importa mais com você?
– Cala a boca, Tanya. – Vicky disse de olhos fechados, tentando se controlar.
– Tanya, dá pra parar de falar besteira? – comentei, tentando fazê-la ficar quieta.
– Alguém pode me explicar o que está acontecendo? – disse minha mãe, confusa.
– ...mesmo Vicky! O Tom não está nem aí para você, ok? Você perdeu! Some garota e se toca! Foi a mim que ele estava beijando na festa, não você...
– Tanya, por favor... – eu implorei me aproximando dela cautelosamente. Cada vez mais Vicky ficava vermelha.
– E você acha mesmo que ele iria gostar de você? Você é tão pouco para ele, ele merece algo melhor. Não uma irmã vadiazinha que vive de cara feia para o mundo e...
– JÁ CHEGA!
Vicky gritou e sua mão voou no rosto da Tanya.
Assustei-me com sua reação, assim como minha mãe. Muito antes de tomar qualquer atitude, a Tanya pulou na Vicky, empurrando-a contra o chão revidando em tapas.
As duas brigavam com xingamentos e minha mãe tremia de medo, enquanto fiquei parado, sem saber o que fazer.
– Faz algo, Tom! Logo! – mamãe disse tentando arranjar um lugar para se encaixar, sem receber alguma mão voadora das duas.
– Ok! – falei nervoso, correndo até elas.
Nesse momento Vicky estava sentada em cima da Tanya, com o punho fechado, preparado para acertar seu rosto. Antes disso puxei-a, tirando-a de cima da garota e segurando-a o mais firme que pude.
Vicky batia suas pernas no ar tentando de maneira impossível chegar à outra que tentava passar pelo braço da minha mãe a sua frente, na altura de sua cintura.
– Me larga seu merda! – Victoria disse, finalmente conseguindo se livrar de mim.
Mamãe a olhou irritada e agora a Tanya arrumava o cabelo, tentando parecer aceitável.
– Você... – minha mãe disse apontando o dedo para Vicky – Suba agora!
– Mas!
– AGORA, VICTORIA!
Vicky empurrou-me, indo para a escada que subiu raivosamente.
Então minha mãe se virou para Tanya falando qualquer coisa sobre desculpas, não sei dizer.
Antes de ouvir o que ela falava eu já estava indo atrás da Vi, conseguindo alcançá-la. Segurei seu braço, impedindo-a de entrar no quarto, correndo o risco de perder a chance de conversarmos.
– Me deixa, Thomas!
Vi tentou se livrar do meu braço, empurrando-me.
Mas tocou na maçaneta a virei para mim, empurrando-a contra a parede.
Vicky assustou-se, mas isso não teve importância. Se precisasse usar a força usaria e não fazia a mínima questão disso.
– Me deixa em paz! – a garota bateu as mãos com força em mim, tentando acertar entre as minhas pernas.
–- Não vou te deixar em paz! Será que não me entende?
Prendi seus braços contra a parede, perto de sua cintura. Minhas pernas prensaram as suas e eu a deixei imóvel.
Ela me encarava completamente irritada.
– O que você quer enfim? – a menina olhou em meus olhos, falando cada palavra entre os dentes.
– Você Vicky...
Foi a última coisa que disse antes de encostar minha boca na sua. Rapidamente ela a abriu permitindo que minha língua entrasse, e então uma sensação indescritível percorreu dentro e fora de mim.
Aos poucos ela foi amolecendo, deixando-me senti-la melhor. Soltei seus braços, levando minhas mãos ao seu rosto e puxando-o para mim, deixando nosso beijo mais profundo.
Vicky me correspondeu mais, puxando a minha camisa e quase me devorando. Larguei seu rosto e puxei sua cintura, suas pernas encaixaram-se nas minhas, a respiração começou a faltar e quando eu quis deixá-la mais próxima ainda de mim alguém falou:
– Meu Deus! O que é isso?
Paramos o beijo abruptamente, chegando a fazer barulho. Eu e Vicky olhamos na mesma direção.
Minha mãe nos encarava, assustada, com as mãos no rosto.
– Samantha eu...
Vicky começou a falar sem jeito.
– Mãe a culpa é minha, eu que...
Tentei falar.
– Quieto, Tom!
Minha mãe disse fria e olhou para Vicky:
– Você chega em minha casa, nos destrata, falta com educação comigo, bate em minha convidada e agora beija meu filho? – as palavras foram ditas lentamente e cada uma parecia ser mais cruel que a outra, como se aquilo que a Vicky fez tivesse tido proporções maiores que as reais – O que você quer que eu faça com você? Me diga! O que você quer que eu faça?
Ouvi Vicky suspirar e olhando-a percebi sua cabeça baixa, com lágrimas escorrendo em seu rosto.
Ela mexia na ponta do casaco, desajeitadamente, com vergonha.
– Desculpa, eu...
Ela começou a falar, mas eu a interrompi:
– Mãe, por favor...
– Tom!
Ela disse novamente, rispidamente, me fazendo ficar quieto mais uma vez.
– Eu não sei mais o que fazer com você, Victoria. Depois dessa parece que estou cuidando de uma vadia de rua.
Essas palavras foram o fim.
Olhei para minha mãe de boca aberta, como se aquilo tivesse sido pesado demais, e foi.
Nunca a Vicky seria uma garota de rua!
Ela sempre foi tão educada, e a Tanya a provocou. Antes mesmo de abrir a boca para defendê-la, sem deixar dessa vez meu respeito por minha mãe falar mais alto, a Vicky disse:
– Então eu tenho certeza que você não vai se incomodar se a vadia de rua sair de casa.
Com isso Vicky pareceu decida o suficiente e passou pela minha mãe sem olhar para trás, sem olhar para mim.
Tentei correr até ela, mas foi mais rápida e minha mãe empurrou-me. Persisti, mas não deu certo.
Gritei seu nome, mas ela não me ouviu.
Um sentimento de perda começou a me dominar, como se nada no mundo pudesse dar jeito naquilo.
Na noite em que pensei que iríamos nos entender tudo saiu errado o suficiente para que novamente a perdesse.
Vicky fechou a porta de casa, e eu fechei a porta do meu quarto, olhando para ele sem saber o que fazer, porque a garota que eu gosto não estava ali comigo, não estava no quarto ao lado como todos esses anos ela esteve, fazendo-me consolar os meus sentimentos.
E então Victoria tinha ido embora.







        * * *



CAPÍTULO 23

BISCOITOS PARA PAPAI NOEL



Ponto de Vista: Lucy

Como é bom estar em casa!
Tudo bem que esse tempo em Miami foi realmente relaxante e com algumas novidades, mas nada melhor do que sentir o cheiro do seu próprio ninho!
Principalmente na véspera de Natal!
Minha época do ano favorita, logo não seria aceitável ficar longe da minha humilde residência.
Há um bom tempo os natais daqui vem sido só comigo e a minha mãe, pois meu pai fica trabalhando na França, sem muito tempo para viagens de comemoração festiva.
Quando cheguei, além de muitos beijinhos de saudade da Senhora Elize Mason, me deparei com a árvore de Natal pronta, cheia de presentes em baixo e um vestido vermelho lindo em cima da minha cama, mais um all star verde petróleo realmente adorável.
Nesse momento arrumava a mesa enquanto minha mãe colocava as comidas nas travessas. Tinha comida para um jantar de várias pessoas, mas natal com macarrão instantâneo não é tão legal assim. Até porque quando desse 2h da manhã o Nath provavelmente estaria chegando. E do jeito que aquilo come, o que sobra vai tudo para sua barriga!
Uma vez, quando eu e o Nath ainda éramos pequenos ele precisou ficar aqui em casa na época de Natal. Sua mãe estava internada e precisava fazer uma cirurgia, nada de grave. Mas seus pais acharam melhor ele não passar essa data dentro de um hospital, vendo sua mãe numa maca, até porque ele tinha apenas quatro aninhos. Então, ele ficou com seus pais até 1:00h da manhã de Natal e depois ele veio para minha casa, chegando aqui de 2:00h. Lembro-me que nessa noite meu pai havia brigado com minha mãe por causa do envolvimento dele com alguém de seu trabalho, não sei a história direito, porque o que eu sei agora foi só o que me contaram. Eu tava triste porque minha mãe estava triste e quando eu soube que o Nath viria me deu uma alegria incrível! Foi o primeiro Natal do meu pai longe de casa desde que eu tinha nascido, embora no ano seguinte ele tenha ficado com a gente, esse marcou muito mais. Então Nath, com seus cachinhos ruivos e suas sardas, chegou aqui já pulando, seu pai deixou seus presentes junto aos meus e passamos o resto da noite correndo pela casa, escondidos na escada, esperando ver se papai Noel chegava. Só que ele se cansou e acabou comendo o biscoito, assim como eu. Dormimos na cama de casal da minha mãe, no dia seguinte abrimos nossos presentes. Mesmo com tudo foi um natal feliz, e se tornou tradição ele vir para minha casa, por isso eu o esperava ansiosamente.
Uma pequena preocupação ficava em meu corpo pensando em como seria a volta da Vicky para casa. Pedi que ela me ligasse por qualquer motivo. Do jeito que aquilo é durona, capaz de ter uma granada na bolsa só para jogá-la na cabeça do Tom e esperar explodir rindo dele.
Também me preocupava o Max. Espero que a noite dele seja tranquila. Muito chato se os pais dele brigassem justamente hoje.
E faltava a minha preocupação.
Jay McGuiness.
Adiei por esses dias o meu reencontro com ele, estando na viagem, mas pelas informações passadas pela minha mãe ele não desistiu assim tão fácil.
Imbecil!
Faz a merda e depois vem ficar correndo atrás?
Foda-se.
Enquanto isso... Ficarei me escondendo da sua cara, até chegar as aulas quando vai ser inevitável vê-lo.
Pensando nisso ouvi o telefone tocar. Minha mãe atendeu da cozinha e eu continuei em meu canto, deixando o pano sobre a mesa o mais liso que podia.
Era uma ótima distração!
Comecei a cantarolar a primeira música que me veio a cabeça, Take Me On The Floor, de The Veronicas, música que tocava no carro do Max antes dele me deixar aqui.
Não dei atenção no que minha mãe disse, mas assim que fui encontrá-la para ajudar a pegar a comida seu rosto estava tenso. Curiosa, perguntei:
– Quem foi?
– Jay.
Ouvi tal nome e gelei.
Ele tinha que aparecer mais cedo do que desejava?
Deduzi que Jay deveria ter descoberto que eu voltei e agora ia me atazanar!
ESSA NOITE NÃO MCGUINESS, POR FAVOR!
– E o que a senhora disse? – perguntei tentando não transparecer a guerra de neurônios que estava em minha mente.
– Disse que você havia voltado.
– Mãe! – exclamei.
– Desculpa Lucy! Mas não posso mais mentir para o menino! Ele ficou lhe procurando esse tempo todo! – mamãe se justificou, embora não fosse o suficiente para que eu aceitasse – Não acha melhor conversar logo com ele?
A observei por alguns segundos, pensando na hipótese. Ainda sentia pelo Jay uma raiva misturada com mágoa. Mas nada pelo fato de gostar dele, e sim pela própria traição. A raiva não era pelo o que ele fez, era por ele me procurar.
Me trair não é o suficiente para mostrar que não gosta de mim? Para que ele quer me ver? Para me contar uma penca de mentiras e me fazer sofrer de novo?
Não, obrigada.
Não estou de coração tranquilo porque estou confusa com meus sentimentos, mas insistir no mesmo erro é coisa de idiota.
E eu não tava a fim de pagar de idiota novamente com ele.
– Eu acho melhor levarmos a comida para mesa. Não vai demorar muito e dá meia noite. – falei, andando em direção ao balcão e pegando a primeira tigela que eu vi.
Percebi minha mãe me olhar sabendo que eu queria mesmo era mudar de assunto, pois não faria a mínima questão de atrasar a comida para discutir sobre minha vida se isso, no momento, fosse algo do meu interesse.
Esperamos meia noite conversando sobre as coisas que aconteceram em Miami.
Minha mãe quase chorou de emoção quando falei que ‘estava tendo algo’ com o Max.
Acho que ficou mais empolgada com isso do que eu!
Depois ela falou qualquer coisa sobre o seu namorado, que eu fingi prestar atenção por educação, mas parece que tudo que se trata da vida dele é muito falso, o que não me causou um mínimo de vontade em opinar sobre algo.
Continuamos a conversa jantando, comida caseira incrível!
Nada melhor do que as coisas da mamãe.
Certo... Estou muito brega hoje... Mas é o espírito natalino! Se você não fica assim, é porque não sabe o que é felicidade.
Quando acabei de comer e levantei-me para levar o prato para a cozinha, ouvi um barulho de carro do lado de fora. Não dei atenção, poderia ser qualquer um.
Mas não foi.
Segundos depois meu celular tocou com uma mensagem de texto. Corri para vê-lo pensando que era algo da Vicky, do Max, do Nath...
“Oi Lucy. Estou aqui na frente. Até quando você vai fugir de mim? Posso ao menos me explicar antes de você continuar a fazer de conta que eu não existo? Mereço uma chance, não acha? Me mostre se eu mereço algo vindo falar comigo. Esperarei o tempo que for preciso para que você saia da sua casa e venha até mim.”
Jay McGuiness
Li a mensagem algumas vezes só para afagar minha frustração. Fiquei olhando feito uma imbecil, como se aquilo fosse inacreditável.
Ok...
Quando é o próximo voo para Miami? Estou precisando fugir de novo!
Larguei meu prato em qualquer lugar pensando se deveria ir vê-lo.
Desisti.
Saí da cozinha e vi minha mãe conversando no celular toda manhosa, deduzi que fosse o Marc.
Já estava me dirigindo para meu quarto pensando que Jay poderia morrer congelado lá fora, mas não iria lhe dar o prazer de minha beleza.
Mal pisei no primeiro degrau, outra mensagem:
“Estou esperando. Mais 5 minutos, Lucy.”
Jay McGuiness
Grunhi qualquer coisa.
Cara chato, meu Deus!
Deixei meu quarto de lado e me dirigi para a porta, decidida em terminar logo com isso. Se Jay queria conversar, pois bem, conversaríamos.
Saí de casa sentindo rapidamente o frio que estava do lado de fora. Ele me esperava tranquilo, encostado em seu carro, encarando-me.
Tantas vezes o vi assim na época de nosso namoro...
– Então... – comecei com ele ainda longe de mim – O que você quer?
Jay saiu do seu lugar vindo de um jeito charmoso ao meu encontro, com as mãos no bolso.
Olhei-o sem querer mostrar fraqueza.
– Esperei um bom tempo para finalmente conseguir falar com você.
Ele disse baixo, se aproximando de uma maneira perigosa de mim e por impulso dei alguns pequenos passos para trás, mostrando que queria distância.
– Seja objetivo. – falei fria – Não quero perder essa noite com você.
– Tudo bem. – ele disse no mesmo tom de voz que o meu, e um pouco frio também – Foi uma grande besteira o que eu fiz na noite do meu aniversário. Não era minha intenção você ver aquilo.
– Não era sua intenção? – ri sarcasticamente – Claro que não era Jay! Ou você ia transar com a garota e ia me contar depois?
Ele me olhou impaciente, mexendo a cabeça, voltou a falar:
– Você entendeu o que eu disse. Estou me referindo ao fato de não querer te magoar.
Fiquei calada tentando buscar um fundo de verdade na questão dele não querer me magoar, então eu disse:
– Jay, me responde uma coisa.
– O que?
– Você gosta de mim? – perguntei, olhando em seus olhos.
– O que você acha? – ele disse, olhando-me com a mesma intensidade.
– Perguntei primeiro.
– Passei esses dias inteiros te procurando, querendo me explicar. Acha que eu não gosto de você?
– Acho. – falei – Para ser sincera, não acredito que você já tenha gostado de mim. Acho que tudo era apenas uma competição besta com o Max.
Jay deu uma risada rouca, olhando-me com incredulidade.
Continuei na mesma, cruzando os braços, demonstrando impaciência.
– O George não merece minha atenção. E se eu não quisesse algo com você, eu não estaria aqui perdendo meu tempo com uma garota de cabeça dura.
Ok, agora ele pegou pesado.
– Acontece, Jay McGuiness, que eu é que não quero algo com você. – falei irônica. – Some!
– Não vou fazer isso.
– Por que não? – minha voz soou mais alta do que eu queria – Já não chega a palhaçada daquele dia? Agora vai ficar me enchendo?
– Cassete! Eu gosto de você! É complicado de entender isso?
– MUITO! – gritei – Jay! Você estava com outra na sua cama e isso não é gostar!
– FOI SEXO!
– FOI TRAIÇÃO!
Meu rosto estava quente, embora o tempo estivesse frio.
Um monte de coisa começou a passar na minha mente, a época em que éramos amigos, o nosso namoro, o dia em que decidi que tudo teria que terminar...
– Eu não quero isso para mim, Jay. – continuei, com a voz fraca. Minha vista estava grudada na pequena parte de concreto coberto de pedras que havia em frente a minha casa, indicando o caminho. Senti algumas lágrimas quererem sair, rapidamente as controlei.
– Mas eu quero você para mim. – ele disse me segurando pelas laterais do braço e me sacudindo um pouco – Eu só procurei aquilo que você não estava preparada para me dar.
– Então que me esperasse, Jay. – falei sem fazer questão dele estar tocando em mim – Não tem mais explicação. Terminou tudo, terminou quando foi aquela garota que estava em sua cama, não eu.
– Mas... – ele continuou. Suas bochechas vermelhas, seus olhos avelã e um pouco mais molhados que o normal.
– Sei que isso só vai piorar... – falei – Naquela noite o seu presente seria eu.
– Como? – sua voz foi confusa, então finalmente o encarei.
– É isso, Jay. – continuei, batendo meu pé de leve no chão. Ninguém sabia disso – Eu ia esquecer todas as minhas confusões só para ficar com você e perder a minha virgindade era o primeiro passo para isso.
– Eu não sabia. – ele falou envergonhado.
– Mas agora sabe e me entenda... Preciso que você saia da minha vida. – falei firme – Não vou voltar com você. Nunca.
– Nunca não é uma palavra que deve ser usada, Lucy. – ele disse frio – Eu vou conseguir reverter isso.
– Jay...
– Você está me ouvindo? Você pode passar o resto da sua vida dizendo que não quer nada comigo, mas não vou desistir...
– Vá embora. – o interrompi. Não queria mais ficar ouvindo aquelas coisas. Já terminou? Então pronto. Me deixa com minha decepção.
– Eu vou. – ele disse – Mas não vou deixar fácil.
– Então não deixe. – falei – Mas você está avisado sobre o que eu penso.
Ele confirmou com a cabeça e desceu suas mãos pelos meus braços me fazendo arrepiar. Jay me olhou por mais algum tempo, não fugi meus olhos, deixei-os ali para que ele visse que tudo o que eu disse era verdade.
– Tchau, Lucy.
Então ele tirou suas mãos de mim e deu as costas, indo em direção ao seu carro. Em seguida abracei meu próprio corpo, querendo me aquecer. Fiquei vendo-o ir e quando ele abriu a porta virou-se e disse:
– Se Max George tocar em você... Ele está fodido.
E foi embora logo em seguida.
Ouvi aquelas palavras e rapidamente senti uma falta de ar, sendo inundada por uma sensação esquisita de que algo ruim viria.
Andei sem muita vontade para os degraus antes da porta para casa e sentei-me neles. Fiquei olhando para o chão e logo em seguida comecei a chorar. Eu não gostava mais tanto assim do Jay, mas a conversa tinha sido assustadora me fazendo passar pelos mesmos sentimentos que eu tive na noite em que o vi com aquela garota.
Pensei em Max e sua falsa tentativa de me fazer gostar dele. Só senti meu coração mais tranquilo quando me lembrei do Nath, o único que realmente estava me dando paz com aqueles seus olhos avelã e seu sorriso contagiante.
Pena que tinha a Vicky...
– Hey. – uma voz conhecida disse.
Segundos depois Max George estava agachando-se em minha frente.
– Oi. – sussurrei – O que você está fazendo aqui? Não era para você estar em casa?
– Nossa. Se quiser eu volto pra lá agora. – ele disse com um leve sorriso.
– Não, é que... – fiquei confusa com a aparição repentina e as coisas que estava pensando – Deixa. Só fiquei assustada de te ver aqui.
– Tudo bem. – ele disse levantando os ombros – Aquele carro era o do McGuiness?
– Aham. – confirmei, olhando para o lado da pista que o carro havia ido.
– Por isso você está assim? – ele perguntou com um tom de voz preocupado.
– É, mas já passou. – falei, enxugando meu rosto molhado e tentando lhe dar um sorriso – Aconteceu algo em sua casa?
– Algumas coisas. – ele disse sem jeito.
– Compartilha? – falei, batendo no lugar ao lado na escada.
– Ok. – ele disse com um leve sorriso sentando-se ao meu lado – A recepção quando cheguei em casa não foi das mais calorosas – Max começou a falar, olhando para frente – Meu pai já estava brigando com minha mãe, que tentava mandar a empregada fazer algo para o Natal. Nem perceberam que eu cheguei. Achei melhor, ou me mandariam optar para qual dos dois eu dava a razão. Então eu fui para meu quarto, fiquei lá, desfiz as malas, tomei um banho, troquei de roupa, olhei umas coisas na internet, pensei em você... – então ele me olhou, fazendo-me dar uma risadinha – Depois eu desci com a esperança de que tudo estava bem. Mas não estava. Minha mãe chorava no sofá e meu pai havia saído para desanuviar a cabeça. Para animá-la mandei a empregada embora, depois fomos começar a jantar. Tempos depois, quando já estávamos na metade da comida, meu pai voltou e começou a xingar minha mãe de todos os nomes feios que pode se falar mal de uma mulher, e estava com uma carta na mão.
– E o que era a carta? – perguntei curiosa.
– Minha mãe tem um amigo que mora nos Estados Unidos, em Nova Iorque. Ele é amigo de colégio dela, e meu pai não vai nem um pouco com sua cara. Acontece que mamãe nunca deixou de falar com ele e meu pai odeia isso. Então ele mandou uma carta desejando-lhe Feliz Natal, e papai não gostou.
– Nossa, mas isso é tão pouco para uma briga. – comentei fazendo careta.
– Concordo. Mas lá em casa uma formiga órfã já é motivo de briga, imagina uma carta de um cara que é odiado? – ele disse e eu balancei a cabeça afirmativamente mostrando que entendi, Max continuou – Então começaram de novo a brigar, e meu pai falou tão mal da minha mãe que eu quis me intrometer na conversa, só que minha mãe mandou-me ficar quieto, me fazendo ficar puto. – Max George falando palavrão? Ok, quem é você o que fez com o Max de verdade? – E se eu não saísse de lá ia acabar esquecendo quem era aquele cara, então eu vim para cá, o lugar mais calmo que pensei que podia ficar. – ele me disse com um leve sorriso, enquanto fiz carinho em sua carequinha – Mas bem, cheguei aqui e você estava chorando...
– Noite conturbada, né? – falei rindo da desgraça. – Terminei definitivamente com o Jay.
– Mesmo? – Max pareceu mais feliz do que deveria estar para situação – Digo... É, isso já era de se esperar Lu.
– Pois é. Mas não foi fácil e Jay não desistiu, de acordo com suas palavras.
– Está com medo? – ele perguntou e pensei no que ele disse.
– Para ser sincera... Não. – concluí, até porque, Jay vai implicar com o Max, e bem, não era com o Max que ele deveria implicar, já que no momento estou pensando em outra pessoa. – Deixe-o fazer o que quiser. Nem ligo.
Dei de ombros e Max pareceu gostar do que ouviu. Aproveitei para beijar-lhe de leve, mesmo com todo o barraco da noite ainda tínhamos um rolo, não é mesmo?
– Ah! - falei – Vamos entrar. Mamãe vai adorar te ver.
– Por quê?
– Contei para ela o que estávamos tendo.
– E você classificou o que estávamos tendo de que maneira?
Ele perguntou levantando-se e estendendo a mão para me ajudar.
– Disse que estava tendo ‘algo’ com você.
Max sorriu parecendo satisfeito:
– Já é um começo.
E então entramos em casa.
Se às vezes o Max lutasse mais pelo que ele queria ao invés de se contentar com tão pouco, provavelmente eu o olharia de uma maneira mais profunda do que o estava vendo agora.
Gosto de garotos que lutam pelo que desejam.
A noite que desejei ser perfeita foi inicialmente um fiasco.
Eu estava preocupada, mas nada que eu não pudesse disfarçar com conversinhas e sorrisos. Logo a pessoa que me acalma e que deixa a minha cabeça menos confusa chegaria.
Logo iam dar 2h.

* * *

Ficamos conversando por aquele tempo. Mamãe fazendo perguntas indevidas ao Max com a esperança de que estivéssemos tendo um namoro. Max respondia tudo educadamente, envergonhadamente e me olhando com cara de ‘socorre Lu!’ enquanto eu só ria.
Depois ela foi para o quarto, dizendo que era para ‘aproveitarmos’ um pouco.
Ela nunca fez isso com o Jay!
Mas com o Max fez facilmente.
É muita confiança nesse garoto!
Não nego que ‘aproveitamos’ um pouco, de maneira respeitosa, tendo uma ótima conversa de filmes, músicas e lembrando que ainda não havíamos ido ao cinema ver Harry Potter 7, a primeira parte.
Me xinguei mil vezes por ter esquecido em Miami que HP existia enquanto Max ria.
Mal terminamos de falar do assunto a capainha tocou.
Surpresa!
Victoria Foster!
– Amiga, que houve? – perguntei ao vê-la com cara de chateada em minha frente.
– Me deixa entrar que eu conto o que você quiser. – ela disse com raiva – Ou vai me deixar aqui congelando, Lucy?
– Ai, entra sua chata! – reclamei, puxando-a e me deparei com suas malas. – Que porra é essa Vicky? – perguntei, já pensando no que ela havia feito com Tom Parker
– Ah! Isso são minhas malas garota! Não está vendo? – Vicky disse, cruzando os braços.
– E por que você está com elas? – falei arrastando a primeira para dentro de casa e Max logo se levantou do sofá para vir me ajudar. – Você não foi para casa?
– Oi Max. – ela disse, ao vê-lo passar e me ajudando – Fui.
Vicky me olhou indiferente.
Encarei-a.
Coisa boa não tinha.
– O que você fez? – questionei desafiadoramente.
– Te conto se você me deixar comer algo. ESTOU MORTA! – ela disse, jogando-se no sofá e me olhando – Eu prometo Luzinha. Só preciso recuperar as energias para dizer o que me aconteceu. – então ela fez um rosto pensativo – Uma desgraça, bem desgraçada que me aconteceu.
– Tudo bem. – respondi, observando-a com curiosidade, enquanto Max me lançava um olhar ansioso. – Vem. Mamãe não tirou a comida da mesa.
– Legal! – ela respondeu, levantando-se rapidamente e correndo para a sala de jantar.
– Max, você quer comer algo também? – falei, tocando em seu braço carinhosamente – Pelo que você disse saiu sem acabar de comer.
– Não estou com muita fome, Lu. – ele disse com um sorrisinho amarelo – Não se preocupe.
Concordei com a cabeça e segurei sua mão:
– Qualquer coisa só é falar comigo, ok?
– Pode deixar. – ele sorriu.
– Hey! Eu estou aqui ainda, falou? – Vicky disse colocando a cabeça para o lado de fora, fazendo eu e Max rirmos.
Nesse momento algo aconteceu.
Mais precisamente a campainha tocou... De novo.
– MEU DEUS, LUCY! VOCÊ CONVIDOU QUANTAS PESSOAS PARA NOSSO NATAL? – mamãe gritou de seu quarto.
– DESCULPE MÃE! NÃO TENHO NADA COM ISSO! – falei, sorrindo e indo abrir a porta, já imaginando quem era.
– HOHOHO! Não sou Papai Noel, mas Nathan Sykes chegou!
Nath falou isso assim que me viu, arrancando-me um grande sorriso, assim como de Max que estava atrás de mim.
– Bobinho! – falei, dando-lhe um abraço – Feliz Natal, Nath!
– Feliz Natal, Lu! – ele disse, retribuindo o abraço. Finalmente alguém que realmente deveria estar em minha casa! Não que eu não quisesse Max e Vicky ali, mas era realmente esquisito. Estava lembrando Miami.
Nath entrou em minha casa com a sua sacola vermelha cheia de seus próprios presentes e dos presentes comprados para mim e minha mãe, que depois de um tempo ele começou a fazer questão de comprar, assim como eu comprava para ele.
Nath fechou a porta com o pé e ficou olhando Max:
– Cara, perdeu o umbigo na Lu? – finalmente ele disse.
– Por quê? – Max perguntou sem entender, fazendo careta, olhando de mim para o Nath, para ver se eu tinha entendido algo.
– Você agora só vive grudado nela! – ele disse, com um tom de revolta engraçado – Espero que tenha um bom motivo para estar aqui!
– Cala a boca, Nathan! – Vicky falou, aparecendo com um copo de refrigerante na mão e olhando para o namorado – Se a Lucy deixou você entrar, por que ela não deixaria os outros?
Max deu uma risadinha se sentindo defendido:
– Ok! Quem te deixou nervosa? – Nath disse.
– Certas pessoas. – ela respondeu.
– E que depois você vai contar para gente não é? – dei um sorrisinho para minha amiga que confirmou com a cabeça, enquanto Nath tirava o copo de refrigerante da mão de Vicky, tomando o resto que tinha – Vem cá, você está com fome?
– Não. – ele disse – Mas estou com vontade de comer!
– Mas como pode isso Nat... – Max começou a falar.
– Nem pergunte. – sussurrei – É o Nath, querido!
E então ele segurou o riso.
– Vou jantar! – Nath disse – De novo! A comida da sua mãe não pode ser desprezada. – ele comentou, passando pela Vicky – Ah! E eu sabia que você estava nervosa com algo. Sempre que me manda calar a boca é por que...
– É porque você merece! – ela interrompeu-o, completando a frase por ele.
Nath fez uma cara fingida de ofendido e depois fez um ‘nhac’ com a boca, seguido de uma mexidinha de mão do tipo ‘perdi o interesse na conversa’. Então largou a sacola vermelha no chão, que ele se sentia o próprio papai Noel usando aquilo, e sumiu pela sala de jantar, deixando a Vicky com cara de taxo.
– Acho melhor você ir comer. – falei sorrindo e empurrando de leve a minha amiga para ela movimentar logo as pernas, ou Nath iria acabar com tudo.
Os dois jantaram, elogiando a comida da minha mãe. Max comeu coisinha bem pouca só para seguir o embalo e eu bebi o meu chá de canela, satisfeita.
Ouvíamos Nath contando sobre como tinha sido seu Natal, os presentes que seus pais trouxeram de viagem, o jantar, as conversas, tudo.
Enfim, o dele pareceu animado, sem ex-namorado, irmão, pais que brigam.
Garoto de sorte!
Depois ainda ficamos na mesa, fofocando, quando fomos interrompidos pela minha mãe:
– Olá crianças! – ela disse simpática para todos e rindo do beijo mandado no ar pelo Nath – Ah! Olá Nathan! – mamãe sorriu para ele, sem jeito – Querida... – então ela me olhou – Agora que tem quem fique com você, vou encontrar o Marc. Tudo bem?
– Mas mãe, é Natal! – exclamei manhosa. Se ela dissesse que fosse outra pessoa eu não ligaria, mas Marc? HORROR!
– Desculpa, Lucy. – ela disse docemente – Preciso ir. E não adianta fazer essa cara! – ela logo me repreendeu ao ver meu rosto de cachorrinho pidão – Não vai me convencer! – e sorrindo ela acenou para todos – Vou indo. Qualquer coisa me ligue!
– De que horas volta? – perguntei, ouvindo-a abrir a porta.
– À tarde, provavelmente! – ela exclamou e em seguida foi embora.
Voltei meus olhos para as pessoas da mesa que me encaravam.
Max foi o primeiro a falar:
– O que você tem contra o Marc?
– Tudo. – respondi percebendo o quanto o fundo da xícara era branco, igual ao teto do meu quarto.
– Ele é apenas um namorado. – Vicky disse.
– Um namorado bem ruim. – expliquei.
– Por quê? – Max perguntou.
– Ele é do tipo que come escondido. – Nath respondeu e Vicky riu.
Max fez uma careta e me encarou:
– Ele trai sua mãe?
– Minha mãe e mais quantas mulheres ele tiver! – falei com certo tom de revolta – Pior que ela ignora esse fato!
– E como você sabe disso? – Max continuou com a sua curiosidade.
– O filho do Marc contou para Lucy. – disse Vicky.
E então confirmei com a cabeça:
– Ele me contou muitos podres do seu pai. Podres que eu já estava desconfiada. – comentei me sentindo uma detetive – Homens perfeitos são os mais imperfeitos.
– Essa foi profunda amiga! – Vicky riu, batendo palmas.
– Obrigada, obrigada. – sorri, fingindo agradecimento – Mas não fuja do seu compromisso. Tem algo para contar para gente, não é gata? – falei, apoiando meus cotovelos na mesa.
– Ah! Sabia que você não ia se esquecer disso. – ela disse revirando os olhos – Saí de casa.
– QUE?
Max e eu gritamos juntos e depois veio um silêncio.
Ou quase isso, já que Nath arranjou um canudinho no armário da cozinha para seu copo e puxava o refrigerante avidamente como se não houvesse amanhã.
– Pois é. Saí de casa. – ela disse se encostando na cadeira e cruzando as pernas – Cansei daquelas pessoas.
– Do Tom também? – Max perguntou.
– Hey, ainda estou aqui! – Nath disse olhando Max raivosamente.
– Foi mal! – ele disse sem jeito.
– Me explica isso Vickyzinha. – falei, esperando que os dois manés calassem a boca para ela começar a contar o que aconteceu.
– Depois que vocês foram embora o Tom me deixou esperando horas por ele no aeroporto. Então, quando eu vi que ele realmente não viria, passei mais séculos esperando um táxi passar e puts! Se tem coisa mais absurda no mundo é pegar táxi em véspera de natal! É quase impossível! – ela falou revoltada, mexendo as mãos – Aí quando eu já estava quase me deitando por cima das malas um táxi apareceu e consegui chegar em casa, mas já morta de cansaço. Quando cheguei quem estava lá era Tanya, fiquei tão revoltada com isso que fui logo falando besteira e saí ouvindo mais um monte. Acabei batendo na safada, recebendo, brigando com a desgraçada e assim a Samantha me disse que eu era uma vadia de rua. Depois dessa vi que não dava mais para ficar no mesmo teto que alguém que me considerava algo tão podre assim e vim para cá. – então ela me olhou com de cara anjo – Você vai me deixar ficar aqui, não vai?
– Claro! – exclamei, tentando organizar tudo o que aconteceu – Isso está... Confuso.
– Não está não! – ela disse, alterando um pouco o tom de voz. Max a olhou desconfiado, enquanto Nath olhava para o teto prestando atenção ou não na conversa. – Simples! Tais motivos me fizeram sair de casa. Assunto encerrado.
Max me encarou e depois voltou seus olhos para Vicky, que olhava para a estampa da toalha de mesa cheia de bonecos de neve.
– Tudo bem. – falei com um sorrisinho, mas sabendo que tinha algo a mais nessa história – Garotos! O que vocês acham da gente ver algum DVD? – perguntei, olhando para Nath e Max, tentando mudar o foco da conversa, para poder voltar depois, em particular.
– Tem ideia do que? – Max perguntou para mim enquanto Nath me olhava sorrindo, pelo visto, tendo adorado a sugestão.
– Eu sei! – Nath disse – Vou dar agora o presente da Lucy!
– Nath! Isso era para amanhã. – falei, lembrando-me da tradição, mas mega, hiper, ultra curiosa para ver o que era.
– Ah, nunca fui de seguir essas coisas rigidamente mesmo! – ele disse sorrindo e levanto-se da mesa, indo até a sacola vermelha jogada no chão.
Ele vasculhou, vasculhou, vasculhou e finalmente achou. Um embrulho vermelho, com um pirulito de cereja entregou-me Nathan.
Tinha o meu nome nele e seu formato era de um DVD.
– O de vocês é só amanhã! – ele disse para Max e para Vicky, sorrindo. – Abre logo, deixa de lerdeza! – Nath disse, me apressando.
– Ok, ok! – exclamei rasgando o papel de presente – Não acredito! Não a-cre-di-to! – falei ‘não acredito’ mais umas trocentas vezes e continuei – A séria do Mister Bean com três volumes! MEU DEUS! ISSO É A COISA MAIS LEGAL QUE EU PODERIA GANHAR!
Falei sorrindo, levanto-me da cadeira abraçando Nath que sorria contente, satisfeito consigo mesmo. Rapidamente Vicky correu para meu lado, arrancando o DVD da minha mão e dando pulinhos:
– Amiga, Mister Bean! – ela disse e eu comecei a pular também com ela – Ele é tão divo!
– Eu sei! – falei com a voz fina, enquanto Max ria da gente. – Vamos ver! Vamos! Vamos! – olhei para o Max que era o único que não havia se manifestado com o fato do Mister Bean ser o ‘fodão’.
– Por mim tudo bem! – ele disse se levantando.
– Ótimo! – exclamei e me virei para o Nath – Obrigada mesmo por isso, gostoso! – e então olhei para a minha amiga – Com todo respeito! – Vicky sorriu, fingindo não ligar.
Percebi as bochechas de Nath ficarem um pouco vermelhas de vergonha, com um sorriso gigante e rosto de Max não se sentindo agradável com a situação.
Ok... Esqueci que tinha ‘algo’ com ele!
– Então... Vocês podem ir colocando. – falei para os dois – Eu e a Vicky vamos preparar pipoca.
– LEGAL! – Nath disse feliz.
– Cara, você acabou de comer. – Max disse cutucando no braço dele.
– Nem ligue, Max! – Vicky começou tediosamente – Esse garoto nunca está satisfeito.
– Por experiência própria, não é Vicky? – ele disse, dando um olhar sedutor para a garota que revirou os olhos, enquanto Max ria.
– Ok, eu poderia viver sem essa de vocês dois. – falei impaciente. – Podem ir vendo se quiser, até porque Mister Bean não precisa se entender muita coisa.
– Tudo bem. – Max disse me dando um selinho e logo ele mais Nath saíram da sala de jantar indo para a de estar.
Olhei para a Vicky que me encarava já sabendo o que viria.
– Vamos para cozinha, lá conversamos melhor. – ela disse.
Concordei com a cabeça e fui com ela até a cozinha. Esperamos os garotos colocarem o DVD e pondo a pipoca no microondas virei para a minha amiga.
– Agora pode me contar o que não me contou.
– Ficou assim tão óbvio que omiti partes? – ela perguntou com cara de péssima mentirosa.
– Bem, Max percebeu algo, mas sua educação o fez ficar calado. Já Nath, acho que nem estava prestando atenção na conversa. – falei, me encostando no balcão e cruzando os braços.
Ouvi algumas risadas vindas da sala.
– Ainda bem. – ela imitou minha posição do outro lado da cozinha e baixando o tom de voz continuou – O Tom me beijou.
O mundo parou.
COMO ASSIM?
Não sei se disfarcei meu rosto de susto, mas eu seriamente fiquei chocada.
Como ela teve coragem?
Meu Deus, o Nathan!
Ela tá namorando o Nath e fez isso!
Calma Lucy, ela disse que o Tom a beijou, não que ela beijou ele...
– Ok. – falei, tentando disfarçar a minha voz confusa, revoltada, ou sei lá o que – Me explica isso direito.
– Depois de ter batido na Tanya...
– Uma coisa muito boa, aliás! – interrompi-a, rindo.
– Também acho! – ela disse sorrindo também – Foi muito bom arrancar alguns cabelos loiros tingidos daquela vagabunda!
– Você deveria ter arrancado aquele piercing ridículo do umbigo dela! – falei, lembrando o quanto aquilo era promíscuo.
– Se o Tom tivesse me dado tempo, eu teria arrancado até a alma dela com as unhas!
Vicky e eu demos uma risada maligna interrompida pelo barulho do microondas indicando que a pipoca estava pronta. Tirei-a e a minha amiga entregou a tigela.
– Mas continue. – disse me lembrando do verdadeiro objetivo de entender a coragem que ela teve de fazer isso com o namorado perfeito.
– Então, depois que bati na Tanya Desprezível, a mãe do Tom me mandou subir, quando eu subi, ele foi atrás, pedi para ele me deixar em paz, ele não deixou e quando vi já tinha me beijado!
– E você não resistiu? – perguntei dessa vez sem esconder meu tom de revolta.
– COMO? – ela gritou e depois percebendo que não deveria ter falado tão alto diminui o som da voz – Como? Eu gosto dele. É meio difícil negar o carinho da pessoa que você gosta.
– Nossa... Isso nem pareceu você! – falei sorrindo, mas um pouco triste por dentro.
– Pois é. Aquele garoto mexe com a parte ridícula da minha vida! – ela falou mais para si, do que para mim.
– E depois? – perguntei pouco me importando se estávamos demorando demais na cozinha.
– Depois a Samantha viu e falou umas coisinhas que me fez sentir um lixo. – sua voz foi de garota humilhada e orgulhosa.
– Cassete! – exclamei – Deve ter sido chocante para ela ver o filho beijando a filha de ‘criação’. – eu disse pensativa.
– Mas isso não justifica o fato dela ter me chamado de ‘vadia de rua’. – Vicky disse tentando me puxar para o lado dela.
– É verdade, mas sabe o que eu acho sobre a Samantha?
– O quê?
– Que ela só não te trata tão bem porque você lembra seu pai.
– HAHA! Grande besteira, Lucy! – Vicky disse com um tom repreensivo.
– É sério! – falei, roubando umas pipocas – Você lembra bastante seu pai. Talvez seja por isso que ela te afaste tanto.
– Não me interessa o que ela acha, pensa, deixou de achar, de sentir ou sei lá o que. Só sei que me senti humilhada e que ainda não consegui desculpar o Tom. Não totalmente.
– Ele disse que gostava de você? – perguntei, tentando afastar os pensamentos de certo garoto que a namorava, que não merecia nada disso e nem sonhava com o que realmente tinha acontecido.
– Não diretamente. – ela falou. – Mas acho que ele gosta de mim sim.
– E por que você não se entende logo com ele? – falei tentando fazê-la ver o quanto tava prolongando coisa que poderia ser reduzida.
– Porque eu não quero! – Vicky exclamou e seu rosto ficou vermelho – Ele fez uma grande merda ficando com a Tanya! E caramba! Eu tô com o Nathan!
– Sem gostar dele! – corrigi-a.
– E daí? – ela disse – Nathan sabe que não é dele que eu gosto e mesmo assim ta comigo.
– Infelizmente... – falei baixo.
– Qual seu problema com isso?
Vicky me encarou, esperando que explicasse essa ‘defesa’ com o Nath.
– Ele é meu amigo. Só quero protegê-lo e você acabou de dizer que o traiu...
– Sem querer, Lucy. – ela disse baixinho perto de mim – Eu gosto do Nathan, de certa maneira. Me sinto segura com ele, é meio que um controle para eu não deixar o Tom se aproximar de mim tão fácil.
– O Tom não tem uma doença contagiosa! – exclamei.
– Mas ele tem uma estranha maneira de mostrar que gosta de mim! – ela falou tentando me convencer – Beijar Tanya, chamá-la para o natal, me deixar no aeroporto. Coisa bonita! – ela disse irônica me arrancando um risinho rapidamente engolido pelo seu rosto que não era para brincadeiras – Você não vai contar nada ao Nathan não é?
Olhei-a seriamente.
Nath não merecia ficar sem saber disso, mas no fundo sabia que ele estava preparado para qualquer coisa do tipo.
Caramba!
A Vicky não merece o garoto que está ao lado dela, mas foi a ela que ele escolheu e insistiu para conseguir.
Não sou eu que vou fazer isso mudar contando para ele a verdade.
– Não se preocupe. – comentei, depois de pensar – Não vou dizer nada a ele. Isso não é minha obrigação.
– Obrigada amiga! – Vicky disse sorrindo e me dando um abraço retribuído – Ah, coisinha rápida... E não jogue pedras em mim!
– O que foi? – falei, forçando um risinho.
– O Tom beija tão bem! – e ela falou de olhos brilhantes.
– AH, cala boca sua boba apaixonada!
Sorri sinceramente assanhado seu cabelo.
Torcia tanto por ela e pelo Tom! Queria tanto que eles se entendessem logo...
– EI FOFOQUEIRAS! – Nath gritou lá da sala – DÁ PARA VIR PRA CÁ?
– DESCULPA! – Vicky e eu gritamos juntas.
Pegamos a pipoca e garrafas de suco na geladeira.
Chega de refrigerante e celulites!
Acomodamo-nos com os garotos, cada um com o seu e o mais engraçado, além do Mister Bean mega, hiper, ultra divo, eram os garotos com suas risadas mais escandalosas que a minha.
Me deu uma dorzinha no coração ao ver o Nath lá, feliz, sem saber de nada. Retirei meus olhos rapidamente dele para não perceberem minha angústia.
Max e o DVD me distraíram por esse tempo.
Ficamos até 3:50 da manhã na sala, rindo.
Vicky começou a demonstrar sinais de cansaço, assim como o Max. Compreensível. Os dois não tinham tido um dia nem um pouco fácil. Arrumei meu quarto para nós quatro podermos dormir lá, colocando um colchonete no chão, perto da cama. Max ficaria em cima comigo, e Nath e Vicky embaixo. Todos nós nos arrumamos em todos os banheiros possíveis da casa. Os garotos ficando prontos primeiro que eu e minha amiga.
Me distraí na sacada do meu quarto, lembrando-me de coisas, como a história que a Vicky me contou, do beijo e a noite em que eu e Nath dançamos I Need A Woman. Por que o meu melhor amigo estava mexendo tanto comigo? Desde que percebi que ele estava gostando da Vicky o que mais desejei foi vê-los juntos e agora eu sou tão adversa a relação dos dois.
Apoiei meus cotovelos na grade e em seguida apoiando minha cabeça, pensativa olhei para a casa a frente, de luzes acesas, duas crianças brincando felizes com seus presentes na sala de estar. Um casaco cobria meu corpo e meias aqueciam meus pés, minhas mãos geladas não eram tão importantes. Ouvi Max perguntando se eu não ia me deitar, respondi que depois iria. Que ainda estava sem sono. Ele veio até mim, deu-me um beijo e boa noite, agradecendo por ter o acolhido nessa noite e ter feito dela divertida. Sorri para ele simpaticamente, lhe dando mais um beijo. Ainda o ouvi reclamando sobre eu estar fora naquela temperatura, mas disse a ele que estava tudo bem e ele aceitou indo finalmente deitar. Vicky também me desejou boa noite enquanto eu voltava para minha posição pensativa de anteriormente. O silêncio ficou atrás de mim, dentro do meu quarto. Suspirei fundo olhando mais uma vez as duas crianças lá na frente, até que senti alguém me abraçar por trás, me fazendo arrepiar:
– Acho que amanhã vai nevar. – era o Nath. Assim que percebi seu cheiro e sua voz senti uma falta de ar, sendo rapidamente invertida pelo meu coração batendo mais rápido. Talvez pelo susto...
– É. Provavelmente. – falei, mudando minha posição para aquilo não parecer pornográfico. Nath apertou minha cintura mais forte, colocando sua cabeça apoiada em meu ombro, sem maldade alguma. Muitas vezes ele fez isso...
– Esquisito. – ele disse – Quando cheguei da viagem pensava que ia estar nevando. Queria tanto fazer bonecos de neve no natal! – sua voz soou infantil, me fazendo rir.
– Se nevar amanhã, talvez no ano novo a gente consiga fazer. – falei, apertando seus braços com os meus.
– Ah! Mas nem gosto tanto de ano novo. – ele disse, com tom de quem acha o dia desprezível – Nem você gosta.
– É. Eu sei. – confirmei com a cabeça e Nath sorriu em meu ouvido por meu cabelo ter batido sem querer em seu pescoço, fazendo cócegas – Mas podemos fazer do dia um segundo natal.
– Ia ser divertido! – então ele tirou o a cabeça de meu ombro e me virou para ele, fazendo-me encarar seus olhos avelã – Enquanto você e Vicky estavam na cozinha o Max disse que Jay veio aqui.
– Nada de mais. – interrompi antes de perder meu tempo conversando sobre aquele garoto.
– Tem certeza? – ele me olhou preocupado.
– Aham. – confirmei com um leve sorriso.
– Qualquer coisa me diz que eu resolvo. – ele falou protetor me arrancando uma risada enquanto ele me olhava sem compreensão.
– Nossa! Falou o super herói!
Nath riu alto e eu bati nele para não atrapalhar o sono dos que estavam lá dentro:
– Você não sabe que sou o Flyman! – ele sussurrou de maneira sexy, colocando as mãos na cintura com pose de galã de filme de herói, me fazendo rir mais uma vez.
– Acho melhor sairmos daqui! – ele disse ao perceber a Vicky xingando qualquer coisa por causa do barulho.
– Você não vai dormir agora? – sussurrei para ele.
– Tô sem sono! E ainda ta cedo para dormir no natal! – ele disse como se olhasse um relógio invisível no pulso nu.
– Ok! AH! Já sei! – exclamei feliz, dando pulinhos e aquele ato me deixou um pouco mais quente. Passaria o resto da madrugada pulando, só para me aquecer.
– Que foi? – ele disse, imitando meu tom de empolgação sem saber de nada.
– Tem biscoitos!
– Biscoitos do papai Noel? – dessa vez ele realmente se empolgou e ouviu a Vicky gritando ‘CALA A BOCA’ e nós dois rimos.
– Sim! Do papai Noel! – falei batendo as mãos, mas evitando que emitisse algum som.
– Ta! Vamos roubar agora! – ele disse segurando minha mão e me puxando para dentro do quarto.
Antes de sairmos fechei a janela para meus docinhos dorminhocos não morrerem no gelo.
Descemos a escada sem preocupação de barulho e pegamos o prato cheio de biscoitos que mamãe colocou em cima da lareira enfeitadas com meias vermelhas e verdes de natal. Nath se sentou no degrau enquanto eu voltava com duas canecas cheias de leite quente. Ok, nossas barrigas são monstros da fome!
Me sentei no degrau ao seu lado e logo ele devorou o primeiro biscoito. A noite de natal e véspera não foi igual à de muitos anos, mas esse momento estava sendo, pois muitas vezes o vi fazendo isso. Encostei minha cabeça em seu ombro enquanto tomava meu leite e pegava vez ou outra o biscoito com pedaços de chocolate, comentando qualquer besteira e sobre a saudade que nós dois estávamos sentindo da Katy que estava ainda em Miami, aproveitando a vida.
Depois ele falou qualquer coisa sobre o Tom e a Vicky, o fato dela ter saído de casa e eu só balancei a cabeça sem dizer minha opinião para nada, não queria dar sinal do nervosismo que eu estava sentindo por dentro.
Quando terminamos levei o prato para cozinha, voltando me deparei com o Nath em pé perto de um móvel da sala, onde tinha vários porta-retratos.
– Você era a coisa mais fofa quando pequena! – ele disse ao me ver chegar.
– Cassete. E agora sou feia! – falei como se tivesse acabado de descobrir algo, batendo a mão na testa.
– Claro que não sua besta! – ele disse rindo, apertando meu nariz. – Você continua fofa, bonita e gostosa.
– Meu egocentrismo agradece. – falei lhe arrancando uma risadinha – Sabe que você também era um garoto excessivamente comestível quando era pequeno? Sem ser pornográfica! – corrigi logo que vi sua cara de ‘vou te zoar sexualmente’.
– Valeu. Minha mãe diz o mesmo! – ele fez um rosto pensativo – Tirando a parte do comestível!
– Besta! – eu ri apertando seu braço – Papai me ligou hoje perguntando como você estava.
– Poxa! Ele esse ano ligou mais cedo! – ele falou apontando para uma foto que tinha meu pai, dele e nós dois juntos – Nem deu para desejar feliz natal para ele.
– Pois é! Mas ele mandou para você. – então ele fez um rosto agradecido – E me perguntou se você ainda estava pensando em fazer faculdade de música.
– Você sabe que ainda quero não é? – ele me olhou com cara de ‘ta sabendo’.
– É! Eu disse a ele que você ainda queria. E ele ainda ta com aquela história de te ajudar. – sorri para ele.
– Sério! Ele é o cara mais foda do mundo! – Nath falou levantando o braço e depois me olhou – E pai da garota mais foda do mundo!
– Ai! Não me diz essas coisas! – ri envergonhada, mas me achando o máximo por dentro enquanto Nath me abraçava carinhosamente.
– Te amo, Lu! – ele falou baixo em meu ouvido e eu senti um frio na barriga, enfiando meu rosto mais ainda em seu corpo, como que para acabar com essa sensação.
– Também te amo. – respondi com a minha voz saindo abafada, Nath sorriu e eu me senti confusa. Ele dizendo amar a melhor amiga e eu me sentindo a garota mais falsa do mundo, por esconder o que eu sabia e pelo sentimento que estava dentro de mim, que parecia crescer de uma maneira perigosa – Nath, tô com sono.
– Agora eu tô também. – ele me olhou, com a mão ainda ao redor de minha cintura – Vamos arrumar os presentes em baixo da árvore antes de dormir?
– Tudo bem. – sorri e recebi um beijo na testa.
Então ele me largou e pegou a sacola vermelha indo em direção a árvore que ainda piscava toda enfeitada. Olhei pela janela, o céu estava mais claro indicando que logo amanheceria.
Arrumei as coisas junto com ele rindo por ele me tentar derrubar enquanto estávamos agachados, no meio da briga caímos juntos e decidimos nos sentar e ficamos conversando mais um pouco em meio aos presentes. Nath disse que trouxe presente para Max e Vicky, pois estava na cabeça que poderíamos no dia de natal passar na casa deles e entregar, mas agora não íamos ter mais esse trabalho.
Depois subimos e escovamos os dentes em meu banheiro. Tentei não fazer barulho, mas Nath começou a imitar a namorada quando brigava com ele, me arrancando algumas risadas reprimidas com as mangas do casaco.
Antes de dormir ele me entregou o Bruce que veio dentro do saco do papai Noel e esperou eu me deitar na cama, e cuidadosamente sentou-se ao meu lado. Max dormia tranquilamente virado para o outro.
Nath me olhou de um jeito tão carinhoso com seus olhos avelã e beijando minhas mãos me desejou boa noite com um sorriso gentil e então ele foi se deitar com a sua garota.
Abracei Bruce em meu corpo, como se aquele ato fosse consolar meu coração. De olhos fechados, mas sem conseguir dormir, me esqueci de Jay e de Max, apenas pensei em Nath. No meu amigo que agora não era mais meu.








        * * *



CAPÍTULO 24

ESTAMOS JUNTOS... TIPO NAMORANDO



Ponto de Vista: Vicky

Natal.
Acordei muito tarde, assim como os outros, principalmente Lucy e Nathan que se deitaram quase de manhã.
Tia Eliz ainda não havia chegado. Previsível, já que falou que voltaria apenas à tarde, restando para mim e para Max arrumar o café da manhã.
Antes dos outros dois se acordarem, o careca foi em sua casa pegar os presentes, passando na minha logo em seguida.
Sorte que eu e Lucy compramos os presentes de Natal antes de viajarmos para Miami, mais precisamente no dia em que fomos pegar o que faltava para a viagem.
Provavelmente os meninos fizeram o mesmo.
Mal Lu e Nath se acordaram, saíram correndo feito duas crianças para a árvore de Natal, catando os presentes que tinham os seus nomes.
Agora vamos a lista do que cada uma recebeu:
Eu: ganhei uma boina roxa da Lucy, linda, linda, um quite de cremes corporais como cheiro de morango (meus preferidos), um conjunto colar e brinco de ouro, em formato de laço, dado pelo Nathan e do Max o livro de Sherlock Holmes que faltava para completar a coleção.
Lucy: ganhou um cardigan vermelho, dado por mim, o DVD de Mister Bean do Nathan, mais uma pulseira de prata de pequenas caveirinhas e do Max (pausa para a risada) uma ovelhinha que faz barulho e se mexe! A coisa mais fofa do mundo, que colocamos o nome de Dolly. A garota passou o resto do dia chorando de emoção com seus presentes.
Max: de mim ganhou uma pequena lua de enfeite, que acende e gira, ótima para colocar em cima de escrivaninhas. Da Lucy foi uma t-shirt do Darth Vader, usando óculos escuros (realmente engraçada) e do Nathan foi um Ken, ao menos inicialmente, ouvindo a piadinha “formando o casal Barbie e Ken” (no caso a Barbie era o Max e ele ficou emputecido, diga-se de passagem), mas no final Max acabou ganhando um box de Arquivo X.
Foi outro que quase chorou...
Nathan: não ia lhe dar, mas acabei comprando, por pura bondade, um boné de aba reta com estampa do capitão América, da Lucy uma mosquinha de pelúcia, vestida de terno, segurando a plaquinha “I’m Nathan, Nathan Sykes” (imitando 007, o que o fez rir horas) e do Max as novos HQs de Super Man, o que fez o garoto passar um bom tempo calado, aproveitando os presentes, sozinho e sem ninguém (por incrível que pareça).
Só depois de aproveitarmos muito, não nego que me distrai bastante com o livro de Sherlock Holmes, com a boina na cabeça e colar e brincos em seus devidos lugares, assim como os outros, decidimos a tarde nos arriscar e almoçarmos no shopping, pegando depois a sessão de Harry Potter (parte 1), que eu, Lucy e Max queríamos loucamente ver. Já Nathan tentava nos convencer, em vão, de olharmos qualquer filme com o tema de Natal. Mas rapidamente sua sugestão foi desprezada.
O shopping aparentemente estava vazio, acho que era por causa da neve que surgiu, mas a sala do cinema estava cheia. Lucy chorou quando Dobby morreu, Max ficou consolando-a e eu tive de explicar um monte de coisa para o Nathan para ver se ele compreendia, embora ache que tenha sido em vão.
Só à noite os garotos foram para suas devidas casas e eu fiquei conversando com minha amiga várias coisas bobas e não bobas, já que quando tocamos nos nomes “Tom, Max e Jay” nada se torna besta e sim bastante tenso. Mas ela ficava esquisita quando eu dizia qualquer coisa sobre o Nathan. Acho que ficou sentida com o fato de sua melhor amiga ter traído, mesmo que sem querer, seu melhor amigo.

* * *

O tempo foi se arrastando tranquilamente até que finalmente chegou o primeiro dia de aula, após o primeiro dia do ano.
O ano novo foi legal, mas não comemoramos como deveria ser comemorado, já que eu, Lu, Nathan e Max passamos a noite inteira do lado de fora da casa da Lucy, vestidos como nossas roupas de frio, fazendo bonecos de neve que ainda estão de pé.
Graças a Deus! Aquilo deu trabalho de fazer!
Esperei o Nathan e a Lucy pacientemente, sentada no sofá da casa dela, vendo os programas matutinos chatos. Ele viria nos buscar e a outra acabava de se arrumar. Iríamos juntos ao colégio, coisa que era bem tensa, pois lá estariam Tom e Jay, preparados para nos atacar ao ver a mudança que havia acontecido nesse tempo em que ficaram sem nos ver de maneira mais aprofundada.
Tom não sabia ainda que eu estava com o Nathan, assim como Jay não sabia que Lucy ficava com o Max. Não sei qual das duas pode dizer que está mais ferrada.
No meu caso, eu namoro. Isso deixará o Tom ‘P. da vida’. No caso dela, ela não namora o Max, mas isso não vai importar para o Jay, porque só o fato dela ter contato com outro, torna tudo mais complicado.
Posso dizer que passamos a madrugada inteira pensando nisso, pois estávamos nervosas de verdade. Havíamos tomado nossas decisões sem pensar exatamente na consequência que elas teriam no dia de hoje. Não sei se os garotos também já tinham pensando nisso, mas espero que sim, se eles forem pegos de surpresa, será por pura idiotice.
Nathan chegou e logo Lucy desceu a escada pronta, com a bolsa nas costas, enquanto eu pegava a minha. Max também estava no carro, e após cumprimentarmos os dois posso dizer que a ansiedade me dominou. E percebi que com os outros também era assim, já que ninguém falava, nem mesmo música tocava, e tirando Nathan, todos olhavam distraídos para o lado de fora, como se Londres fosse a coisa mais importante no mundo nesse momento.
Ao chegarmos na frente do colégio, Lucy me lançou um olhar nervoso e disse:
– Vocês nos esperam aqui? Quero ir à loja de doces antes com a Vicky.
– Tudo bem! – Max disse e deu um selinho nela, enquanto Nathan me mandava um beijo no ar.
Saímos do carro antes dele ser estacionado. Olhei para minha amiga duvidosa do que ela queria. Simplesmente ela não poderia querer comprar doces comigo, porque para isso os garotos poderiam ir também. Fiz barulho indicando que iria falar, mas ela fez sinal para ficar quieta, até finalmente entrarmos na loja de doces, já cheia de alunos.
– Está com medo? – ela perguntou puxando-me para o canto mais calmo da loja.
– Não. Apenas ansiosa. – respondi olhando para os lados – E você?
– Nervosa, ansiosa, tudo. – ela sorriu desajeitada.
– Com Jay McGuiness a coisa é mais para o medo não é? – falei mostrando que a compreendia.
– Sim. – ela concordou com a cabeça e me olhou – Mas tem uma coisa que precisamos fazer, independente de ser Jay ou Tom.
– O quê? – olhei-a curiosa.
– Precisamos ser fortes.
Ela disse isso e ficou calada, procurando em mim apoio, rapidamente dado:
– Vamos ser fortes sim. – respondi com um sorriso mafioso – Eles que se danem e somos nós que mandamos em nossas vidas.
– Exato. – ela sorriu aliviada – E quero te pedir uma coisa.
– O quê?
– Não faça mais nada com o Tom, não traia o Nath.
Tentei ignorar o fato das palavras da Lucy parecerem sair com certo tom de sofrimento. Vê-la daquele jeito pelo o que eu fiz, doía mais a mim do que o fato de eu ter traído meu namorado.
– Tudo bem. Não vou fazer isso. – falei, colocando a mão em seu ombro.
Ela sorriu e me deu um abraço, desejando num sussurro boa sorte. Depois disso compramos nossos doces preferidos e fomos encontrar os garotos que nos esperavam em frente ao colégio, conversando distraidamente.
Sem mais demoras e tortura entramos na escola.
Nathan envolveu minha cintura com um de seus braços, Max e Lucy deram as mãos.
Coisa ridícula!
Eu que namorava e eles que agiam como se estivessem na minha situação? Vá entender os dois!
Indo em direção ao lugar que normalmente ficávamos nos jardins, ouvi Nathan e Lucy começarem uma conversa sobre a noite passada e o boneco de neve.
IDIOTA!
Ele não poderia estar falando isso comigo? Pelo menos não seria obrigada a encarar Tom que, aliás, já havia chegado, e estava acompanhado de Jay McGuiness.
Nossos olhares se encontraram e senti minhas mãos suarem. Desviei minha cabeça e prendi a minha atenção em Max que sorriu para mim, como se estivesse satisfeito com o que acontecia. Lucy ignorava Jay presa em sua conversa com Nathan e, percebendo a demonstração dos três de ignorar a presença dos dois garotos que vinham à frente, senti a minha ansiedade ser substituída por prazer.
Aqueles idiotas não haviam prejudicado a gente? Ótimo! Que se explodam com as consequências!
Passei meu braço pelas costas do Nathan, fazendo nossos corpos ficarem quase colados, andando em sincronia e segundos depois Max e eu estávamos fazendo parte da conversa animadamente. E com isso conseguimos demonstrar o quanto nós estávamos bem sem eles.
Nós quatro acenamos para os dois, simpaticamente e provocativamente. De uma maneira ou de outra ainda nos falávamos. Nathan, Lucy e Max com Tom. Eu e Nathan com o Jay.
Quando demos as costas meu namorado idiota foi o primeiro a gargalhar alto, seguido da Lu e depois do Max. Para não me encaixar naquele momento ridículo de criança pouco me lixei para meu cérebro dizendo ‘não olhe para trás’, mas olhei. Primeiro para Tom, com o rosto sério e as mãos no bolso, por um momento me senti sem jeito por fazer aquilo e então vi seus lábios se mexerem formando a palavra ‘Por quê?’ e a reposta em minha mente foi: você buscou. E farta da cara do Tom voltei meus olhos para o Jay, de punhos fechados, boca contraída e uma simples coisa em toda sua feição: ódio por Max George.
Senti um frio com os dois e minha atenção foi presa nos três que seguiam ao meu lado e então finalmente chegamos a um banco que nunca havíamos nos sentado e nos acomodamos nele. Sentei-me no colo de Nathan e começamos uma conversa sobre os episódios de Mister Bean que havia visto com a Lu depois que os garotos tinham ido embora. Minha amiga sentou-se ao lado de Nathan, virada mais para o Max e começou com ele a ler o livro O Retrato de Dorian Gray distraidamente. Mas sabia que ela não estava tão tranquila, assim como eu, só que decidi fazer o mesmo que Lu, me enfiar naquilo que o momento nos propunha para não pensar besteira.
O sinal pareceu demorar anos e eu não sabia se isso era bom, já que na sala eu seria obrigada a ficar do lado do Tom e do Jay. Suspirei aliviada por nenhum dos dois parecerem psicopatas, mas morri de inveja da Lucy que não iria ficar que nem eu.
Assim que entramos na sala vi a Tanya correr para o Tom, me lançando um olhar de vadia satisfeita com algo, que me deu uma séria vontade de vomitar. Tom por outro lado a abraçou fortemente, cheirando seus cabelos e descendo de maneira significante a mão pelas suas costas. Uma raiva me dominou, pois esse filho da mãe fez isso olhando de cara lavada para mim, como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo!
Joguei-me na cadeira achando um porre ter que ficar naquele lugar e por um momento me senti bem claustrofóbica, afrouxando a gravata do pescoço para tentar respirar melhor. Jay sentou-se do meu lado, no caso na cadeira em frente a Lucy e ao menos nisso eu tive sorte, pois ele iria separar eu e o irritante do Tom.
Jay me cumprimentou com uma educação bem forçada e eu lhe respondi no mesmo tom, não tava a fim de falar com ele. Então virei meu rosto para a parede ao lado.
Em menos de dois minutos o professor apareceu na sala e logo a coisa loira saiu correndo para seu lugar e Tom sentou-se no seu também. Senti de longe o cheiro do seu perfume Legendary Harley-Davidson que inicialmente me fez revirar olhos, mexendo com meu ponto fraco, mas depois enfiei na minha cabeça o quanto seu cheiro era enjoativo e mantive isso até o fim da aula.

* * *

A aula demorou uma eternidade para terminar. MEU DEUS! Que tempo lerdo, chato, imbecil, irritante! Toda a minha capacidade de fazer Sudoku ouvindo música foi embora. Eu não estava com a mínima vontade de prestar atenção naquilo que se chama aula (falo mal hoje, mas nos outros dias eu presto atenção em tudo).
Saí da minha mesa quase que de um pulo e quase bati no Nathan quando me virei pra trás. Ele me olhou assustado depois começou a rir, eu o encarei e fiquei quieta na minha sem entender a graça daquilo. Retardado! Jay passou por mim rapidamente, batendo de leve em meu braço. Lucy estava debruçada sobre a mesa, tirando um cochilo enquanto Max brincava carinhosamente com seu cabelo. Cutuquei a garota fazendo cócegas para acabar com a frescura dos dois e logo ela levantou a cabeça atordoada, causando uma risada maligna em mim, e depois em Nathan, já Max me olhou repreendendo. Mostrei a língua pra ele e abracei a cintura do Nathan que retribuiu:
– Vamos lá pra fora. – Lu disse impaciente, levantando-se.
Concordamos com a cabeça e antes de sairmos da sala reparei na proximidade entre Tom e Tanya. Ela sentada em sua mesa e ele entre suas pernas, falando com o rosto quase junto do seu, alisando seus cabelos. Nem preciso dizer que eu queria matar os dois naquele momento, não é mesmo?
Fomos para os jardins e nos sentamos em uma árvore perto do banco que estávamos quando chegamos. Provavelmente ali seria o nosso novo local para passar tempo, já que o antigo, nesse momento, estava sendo substituído por Jay McGuiness e outra garota de rosto conhecido.
– Aquela menina... – Max disse olhando para o mesmo lugar que eu. Nathan e Lucy também mudaram a atenção para o banco.
– Cara de pau! – Nathan disse, balançando a cabeça, chateado.
– Que foi? – perguntei sem entender nada, Lu olhava para o chão, pensativa.
– Foi com ela não foi? – Max sussurrou para minha amiga, que estava sentada entre suas pernas, encostada em seu corpo.
– É. Mas deixa pra lá. – ela disse com um sorriso forçado – Que os dois morram de sífilis.
Nathan gargalhou alto fazendo Max rir também. Fiquei pensando na situação até que caiu a fixa de quem era a vadia: a garota que Jay traiu Lucy. Então pensei o quanto esses garotos eram uns filhos de uma put... Deixa pra lá. Não vou dizer palavrão com esses desgraçados.
O intervalo passou razoavelmente devagar, nos divertimos comendo doce e jogando cartas, como sempre fazíamos. Dessa vez eu ganhei e quem se prejudicou mais foi Max. Adoro implicar com ele! Nathan e Lucy não quiseram jogar a segunda rodada, então ficaram discutindo sobre a ovelha que fazia barulho e a mosquinha James Bond.
Quando o sinal veio corremos rápido para o banheiro, comentamos qualquer coisa do que estava acontecendo e voltamos correndo para sala, para não entrarmos atrasadas. Mais uma vez fiquei na hipnose do perfume, tentando me convencer do quanto ele era nojento, mas dessa vez não deu muito certo, o jeito foi começar a respirar pela boca mesmo, deixando minha garganta seca e por esse motivo bebi muita água, frequentando o banheiro quase que na mesma quantidade de vezes que a Lucy que ganhou de mim por duas.
Na hora da saída Max e Nathan se despediram da gente, nos deixando sentadas na calçada em frente ao colégio, esperando a mãe de Lucy que viria nos buscar e iria almoçar conosco, coisa que era bem rara. Mas só ia fazer isso porque seu namorado estava em viajem.
Compartilhávamos o fone de ouvido ao som de Cyndi Lauper quando senti alguém dar duas batidas em minhas costas, fazendo com que eu virasse minha cabeça para trás e por consequência para cima. Um ser não muito alto, loiro e raivoso me encarava:
– Posso dar uma palavrinha com voc...
– Não. – o interrompi, voltando meu rosto para frente e o ignorando.
Tom insistiu:
– Vicky, preciso falar com você.
– Precisa nada. – falei sarcástica olhando para Lucy, que fingia não estar ali, nem vendo aquilo, sussurrando a letra da música distraidamente.
– Dá pra levantar, garota? – ele falou, fazendo força em minhas costas com um dos joelhos – Deixa de ser implicante! Tô P. da vida com você!
– Que se exploda! – respondi batendo em seu joelho.
– Então que a Lucy escute nossa conversa! – ele disse jogando-se ao meu lado e rapidamente colei em minha amiga, como uma maneira de proteção. Ela me olhou fazendo careta e depois voltou a ignorar a cena sussurrando a frase ‘Time After Time’, muito mais para ela do que para mim. – Que bosta é aquele de você e Nathan?
– Bosta nada! Ele e eu estamos juntos! – falei com raiva, muito melhor se ele não estivesse ali.
– Juntos como? – ele perguntou apreensivo.
– Juntos do tipo pegar, colar, beijar... – dei um sorrisinho maligno e completei – namorar.
– PUTA QUE PAR...
– OLHA COMO FALA, TOM! – gritei interrompendo-o mais uma vez. Seu rosto mudou de cor e seus olhos ficaram cerrados.
– Barraco. – Lucy sussurrou – Vou ali cortar os pulsos. Kisses!
E então ela se levantou, puxando o fone de ouvido e arrastando sua bolsa vermelha no chão, sentando-se num banco mais além, cruzando as pernas e mexendo no celular, realmente fingindo que a gente não estava ali.
– Olha pra mim. – Tom disse e por impulso me virei pra ele, me achando ridícula por sem querer ter feito o que ele disse – Explica isso! Nós nos beijamos!
– Não. – falei fechando os olhos, pronta para dar uma explicação – Você me beijou.
– E você retribuiu bem rápido! – ele falou sarcástico.
– Pois é! Não sabe como me arrependo disso. – mentira. Mas fiz um rosto de pensativa, para tentar convencer.
– Você já tava com o Nathan? – Tom perguntou me encarando.
– Sim. – confirmei com a cabeça.
– Mas você gosta de mim! – ele exclamou como se fosse muito óbvio.
– Opa! Quem disse isso? Com certeza não fui eu! – então sorri de leve – Não se ache Tom Parker.
Ele me olhou confuso. Ponto para mim! Sofra honey.
– Dá para ver nos seus olhos Victoria, dá para...
– E blá, blá, blá, eu te amo! – falei irônica – Se eu estou com o Nathan, é porque gosto dele. Isso não é claro demais para você?
– Não! – ele disse com raiva – Não é claro mesmo! – então seu tom de voz mudou, ficando meigo - Porque eu sei que é só pra mim que você sorri de manhã cedo, que é só comigo, quando não esta chateada, que você consegue dizer uma frase sem parecer que odeia aos outros, que é só comigo que você amolece e transparece que tem sentimentos. Você pode namorar Nathan e mil homens, mas é comigo que você mostra quem é de verdade. E isso você não pode negar! Não é claro para você?
Ponto para Tom.
Abri a boca para tentar falar algo, mas eu estava paralisada demais com o que ele havia me dito, porque infelizmente era verdade. Tantas vezes quis tratar o Nathan como tratava o Tom. Carinhosamente e demonstrando que sentia algo por ele, do meu jeito, mas demonstrando. Infelizmente eu nunca consegui, e esse namoro era apenas uma ilusão que por enquanto era necessária.
– Tom... – sussurrei e aproximei meu rosto do dele, tocando a ponta das minhas unhas em sua bochecha.
– Sim? – ele sorriu de leve, se entregando ao momento.
– Morra!
Então afastei o rosto dele de mim, me levantando em seguida.
– Lucy! – chamei-a fazendo movimentos com a mão enquanto ela me olhava tirando o fone. Senti o Tom levantando-se atrás de mim. Sua respiração forte batendo em meus cabelos – Tia Eliz!
Apontei para o outro lado da pista aonde o carro da mãe de Lucy vinha. Minha amiga correu até mim e antes de ir ela olhou apreensiva para um Tom vermelho:
– Tchau! – Lucy disse sem jeito.
De mãos dadas atravessamos a rua sumindo pelo carro. Enfiei-me no banco de trás, assim como ela. Ouvi-a falando com sua mãe qualquer coisa e vi Tom olhando na nossa direção por uma última vez naquele dia. Ele era o único que sabia me dobrar, isso eu tinha que superar se quisesse seguir com essa história.







        * * *



CAPÍTULO 25

E A CULPA É TODA MINHA



Ponto de Vista: Lucy

Dia nada fácil o de ontem.
Vicky me contou mil vezes como havia sido a conversa dela e do Tom. Ainda não sei por que ela insiste no fato de machucá-lo. Acho que eles estão levando essa história distante demais!
Mas se querem continuar com as provocações, que continuem, é a vida deles, que está infelizmente interferindo na minha.
Como?
Prefiro não responder isso, mas ainda quero acreditar que o que eu estou sentindo é ciúmes de amiga egoísta. Só o tempo poderá confirmar ou me provar o contrário.
Que o tempo não demore, pois viver em dúvida é um pé no saco, que eu não tenho!
À noite Nath veio buscar sua namorada para irem curtir a sua casa, já que seus pais tinham um jantar para ir.
Imagino como curtiram...
Fiquei sozinha, enfiada na cama, olhando o teto. Max não pode vir me ver, pois sua mãe pediu para que ele a fizesse companhia, mas nos falamos bastante no telefone, me distraindo um pouco. Já a minha mãe chegou tão tarde do trabalho que desisti de esperá-la pegando no sono no sofá mesmo, abraçada a minha ovelhinha fofa, minha única companheira.
Drama!
Me acordei como nos dias de antes, com sono, tédio e a única diferença foi a dor que eu estava nas costas.
Péssima ideia ficar no sofá!
O café já estava pronto, minha mãe sorria, como sempre, e eu comi antes de me arrumar, fazendo o que tinha de fazer logo em seguida. Max veio me buscar em casa.
Chegando ao colégio, Nath e Vicky ainda não estavam lá, então ficamos na árvore do intervalo do dia anterior, conversando. Mais uma briga na casa dele e o garoto estava horrível, me deixando com muita pena.
Cansados de esperar fomos para sala, melhor do que ficar do lado de fora vendo putaria alheia. Logo depois da gente, Tom chegou, com uma cara péssima de quem não tinha dormido direito. Ele nos cumprimentou demorando um pouco mais com o Max, falando de uns jogos que estavam em sua casa. Não dei atenção a conversa. Só fiquei sentada no colo de Max lendo suas anotações da aula do dia anterior, que eu não tinha prestado atenção.
Tom perguntou sobre a Vicky e infelizmente tive de lhe dizer que estava chegando com o Nath, ele provavelmente deduziu que ela tinha ido dormir fora da minha casa.
Sem entender cassete nenhum do que havia no caderno, não pela letra, e sim pelo assunto, desisti de enfiar o que não entrava no meu cérebro, mudando de distração, fazendo massagem na carequinha do Max. O que o fez rir, enquanto Tom reclamava, pois queria tirar um cochilo antes da aula começar.
Mas para azar dele não deu muito certo, Tanya chegou e foi logo causando a perturbação da paz mundial, fazendo o garoto grunhir palavras como ‘bum dinha’ e ‘sai daqui que tô com xono porra!’, que a fez ficar calada, mas não tirou sua presença loira oxigenada dali, ficando lá só pra acariciar os cabelos do Tom, que dormia encostado na cadeira, de boca aberta.
Infelizmente Jay McGuiness só veio inventar de aparecer quando eu beijava animadamente Max, pois havia acabado de ouvir uma reclamação dele que eu tinha de parar de falar e começar a mexer a língua para outras coisas.
Antes disso ele ouviu uma piadinha pornô minha que o fez ficar de bochecha vermelha, coisa fofa!
E só então quando o beijei o puto sedutor do Jay chegou. Só vim perceber sua presença por causa do cheiro do seu perfume amadeirado e do que ele disse:
– Comigo era recatada. – e rapidamente parti o beijo, olhando-o furiosa.
Ele sorriu sarcástico e voltou a atenção para Tanya, expulsando-a da sua cadeira antipaticamente, ouvindo um ‘obrigado’ do Tom.
Só não comecei barraco, pancadaria e gotas de sangue no ar porque ele era trocentos metros mais alto que eu, docentas mil vezes mais forte que o Max e milhares de quilômetros mais sexy com raiva, causando um incrível ponto fraco em toda a briga.
Fingi ignorar a provocação enfiando meu rosto no ombro cheiroso do Max, apalpando seus braços magricelos, sentindo falta de algo.
Quando Nath e Vicky entraram na sala a coisa não parecia nada boa. Estranhei, pois imaginei eles numa cena muito ridícula, digna de filme romântico:
Os dois entrando juntos, abraçados, se beijando, sorrindo, felizes e desprezando a desgraça alheia das outras pessoas da sala, inclusive a minha e a do coitado do Tom.
Olhei para ele e logo se endireitou na cadeira, nem parecendo que estava com sono segundos atrás.
Vicky estava emburrada e Nath sério.
Se Nath está sério é porque a coisa está feia.
Logo atrás deles veio o professor, dando bom dia para classe.
Foda-se.
Escorreguei para o lado, saindo do colo de Max, que também olhava para os dois, desconfiado. Vicky jogou-se na cadeira, assim como o namorado. Virei meu rosto para ele:
– Oi! – disse baixinho – Bom dia?
– Nem um pouco. – ele falou de mal humor.
Fiz um rosto compreensivo mesmo sem entender e saber de nada. A aula começou e por alguns segundos fiquei quieta, vendo a movimentação das pessoas. Então uma folha de papel pousou sobre minhas mãos:
N. Podemos conversar?
Virei meus olhos para ele. Nath parecia triste.
L. Sim. Tá assim por quê?
N. Vicky.
L. Meio óbvio! Detalhes?
N. Ela é louca!
Segurei um risinho quando li e olhei pra minha amiga que prestava atenção na aula inocentemente.
L. O que ela fez dessa vez?
N. Pagou de bipolar!
L. Normal dela, Sid! Você sabia onde ia ser enfiar quando começasse a namorar a garota!
N.  não pensei que ia ser tão estressante! Perdi até o tesão ontem.
L. Me poupe desses detalhes! Vocês brigaram?
N. Ontem, hoje, quase d’agora...
L. Você tem que ter paciência se gosta dela!
N. Esse é o problema!
L. Ter paciência ou gostar dela?
Passei o papel para Nath e esperei sua resposta, observando toda sua expressão. Ele leu, encarou as palavras, piscou algumas vezes, pensou e respondeu:
N. Podemos mudar de assunto?
Respirei fundo:
L. Não podemos. Estou com sono!
Nath leu e ficou rindo por alguns segundos, me olhando. Max pigarreou:
N. Vamos dormir juntos até o intervalo? Esquecer desse povo que só deixa a gente triste.
Se eu tivesse de me esquecer das pessoas que me deixam triste eu nunca mais teria amigos na vida, nunca mais gostaria de um amigo...
L. Ok! Ótima ideia! 1, 2,3 e Zzzz...
Nath riu por último, dobrando o papel e escondendo na bolsa. Baixamos nossas cabeças na mesa e ficamos nos olhando, ainda sorrindo, começando com um desafio de quem ficava de olhos abertos mais tempo, Nath perdendo mais rápido do que eu. Em seguida realmente fiquei cansada e peguei no sono, sendo acordada apenas na hora do intervalo, por Max.
Repetimos o mesmo processo da árvore do dia anterior, dessa vez sem o azar de ver a puta do Jay junto com ele, mas acabamos entrando no colégio antes mesmo do sinal tocar.
Deu vontade de ir ao banheiro!
E os garotos acompanharam a mim e a Vicky, ficando do lado de fora, ou não.
Não sei dizer, corri para fazer xixi antes mesmo de ouvir o Max gritar tchau e cair na risada:
– Nathan é um porre mesmo! – Vicky gritou do box ao lado, enquanto observava os traços azuis da minha calcinha, com preguiça de me levantar do vaso.
– Deixa ele! – gritei de volta, achando um saco aquele intermédio entre Nath e Vicky.
– Claro que não deixo! – ela reclamou e ouvi a descarga – Ontem eu disse a ele que não tava legal, e você sabe muito bem o motivo, ainda assim ele insistiu para ir para casa dele, e fui. Chegando lá ele queria que eu ficasse sorrindo de bom grado sem querer estar lá! Isso é exigir demais de mim, Lu!
– Se você diz! – falei sem muito caso, me arrumando e dando descarga também.
Saí do box e Vicky arrumava o cabelo, olhando para o espelho:
– Você não concorda comigo? Nathan fica exigindo que eu seja a namoradinha perfeita... E blá, blá, blá, dá pra mim não!
– Então termina! – falei com raiva e depois que encarei os olhos da Vicky me arrependi de ter dito isso, nesse tom.
– Por que tanta questão de terminar ou deixar de terminar? Ele é o Nathan, que gosta da Vicky e quis se arriscar nessa... – Vicky voltou a olhar para o espelho – Ele sabia como eu era antes mesmo de namorar comigo. Então que me ature.
De novo isso? Eu num tinha falado tal coisa pro garoto mais cedo? Perseguição...
– Amiga, você deveria deixar de ser tão má com ele. – comentei, chegando perto do espelho e me apoiando no balcão com pias.
– Bem que eu queria... – ela disse sem jeito – Mas não consigo.
– Vocês que namoram então vocês que se entendam!
Me virei para o espelho preferindo calar a boca a pular na Vicky e enfiar na cabeça dela o quanto seu namorado era fodão. Mas simplesmente me encarei vendo o quanto o dia estava me deixando pálida.
–... Max George e Lucy Mason? Você não acha que isso soa ridículo demais para seus ouvidos?
Olhei rapidamente para Vicky, que retribuiu o olhar.
Fiquei calada, esperando ouvir mais.
Eu conhecia a voz:
–... Muito melhor do que Jay McGuiness Covarde junto ao nome dela.
Max? Que merda é essa?
– Meu Deus Lu, que é isso? – antes mesmo de Vicky acabar de falar, eu já estava saindo do banheiro.
Briga.
Maldita testosterona dos homens que os faz resolverem qualquer problema na base da gritaria e pancadaria!
Até agora nada de porradas.
Só dois imbecis gritando:
–... COVARDE? EU? VOCÊ É TÃO FROUXO QUE NEM DIREITO DE DIZER MEU NOME TEM!
Jay gritou a uma distância perigosa do Max.
Os dois vermelhos, apontando de um para o outro.
– JAMES MCGUINESS! JAMES MCGUINESS! JAMES MCGUINESS PANACA!
Max provocou, levantando os braços e soltando uma risada sarcástica depois.
Vi o punho de Jay fechar e logo em seguida ir em direção a Max:
– JAY!
Gritei muito antes de ver o outro garoto se desmanchar com a pancada que provavelmente levaria.
Jay parou no ar e olhou para mim:
– Era melhor ter ficado calada, amiga! – Vicky disse sussurrando e segurando meu braço.
– Parem com isso, por favor... – eu falei no tom de voz normal e suplicante.
Max respirava forte e também me encarava, Jay estava impassível.
– Desculpa Lucy, eu...
Max começou a dizer, mas Jay o interrompeu:
– Deixa de gayzisse, George!
Max o olhou furioso e eu mexi a cabeça em sinal negativo para ele:
– O que foi? Veio defender o fracote? – Jay falou irônico e Max já não me dava mais atenção – Precisa da namoradinha para se defender, George? Eu sabia que você era frouxo, mas não a ponto de não poder se defender sozinho! – então ele deu uma risada rouca que me fez arrepiar.
Algumas pessoas paravam, nos olhando.
Logo Vicky disse:
– Perderam a mãe aqui? Vazem! Vazem!
E os garotos de classes anteriores saíram correndo, assustados:
– Sabe Lucy, cheguei a pensar que você tinha bom gosto! – Jay começou a andar de um lado por outro, iniciando mais uma vez um monólogo de humilhação – Mas se rebaixar a Max George? – outra risada – Péssima escolha, pequena!
– McGuiness... – Max começou a falar, controlando-se. Vicky segurava com uma firmeza em meu braço que chegava a doer.
Certa ela, ou a qualquer momento pularia no garoto a vários passos de mim.
– Aposto que você não transou com ela. – Jay disse, encarando Max – Mas do jeito que ela é devagar e com excesso de santisse, bem difícil mesmo! E alguém como você com certeza não sabe mexer com ela. Aposto que nem amassos deu direito! Ficou namorando o tempo inteiro na frente da mamãezinha Mason? Deveria tentar dar uns pegas nela no carro! Você não sabe como ela é boa...
Fiquei paralisada.
Jay começou a mexer com a minha intimidade com ele e com o Max.
Encolhi-me de vergonha perto da Vicky, sentindo meu rosto vermelho:
– McGuiness... – Max repetiu de olhos fechados – Cala a boca.
– Calar por quê? Está incomodado por que descobri a verdade? – Jay aproximou-se de Max, que o encarou friamente – Você não serve para ela e nem nunca vai servir, porque você não mexe de nenhuma maneira com ela, simplesmente porque você é IMBECIL DEMAIS PARA QUALQUER COISA, MAX GEORGE!
– JÁ CHEGA!
Olhei a mão de Max estourar na boca de Jay.
Um aperto no meu coração veio e meus olhos arderam no momento.
Jay revidou rapidamente empurrando Max contra parede, retribuindo o soco no mesmo lugar que recebeu. Sua boca sangrava, assim como a do Max.
Os dois começaram uma briga frenética de empurrões, socos, chutes, Jay sempre mais a frente, derrubando Max no chão e lhe descendo golpes que pareciam ser dados em mim, mas nem por isso Max desistia:
– PARA! POR FAVOR! PARA!
Comecei a gritar de uma maneira louca, querendo me livrar do braço da Vicky que me segurava com uma força descomunal:
– VOCÊ NÃO VAI LÁ! VOCÊ VAI ACABAR APANHANDO TAMBÉM, LUCY!
Minha amiga me puxava para trás quase me derrubando.
Max se levantou cambaleando, em vão, tentando acertar Jay, que ainda estava pronto para brigar. Os dois tinham a boca machucada e mais nenhuma parte do corpo parecia visível dos socos que foram dados entre os dois.
Senti minhas pernas bambas ao ver Max daquele jeito, meu rosto estava molhado de lágrimas, sempre pensando que aquilo era culpa minha:
– Chega Jay, por favor... – falei sem força.
Então ele me olhou, desarmando sua pose e parecendo comovido comigo.
Max deixou-se cair no chão, como sinal de desistência e finalmente Vicky me soltou.
Corri rapidamente para Max dando um empurrão em Jay para que ele ficasse longe do garoto.
Cai no chão, segurando Max pelo braço que tinha sua mão apertando sua barriga, soltando gemidos:
– Eu vou cuidar de você... – apertei-o contra mim, mesmo sentindo seus braços tentando impedir para não machucá-lo mais – Desculpa, por favor, desculpa, desculpa...
Comecei a falar isso descontroladamente, como se cada palavra fosse curar a dor que Max sentia.
Eu não estava com ódio do Jay, porque minha culpa era muito maior.
Eu meti Max nisso:
– Que bosta é essa?
Ouvi a voz de Nath e finalmente eu calei a boca, encarando-o. Nath saiu do banheiro olhando a cena e vendo a mim e ao Max no chão seus olhos arregalaram, olhando para Jay que não o encarava, pois sua atenção estava em mim:
– SEU DESGRAÇADO, FILHO DA PUTA!
Nath gritou empurrando Jay contra a parede.
– Nathan! – ouvi a voz da Vicky.
Mantive-me no mesmo lugar:
– NATHAN! NÃO VÁ DAR UMA DE GEORGE AGORA! – Jay riu, tentando tirar a mão do Nath que prendia seu pescoço com força contra a parede.
Parecia uma cena impossível.
Nathan era mais fraco e menor do que Jay.
Ele devia estar muito, muito, muito, muito puto para conseguir algo assim.
– CALA BOCA! – Nath gritou de volta com raiva. Senti meu estômago virar – VOCÊ VAI ME OUVIR CALADO!
– NÃO SEJA IDIOTA! – Jay riu irônico, duvidando da força que o garoto usava contra ele, tentando se soltar mais uma vez, sem sucesso.
– QUIETO! – Nath prendeu o braço de Jay contra a parede, deixando-o sem possibilidades de empurrá-lo com duas mãos – VOCÊ VAI FICAR LONGE DELES, ESTÁ ME OUVINDO?
– OU VOCÊ VAI FAZER O QUÊ? – Jay disse alto, vermelho e me dando raiva – VAI BATER EM MIM? TRANCAR O GEORGE? VIRAR O ANJO DA GUARDA DA LUCY? – sorriso irônico mais uma vez – VOCÊ SÓ É UM AMIGO BESTA...
– UM AMIGO BESTA QUE VAI ACABAR COM SUA CARA SE VOCÊ NÃO FICAR LONGE DELA! ESTÁ ME OUVINDO? – Nath apertou a mão, vi os olhos de Jay virarem, seu tom tornou-se baixo e desafiador – Se eu ver você perto dela mais uma vez não vou responder por mim!
E então ele soltou Jay, que caiu no chão.
Max estava mole em meu braço, dizendo vez ou outra meu nome. Respirei fundo ao ouvir as últimas palavras de Nath, que me fizeram ficar aliviada.
Por que estava me sentindo assim por ele ter me protegido?
Minha pena e culpa por Max foi substituída por uma satisfação ao ver Nath daquele jeito contra Jay.
Parecia que nada mais poderia me atingir porque Nathan Sykes estaria lá para me defender.
Vi-o vindo até mim e agachando-se disse:
– Você está bem? – senti sua mão em meu rosto, minha respiração faltou, assim como as palavras, então só concordei com a cabeça – Leve Max até a enfermaria. Vou falar com a diretora.
Jay saiu de fininho, lançando-me um último olhar indecifrável.
– Nathan... – Vicky veio até nós e o abraçou – Boa hora para aparecer!
Nath sorriu sem jeito e um ciúmes ficou dentro de mim.
Max puxou a ponta dos meus cabelos e eu o olhei, seus olhos lacrimejando, sua boca vermelha e inchada:
– Vá, Lu...
Nath disse tocando meu ombro e eu me levantei, recebendo a ajuda dos outros dois para levantar Max. Deixei-o junto a Vicky e fui até meu amigo, abraçando sua cintura com força e enfiando meu rosto em seu peito.
Ouvi minha voz abafada:
– Obrigada por tudo.
Nath retribui o abraço, beijando minha testa, em seguida beijei sua bochecha demoradamente e quando o deixei me encarreguei de levar Max até a enfermaria.
Demoramos um pouco até finalmente chegarmos. A enfermeira rapidamente me ajudou a sentar Max numa maca. Ela nem se quer perguntou o que estava acontecendo, perguntou onde doía, lhe deu dois remédios e em seguida me entregou uma bolsa cheia de gelo em que coloquei na bochecha e boca de Max. Vez ou outra ele soltava alguns gemidos. Segurei sua mão enquanto cuidava do machucado.
Seus olhos me encaravam sem raiva, só com ternura.
Esse garoto é tão perfeito e eu não o amava?
Por que o coração é tão perverso com a gente?
Minutos depois ouvi um barulho na porta e Nath entrou por ela, um pouco agoniado e, pedindo permissão a enfermeira, chegou perto da gente, olhando preocupado para o amigo:
– Como você tá, cara?
Max mexeu a mão em sinal de mais ou menos, Nath fez uma careta comovida, desviando os olhos para mim:
– Preciso falar com você.
Concordei com a cabeça e entreguei a bolsa com gelo para Max, saindo da enfermaria e no corredor calmo, falei:
– Encontrou a diretora?
– Sim. – ele respondeu, se encostando na parede e cruzando os braços – Expliquei a ela o que aconteceu. Um dia de suspensão para Jay e Max.
– E a gente?
– De acordo com ela só estávamos tentando ajudar.
– Hum. – falei sem muito assunto.
– Lucy... – Nath se aproximou de mim.
– Não me venha com sermões, tá? – falei com a voz baixa, olhando o chão.
Ouvi Nath suspirar e seus sapatos tocaram em meu tênis, junto a mim. Ele envolveu minha cintura, chamando minha atenção para seu rosto:
– Jay não vai fazer nada contra mim.
Rapidamente apareceu uma expressão de alívio, Nath sorriu de leve e disse:
– Tudo bem. – e beijou minha testa mais uma vez no dia – Leve Max para casa. Quer dizer... Se ele conseguir dirigir.
– Se ele não conseguir vamos de táxi, não se preocupe.
– Ok. – Nath me soltou e olhou para trás de mim – Vicky já chega com o material de vocês e nesse momento a diretora deve estar falando com o Jay.
– Acha que vai acontecer algo mais pesado que a suspensão para eles dois?
– Deveria. – Nath disse olhando pelo vidro transparente da enfermaria, encarando Max que olhava para o chão, distraído – Mas por sorte os pais dos dois são ricos e influenciáveis, assim como os nossos...
– E o povo inteiro desse colégio. – disse num tom irônico – E viva ao dinheiro!
Nath riu e depois voltou a me olhar:
– Preciso voltar a sala. Vou ficar com a Vicky no resto das aulas.
– Aham. – concordei com a cabeça deduzindo que ele ia ficar para não deixar a sós a namorada com o Tom.
Abracei Nath por uma última vez naquele dia, sentindo seu cheirinho cítrico agradável. Carinhosamente ele desceu as mãos pelos meus cabelos enchendo em seguida minha bochecha de beijos, fazendo-me rir.
– Tchau.
Falei antes de voltar para enfermaria em que Max me olhava, ansioso. Voltei a ficar perto dele e lhe acalmei falando da suspensão por um dia.
Infelizmente tivemos de esperar a diretora ir nos ver. Ela deu umas broncas no Max, dizendo que se isso voltasse a acontecer dentro dos muros do colégio o castigo seria muito maior. Ele de bom garoto concordou com a cabeça e tentou pedir desculpas, mas não deu certo.
Vicky chegou segundos depois com nossas coisas e conversamos um pouco sobre o que aconteceu, desnecessariamente ouvi-a dizer que só por isso hoje Nath ia ser tratado como rei.
Max ainda conseguiu dirigir, mas o caminho inteiro ficamos calados. O coitado estava realmente impossibilitado de falar naquele estado. Desejei que o Jay tivesse tão mal como ele, só para me vingar interiormente.
Os pais dele não estavam em casa, ainda bem, pois não queria mesmo ver a cara da mãe dele quando descobrisse que o filho fez isso por mim. Subimos para seu quarto e me joguei em sua cama grande com cobertor de estrelas que eu tanto gostava.
Observei o cômodo, me encostando no grande travesseiro, vendo a mini lua que a Vicky lhe deu de presente. Max retirou o paletó, os sapatos, afrouxou a gravata e se jogou na cama ao meu lado, dando-me um selinho. Em seguida deitou com sua cabeça em minhas pernas.
Fiquei fazendo carinho em sua cabeça, observando seu rosto. Não demorou muito até ele pegar no sono e uma moleza tomou conta de meu corpo, mas antes de dormir pensei.
Pensei na conversa de Jay no natal e na briga de hoje e finalmente só vim descansar meus olhos e minha mente quando tomei uma decisão.
Uma decisão para o bem do Max, que logo saberia, só precisava melhorar um pouco do que havia acabado de passar.










        * * *



CAPÍTULO 26

O TOM NÃO VAI SER SEU ASSIM TÃO FÁCIL





Ponto de Vista: Vicky

O dia no colégio foi chato sem a Lucy e o Max. E como o Jay também não estava, não pude ver as pessoas cochichando sobre o acontecido.
Então acabou que tudo sendo tranquilo. Só eu e Nathan, mais certo garoto desprezível que se sentava perto de mim.
Papariquei Nathan na noite anterior só pelo que ele tinha feito. Ao menos uma vez na vida fez algo de útil.
Enfim, Lucy chegou a conversar com o Tom, pois ele ligou para perguntar sobre o que havia acontecido com os amigos e ela acabou explicando toda a história. A garota decidiu não ir para o colégio, porque não conseguiu dormir direito, e não adiantaria de nada ir sem prestar atenção em nada.
Bela desculpa...
Lucy nunca presta atenção em nada!
Para dar um pouco de folga a mim e a minha amiga, marcamos de ir para o shopping à tarde, sem Max George e Nathan Sykes, e se Deus permitir sem Tom Parker e Jay McGuiness.
Infelizmente o mundo é pequeno e como sempre frequentamos os mesmos locais, corremos riscos.
– Dá pra acreditar que já encontramos quatro putas do colégio? – Lucy disse sentando-se na cadeira da praça de alimentação, com seu sorvete de calda de amora – Vou virar pobre pra me enfiar em becos da vida.
– Se você se enfiar em becos da vida, vira prostituta. – falei rindo e me sentando, devorando meu sorvete com calda de morango.
– Isso foi tão Cobra Starship! – ela falou pensativa
Encaramo-nos com um sorrisinho e gritamos juntas:
– PROSTITUTION, IS REVOLUTION!
Sempre fazemos isso quando falamos de prostituição como uma brincadeira.
– Como o Max está? – perguntei-lhe, cruzando as pernas e olhando ao redor.
– Conseguindo falar. – ela deu um leve sorriso e piscou algumas vezes – Estou com uma coisa na cabeça, mas acho que só vou te contar depois de fazer.
– Contanto que não fique grávida de Max George, tudo bem. – falei com um sorriso irônico.
– O Max seria um bom pai. – ela falou me encarando – Mas não quero isso pra minha vida!
– Agora falou direito! – e batemos as mãos.
Certo.
Somos realmente escandalosas em shopping e longe de garotos.
Somos amigas! Quem nunca faz essas coisas?
– Eu num sei como você conseguiu não transar com o Jay! – comecei a comentar – Ele é sexy!
– Também não me entendo. Eu gostava do Jay na época, mas ficava de paranoia com o Max e agora não gosto de nenhum dos dois.
Dei uma risada da confusão da garota e tomei um pouco de sorvete, respondendo:
– Você deveria transar com o Jay.
– E você deveria calar a boca! – ela disse, chutando minha perna por debaixo da mesa. – O que fez com o Nathan ontem? Parece tão tranquila.
– O tratei bem. – falei com um sorriso.
– E agora está de alma lavada? – Lucy disse meio séria.
Sempre fica assim quando falamos do Nathan.
– De certa maneira. Mas hoje já voltei ao normal, dizendo que viria para o shopping com você e que ele não viria junto porque estava enjoada da presença dele.
– Nossa, Vi! Você pega pesado!
– Tô nem aí...
– Aquela loira ali me lembrou a Tanya vadia... – ela apontou para uma garota a algumas mesas da gente, de costas, com os cabelos loiros tingidos até a cintura, de saia jeans, salto e casaco cor de rosa – Tão desprezível quanto!
– Nem brinca com isso! – falei, me sentando do lado da minha amiga para observar a vadia idêntica – Muito azar a gente fugir de problemas e ter o meu maior bem aqui na nossa frente!
– Na verdade... – Lucy me olhou séria – O seu maior problema está sentando na mesma mesa que a garota. – então ela apontou para lá – E aquilo é realmente a Tanya, e aquele garoto entediado perto dela é Tom Parker, seu irmão.
Eu num disse que a gente corria riscos?
Fiquei olhando aquela cena enjoada de Tanya Linus e Tom Parker juntos, conversando, ou tentando, já que ela falava o tempo inteiro, com expressões exageradas, jogando os braços no teto do shopping.
Enquanto os encarava percebi os olhos de Tom viajaram pela praça de alimentação e finalmente se encontrarem com os meus. Não desviamos, ficamos nos observando friamente, até que ele a olhou e começou a dar sinal de vida de que a conversa estava se tornando interessante.
Virei meu rosto para Lucy, que roubava do meu sorvete sem a menor vergonha, e com um sorrisinho esperto ela voltou a comer do seu. Deixei a ladra de sorvetes de lado e voltei a observar os dois e bem, era melhor eu não ter feito isso.
Tom e Tanya se beijavam. Ele descia suas mãos por toda suas costas e cabelos, ela tinha as mãos em seu rosto e mais uma vez senti a sensação do dia festa do Jay, de ver aqueles dois seres imbecis ferrando meus sentimentos.
Lucy os olhava tão paralisada quanto eu.
Senti meus olhos começarem a lacrimejar, mas desisti de derrubar qualquer lágrima, pois Tom Parker não merecia isso e o que eu estava sentindo agora deveria ser aniquilado.
– Vou ao banheiro.
Falei levantando-me, enquanto minha amiga concordava com a cabeça. Deixei-a e comecei a andar em direção ao casalzinho irritante.
Antes de mudar de lado e ir para o banheiro fiz o favor de bater meu copo de sorvete derretido no ombro da Tanya, derrubando-o por seu cabelo e roupa.
Sorri satisfeita:
– Ops! Foi sem querer, querida!
E lançando um olhar mortífero para Tom fui ao meu destino, sorrindo do que tinha feito e dando um tchauzinho convencido para Lucy que segurava o riso lá da nossa mesa.
Olhei-me no espelho e meus olhos infelizmente estavam avermelhados. Nada que alguns tempos no banheiro melhorassem para eu voltar de cara lavada para a praça.
O lugar estava vazio, sem ninguém para me observar.
Ótimo!
– SUA INVEJOSA!
Ouvi a voz de Tanya entrando pelo banheiro.
Virei-me rapidamente para ela, preparada para qualquer ataque ridículo.
A garota começou a tirar o casaco, ficando apenas de sutiã e lavando-o na pia disse:
– VOCÊ É UMA VACA INVEJOSA!
Olhando-a daquele jeito uma coisa incontrolável surgiu em mim, fazendo-me dar uma gargalhada alta:
– Desculpa querida, mas não tenho inveja de putas que gostam de ser desprezadas!
– Desprezada, eu? – ela virou-se para mim, rindo – Mais uma vez você enfiou porcaria na cabeça não é mesmo, Foster?
– Porcaria na cabeça? Quem enfia porcarias em qualquer lugar aqui não sou eu, Linus! Tem conseguido se sentar direito ultimamente?
– Você cala sua boca... – Tanya largou o casaco e veio em minha direção. Instintivamente me encostei no balcão apreensiva – Que a vadia aqui é você!
– Aposto que não! – sorri – Você só não é mais vadia porque Tom não gosta de garotas rodadas!
– Então tenho certeza que ele não vai querer nada com você! – ela disse colocando os dois braços ao meu lado, encarando-me. – Nathan Sykes já deve ter tirado proveito de algo.
– HOHO! E se tiver? – encarei do mesmo jeito, inclinado meu corpo para ela, mostrando que não estava com o mínimo medo – Eu sou namorada dele. E você? O que é mesmo do Tom? AH! Claro! O brinquedinho pra fazer ciúmes! Qual a sensação de ser gostada quando tem alguém melhor que você por perto? – então apontei para mim – Eu ainda acho que o Tom te beija pensando que sou eu.
Soltei um sorriso irônico e quase vi a mão da Tanya acertar meu rosto, mas felizmente consegui segurar.
Ela me olhou desafiadora e com ódio no rosto:
– Só te digo uma coisa Victoria Foster, - seu corpo estava colado no meu, prensando-me contra o balcão, minhas nádegas doíam – Fique longe do Tom... Ou se não...
– Ou se não o quê? – perguntei entre os dentes.
– Ou se não acabo com a sua vida!
Então ela desgrudou de mim, pegando raivosamente o casaco e colocando em seu corpo. A última coisa que ouvi foi a porta batendo forte.
Respirei fundo olhando para o espelho mais uma vez. Meus olhos estavam melhores, mas as minhas bochechas não.
– Nossa! Você tava demorando... – Lucy entrou no banheiro com as nossas sacolas e me encarou – Aconteceu alguma coisa?
– Tanya. – falei com ódio – A vadia veio me pedir para ficar longe do Tom.
– Imbecil! – ela disse chegando perto de mim e também se olhando no espelho, batendo nos lábios cobertos de batom vermelho, falou irônica – Mesmo que você se afaste, o Tom não vai te deixar em paz. – então ela se virou pra mim – Nem tão cedo.
– E que assim seja. – falei satisfeita e com um sorriso no rosto – Adoro deixar a Tanya chateada.
Depois disso o shopping ficou muito mais interessante.
Nossas compras foram completamente satisfatórias, pois traçamos planos sanguinários em como ferrar Tanya Linus, mas claro, infelizmente nenhum deles poderá ser realizado.
Mas um sério ar de provocação estava dentro de mim louco para sair.
Aguarde-me Tanya Linus.
O Tom não vai ser seu assim tão fácil.








        * * *



CAPÍTULO 27

NATHAN É UM ÓTIMO MOTIVO




Ponto de Vista: Lucy

Três dias se passaram até finalmente tomar coragem para falar com Max. Era um sábado e eu estava em frente a sua casa, faltando apenas atravessar a rua. Olhava para sua janela e o via passar vez ou outra, fofo como sempre.
Precisei desses dias para ter certeza do que deveria fazer. Max, depois do que aconteceu, continuou carinhoso comigo, mas não chegamos a tocar no assunto. E cada vez que eu via o olhar de Jay em mim sentia meu corpo queimar por dentro, por vários motivos: dúvida, culpa, saudade...
Não era justo continuar nessa história.
Eu não me chamava Vicky e ele não se chamava Tom.
Tenho certeza de quem gosto agora e mesmo que Max não saiba quem é, vou levar em consideração o que ele me disse, em ser sempre sincera com ele.
Atravessei a rua decidida e toquei a campainha sendo recebida simpaticamente por sua mãe. Ela o chamou e ele veio feliz, descendo as escadas ao meu encontro. Abracei-o sem jeito e Max percebeu, olhando-me desconfiado:
– Podemos ir para seu quarto?
Falei baixo, enquanto sua mãe via televisão distraidamente. Max concordou com a cabeça e me levou até onde eu queria. Fui eu que fechei a porta e foi ele quem começou a falar:
– Tem algo importante para me dizer, não é?
Concordei com a cabeça e respirando fundo o observei. Ele estava triste e parecia saber o que vinha pela frente:
– Não posso mais.
Max me encarou com a mesma expressão.
Encostei-me na porta me achando uma idiota por ter dado chance a ele:
– Estamos terminando o que não começou?
Ele perguntou, fingindo uma confusão em sua voz.
– Exato. – concordei com a cabeça, olhando-o séria – Para seu próprio bem.
– Não termine comigo usando o McGuiness como uma desculpa.
Sua voz foi completamente repreensiva e eu quis lhe contar mais um motivo, mas fiquei quieta:
– Deixar Jay longe de você é um ótimo motivo, Max.
– Não mesmo. – ele começou a vir em minha direção de braços cruzados – Nathan é um ótimo motivo.
O que?
Olhei confusa e pisquei algumas vezes para dar tempo de meu cérebro processar o que Max havia me dito.
Ele sabia do Nath? Como?
– Max, do que você...
– Eu sei Lucy. – seus dedos indicadores descerem sobre cada lado do meu braço, fazendo-me arrepiar – Você gosta dele não gosta?
Desviei meus olhos dos seus procurando qualquer coisa para me distrair e me dar coragem para negar. Max apertou minhas mãos, soltando-as em seguida, virando meu rosto para ele.
Ninguém havia me perguntado isso, talvez ninguém saiba. Eu mesma nunca cheguei a pensar sobre o assunto como uma pergunta que deveria ser respondida. Simplesmente chegou uma hora que tinha certeza do que sentia pelo Nath.
Não era apenas uma amizade:
– Sim. Eu gosto dele. – falei nervosa e vi um leve sorriso no rosto de Max.
– Se você tivesse de terminar comigo por causa do McGuiness, eu seria o garoto mais incompreensível que apareceria em sua vida, muito mais até do que o próprio senhor ‘gostosão’... – soltei um sorrisinho achando graça na maneira como ele falou – Mas eu não tenho chance contra o Nathan. Vocês se conhecem há muito mais tempo e... – ele fechou os olhos parecendo incomodado – Você é tão dele!
– Mas não é comigo que ele está agora. – falei baixo e Max me encarou.
– Tenha paciência.
Uma pontadinha de felicidade surgiu dentro de mim ao ouvir as palavras do Max. Eu imaginei tantas lágrimas e drama, que havia me esquecido que ele era um garoto maduro para a idade e que sempre conversou comigo da maneira mais gentil que seu controle permitiu.
– Desculpa por ter aceitado fazer tudo isso... – apontei para seus lábios com alguns vestígios da briga – Por ter te metido nessa.
– Não estou arrependido, então não me peça desculpas. – ele sorriu docemente – E ainda gosto de você. – Max fez de um jeito como se assumisse um segredo – Por causa disso eu tenho que respeitar todos os seus sentimentos.
Olhei-o encantada querendo aperta-lhe por completo.
– Me odeio por não ser você. – falei sem jeito batendo o pé no chão.
Max riu divertidamente.
– Não se preocupe comigo. Posso dizer que estou acostumado.
– Nossa! Agora eu realmente estou me sentindo relaxada em pensar que sou uma péssima garota para um menino gostar!
Max riu mais uma vez, puxando-me para ele:
– Não pense assim, porque é realmente divertido gostar de você. Um pouco dolorido, assumo – ri da careta dele – Mas me fez um bem esse tempo que estive com você.
– Ok! – concordei com a cabeça, beijando seu rosto – Posso te pedir uma coisa?
– Toda e qualquer coisa... – ele falou olhando em meus olhos.
– Não se afasta de mim não. Foi tão ruim daquela vez, fiquei parecendo uma barata tonta, pensando coisas e sem certeza de nada! – ele riu, balançando minha cabeça – E não quero ficar só.
– Mas você não está só! – ele falou meio inconformado – Tem a Vicky, o Nathan, a mim!
– A Vicky é minha amiga, mas namora o cara que eu gosto. O Nathan é meu melhor amigo, que sou apaixonada, mas é comprometido... Então só me resta você.
Max analisou o que eu disse e concordou com a cabeça:
– Tem razão. As coisas estão complicadas para você. Não vou me afastar, te deixar só... Ou qualquer coisa do tipo. Não se depender de mim!
– E se depender dos outros? – perguntei confusa.
O que ele quis dizer com isso?
– Se depender dos outros, você saberá na hora certa. – então ele ficou pensativo – Mas espero que essa hora certa não chegue.
Continuei a encará-lo desconfiada.
Max me abraçou para fugir dos meus olhos. Apertei-o contra mim o máximo que pude e quando nos afastamos percebi que ele estava com a camisa que lhe dei no natal, fazendo-me rir.
Passamos o resto da noite conversando e rindo dos momentos em que tivemos juntos. Vez ou outra ele parecia triste, mas quando notava que eu o observava voltava a sorrir simpaticamente.
Acabei dormindo com ele, e voltando para casa apenas no outro dia de manhã.
Entrando no meu quarto vi o Nath abraçado com a Vicky. Nada bom aquilo, mas fiquei quieta, jogando minhas coisas na poltrona e catando uma roupa qualquer para ir ao parque.
Estava a fim de alimentar patinhos! Os bichinhos sofrem nesse frio!
Tomei banho no quarto da minha mãe que ainda dormia e antes de sair de casa deixei-lhe um bilhete avisando para onde ia.
O parque não era longe de onde eu morava, então fui andando no frio e vendo algumas pessoas acordadas em suas casas de chaminé fumegante e sorridentes com o seu domingo em família.
Isso fez esquecer meus amigos em minha cama e joguei meus pensamentos nos patinhos que teria de alimentar.
Chegando ao parque quase ninguém estava lá. Algumas almas corajosas andavam de bicicleta, outros patinavam na pista de gelo que sempre constroem nessas épocas e eu saí procurando um vendedor de comida para animais e finalmente achei um que estava vendendo sacos de pão.
Gostava de ir para uma área não muito movimentada, onde tinha um banco e ficava perto de uma pequena fonte perdida, perto daquele grande lago, agora congelado.
Uma pessoa conhecida estava sentada nessa fonte, jogando pão para alguns patinhos que andavam desajeitadamente por perto:
– O que você faz aqui? – falei sem educação e aqueles olhos azuis destacados no rosto branco se voltaram para mim, com um sorriso no rosto.
– Finalmente você veio.
Jay McGuiness falou isso.
Estremeci ao vê-lo ali.
Não bastavam imagens ruins por hoje não?
Tudo bem que ele não era feio, nem um pouco mesmo! Mas não era legal ele estar ali naquele momento que seria de paz para mim.
– Não era para você estar aqui! – falei birrenta, apertando o saco de pão contra o corpo.
– Se você quiser eu vou embora. – ele falou esperto. Olhei o patinho perto dele, bicando o pão que o garoto tinha jogado a pouco tempo.
Respirei fundo e disse de má vontade:
– Fica aí. O parque é grande demais para nós dois. – então me sentei ao seu lado – E você está no meu lugar!
– Desculpa! – disse rindo e se afastando, permitindo me sentar onde ele estava antes – Desde o natal venho aqui esperando que você apareça.
– Ah! Fala sério? – falei irônica, com certa dificuldade em abrir o saco.
– Você tem que parar de pensar que sou um brutamontes chato! – Jay disse revoltado, tirando o saco de mim e abrindo, depois me devolvendo.
– Depois daquela briga essa hipótese só se confirmou. – falei jogando o primeiro pedaço de pão.
Ficamos olhando a movimentação dos patos, até que ele disse:
– Max George me cria ódio. – ele falou sem jeito – Você sabe disso.
– Dane-se. – falei indiferente, jogando outro pedaço.
Jay ficou calado, percebendo que não estava a fim de papo.
Mas mesmo assim insistiu... Como sempre:
– Venho para cá e fico lembrando as vezes em que você me trouxe aqui, quando ainda namorávamos. Era um bom tempo. – olhei-o e ele me encarou, com um olhar pensativo.
– Bom tempo que você fez questão de destruir. – falei séria, dando um sorrisinho depois – Culpa sua!
– Tinha me esquecido o quanto você pode ser irritante de manhã cedo. – ele falou me repreendendo, arrancando-me mais uma risadinha – Estou tentando ter paz aqui, Lucy Mason!
– E estou tentando alimentar patos!
Falei revoltada, batendo as mãos nas pernas. Jay olhou aquilo seriamente e de repente começou a rir de mim. Meio sem resistir comecei a rir dele também. Estava meio chateada com o que ele tinha feito. Meio não! MUITO! Ele estava tentando ser simpático comigo, mas eu ainda estava chateada com ele.
Jay parou de rir e tirou o pedaço de pão que estava na minha mão, transformando-o em vários pedaços pequenos, jogando-os, em seguida, no chão:
– Volta pra mim?
Ele falou do nada, ainda olhando os bichos.
Encarei-o e ele parecia incrivelmente bonito naquele momento.
Mas ele ainda era Jay McGuiness, o garoto que me traiu, o garoto que bateu em Max, o garoto que não desistia de me fazer sofrer:
– Sabe que não vou voltar.
Então ele me olhou, mais uma vez indecifrável. Odeio o fato de ter mistério em seus olhos.
– Você sabe que não gosta do Max George.
Sua voz foi extremamente séria, fazendo-me cerrar os olhos de leve. Me distraí um segundo sentindo a ponta do meu nariz dormente:
– Não é do Max que eu gosto. – então toquei em sua perna – Mas também não é de você.
Levantei-me e Jay ficou me observando, confuso. Joguei o saco de pão em suas pernas sobre o seu quase vazio e disse:
– Dá o resto para os patinhos. Eles merecem. – sorri de leve e depois me inclinei para beijar sua bochecha com meus lábios gelados. Jay suspirou em meu ouvido. – E só para sua informação... – olhei seus olhos azuis – Terminei com o Max.
Então dei as costas a ele, começando a andar, sorrindo satisfeita por dentro.
Jay agora ia jurar que as coisas poderiam melhorar para ele.
Bobinho!









        * * *



CAPÍTULO 28

MAS ELA AINDA NÃO ESTÁ PRONTA PARA MIM




Ponto de Vista: Nathan

Fazia um mês desde que soube que Lucy e Max terminaram, e essa notícia me deixou realmente feliz.
Algumas coisas mudaram.
Como Jay, que passou a ser um garoto mais simpático, provavelmente pelo mesmo motivo que fiquei feliz.
Vicky e eu continuamos a namorar, mas cada vez mais sinto esse namoro desabando. Sou bajulado quando o Tom está perto e desprezado quando o Tom está longe! Ele e Tanya estão tendo um caso, ou qualquer coisa do tipo, andam sempre juntos e se beijando. Ultimamente tal coisa vem interferindo no humor da Vicky, sobrando para mim, claro.
Esse namoro continua porque deu tanto trabalho de ficar com a Vicky que será uma droga terminar tudo tão facilmente!
Eu sei que ela não gosta de mim, mas foi a primeira garota que tive algo sério e também sei que ela se esforça para que tudo dê certo entre a gente, ao menos do jeito dela.
Mas não andava me preocupando com isso.
Algo estava afetando mais minha cabeça, me deixando mais esquecido, demente, imaginativo e viajado que antes.
Lucy estava longe de mim.
De uns tempos para cá ela e Max vivem juntos, e nesse último mês não teve um dia se quer em que ficamos a sós, apenas eu, ela e nossas conversas únicas. E isso estava me perturbando, pois cada vez mais sinto saudades da minha garota.
Comentei superficialmente com a Vicky sobre a Lucy ter se afastado. Ela me disse que deve ser por causa das provas da universidade, que logo viriam, e Lu devia estar correndo atrás do que não estudou com Max, que tinha bastante paciência de ensiná-la.
Acreditei nisso até o dia em que finalmente ia ter a chance de conversar com ela a sós, num passeio de patins, no parque perto de sua casa. Max e Vicky ainda não haviam chegado, mas Lu arranjou uma desculpa de que teria que ir ao banheiro e só saiu de lá quando Max chegou, andando com ele o tempo inteiro e quase não dirigindo a palavra a mim.
Fiquei me perguntando se fiz algo de errado.
Cheguei a imaginar que ela estava assim por causa do meu namoro com Vicky, mas rapidamente ignorei isso, pois eu passava mais tempo livre do que namorando.
Um tempo livre que poderia ser gasto com ela, mas Lucy preferiu jogar fora, ficando ao lado do gay do Max!
Estava de noite e no dia seguinte viria a prova para a Universidade de Oxford.
Eu não tinha estudado o resto do ano e não ia estudar agora.
Algumas coisas estavam na minha cabeça, mas era como se eu não conseguisse me preocupar com isso.
Ia fazer graduação de música, assim como Lucy ia fazer em história, Vicky em psicologia, Max em literatura, Tom em bioquímica e Jay em economia.
– Lu?
– Ah... Oi, Nath! – ouvi a voz da Lucy nem um pouco animada ao perceber que era eu que ligava para o telefone da sua casa.
– Te incomodo em alguma coisa? – perguntei receoso pela recepção que tive.
– Não exatamente. – ela deu um sorrisinho – Estava remoendo na minha cabeça o quanto vou me ferrar na prova de amanhã.
Sorri junto com ela e sentado na cama de meu quarto olhei para nossa foto abraçados. O porta-retrato ficava ao lado de Bruce, em cima da estante que estava à minha frente.
– Tá a fim de remoer comigo o quanto vamos nos ferrar?
Lucy ficou calada alguns segundos, me deixando ansioso por sua resposta. Eu roía minhas unhas sem dar muita bola para o quanto isso estava começando a doer:
– O correto não seria você chamar a Vicky?
– Esquece a Vicky! Quero você aqui comigo! – falei incomodado por ela pensar na amiga – Tá difícil de perceber que estou com saudades, sua besta?
Lucy deu uma risada divertida, me fazendo rir junto e carinhosamente ela disse:
– Ok! Eu vou aí e vou levar a Dolly junto! – a ovelha que faz barulho que ela ganhou do Max de natal – Vou dormir com você. Satisfeito?
– Mais que satisfeito! – sorri feliz – Ah, traz o Mister Bean também!
– Aproveito e levo minha casa na mochila! O que você acha?
– Seria uma boa! – então a ouvi dar uma gargalhada – Sua cama é mais confortável que a minha!
– Bom saber disso, pois vai ser a única coisa que não vou enfiar na mochila!
– Deixa de ser implicante! – xinguei e logo começamos a rir de novo.
Como eu sentia saudade da sua risada.
– Agora deixa de me fazer rir, preciso me arrumar! – ela falou dando bronca.
– Ok, ok. Só estava me socializando! – ouvi a dizer um ‘Aham, sei’ – Lucy, vem de batom vermelho?
– Nath, são 22:00h! No máximo eu vou vestida!
– Então vem pelada e de batom vermelho, ok?
– Cala boca! – ela xingou rindo – E para você ficar quieto vou de batom vermelho. Agora tchau!
E desligou na minha cara.
Desci as escadas cantarolando Beatles e sendo perguntado pela minha mãe o porquê da alegria, rapidamente respondi que a Lucy dormiria comigo hoje. Mamãe gostou da notícia, já fazia um tempo que Lu não passava para vê-la.
Catei uns chocolates na cozinha, depois preparei uma pipoca de microondas, peguei duas garrafas de suco, copos e pensei no que mais poderia agradá-la. Preparei um leite quente e coloquei canela, do jeito que ela gostava.
Eu me sentia um nerd adolescente ansioso com o primeiro encontro. Coisa que era bem ridícula já que Lucy conhecia minha casa mais do que eu mesmo.
– Senhora Sykes! – ouvi-a dizer lá da sala quarenta minutos depois – Boa noite!
– Lucy! – entrei e vi minha mãe abraçando-a – Boa noite! Nathan ficou muito feliz quando soube que você viria para cá.
Então Lu virou-se para mim, sorrindo sem jeito, seus lábios vermelhos.
– Ando preocupada com as provas para Oxford. – ela tentou explicar-se para minha mãe, que a olhava atenciosamente – Assim que terminar as provas eu juro que venho passar mais tempo aqui.
– Assim espero. – falei sorrindo e indo mais para perto das duas. Minha mãe sorriu aprovando o que eu disse, dando espaço para ficar em frente a Lucy.
– Vou ao escritório do seu pai, ver se ele já pode ir dormir. – mamãe falou tocando meu ombro. – Fiquem à vontade.
Então ela saiu, deixando-nos sozinhos.
– Mesmo tendo te visto hoje de manhã, parece que não te vejo há séculos. – falei, observando toda parte dela que foi possível enxergar naquele momento.
– Ah... Nem ando tão sumida assim. Estou do seu lado todos os dias! – ela falou normalmente, tirando a bolsa das costas.
– Mas ultimamente você tem brincado muito de Barbie!
– Como? – Lucy perguntou fazendo careta, sem entender.
Comecei a rir e quando me recuperei disse:
– Max George!
– God, Nath! Não seja tão mau! – ela falou segurando a risada – Max é um ótimo garoto, amigo nosso. - e fez questão de dar ênfase ao ‘nosso’.
– Mas ele tem tirado muito minha amiga de mim. – minha voz foi manhosamente manipuladora.
– Muitas coisas me fizeram dar um tempo de você. – Lucy falou baixo e olhando para o chão. Eu não sabia do que ela falava – Então! – ela abriu um sorriso maravilhoso e animado – Vamos ver Mister Bean?
– Claro! – falei, mas ainda curioso com o que ela disse antes – Vai subindo, vou pegar umas coisas na cozinha.
– Tudo bem! – ela deu um pulinho e subiu a escada.
Fiquei vendo-a até chegar ao último degrau do andar de cima, para finalmente ir a cozinha pegar o que preparei para ela.
Peguei a bandeja e logo subi para meu quarto. Lucy colocava o DVD e já tinha tirado seu tênis e seu casaco, ficando apenas com uma camisa regata preta, uma calça jeans e sua meia de zebra.
Ela virou-se para mim, de cabelo solto, sorrindo ao ver a bandeja.
– Ai! Que saudade dos nossos lanchinhos!
Lucy tirou a bandeja de mim, correndo para a cama e sentando-se nela. Fui logo atrás, sentando-me também.
Logo ela pegou um chocolate:
– Nada melhor que afogar as mágoas da burrice com um chocolate.
– E com Nathan Sykes!
Completei bem ridículo, fazendo Lucy rir tampando a boca.
Afastei a bandeja entre nós, ficando perto dela e pegando o chocolate de sua mão para comer.
Ela me olhou distraída.
Passei meus braços ao redor de sua cintura, me encostando nos grandes travesseiros e a trazendo comigo.
Coloquei o primeiro episódio e Lu relaxou sobre meu corpo, enquanto lhe entregava o último pedaço do chocolate que roubei dela. Ela comeu, encarando-me rapidamente e desviando os olhos em seguida, senti seus lábios tocarem em meu dedo e a música clássica da abertura nos assustou por alguns segundos, nos fazendo rir.
Lucy encostou a cabeça em meu peito, e pude sentir suas bochechas mastigarem engraçadamente. Então começamos a prestar atenção no que passava na televisão, mas só vim conseguir me concentrar quando busquei sua mão para ficar junto a minha, finalmente nos tranquilizando naquela posição.
Vimos um DVD completo, com quatro episódios e quase comemos toda a comida que estava na bandeja. Lucy deixou o suco de lado assim que viu o seu leite com canela, me agradecendo algumas vezes.
Só paramos de ver e rir juntos quando ela começou a sentir sono e a ficar zarolha, me fazendo rir mais do que Mister Bean.
Decidimos nos trocar e vi-a colocar seu pijama azul escuro com três ursos na frente, ainda de meia de zebra. Eu coloquei minha calça de moletom preta e uma camisa normal cinza.
Enquanto escovávamos os dentes, Lucy se engasgou duas vezes quando tentei fazer uma coreografia equivocada de danças espanholas.
Nos deitamos, mas antes disso percebi ela com Bruce nos braços, olhando a foto que eu observei mais cedo, de uma maneira triste, quase dolorida.
Disse qualquer coisa para chamar a sua atenção, demonstrando que estava ali e Lu foi pega de surpresa, como se saísse de um transe.
Na cama nos encarávamos, com algum sorriso bobo no rosto.
– E eu jurando que ia dormir sozinha hoje. – Lucy comentou sussurrando.
– Pensei a mesma coisa. – falei concordando com a cabeça.
Seus lábios estavam levemente avermelhados com o vestígio do batom...
– Por que você ficou longe de mim, Lu? Fiz algo que te magoou?
Perguntei. Meu objetivo era continuar com a história de mais cedo. De querer saber por que ela ficou longe de mim.
Lucy me olhou piscando algumas vezes.
Vi-a dar um longo suspiro e desviando seus olhos do meu, observando distraidamente seu dedo indicador em cima do travesseiro. Ela o bateu algumas vezes e finalmente disse:
– Eu gosto de você, Nathan. – então me encarou de uma maneira profunda, mostrando-me o quanto aquilo era importante – E não é como amigo, nem como irmão. – Lucy mordeu o lábio inferior de um jeito atraente, mas no caso dela parecia de sofrimento – Eu gosto de você como homem.
Fiquei olhando-a com o som da sua voz em minha cabeça, repetindo a última frase.
Soltei um sorriso meio bobo, seguido por um leve sorriso de Lucy que parecia se sentir boba também.
Senti meu coração acelerado e minha garganta seca. A luz da lua entrava pela janela de cortinas abertas, deixando-a linda, frágil, abraçada ao Bruce. Seu corpo a alguns centímetros do meu despertavam um desejo de querer abraçar, beijar e sentir seu cheiro.
Coloquei minha mão em sua cintura e com certa força puxei-a para mim, reduzindo a distância entre nossos corpos. Seus joelhos tocaram nos meu e nossas pernas se encaixaram, as minhas sobre e entre as suas, os pés recebendo carinhos, os seus com meias, os meus descalços.
A boca entreaberta de Lucy lançava em mim seu hálito com cheiro de creme dental e eu quis prová-los.
Meu corpo não respondia a minha razão, pois desejava a garota que era amiga da minha namorada, a garota que havia dito que gostava de mim e lembrando o que passei com Vicky, Lucy me pareceu mais maravilhosa sentindo o que eu sentia.
Antes mesmo de perceber, meus dedos estavam em seu rosto, desenhando suas linhas. Estávamos tão próximos que via seus olhos movimentando-se de um lado para outro, seguindo os meus em sintonia. Ela nervosa, ansiosa.
Eu tranquilo e com a certeza do que queria.
Meu nariz brincava com o seu, como se fossem íntimos. Lucy fechou os olhos, assim como eu e ouvi um único suspiro vindo de sua boca antes de tomá-la para mim. Seus lábios frios foram aquecidos pelos meus quentes que demonstravam o quanto ela era única. Nossas línguas viajavam juntas, desejando esse momento há um bom tempo.
Nos beijamos nesse ritmo até ficarmos sem fôlego. Lucy desceu calmamente sua cabeça sobre meu braço até encostar em meu rosto. Beijei sua testa como já havia feito várias vezes, sempre que meu alvo era outro pintado de vermelho.
Estávamos abraçados, suas mãos em meu peito, fechadas sobre a camisa, Bruce entre nós. Sentindo em minha pele seus cílios fecharem, preparados para descansar, uma necessidade de falar surgiu em mim, e eu não a ignorei:
– Também gosto de você. Da mesma maneira que você gosta de mim.
E o último som que ouvi em meu quarto antes de cair no sono foi o sorriso doce de Lucy.

* * *

Ela se acordou primeiro que eu, para ser sincero, acho que não dormiu direito.
A prova seria feita no nosso próprio colégio e quando me acordei Lucy já estava pronta, sentada em minha poltrona, de óculos xadrez, lendo um livro de história.
Após fazer xixi e escovar os dentes, finalmente lhe dei bom dia, ela me respondeu com um meio sorriso e ao me aproximar para beijá-la, Lu virou o rosto, oferecendo a bochecha, em seguida voltando a ler o livro.
Olhei-a confuso, mas pela maneira como a vi apertando a sua ovelha Dolly deduzi que eu não tinha feito nada de errado, que Lu tinha preocupações maiores que seus relacionamentos.
Tomamos café juntos e minha mãe nos desejou tanto boa sorte que até cheguei a ficar nervoso. Meu pai não falou nada, achava que eu não ia passar na prova.
Pra ser sincero nem eu estou confiando em mim, não estudei quase nada.
– Estou muito nervosa. – Lucy falou quando abri a porta do carro para ela entrar.
– Vai dá tudo certo. – toquei em seus cabelos, colocando uma mecha atrás da orelha, ela sorriu de leve para mim – Fica tranquila.
– Tudo bem! – ela respirou fundo e começou a rir – Se Oxford não me aceitar eu viro prostituta!
– Então eu vou acabar virando seu cafetão!
Rimos juntos e abraçando-a senti seu corpo bem menos tenso que mais cedo. Lu beijou o canto de minha boca, me fazendo querer mexer o rosto para seus lábios tocarem o lugar certo, mas muito antes de parar para pensar nisso ela já estava dentro do carro.
Entrei meio deprimido com o pouco que recebi por hoje e fomos ouvindo New Found Glory até chegar ao colégio, já movimentado com os alunos das várias salas do último ano.
Quando chegamos vimos Max e Vicky sentados no banco de sempre, conversando.
Max apontou para mim e rapidamente Vicky virou-se sorrindo, ela levantou e correu ao nosso encontro.
Logo senti o impacto do seu corpo no meu, seus braços em volta do meu pescoço e sua língua entrando pela minha boca.
Demorei alguns segundos para entender que ela estava me beijando e só vim retribuir quando cheguei a conclusão de que não era Lucy, mas era Vicky, minha namorada.
– Estava precisando fazer isso! – ela disse sorrindo, com o rosto perto do meu. Sorri sem muita vontade. – Cadê a Lucy?
Vicky olhou para o meu lado e sua amiga já havia sumido. Afastei a garota de mim e vi Lu sentada ao lado de Max, de cabeça baixa e com as costas para gente.
– Hey! Esqueceu que tem amiga?
Vicky disse batendo em seu ombro e em seguida abraçando-a por trás. Olhei as mãos da Lu tocando os braços da Vi.
– Desculpa! Tô tão dramática hoje! – Lucy disse com seu tom de voz normal.
– Amor, você é dramática por vida! – Vicky disse, sentando-se ao seu lado.
– Nossa! Ajudou muito! – Lu riu e beijou a bochecha da Vi, Max me encarou por alguns segundos, já a Lucy, fingiu que eu não estava ali.
Um tempo se passou até vermos Tom e Jay chegarem. Jay acenou animadamente para Lucy, que não acenou de volta, apenas virou o rosto. Tom me olhou com um sorriso fraco, enquanto virou sua atenção para Vicky, cerrando os olhos, rapidamente a garota buscou minha mão para apertar, começando uma conversa sobre o que eu tinha feito na noite anterior.
Não preciso dizer que não contei detalhes, não é mesmo?
Enfim, a hora da prova finalmente veio. Antes de começar a tentar entender aquele monte de baboseiras que estavam ali naquele papel, fiquei vendo a reação dos outros, para perceber se tinha alguém tão ferrado quanto Nathan Sykes.
Vicky lia tudo tranquila, mordendo o lápis.
Lucy respondia rapidamente as questões escritas e pelos blocos de texto que era possível ver, com certeza era da área de humanas.
Max também respondia rápido, mas na parte de cálculo.
Tom analisava os outros, feito eu, para ser mais preciso, o garoto nerd que estava sentado em sua frente.
Jay ficou em outra sala, assim como Tanya.
Saí da prova sem a capacidade até mesmo de olhar para minha bela cara no espelho do banheiro.
EU NUNCA LI TANTO EM MINHA VIDA!
Cada texto muito louco que me dava um embaralhamento na cabeça, que estou até dolorido.
Fui o primeiro a sair, voltando ao banco e esperava ansiosamente quem seria o próximo coitado a se livrar daquilo.
Fui mal, mas poderia ter ido pior.
Sorte que Lucy, Max e Vicky gostam de literatura, história e biologia e perdem tempo conversando sobre o assunto, por isso algumas coisas entraram em meu cérebro e por sorte ficaram.
Não sou tão ruim em inglês, componho umas músicas, tenho que saber de algumas coisas.
O resto fui péssimo do tipo desgraça alheia, mas nem estou ligando muito.
Vi Tom sair acenando para mim. Retribui e voltei a olhar para a saída do grande prédio. Depois veio Tanya que correu para o último, apertando-o por completo.
Fiquei pensando se ele tinha a pego além de beijar, porque mesmo com a Lu e a Vicky a odiando, a garota não deixava de ser gata.
Jay saiu com uma cara confiante que até me deu vontade de vomitar, aquilo se achava até pelado.
Coisa chata!
E então veio minha garota!
Não, não a Vicky, a Lucy mesmo.
Ela sorria mexendo no arquinho azul com bolinhas brancas em seu cabelo, seus olhos encontraram os meus e rapidamente ela ficou séria.
Lu veio tranquila até mim, sentando-se ao meu lado.
Sorri para ela, mesmo sabendo que não era para sorrir:
– Você não vai terminar com a Vicky.
– O QUÊ?
Gritei ao ouvir a voz de Lucy triste, mas autoritária para mim.
Depois do que aconteceu ontem à noite ela vem me dizer isso?
Meu Deus! É cada garota que o senhor me arranja!
– É isso que você ouviu Nath! Não termine com ela. – dessa vez o seu tom de voz mudou de autoritário para súplica – Não é correto!
– Eu nunca fui de me importar para o que era correto! Eu quero você sua louca! – xinguei-a revoltado.
Lucy manteve-se calma.
– Nath, acorda! Eu não posso perder a amizade da Vicky!
– Você não vai perder a amizade dela porque ela não gosta de mim! – apontei para meu corpo enquanto Lucy balançava a cabeça discordando.
Um silêncio ficou entre a gente, as bochechas de Lu vermelhas e seu rosto virado para o chão. Eu a encarava, pois pensava que agora que sabia de quem gostava tudo ficaria bem, mas Lucy não estava permitindo isso pensando nos outros.
– Foi o beijo, não foi?
Perguntei. Ela me olhou sem jeito:
– Nada mais justo do que sua namorada te beijar. E nada mais errado que a melhor amiga da sua namorada sentir ciúmes. – então ela me encarou – Não ligue para minhas reações. Você está com ela, Nath, então esqueça o que te disse ontem e a faça feliz. Ela precisa de você mais do que eu!
– Ela precisa é do Tom! E eles precisam é parar de ser crianças! – continuei com minha revolta – Lucy! Eu não vou esperar eles se entenderem para você se sentir segura e ficar comigo! Não é racional!
– Pois então que não seja racional! Fique com ela, por mais um tempo. Eu sei que... – então ela olhou para os lados, como se estivesse agoniada – Você já sentiu algo por ela, não foi? Então ainda pode estar sentindo. Veja se é de mim que esta gostando de verdade...
– Desculpa Lucy. – interrompi-a – Mas eu não sou você para ficar confuso de quem eu realmente gosto. – respirei fundo e criei coragem – Eu vou ficar com a Vicky por você, para lhe dar tempo de ter certeza se é de mim que você gosta. – me aproximei mais dela e falei mais gentil que minha voz permitiu - Vai ver você ainda tem algo para fazer antes de me querer como eu te quero.
Lu piscou algumas vezes, como sempre fazia na hora de pensar.
Ela respirou fundo e segurou minha mão:
– Continue com a Vi, que vou pensar em tudo isso. – então deu um leve sorriso – Eu sei de quem gosto, mas... Sinto que não é a hora. Toquei-me nisso quando vi vocês dois se beijando.
Me odiei por ter beijado a Vicky mesmo tendo apenas feito o meu papel.
Segurei discretamente o seu rosto, fingindo limpar algo, mas acariciei sua bochecha com o polegar.
– Hey, Lu! – ouvi a voz de Max e rapidamente a garota se soltou de mim – Preciso falar com você. – então ele me olhou – Oi, cara!
– Oi. – respondi um pouco irritado por ele ter nos atrapalhado.
– Tudo bem. – então ela se levantou – Você pode me deixar em casa?
– Não dá, acho melhor você ir para a minha... – Max falou passando as mãos na careca, como se estivesse nervoso.
– Max, estou fora de casa desde ontem. – Lu tentou se explicar.
É Max! Ela ta fora de casa desde ontem!
Agora desgruda!
– Sua mãe vai entender quando você contar a ela o que preciso te contar.
Lucy olhou-o desconfiada e depois ficou com uma expressão preocupada:
– Ok. Vou com você. – ela virou-se pra mim e beijou minha bochecha. Eu queria mais... – Até logo, Nath!
E ela se levantou, indo com o Max, os dois conversando e ignorando o Jay que a olhou na saída.
Por mim esse namoro com a Vicky já teria seu fim, por mais que nosso relacionamento tenha sido valioso a ponto de me fazer amadurecer e me fazer enxergar de quem realmente gosto.
Era da Lu que eu gostava e ia esperar ela ficar pronta para mim, assim como estava para ela.











        * * *



CAPÍTULO 29

NOW, THAT I'VE DONE MY TIME...

          I NEED TO MOVE ON




Ponto de Vista: Max

No carro, Lucy não parava de perguntar o que tinha para lhe falar. Então disse que era para ficar tranquila, que quando chegássemos tudo se esclareceria. Cansada, e vendo que eu não daria nenhuma resposta satisfatória, ficou quieta, deixando-me dirigir em paz.
Em casa, já vazia, levei-a até meu quarto. Lucy se sentou na ponta da minha cama, enquanto puxei a cadeira da escrivaninha, colocando em sua frente e sentando-me:
– Então... O que você tem para me dizer? – Lu falou com ansiedade.
– Olha... O que vou te contar hoje, já foi decidido há algum tempo. – encarei-a e busquei dentro de mim bastante coragem – E não te contei antes, pois eu não queria que nessa época de prova, você deixasse de se preocupar com o estudo para pensar em mim.
– Max, cala a boca! – Lucy fez um rosto agoniado – Conta logo e não enrola! Não vê que estou curiosa?
– Desculpa! – falei num impulso – É que acho que você vai querer me matar!
– Conte-me e aí você vai saber se ficará vivo!
– Tá, tá! – passei as mãos na cabeça, visivelmente nervoso – Vou ter que ir embora.
– Como? – Lucy ergueu uma sobrancelha, fazendo um rosto incrédulo. Em seguida começou a rir sozinha – Você me trouxe aqui para ir embora?
– Não, Lu. – revirei os olhos com certa impaciência – Não estou falando de sair da minha casa, embora isso também vá acontecer... – murmurei confuso – Mas refiro-me a ir embora de Londres.
– Ok, mocinho... Não me venha com piadas! – ela falou em repreensão. Percebendo minha expressão nada agradável, rapidamente ficou séria – Isso é uma piada, não é?
Respirei pronto para negar.
Lucy mordeu o lábio inferior e balançou a cabeça como se não acreditasse.
– Lu...
– Então você vai embora de Londres? – ela me interrompeu com a sua voz totalmente chorosa – Para onde?
Lucy falou de uma maneira que parecia que eu era um desabrigado.
Seus olhos tomaram uma tonalidade vermelha, enchendo-se, aos poucos, de água:
– Nova Iorque. – respondi enquanto me aproximava mais de seu corpo. Coloquei uma mão em sua perna e acariciando de leve prossegui – O amigo da minha mãe, aquele do natal, se lembra? – Lu confirmou com a cabeça – Ele ofereceu um emprego para ela faz algum tempo e agora minha mãe aceitou.
– E desde quando seus pais se separaram?
– Tem duas semanas.
– Mas eu nem percebi! – a garota fez careta.
– É que você estava vindo aqui no horário que normalmente meu pai está trabalhando. – tranquilizei-a.
– E quando você vai embora?
Parei um pouco para que ela digerisse a informação.
A próxima que viria era a que, provavelmente, lhe deixaria mais inconformada:
– Amanhã. – finalmente disse – Amanhã à noite.
– O QUE?
Lucy gritou encarando-me.
Ela afastou a minha mão de seu corpo e vi a expressão do seu rosto passar de tristeza para raiva.
– Eu pensei em te contar, mas...
– NÃO DEVERIA TER PENSADO! DEVERIA TER CONTADO! – Lu falou alto, levantando-se da cama – POR QUE NÃO ME CONTOU?
– Porque você tinha que fazer a prova para Oxford com a cabeça sem preocupações!
– Foda-se Oxford! Você é meu amigo! – ela bateu o pé como uma criança.
– Lucy! Só são alguns meses! Depois eu volto para cá! Você sabe que quero fazer a Universidade aqui!
– São alguns meses sem ver a sua cara! – Lu cruzou os braços – Isso é muita coisa!
Olhei-a daquele jeito, parecendo uma criancinha birrenta e mimada que infelizmente eu era apaixonado.
Então, apenas para descontrair, ri de seu desespero:
– Não ria da nossa desgraça! – disse com o rosto emburrado.
– Desculpa! – falei tentando segurar o riso e me aproximando dela.
– Chato!
– Um chato que você adora! – segurei seu rosto e finalmente ela sorriu me abraçando.
– Agora vou ficar só... – Lucy disse com rosto enfiado em mim, sua voz totalmente abafada.
– Eu não vou te deixar só, tem quem cuide de você!
– Ah! Jura? – falou ironicamente – Quem?
– Nathan. – respondi e me lembrei de hoje mais cedo – Vi a maneira como ele te olhava e a maneira como a sua mão estava em seu rosto.
Lucy ficou um pouco pensativa, analisando cada coisa.
Voltou a me abraçar e logo disse:
– Só sei que vou sentir sua falta.
– Nem precisa dizer que vou sentir a sua, não é?
Ouvi-a rir e a apertei mais forte.
Lucy passou o resto do dia comigo, ligando para a sua mãe e lhe avisando tudo.
Ajudou-me a arrumar as malas, vimos dois dos Star Wars como despedida.
Eu iria sentir sua falta, assim como da Vicky, do Nathan e do Tom.
A viagem faria bem a mim, fazendo-me superar a separação e me ajudando a esquecer da garota que eu gostava.
Mas logo estarei de volta a minha amada Inglaterra.

* * *

Nenhum comentário:

Postar um comentário